Aprendendo a Mentir escrita por Starsky


Capítulo 21
Capítulo 20 — Como dizer a ele?


Notas iniciais do capítulo

Wow! Quase morro do coração com o amor no último capítulo e tantos comentários lindos! Gente, vocês são uns fofos... MAS NÃO ACHARAM QUE EU IA DEIXAR PASSAR AQUELE BEIJO NATE E JAMES ASSIM, ACHARAM? Hahahaha.
Esse capítulo é dedicado com muuito amor e carinho para a Nakih (u/746284/) que fez uma recomendação LINDAAA!
10 RECOMENDAÇÕES! Dá até vontade de morder cada uma dessas pessoas lindas, sério. Obrigada por existirem, vocês são muito perfeitos!



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Capítulo 20

Como dizer a ele?

Nate Parkinson

— Acho que estou apaixonado pela sua prima Roxanne — disse Nate com uma expressão pensativa direcionada ao céu. Olhou para James e só conseguiu ver a careta vinda dele, o que lhe causou uma baita de uma gargalhada. — Ela é do tipo que eu gosto. Fala alto, atlética, cheia de opiniões…

Estavam, como sempre, na Torre de Astronomia, balançando os pés na beira bem a ponto de caírem, antes do jogo da Grifinória. James estava nervoso, não parava de sacudir a cabeça e de falar sobre estar sem moral com o time, sobre Roxanne estar com todos os holofotes e sobre Nate estar distraído demais que nem estava prestando atenção no que ele dizia.

— Viu, você nem tá escutando direito — resmungou James com as sobrancelhas juntas. — Hoje eu vou perder o título de capitão com certeza, e você ainda fica dando em cima da Roxanne. Argh, pra quê eu te chamei aqui mesmo?

Nate deu um riso tranquilo enquanto olhava para o Potter coçando a cabeça com seu desespero. Estava tão ocupado sentindo o nervosismo pré-jogo que nem tinha se dado conta da mentira de Nate, coisa que era bem comum dele.

— Então? O que quer fazer sobre o jogo?

— Magia? Milagre? Apoio moral? Como quer chamar? — falou James, rindo de nervoso. — Podíamos fumar um pouco depois do jogo. Se eu for humilhado pelos sextanistas, ao menos a gente se esconde.

A gente se esconde, ele disse.

— Apoio moral eu posso dar, é mais fácil. — Bateu no ombro do rapaz e deu uma piscadela. — Não se preocupa, apesar de a Roxanne ser muito boa, você e ela que fazem a movimentação da Grifinória. Ela não marcaria gols sozinha porque artilheiros nunca agem sozinhos. Não tô entendendo essa sua paranoia agora. Alguma coisa aconteceu?

James negou com um movimento de cabeça. Mas, diferente do grifinório, Nate era realmente bom em ver por trás das mentiras de seus amigos. Via facilmente pequenos detalhes, coisas mínimas, como a boca de James que costumava tremer no cantinho sempre que ele pensava algo e dizia o contrário. Tanto que o sonserino ficou quieto, esperando a guarda do outro baixar.

Como de fato aconteceu.

— É só que… — James suspirou e baixou a cabeça. — Papai me mandou uma carta esses dias, disse que quer falar comigo pessoalmente. Aí eu não sei se fico preocupado por não saber do que se trata ou se me estresso justamente por não saber o que ele quer.

Nate deitou o corpo no chão para ficar com os olhos voltados para o teto, mas seus pés ainda balançavam fora do parapeito.

— Bom, preocupado você já está. Se ficar estressado, vai perder a razão, pra variar. — Com as palavras de Nate, James bufou, o que significava que no fundo ele concordava com aquilo. — Mas você realmente não faz ideia? Nenhuma?

— Sei lá, pode ser tanta coisa. — O Potter deu de ombros. — Faz tempo que eu não levo bronca da mamãe também. Alguma coisa está muito errada.

— Se você for expulso por mau comportamento, saiba que eu te mato.

Eis que James sorriu seu sorriso mais agradável de quem estava fazendo graça por bobagem. Ele abaixou um pouco o tronco, encarando Nate.

— Relaxa, a gente ainda vai se aguentar o resto do ano inteiro — disse, piscando um olho apenas para o amigo. — Mas acho que já está na hora de ir. No final do jogo nos vemos, certo?

— Embaixo da arquibancada dos professores depois que eles saírem.

Nate concordou com um movimento de cabeça, mas não se levantou. Ficou observando James ajeitar a camisa de baixo em seu silêncio. Não costumava assistir os jogos de James para não dar bandeira alguma ou estragar a mentira dos dois. Mas, às vezes, lá estava ele escondido no cantinho abaixo da arquibancada dos professores, como se fosse um lugar secreto.

— Bom jogo. — Nate sorriu. James sorriu também, indo embora com passos rápidos para fora da Torre de Astronomia.

A verdade era que Nate não pensava em Roxanne Weasley. Achava a moça incrível? Achava. Via os cabelos dela saltitando por Hogwarts e seu sorriso mais feliz iluminando os corredores. Apesar de fisicamente serem bem diferentes, ela lhe lembrava James. Parecia que aquela família tinha um jeito especial de viver, como se fossem movidos a energia constantemente. Roxanne era assim, ativa! Albus Severus era assim, animado! Lily Luna era assim, intensa! Rose era assim, feroz! Fred II era assim, grandioso! Eram tantos!

E James era o mais…

Nunca houve muitas palavras que Nate pudesse usar para descrever James Sirius. Naquele dia, especialmente, assistiu ao jogo inteiro da Grifinória com olhos diferentes do que costumava fazer. Estava ao lado de Kilik, Benjen e Maddie na arquibancada de torcida mais neutra possível, mas seus olhos iam indiscriminadamente na direção do Potter. Sempre que assistia seus jogos, reclamava da forma como ele jogava e das manobras ridículas que fazia. Desta vez, não disse absolutamente nada.

— Caralho! Outro gol da Roxie! — exclamou Kilik, esfregando as mãos no rosto. — Eu vou me casar com essa mulher!

— Só por cima do meu cadáver — bufou Benjen, empurrando o amigo com o ombro.

Nenhum deles notava Nathaniel Parkinson assistindo os rodopios no ar e as passagens de bola de James. E quando ele fazia um gol, sequer comemorava como gostaria. Sentia apenas o peito quente sempre que James gritava feliz com Roxanne e com os outros grifinórios, erguendo o braço vitorioso e instigado. E isso não era de agora.

Há pouco mais de três meses, Nate encontrou James no Beco Diagonal em meio à loja de Geminialidades Weasley, pertencente aos tios do Potter. Ele estava acompanhado de Logan Dreifus, um ex-corvino dois anos mais velho que os rapazes. Foi a primeira vez que Nate havia sentido falta de James e a primeira vez que sentiu ciúmes de vê-lo com outro cara. Já sabia que James era gay há algum tempo, foi uma conversa que tiveram no quinto ano depois que o grifinório deu seu primeiro beijo na festa de aniversário de Elois McLaggen. Só Nate sabia, ninguém mais.

GOL DA GRIFINÓRIA! — berrava o locutor, enquanto Nate pensava.

O que doeu não foi o ciúme depois daquele dia, foram os códigos. Nunca pensava no quanto os códigos entre eles eram ruins e pesados, mas de repente tudo começou a mudar. Assistiu a amizade de Scorpius Malfoy e Albus Potter, imaginando o que aconteceria se não precisasse mais de código algum entre eles. Ainda que James fosse feliz. Ainda que ele fosse feliz… Mas era realmente feliz?

Nate foi embora antes de o jogo acabar, caminhando na direção das escadas da arquibancada dos professores. Sua cabeça praticamente fumaçava a cada passo que dava. Escutou até mesmo os gritos de comemoração ao final do jogo quando chegou ao ponto de encontro.

E se James e ele fossem mais que amigos? E se os códigos não existissem? E se… O que James faria se Nate falasse aqueles pensamentos todos? Fugiria? Brigaria? Deixaria acontecer alguma coisa…?

Foi quando ouviu passos apressados na madeira vindos da direção das escadas. Então viu James ofegante e sorridente um lance inteiro abaixo. Seus olhos claros diziam algo animado que suas palavras não precisavam falar. O Potter jogou a caixa de cigarros para o Parkinson e riu.

— Não vai ser hoje que eu vou perder o posto de capitão.

— Eu nunca nem mesmo duvidei que pudesse perdê-lo — disse Nate, sorrindo de volta e pegando o isqueiro no seu bolso.

Acenderam juntos e praticamente brindaram um cigarro no outro. A diferença do James da Torre de Astronomia para aquele James que estava ali era gritante, só pelo fato de a confiança ter crescido nele. Fez até mesmo o sorriso de Nate tremer.

— Quando a gente saiu do campo, a Roxie me abraçou e disse “você pode ser um primo babaca, mas é o único primo babaca que eu aceito ser capitão do meu time”. — James tagarelava e tragava, olhando para o nada ao gesticular incessantemente. — Isso me fez pensar que tipo, caralho, eu não sou tão ruim assim. Como capitão, eu digo. A Roxanne não é lá muito minha fã, mas quando ela fica feliz, ela solta uma dessas. E hoje! Ahh, hoje! Ao menos eu vou ter algo bom para conversar com meu pai quando ele vier com a conversa séria pra cima de mim.

— Você está realmente feliz com isso — riu o sonserino, recebendo um balançar de cabeça animado como resposta. — Diga ao seu pai que você é um bom capitão, eu tô de prova.

— Ah, nem é grande coisa. Ele também foi capitão na época dele. Virou no sexto ano, igual o Albus.

Nate pôs o cigarro na boca e puxou devagar, soltando a fumaça num sopro suave. Como sempre, ali estava a comparação nas suas palavras.

— Diga a ele então que você é bom de briga — murmurou, erguendo o rosto. — Diga que é o cara com maior capacidade de evoluir quando quer de verdade. — Olhou para o rosto de James sem sorrir. — Lembra daquela vez que a Elois disse pra todo mundo que você tinha tirado nota baixa em Feitiços? Você foi o primeiro lugar na outra prova só porque queria provar que ela estava errada. Diga ao seu pai que você se esforça pra cacete para proteger seus irmãos do mundo e das pessoas por conta das histórias que escutou da época do seu velho. Diga ao seu pai que você é o cara que mais respeita as mulheres. Diga ao seu pai que quando você quer, você não para de treinar e estudar mesmo que esteja caindo de sono pelos corredores. Diga ao seu pai que você gosta mais de animais do que de gente, e que é mais gentil com eles por causa disso. Diga ao seu pai que você é inseguro porque quer ser como ele e como a sua mãe. Porque se você não disser essas coisas que te fazem você, eu digo.

Nate estava tão sério com as palavras que dizia, que nem mesmo quis interpretar a expressão de James, tão parada e quieta. Ele era assim mesmo. Quando era confrontado com algo que não esperava, ficava travado. Seria engraçado se Nate não estivesse sentindo o próprio peito batendo mais forte.

— Cara, não fala essas coisas — disse o Potter completamente sem graça. — Se é pra falar coisas assim, fala para a Roxanne. Você disse que está apaixonado por ela, né?

Um riso bobo escapou da boca de Nate. Achava que havia sido bem claro, mas, pelo visto, James também precisava dizer ao pai que era devagar para entender as coisas.

— Eu estava brincando. — Deu de ombros sem tirar os olhos do outro. Precisava de uma reação dele, qualquer uma! — Eu não estou apaixonado pela Roxanne. Não por ela...

James não respondeu. Olhou para baixo e sorriu discretamente.

Foi como se uma sirene tivesse apitado na cabeça do sonserino subitamente. Aquele sorriso foi o sinal.

Nate aproximou-se dele devagar, não precisava de pressa e nem assustá-lo. Foi tão simples e tão direto, que talvez tenha até mesmo confundido James no instante em que o empurrou contra a madeira atrás dele e colidiu seus lábios num beijo molhado e ligeiro. Não houve relutância de James. Não houve retribuição. Seus rostos se separaram um instante, ambos sérios ao se entreolhar.

As mãos ainda seguravam os cigarros, mas o encarar dos olhos tornou-se possesso e intenso. Parecia que conversavam em silêncio. A íris azulada de James Sirius era profunda e forte, cheia de palavras e até mesmo música que Nate não sabia traduzir. Suspirou por não saber o que dizer naquele instante, ou antes ou depois do beijo… Se havia acabado com sua amizade às escondidas com James, ele não sabia dizer. A verdade é que simplesmente esperava por alguma reação do outro, qualquer coisa que lhe dissesse que uma coisa havia mudado.

Porque Nate já não aguentava mais migalhas.

Mas James nada disse. Ficou ali quieto, alternando a visão de um olho de Nate para o outro. Talvez estivesse esperando por algo também. Talvez não soubesse o que fazer. Talvez até mesmo quisesse algo, mas não o faria. Talvez precisasse de um código.

— Então… — murmurou Nate com calma. — Eu te beijei, James. O que fará a respeito disso?

A boca de James tremeu naquele instante, deixando escapar um sorriso enquanto ele a entreabria. Estava sem palavras.

— Acho que — sibilou, deixando seus olhos baixarem e encontrarem a boca de Nate, que sorriu ao notar aquilo — você deveria...

— Acho que nós existimos na base de concessões — riu Nate, não parando de segurar James em momento algum. — Se eu fiz o primeiro movimento, você…

Não chegou a terminar a frase. James o puxou para perto e beijou seus lábios uma, duas, três vezes. Colaram-se um no outro completamente ardentes e ferozes. Enquanto James segurava o sonserino pelo pescoço, Nate o prendia fortemente, tocando seu corpo e descendo os beijos às vezes por seu pescoço. Bastava escutar a respiração de James ofegar para ter ainda mais certeza de que não era o único a sentir aquele desejo poderoso florescendo.

Se aquele calor sempre esteve ali, ele não sabia. Sabia, porém, que perdia o fôlego com os toques de James descendo. Achavam que estavam tão seguros e solitários que esqueceram de todas as prerrogativas possíveis. Quanto mais um puxava o beijo, mais o outro cedia. Definitivamente não havia vergonha, a intensidade ressoava no interior de Nate tão forte que poderia simplesmente ficar ali com James a tarde e a noite inteiras.

Uma pena que o destino não é amigo.

— Scorpius! Você!

Nate praticamente pulou para trás. Ali parados estavam Scorpius e Rose Weasley, impressionados e de olhos arregalados. O cigarro na mão de Nate caiu no chão. Aquelas eram simplesmente as últimas pessoas que poderiam… Oh, James!

Olhou para o grifinório, vendo-o entrar em pânico com os flagra. Sua mão esquerda tremia, seu queixo balançava e seu rosto começava a ficar vermelho. Havia duas possibilidades de atitudes para James Sirius naquela situação: partir para cima de Scorpius Malfoy ou desabar. E, naquele instante, parecia que estava para cair no chão, mas Nate nunca deixaria que James passasse por fraco. Não na frente de Rose Weasley.

— Eu seguro ele aqui. Fujam enquanto podem — disse após por o braço na frente se James.

Os dois sextanistas correram escada abaixo desesperadamente. Só deu para escutar os passos deles e a voz de Rose dizendo:

— Mas eles não se odiavam?

Então James caiu no chão de fato, como se fosse um saco de batatas puxado pela gravidade. E seu rosto ficava pior a cada instante, fazendo o peito de Nate pesar.

— Eles vão contar para o Albus — gemeu James. — Eles vão contar para o Albus, para a Lily…

Nate o encarou no chão, agachou-se apoiado nos joelhos e encarou James com seriedade. Não havia apenas peso em seu olhar. Havia mágoa.

— Isso seria tão ruim?

James Sirius voltou-se para Nate, gaguejando:

— Você não não está entendendo, preciso fazer alguma coisa… E-Eles vão contar para o…

— Eu repito. — Mordeu o próprio lábio antes de continuar. — Isso seria tão ruim assim?

A verdade era que nunca foi de se importar demais com os códigos. Estavam confortáveis, estavam bem. Mas ainda assim, eram apenas códigos. Nem as brigas, nem a cumplicidade pareciam verdadeiras para Nate. Por um momento, aquele beijo pareceu. Achou que algo tivesse acontecido para quebrar um pouco a barreira entre eles dois e a realidade, mas o pânico e o silêncio de James apenas diziam que não.

— Nate…

— Entendo. — O moreno juntou os lábios e se ergueu novamente.

— Não, Nate, é que nós sempre estivemos em segredo. — James se levantou às pressas. Sua expressão estava bem perdida. — Não é hora de os meus irmãos saberem, ou o resto da família e da escola. Eles diriam que eu sou…

— Meio hipócrita. — Nate suspirou. E algum dia deixaria de ser segredo? Algum dia alguém descobriria? — Nós dois somos hipócritas. Chega disso, né? Talvez você devesse dizer isso ao seu pai também.

Não se despediram. Nate desceu as escadas com passos lentos, mas James não o seguiu e nem pediu que ficasse. Já não dava para saber o que magoava, se era a indiferença por conta da amizade ou se era a possibilidade de ser algo a mais se estraçalhando em arrependimento.

O rei da Sonserina definitivamente não estava com cabeça para pensar naquelas coisas. Foi direto para o Salão Comunal a fim de… Bom… Pela primeira vez em muito tempo, não havia simplesmente o que fazer. Cruzou caminho com Maddie, mas não lhe deu bolas. Kilik e Benjen falaram com ele, mas Nate não sorriu direito. Jogou-se na sua poltrona cativa com os pensamentos nebulosos e confusos, misturando-se uns aos outros como novelo de lã, e um balde de pipoca bem gordurosa para afogar-se em manteiga.

James Sirius e ele eram amigos desde os 11 anos. A graça da briga falsa era ver a cara das pessoas, era tentar ser melhor, era a competição. Mas quando tudo simplesmente deixou de ter graça? Isso o Parkinson não sabia. Provavelmente foi quando sua mãe viu suas notas altas, mas não lhe deu valor por não estar no time de quadribol. Ou quando ele apareceu com uma namorada da Lufa-Lufa nas férias do quarto ano. Ou simplesmente toda vez que ele entrou em casa e se deparou com ela sentada no sofá passando folhas de revistas, acumulando contas a pagar na mesa do centro.

Você é uma porra de uma criança preguiçosa, não é?” dizia Pansy.

Garotos como você são bonitinhos, mas não têm futuro. Chega a ser ridículo.

Ele suspirou. Os problemas de Pansy Parkinson, senhora sua mãe, eram grandes demais para ela própria e para Nate carregar, como costumava fazer. Parecia até que essa era mesmo a função de Nate: cuidar. Cuidava para que Pansy tomasse todos os seus remédios e não se deixasse levar pelo instituto psiquiátrico, cuidava para que as contas não atrasassem todas de uma vez, cuidava para que seus avós não se matassem nos jantares de família, cuidava para que o segredo dele e de James nunca fosse descoberto, cuidava de Maddie e do seu coração sem noção, cuidava do Malfoy…

— Ai ai, ainda tem o Malfoy nessa história. — Nate bocejou.

Meia hora se passou no máximo. Scorpius entrou no Salão Comunal da Sonserina com uma expressão completamente avoada no rosto. Parecia que iria tropeçar nos próprios pés a qualquer momento, o que Nate achou extremamente curioso, encarando-o da forma mais discreta possível.

O que diria para aquele rapaz sobre James?

Nate se levantou devagar da poltrona de Rei e seguiu na direção do Malfoy, tocando seu ombro ao dizer:

— Venha comigo.

Ele viu a cara de Scorpius mudar de “nas nuvens” para “socorro, mamãe” em questão de um segundo. Foi engraçado, ainda mais quando ele ficou dando passos hesitantes na direção do sofazinho ao lado da poltrona do Parkinson.

— Nate, sobre mais cedo, eu…

— Senta aí, Malfoy — disse tranquilamente, apontando para o lugar na sua frente antes de se sentar. — Relaxa, tá legal? Eu não vou te morder.

— Meu medo está mais para você quebrando meu nariz intrometido do que para uma mordida. — O loiro engoliu a seco, fazendo Nate rir suavemente. — Desculpa. Eu realmente não quis me intrometer naquele momento. Foi mal de verdade.

Nate assentiu com a cabeça e entregou a pipoca para o outro sonserino.

— Eu sei que não. Para falar a verdade, eu tô bem tranquilo sobre você ter visto aquilo. — Então deu de ombros. Scorpius segurou a pipoca, mas não pegou nenhuma, devia estar tenso. — O James que está com medo de você contar para o Albus. Você já contou? — O garoto balançou rapidamente a cabeça. Menos mal… — Não fica tenso assim, eu não quero brigar. Queria saber o que tá passando na sua cabeça, pra falar a verdade.

Foi como se um peso tivesse saído do interior de Scorpius no instante em que ele expirou todo o ar preso. Era um garoto meio icônico, parecia ter saído de uma história em quadrinhos.

— Bom, sendo bem sincero, eu não tive lá muito tempo para pensar sobre você e… Ele. — Devagar, começou a se encolher entre os ombros. Estava escondendo algo, e por isso Nate ergueu uma sobrancelha. — Só achei estranho. Quer dizer, vocês brigam pra caramba, todo mundo vê e todo mundo sabe. Achei que era uma rivalidade real, mas juro que respeito se vocês são daqueles que vivem entre tapas e beijos. — Ele ergueu as mãos, declarando-se inocente.

O sonserino mais velho maneou a cabeça. Meio que o garoto estava errado, só não 100%.

— Essa foi a primeira vez que nos beijamos — disse, dando um sorriso de canto de boca. — Mas existem grandes chances de ser a última também. Nós meio que somos amigos às escondidas. Pode parecer estranho, mas foi uma boa ideia na época que fizemos nosso pacto. — Nate aconchegou as costas na poltrona e olhou rasamente sobre o salão da Sonserina, que estava quase vazio. — Desde o nosso segundo ano, descobrimos como ter um inimigo nos faz crescer, querer ser maiores e mais espertos. Só que ao mesmo tempo, James e eu somos bons amigos um para o outro, cuidamos melhor do que outras pessoas que tentam cuidar de nós. Por isso, somos inimigos aos olhos de todos, mas quando precisamos, o outro sempre atende de prontidão.

Scorpius apenas escutou tudo com atenção, relaxando de verdade pela primeira vez naquela conversa quando recostou-se no sofá em que estava sentado.

— Nossa. Eu não fazia a menor ideia. Acredite, eu sei como essas coisas de briga falsas dão trabalho — disse baixo, passando a mão nos cabelos loiros. — Mas eu também não sabia que você gostava de caras. Todas as garotas da Sonserina são loucas por você...

— Bom, eu gosto das pessoas, não importa muito se são caras ou garotas. — Nate deu de ombros e sorriu. — E o que você viu hoje era eu mostrando ao James o quanto gostava dele, mas sendo dispensado.

O queixo do mais novo caiu, fazendo com que Nate risse com o nariz.

— Mas você é o cara mais irado…! Mas ele…! — Scorpius pestanejou sem entender.

— Tá tudo bem, de verdade — falou com um suspiro. — Às vezes é melhor ter uma resposta, ainda que negativa, do que viver de migalhas. — Nate viu o rosto de Scorpius se fechar pouco a pouco e começar a baixar. Então, o loiro pôs a mão sobre a própria boca,  tocando seus lábios devagar e sorrindo. — Então, vai contar para o Albus o que viu hoje?

Lentamente, Scorpius ergueu os olhos e deu de ombros.

— Acho que o James deve contar por si só — disse mais tranquilo. — Vai ser bom para eles… Como irmãos, sabe?

Nate assentiu com a cabeça. Se antes já gostava de Scorpius Malfoy, ele havia acabado de entrar para a sua listinha de quem ganharia presente de natal no final do ano. Mas James? O nome de James estava ali, sem saber se seria apagado ou não.

Ainda que seu coração tivesse um pouco trincado, Nate teve um sono de rei naquela noite. Não precisou de um código para sonhar com o beijo de James.


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Notas finais do capítulo

Então, gente hahaha o James não é tão ruim assim. O Nate vê o melhor nele, e um dia a gente também vai ver esse lado bom todo kkkk, juro que vamos! Porém, eu fico muito feliz de poder descrever pontos de vista diferentes sobre diferentes personagens, acho que isso dá mais vida a eles!
Espero vocês nos próximos capítulos, e eu juro que vou tentar não demorar tanto para responder os reviews. A culpa toda é da minha faculdade (aos que não sabem, eu faço medicina, também conhecida como "o curso que escraviza alunos e os transforma em zumbis" kkk). Beijos nos corações! Até mais!



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