09:43 AM – Quarto da Cammy, Monte Olimpo.

Acordei com Flora me chamando, observando Francis dar alguns “toques finais” no vestido em que segurava.

Depois de muito custo para sair da cama – culpa daquele colchão lindo e fofinho – fiz minhas higienes matinais, já aproveitando para fazer minha aplicação diária. De volta ao quarto, comi uma fatia de pão integral juntamente com um copo de vitamina de frutas sem açúcar – o que me fez rolar os olhos, já que estava na cara que aquilo eram ordens diretas de Afrodite. E depois de escovar os dentes, as ninfas fizeram minha maquiagem e cabelo, para só depois me “ajudarem” a colocar o vestido.

A parte de cima era totalmente branco, com listras pretas na horizontal, deixando-o bem retrô. A saia, por outro lado, era verde-água, o que me lembrou de Percy e consequentemente de Annabeth, e que saudade que eu estava sentindo da minha amiga! Pena que não pude me despedir dela, já que a mesma estava em uma missão-resgate, tentando encontrar seu primo em Londres (que sorte a dela).

Voltando ao vestido, ele ainda tinha um cintinho marrom, e para calçar, coloquei uma bota preta de cano curto e salto grosso. As meninas fizeram uma junção de três colares que eu gentilmente coloquei – no menor, havia um pingente da lua em seu convexo minguante (presente dado por Thalia); o segundo tinha como pingente cinco retângulos e o terceiro, uma pedra lapidada azul cristal (presente dado por meu avô, depois de alguns... acontecimentos).

De maquiagem elas só fizeram olhinho de gato na cor marrom e me mandaram passar um batom rosado, depois de cachearem meu cabelo. Logo após, me despacharam para o Salão das Deusas.

Aparentemente, tudo o que nós, selecionadas, tínhamos que fazer era ficar no Salão das Deusas, sem nada realmente agradável para nos distrair, até que a alma bondosa de Apolo decida nos convidar para sair. Mais nada. Só. Tínhamos que estar sempre à disposição dele, o que me irritava profundamente, diga-se de passagem.

Entrei no salão, admirando mais uma vez a grandeza do local. Comecei a caminhar pelo extenso corredor, conseguindo ter uma visão dos diversos salões de beleza e dos inúmeros kits de maquiagem, para logo depois me encontrar um uma imensa sala, toda ocupada por pufes, sofás e TV’s, e mais ao fundo uma parede inteira repleta de revistas.

Rapidamente me encaminhei para lá e comecei a explorar. Ao meu lado, uma garota loira de olhos azuis parecia fazer o mesmo que eu, até que depois de um longo silêncio, ela aparentemente se irritou.

— Não tem nada de interessante nessa porcaria!

Por incrível que pareça, concordei indignada.

— Aposto que é tudo coisa da minha mãe...

Ela abriu entreabriu a boca para falar alguma coisa, mas foi interrompida por outra garota que acabara de se levantar de um divã segurando um livro.

— Se estão procurando livros de verdade, com conteúdo que preste e tals, deviam dar uma olhadinha na Biblioteca Real de Atena. Se quiserem, posso mostrar onde fica.

Sorri com o convite. Tudo, absolutamente tudo, era melhor do que ficar naquele salão estúpido.

— Sou Ginny Gilbert, filha de Atena. – ela se apresentou. – E vocês são?...

— Dionne Carter. – a menina loira falou, levantando a mão. – Filha de Deimos.

As duas se viraram para mim, curiosas.

— Camille Dousseau, filha de Afrodite.

Seus olhos se arregalaram.

— Você não é aquela garota que cantou pro Apolo? – Dionne indagou. – Ah, eu amei seu cabelo... – passou a mão por uma mecha. – quem dera eu tivesse coragem de cortar o meu assim...

— Valeu, eu acho. – me envergonhei. – Espera aí, deu para ouvir?

— Todo mundo ouviu! – exclamou a outra. – Você tinha que ter visto a cara do Apolo quando saiu de lá! Foi simplesmente hilária.

— Ou a cara da sua mãe... – Carter acrescentou. – Ela parecia ter comido um sapo.

Ri disso. Bem, eu havia conseguido, afinal.

— Eu quero ir à biblioteca! – Dionne exclamou depois de um tempo. – Mostra pra gente onde é!

— Ah, acabei de me lembrar, eu não posso ir. – falei. – Tenho que esperar Emily, minha amiga. Mas depois vocês me mostram onde fica, pode ser?

— Claro!

— Sem problemas.

Ginny largou o livro em cima de uma das diversas cômodas espalhadas pelo local e saiu, sendo seguida por Dionne. Como estava sem nada para fazer, peguei o livro dela que aproposito era bem interessante e me deitei no divã. Já estava quase cochilando quando comecei a escutar vozes atrás de mim.

— Você só pode estar de brincadeira! – disse uma voz enjoativamente doce. – É obvio que ele vai me convidar!

As risadinhas femininas aumentaram, e logo a voz enjoada voltou.

— Vamos fazer uma aposta então. Se eu ganhar, vocês vão recusar o convite dele para o primeiro encontro, e terão que fazer tudo o que eu mandar por uma semana.

— Credo Peggy! – disse outa voz. – Não vamos apostar isso!

A garota, Peggy, riu.

— O que foi? Está com medinho Amanda?

— Não estou com medo! – uma voz diferente protestou. – Mas também não somos estúpidas.

— É! – Amanda concordou.

Peggy suspirou, e algum instinto (poder de Afrodite, talvez?) me disse que ela estava revirando os olhos.

— Se não são estúpidas, por que agem como se fossem?

Ouvi um arquejo ofendido, provavelmente da Amanda. Nesse momento, graças a Zeus, uma sineta tocou: era a hora do almoço. Esperei um tempo, até ter certeza que as garotas estivessem longe e me levantei rumo à porta.

Me sentei com Emily, Willow e Margot na “nossa” mesa, enquanto comíamos e conversamos um pouco sobre ontem. Aparentemente Emily havia se dado muito bem com Apolo e Margot o achou simpático, mas Willow o descreveu como “um mala sem alça arrogante e presunçoso”. Porém, o assunto principal continuava o mesmo: o fora que Apolo levara de mim. A cara de reprovação que Emily fazia quando tocávamos nesse assunto então...

— Está tudo bem Emily. – falei sorrindo. – Vê? Ele não está aqui. Na verdade, não tem nenhum deus aqui.

— Mesmo assim, você está sendo desrespeitosa! E se quer saber, o Apolo não merecia o que você fez com ele. Sabia que riram dele depois que você foi embora?! – sua voz sumiu duas oitavas. – Zeus, Camilly, ele ficou tão puto que dispensou cinco selecionadas! Cinco! No mesmo dia!

Não, eu não sabia. E também não sabia da saída das cinco selecionadas - que descobri mais tarde ser Courtney Black, Ellie Danvers, Maia Lestrange, Ella Jones e Jenna Evan. Me senti mal por um momento, até me lembrar de tudo que ele disse e me acusou enquanto conversávamos. Acabei chegando à conclusão que as saídas das garotas não foram tão ruins assim; pelo menos não vão ter um coração partido para remendar.

— Pois foi bem feito! Os risos de Apolo, digo.

Emily revirou os olhos e Willow pediu o saleiro, querendo melhorar o clima pesado que se instalou ao nosso redor. Quando me sentei em uma cadeira qualquer, depois do almoço, já no Salão das Deusas, uma garota loira de olhos azuis se aproximou de mim.

— Você é a Camilly, filha de Afrodite?

— Sou. Por quê?

— Eu sou a Alana Prior – ela bocejou. – filha de Hipnos. Eu só queria saber o nome daquela música que você cantou ontem sabe? Gostei da letra.

— Ah sim. – exclamei com um sorriso. – O nome dela é NØ, da Meghan Trainor.

Ela franziu as sobrancelhas, o que destacou ainda mais seu rosto cansado.

— Eu não conheço... Você pode cantar pra gente?

— É Cammy, canta! – concordou Ginny, chegando perto de mim.

— Ah não, eu não canto... Não muito bem, pelo menos.

— Isso é modéstia. – Dionne também se aproximou, se sentando do lado de Emily (que se mexeu desconfortavelmente) enquanto fazia um gesto com a mão. – Vai, canta!

Olhei ao redor, reparando em algumas das selecionadas me fitando, esperando. Acho que umas oito.

— Não sei não gente...

Mas elas nem me ouvirão. Logo Dionne começou um “Canta! Canta!” acompanhado por outras garotas – entre elas Willow e Darcy -, enquanto pedia a uma ninfa para trazer um violão.

Revirei os olhos e me levantei da cadeira, indo me sentar em um banquinho para começar a afinar o violão e ter mais mobilidade com o braço do mesmo. Entendendo que eu iria tocar, o coro logo se desfez. Quando levantei o rosto, com o violão já afinado, todas as garotas me fitavam ansiosas, estando sentadas no chão, em pé, ou em sofás. Respirei fundo e comecei a cantar.

First you gonna say you ain't runnin' game

(Primeiro, você vai dizer que não vai me dar uma cantada)

Thinkin' I'm believing every word

(Achando que eu vou acreditar em uma palavra sequer)

Call me beautiful, so original

(Fala que eu sou linda, tão original)

Telling me I'm not like other girls

(Me diz que não sou como as outras garotas)

I was in my zone before you came along

(Estava de boa antes de você chegar)

Now I'm thinking maybe you should go

(Agora, acho que você precisa ir embora)

Blah, blah, blah

(Blá, blá, blá)

I be like nah to the ah to the, no, no, no

(Minha resposta é não, não, simplesmente não)

Na parte do refrão, por incrível que pareça quase todas as selecionadas cantaram comigo, o que me fez rir, porém, quando eu acabei a música e elas começaram a aplaudir, eu o vi, e meu riso morreu na mesmo hora.

Apolo estava usando uma camisa preta, jeans e All Star. Aquele era o tipo de roupa que usávamos para ficar em casa, nada extravagante, o que me fez gostar (da roupa) imediatamente. E ele tinha um sorrio ácido no rosto. O-ou... Péssimo sinal.

— Parabéns Camille! – Apolo entrou batendo palmas, atraindo a atenção par si, fazendo as garotas se dispersarem. – Você realmente canta muito bem. Uma verdadeira filha de Afrodite!

Apertei os olhos.

— Obrigada...

— De nada... – abriu um sorriso “amigável”, também apertando os olhos.

— Vim convidar uma de vocês para um encontro. – anunciou para o salão, porém com os olhos ainda fixos em mim.

Gritinhos afetados ecoaram pelo Salão, mas nem isso o fez desviar seus olhos azul cristal de mim. Meu coração começou a se acelerar. Eu não. Eu não. Eu não. Eu nã...

— Peggy. – chamou subitamente, desviando seu olhar do meu. – Você gostaria de...

Levantei em um salto, e todos olharam pra mim. Larguei o violão com a primeira ninfa que vi em minha frente.

— ...sair comigo?

Parei por um milésimo de segundo, mas logo sacudi a cabeça, prosseguindo o caminho, ouvindo Peggy aceitar o encontro e vendo pelo canto do olho ela fazer uma reverencia par Apolo (lhe dando uma boa vista de seu decote, diga-se de passagem). Revirei os olhos. Estava quase passando pelas portas quando ele me alcançou e barrou meu caminho, parando em minha frente.

— Posso saber onde a senhorita está indo? – provocou com um sorriso sarcástico.

Fuzilei-o com o olhar. Estava com tanta raiva dele... Ele me pregou uma peça! Me humilhou! Me fez achar que eu seria a escolhida para depois escolher Peggy! Mas isso era bom afinal de contas, não era? Eles que se ferrassem! Afinal, porque eu estou tão irritada? Porque eu me sinto tão... angustiada?

— E então? Ainda não me respondeu. – o sorriso do maldito aumentou.

— Pro meu quarto. – respondi a primeira coisa que me veio à mente.

— Por que? – insistiu, com uma expressão totalmente divertida e sarcástica.

Coloquei minha mão em sua bochecha, o que o fez arregalar os olhos. Provavelmente nunca pensou que eu o tocaria por livre e espontânea vontade.

— Pode ser um choque pra você, mas... nem tudo gira em torno de você, Apolo. Principalmente eu.

Desencostei meu rosto de sua face e saí, com meus olhos inexplicavelmente começando a marejar.

Merda de ciclo menstrual! Merda de TPM! Merda de Apolo! Merda de Seleção! Merda de coração! E principalmente, merda de Afrodite!