April estava deitada em uma cama macia e quente com lençóis marrons. O quarto estava cheio de roupas, jogadas para tudo que é lado, o lugar parecia mais uma zona de guerra e tinha cheiro de sabão em pó e perfume. As paredes tinham uma cor creme e o cômodo aparentemente estava calmo.

A garota acordou grogue, tentou abrir seus olhos com calma e tentou se acostumar com a pouca luz do lugar. Sua cabeça doía bastante e uma de suas pernas perecia estar dormente. April sentou-se devagar e aos poucos as lembranças do que havia acontecido na noite passada veio-lhe a cabeça e seu coração começou a palpitar. O cheiro forte do perfume daquele rapaz ainda estava impregnado em cada centímetro de seu corpo. Ela sentiu seu estômago se revirar e toda a bebida que tomara horas atrás ameaçar sair de seu corpo.

Ela lembrava do idiota tentando beijá-la a força e não sabia o que estava sentindo naquele momento

Talvez medo? Desespero? Ou até, raiva?

Raiva. Era isso que ela sentiu em primeiro lugar: raiva por não ser forte o bastante para bater naquele desgraçado.

Por algum motivo lembrava-se de ter visto olhos vermelhos em Scott — algo que ela não entendeu. Como ele poderia estar com olhos tão vermelhos?

Lembrava também do garoto gemendo de dor no chão, mas não sabia o por que e logo depois Scott a jogando contra o piso de madeira do píer.

Agora como ela chegou naquele quarto, isso ela não lembrava.

(***)

Scott achava que nada mais poderia o surpreender. Já vira de tudo naquela cidade.

Quando viu April Brooke pela primeira vez, há mais ou menos quatro meses, a garota estava usando uma camiseta cinza que tinha escrita em letras pretas “estamos em um inferno”. Na época ele achou engraçado que uma camiseta de uma estranha descrevendo a sua vida naquele momento. Ele e seus amigos estavam mesmo em um inferno.

Scott ainda não entendia oque tinha acontecido na última hora; April fez Zach Singer desmaiar apenas olhando pra ele e também não entendia a cor dos olhos da garota. Que April era um ser sobrenatural, isso ele tinha certeza.

Scott não queria acabar com a festa de aniversário do amigo. Era a primeira vez em muito tempo que seus amigos estavam felizes. Então, quando Zach Singer acordou e parecia ter tido uma amnésia sobre tudo, Scott guiou o garoto até a festa e voltou o mais rápido que pode para pega a garota.

Agradeceu mentalmente por ter pegado o carro de sua mãe ao em vez de sua própria moto para ir a festa. Ele realmente não tinha ideia do que estava fazendo. Mas ele não poderia deixar a menina naquele estado, amarrada a uma das pilastras do píer. Queria acreditar que a garota não era ruim. Ela parecia estar confusa. Enquanto levava a garota para sua casa, a única coisa que passava na sua cabeça era um Stiles muito zangado dizendo pra ele parar de confiar nas pessoas.

Não quis deixar a mãos da garota amarradas, então, quando colocou a garota na sua cama, tirou a fina corda dos pulsos da garota. Também não teve coragem de tocar na garota para subir seu vestido, então jogou seu lençol por cima do corpo dela e a deixou sozinha no seu quarto.

Não sabia o porque, mas naquele momento só queria manter a garota segura.

(***)

April tentou não fazer barulho enquanto tentava se levantar da cama. Segundos depois a porta se abriu gentilmente, cabelos negros adentraram o quarto fazendo o coração da garota congelar, os olhos de April marejam assim que viu o rosto conhecido de Scott.

“Como você é patética April” pensou a si mesma.

— April…

Assim que ouviu seu nome sair da boca dele, April sentiu todo o seu corpo vibrar. Aquela voz que perturbou seus sonos, que esteve em cada um dos seus devaneios e pensamentos, estava pesarosa e talvez assustada.

A garota estava tão feliz por ser Scott ali e não o garoto que a atacou no píer, que não pensou muito quando correu de encontro com o corpo do rapaz. Deixando as lágrimas correrem… Ela apenas o abraçou, escondeu o rosto no peito do garoto e se permitiu chorar. O rapaz respirou fundo e ainda com seus braços em torno na cintura dela, encarou o rosto avermelhado e molhado da garota. April tremia um pouco mas não olhou para o rapaz. Ela queria chorar e agradecer por ele ter a salvado e a mantido segura.

— Eu… não sei o que está acontecendo — sussurrou a menina, em prantos. Scott guiou-a até sua cama novamente e a abraçou de lado. April se permitiu colocar a cabeça no ombro do rapaz.

— Tudo bem — suspirou Scott, afagando os cabelos castanhos da menina.

— Eu não tive culpa… por favor… prometa-me que ele não vai tocar em mim outra vez… — pediu a menina, quase em um sussurro.

Quando Scott finalmente acalmou April, ele pediu que ela o contasse do ataque. A garota contou sobre Zach e sobre como ele foi nojento e como teve medo dele. Contou sobre se lembrar dos seus olhos vermelhos e sobre a raiva que estava dominando cada parte do seu corpo.

— Por quê ficou tão calada? — perguntou.

— Só estou tentando descobri o que você é… por que seus olhos estavam vermelhos como um vampiro? — April olhou fixamente para o rosto do rapaz, Scott sentiu todo o seu corpo ficar tenso.

— E você está com medo de mim agora? — perguntou baixinho, olhando os grandes olhos castanhos da garota.

— Scott… — começou timidamente — eu não sou má. Quando desejei que Zach sofresse, ele quase morreu, sei que fiz algo, algo que eu não entendo, não sei se pode existir algo sobrenatural. Mas, se sim, eu provavelmente sou algo. Eu não tenho medo de você. Por que estou com medo de mim mesma agora.

Scott ficou quieto, os dois ficaram. Ele não sabia o que dizer, era comum para ele viver no mundo sobrenatural, mas para ela, era algo novo e seja lá o que ela for é forte e pode ser perigoso.

— Você vai me contar a verdade? — perguntou baixinho. — Eu estava pesando em vampiros, você é tipo, o Drácula de Beacon Hills? — ela sussurrou como se estive contando um segredo e soltou uma gargalha contagiante que fez Scott sorrir.

— Acontece muita coisa estranha nessa cidade — falou, olhando fixamente o rosto da garota. — Mas, não acho que vampiros existam. Pelo menos não por aqui.

— Então, o que você é Scott?

— Em uma noite, Stiles e eu descobrimos um corpo na mata — disse Scott. — Tentamos encontrá-lo, mas acabei sendo mordido por um lobisomem, chamado Peter, acabei me transformando em um beta e não demorei muito a me tornar alfa. É confuso April e é uma longa história. Grande parte dela é… assustadora.

April não parecia assusta ou confusa. Ela estava fascinada. Nunca acreditou no sobrenatural (ninguém nunca acredita), mas, Beacon Hills era estranha. E desde que chegou naquela cidade começou a ter alucinações e sonhos estranho com espelho e Scott. Acreditava que estava ficando louca ou coisa parecida. April sempre teve muito medo do desconhecido, para ela tudo tinha uma teoria. Mas ela viu com seus próprios olhos, ela também sentiu.

— Me deixe ver seus olhos Scott — pediu. Sua voz saiu quase inaudível; quase infantil.

Scott suspirou profundamente antes de se ajoelhar de frente para a garota. Ele não entendia qual o efeito que April Brooke havia colocado sobre ele naquele dia; não entendia o por que queria tanto fazer aquela garota se sentir bem; era como se os olhos castanhos da cor de mel o desse paz de alguma forma.

Ele podia ouvir o coração da garota bater num ritmo rápido; ela não tinha medo.

Scott abaixou a cabeça e quando voltou a levantar, seus olhos antes da cor de achocolatado, estavam agora vermelhos e brilhantes.

April sentiu todo o ar fugir dos seus pulmões, seu coração bateu forte, ela não estava com medo. Ela estava fascinada!

Sua vida estava de cabeça para baixo, estava confusa e ferida. Acabara de descobrir que existe outro mundo. Um mundo sobrenatural e incrivelmente bonito.

Ela não tinha muitas certezas naquele momento, mas, quando colocou a mão no rosto do rapaz e selou seus lábios com os dele, sentindo toda aquela energia fluindo por todo o seu corpo, ela teve certeza e não teria mais como negar:estava INCONDICIONALMENTE APAIXONADA POR ELE.