Cinquenta Mariposas escrita por Deimos Ass


Capítulo 1
#PrayersForOrlando




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Eu estava em casa, fazendo cobertura para alguns biscoitos que eu tinha acabado de tirar do forno. Enviei uma mensagem para a Amor falando que eu iria demorar um pouco. Era só terminar de bater a cobertura, despejar sobre os biscoitos, e então colocar no freezer para a cobertura congelar.

Estava tudo indo muito bem. A cozinha tinha um cheiro delicioso por causa dos biscoitos quentinhos que soltavam aquele aroma.

E então, de repente, eu senti um bolo no estômago. Uma morte. Eu podia sentir. Foi tão de repente, que sequer consegui localizar a morte. Cinco mortes. De uma só vez. Parece que várias pessoas foram mortas ao mesmo tempo. Dez mortes. Dois feridos. Quando eu me dei conta, os números estavam ficando grandes, e só aí que eu consegui localizar. Quinze mortes. Cinco feridos. Era em Orlando. Numa boate chamada “Pulse”. Vinte mortes. Treze feridos.

Desliguei todos os aparelhos elétricos que estavam ligados na cozinha e tirei o avental cheio de farinha. Vinte e duas mortes. Quinze feridos. No tempo de eu sair de casa e me teleportar para a Terra, mais mal estar vinha para mim. Vinte e cinco mortes. Vinte feridos. Eu podia ouvir os tiros. Quando olhei para a placa da frente, eu percebi. Era um lugar gay. Vinte e oito mortes. Vinte e um feridos.

Medicina estava por perto, desesperada com suas assistentes, correndo para lá e para cá tentando achar uma forma de entrar lá. Ela estava muito nervosa com os sons dos tiros. Trinta mortes. Vinte e cinco feridos.

Eu pude sentir o horror deles. Sentir a aproximação do fim da vida de cada um. E podia ouvir o desespero e dor daqueles espíritos confusos com tudo que estava acontecendo. Trinta e três mortes. Trinta feridos. Um menino estava preso no banheiro, se despedindo de sua mãe. O meu mal estar apenas aumentou. Eu queria poder voltar no tempo e impedir tudo isso, se não fosse contra as regras. Trinta e cinco mortes. Trinta e quatro feridos.

Corri para lá dentro do jeito que eu pude e ajudei Medicina a entrar para ajudar os feridos. O que parecia ter sido um pesadelo eterno já estava quase no fim. Eu podia sentir. Mas a dor ainda era imensa. Era indescritível. Trinta e oito mortes. Trinta e sete feridos.

Eram almas demais. Eu me lembro de quando que levar tantas mariposas de uma só vez. Não vejo tantas desde Chernobyl. Desde o Titanic. Desde a Boate Kiss. Desde Auschwitz. Era tanto sangue, tanta desgraça, tanta tristeza, tanto ódio, tanta homofobia. Quarenta mortes. Quarenta feridos.

Eu sou como eles. E se eu fosse humano? E se eu estivesse aqui? E se eu tivesse pais e irmãos? E se eu estivesse no banheiro com aquele garoto? Eu levava todas aquelas mariposas com uma dor no coração impossível de ser descrita. Quarenta e três mortes. Quarenta e dois feridos. Os tiros ainda não acabaram. A cada tiro eu me sinto pior sobre o que está acontecendo diante dos meus olhos.

Por que esse mundo tem que estar tão cheio de ódio, que transforma tudo que é feliz e cheio de vida…Nisso?

Quarenta e cinco mortes. Quarenta e seis feridos.

As pessoas costumam pensar que eu gosto do meu trabalho. A coisa que eu mais queria nesse momento era não estar aqui, fazendo isso.

Quarenta e oito mortes. Cinquenta feridos.

É nesse tipo de momento que eu só queria que o Vida aparecesse para intervir. Com o jeito de super-herói dele. Seria contra as regras. As coisas não funcionam assim. Mas eu só queria que esse tipo de coisa não acontecesse. Eu só queria não ter que ver pessoas como eu provando esse terror por serem quem são. Queria não ter que trabalhar nesses casos.

Quando olhei em volta, eu estava cercado por mariposas espirituais. Elas vinham voando direto na minha direção, desamparadas e desesperadas. Eu quase podia sentir que elas choravam junto comigo.

Cinquenta mortes. Cinquenta e três feridos.

Eu sinto muito por tudo isso, Orlando.


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