April estava sentada com as pernas cruzadas, como um índio, no tronco de uma árvore que encontrou na sua pequena excursão pela reserva de Beacon Hills no dia anterior. O cheiro de terra recém molhada pela chuva de mais cedo trouxe uma pequena calmaria para a menina. Seu cabelo estava um caos: úmido, pelas poucas gotas d'água que caiam. Estava admirada; maravilhada com o pouco de paz que aquele local a trouxe. Aquela árvore estava sento testemunha do caos que estava a mente da garota.

Fechou os olhos e se permitiu respirar fundo. Deixou que o vento frio bagunçasse seus longos cabelos castanhos. Ela estava amando aquele momento, estava livre como um pássaro. O pensamento de levar aquele tronco para seu jardim fez a garota soltar um leve sorriso. Assim que abriu seus olhos mais uma vez, April arregalou os olhos e quase gritou ao ver um grande espelho a quase três passos do tronco da árvore. Como aquele objeto veio parar na sua frente, no meio de uma floresta?

Tentou fechar seus olhos mais uma vez e abrir. Ela não podia estar ficando tão louca ao ponto de começar a sonhar acorda agora. Aquele objeto só podia ser mais uma loucura da sua mente perturbada.

O espelho era grande e April poderia se ver de onde estava. Levantou devagar, sem tirar os olhos do grande objeto. Obrigou suas pernas a se moverem e lentamente andou até próximo do espelho. Encostou lentamente um de seus dedos nele, para se certificar que era real, que realmente estava ali. April observou a si mesma: seus cabelos estavam uma bagunça, suas roupas estavam frias e úmidas pelo pouco sereno que pegou, seu rosto estava levemente avermelhado pelo frio. Notou um brilho cintilar nos seus olhos castanhos claro, se aproximou mais do espelho, estava fascinada e ainda não entedia como o objeto fora para ali. Levantou um pouco seu olhar e ficou perplexa com a imagem que estava vendo, seus olhos, antes castanhos, agora cintilava em um lilás brilhante. Seu peito subia e descia com sua respiração descompassada, April queria correr, queria sair daquele lugar o mais rápido possível, queria que seus olhos voltassem a sua cor normal.

— VOCÊ NÃO PODE ESCONDER O QUE É, APRIL. ESTÁ DENTRO DE VOCÊ, JÁ É O SEU DESTINO.

April agora tinha 99% de certeza que estava presa em mais um dos seus pesadelos, só poderia estar. Em primeiro lugar, estava em pé em frente de um espelho no meio de uma floresta, em segundo, seus olhos não poderia estar da cor de uma luz de neon lilás — daqueles que quase se aproximam do tom rosa — e terceiro, Scott McCall estava de pé aonde minutos antes ela mesma estava sentada. Aquele grito ensurdecedor e desesperado que ouvira no seu primeiro pesadelo também ecoou por toda a floresta. Não queria desviar os olhos do garoto a sua frente, mas o grito ficou alto demais para seus ouvidos humanos. Pressionou suas mãos contra a cabeça, sentiu o líquido quente sair de seus ouvidos e sua cabeça latejar. Sua voz quase saiu como um sussurro quando ela pediu por ajuda, mas não teve resposta. Queria chorar, queria que aquela voz parasse de gritar tão alto. Ela juntou todo o ar de seus pulmões e gritou.

— POR FAVOR ME AJUDE, SCOTT!

April tentou olhar para ele, tentou também se apoiar no tronco da árvore, tentou gritar de novo, mas dessa vez sua voz não saiu. Sua vista estava escurecendo e única coisa que April ouvia era o barulho de gotas da chuva caindo. O nome de Scott saiu mais uma vez como um sussurro dos lábios da garota e tudo virou escuridão.

                                                                                                        ***

April estava ofegante. Levou a mão até seu peito. Seu coração estava batendo descompassado, seus lábios tremiam de leve, sua visão estava embaçada e o seu corpo mole, suas roupas estavam encharcadas.

April não conseguia entender o que estava acontecendo, ela estava deitada em uma calçada. Estava chovendo e a visão da garota ficou ainda mais turva. Estava exausta.

Quando finalmente conseguiu se sentar, levou a mão a sua têmpora e depois colocou-a na frente do rosto. Escorria sangue dos seus dedos. Tentou ficar de pé, mas a única coisa que conseguiu foi ficar sobre seus joelhos. Estava de frente para uma grande placa presa a uma parede. Estreitou um pouco os olhos e com dificuldade conseguiu ler o nome escrito em letras grande e douradas:

                                       BEACON HILLS – ANIMAL CLINIC.