Suspirando, April deixou a mochila cair aos seus pés. Tinha ido para a escola decidida a falar com Scott sobre tudo o que estava acontecendo nas últimas semanas, mas foi ao contrário: acabou de baixo das arquibancadas olhando para um David que ela gostaria muito socar naquele momento.

— Não é necessário — ele disse. — Eu posso cuidar de mim mesmo, Brooke.

April olhou para o garoto semicerrando os olhos, ela sabia que o ferimento causado na noite anterior ainda sangrava, ela podia ver uma pequena macha no moletom vermelho que David usava.

— Você não disse que se curaria? — questionou April. — Ou você estava mentindo? Por quê você fugiu como uma menininha com medo de injeção ontem a noite David?

— Eu estou me curando, April… Você que parece péssima, está tudo bem?

April cruzou os braços sobre o peito e esperou que um casal passasse por eles.

— Você tem ideia que eu quase não consegui dormir? — sua voz saiu quase como um sussurro. — Você foi um grande idiota saindo machucado por aí e se aquela maluca te seguisse? Ela te mataria! Eu realmente fiquei preocupada com você esta noite.

— Ah — David fez uma careta. — Não queria deixá-la preocupada. Deveria ter dormido. Está cansada, April.

— Como eu posso dormir quando tem uma maluca tentando me matar por nada? Quando o cara que me salvou é um grande idiota e sai pela mata machucado? — ela suspirou pesadamente. — Como eu posso dormir quando estou literalmente ficando maluca?

Os olhos castanhos de April encontraram os de David. Os olhos azuis dele contrastava com a pele incrivelmente pálida, ele não usava o óculos grosso que estava usando quando esbarou em April aquele dia no corredor. David era bonito a sua maneira, mas, mesmo assim, April ainda queria socar aquele rosto bonito.

— Ninguém vai machucá-la April, eu não suportaria se aquela maluca tivesse te machucado — David suspirou, sentindo um tremor estranho percorrer todo o seu peito.

— Então me deixe te ajudar também. Você acha que eu vou suportar se, por acaso esse negócio de lobo que se cura não funcionar? Eu juro por Deus que vou aprender como essa maluquice funciona e eu mesma vou torcer o pescoço daquela doida com minhas próprias mãos.

— April… se eu prometer que te aviso se esse negócio de lobo não funcionar, você deixa essa ideia maluca de torcer o pescoço de alguém para lá?

— Certamente — ela disse, revirando os olhos. — Que diabos, você nunca vai me contar.

— Não da só para você me agradecer e deixar isso para lá?

— Obrigada — ela disse. — Mas eu não vou deixar para lá.

— Neste caso… espero que esteja muito a fim de se decepcionar — ela a olhou com irritação e David olhou para ela, desejando não ter o feito. Ficou abalado pelo quando ela ficava linda quando estava com raiva, pintinhas avermelhadas subiam por todo o seu pescoço e bochechas. Tentou manter-se concentrado ou não poderia movimentar os pés para sair dali.

O rapaz respirou fundo uma não,  duas vezes antes de girar nos calcanhares e andar em direção ao campo de lacrosse. Corria o risco de tropeçar a qualquer momento nos seus próprios pés. April tinha razão, o negócio de “cura de lobo” não estava funcionando como deveria.

April demorou alguns segundo para conseguir se mexer para pegar a sua mochila que ainda estava no chão e sentia todo o seu rosto ferver pela raiva. No momento, ela não sabia se tinha mais vontade de torcer o pescoço da loba ou o de David. Quando conseguiu andar, seguiu lentamente para a porta do ginásio, sentindo que a única coisa que poderia dar certo agora, era conversa com Scott.

No início, April não queria a ajuda de Scott por vários motivos; um deles era o fato dela não conseguir lidar com o sentimento que estava em seu peito; não tinha certeza se eles eram reais ou eram só mais uma loucura de sua cabeça. E então tinha Lydia e todo aqueles sonhos em que ela aparecia gritando. April não gostava nenhum pouco da ideia reviver aquela sensação de angustia que sentiu quando estava no galpão. Mas estava sendo tão idiota quanto David, precisava de ajuda para tentar entender o que tudo aquilo realmente significava e se Scott podia e queria ajudá-la e aceitaria sem reclamar.

Mas ele não estava lá, nenhum deles estava. Na aula de biologia as cadeiras de Lydia, Stiles, Scott e Malia continuaram vazias, ela também não viu David pelo resto do dia. Durante toda a aula de matemática, April não relaxou um minuto. A aula parecia se arrastar mais do que deveria. Ela não gostava da súbita preocupação que corria por todo seu corpo, David estava machucado e não queria ajuda, Scott e o resto sumira quando ela finalmente resolveu pedir ajuda.

  ***

Não tinha muita gente do lado de fora do Fish's Olsean, um dos únicos lugares que April gostava em Beacon Hills; eles tinham o melhor peixe-frito que ela já provara, e meu Deus, como ela gostava de peixe-frito. Fazia-a lembrar de Londres, a única parte boa que ela realmente queria lembrar. April diminuiu o ritmo dos seus passos para pegar a chave do carro na parte de trás da sua mochila. Ela já estava decidida que bateria na porta de Scott hoje mesmo. Estava preocupada e se não fizesse não visse o rosto do rapaz, tinha certeza que não conseguiria pregar os olhos esta noite.

— Meu Deus onde diabos você está?! — ela reclamou, para si mesma. Já estava preste a dar meia volta e entrar outra vez no restaurante, para se certificar que não tinha deixado sua chave sobre a mesa, de novo, quando sentiu a forte pontada na sua nuca subir rapidamente para a sua têmpora direita. Tudo ficou em câmera lenta, o baque surdo que sua mochila fez quando caiu de sua mão e encontrou o chão, seu coração diminuindo o ritmo, seus joelhos fraquejando e sedendo até encontrar o chão de paralelepípedos e a última coisa que vira, antes de perder toda a consciência, foram os olhos castanhos meio esverdeados, quase idênticos aos seus.