Aprendendo a Mentir escrita por Starsky


Capítulo 14
Capítulo 13 — Códigos.


Notas iniciais do capítulo

OLÁ PESSOAS LINDAS DO MEU CORAÇÃO! Bom, esses últimos dias tem sido a maior loucura haha, mas fico muito muito feliz em estar de volta com um capítulo tão lindo quanto esse! Ele é especialmente narrado na visão de um dos meus personagens favoritos, então espero que gostem. Boa leitura! ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/696094/chapter/14

Capítulo 13

Códigos.

Nate Parkinson

 

Dias atrás.

A primeira vez que Nathaniel Parkinson escutou o nome de Scorpius Hyperon Malfoy foi logo antes de começar o segundo ano em Hogwarts, na estação King’s Cross. Sua mãe viu o pai do garoto quase albino e surtou para Blase Zabini, um antigo companheiro de casa. O tão jovem sonserino, Nate, confortou-a também, descobrindo que ela e o pai de Scorpius namoraram em tempos de escola, mas as coisas não acabaram nada bem.

Draco Malfoy estava casado, e Pansy Parkinson era uma mãe solteira com problemas de ansiedade toda vez que o via. Problemas de ansiedade no geral, na verdade.

Naquela época, Nate achou que fosse algum tipo de medo ou de coração partido por parte da mãe. Demorou a entender que ela ainda arrastava uma asa para o patriarca da família Malfoy. Inclusive, foram necessários alguns esbarrões “acidentais” na Floreios e Borrões, nos corredores do Beco Diagonal e até uma viagem para a Noruega, onde ficaram no mesmo hotel, para ele ligar os pontos. Pansy ainda amava aquele homem.

Nunca tocou em um fio de cabelo loiro do menino por causa de sua mãe, seria complicado ouvir dela que o filho irresponsável havia feito algo de ruim para o sobrenome “mais bonito” de Hogwarts. E, de repente, parecia que toda escola tinha descoberto o nome dele. Seis anos depois da estação King’s Cross.

— Aí ele se levantou e disse “Já acabou, James?” — berrou Luke Flint do outro lado do Salão Comunal da Sonserina. Havia uma roda de estudantes ao seu redor escutando atentamente a cada detalhe. — Aquela foi uma surra e tanto, sorte a do Malfoy que o Professor Akilah apareceu!

Os outros assentiram, comentando entre si o ocorrido da briga. Todos, menos Nate, sentado em sua poltrona com os olhos na situação.

O Salão Comunal era dividido: havia a área da lareira, permitida para os mais novos, umas mesas de bilhar e poker, que ninguém antes do quarto ano usava, umas cadeiras livres e, bem no canto privilegiado com visão para tudo, a poltrona do Rei. Em seu quinto ano, Nate instituiu que aquele espaço pertencia a si mesmo, e não havia um ser que se aproximasse sem sua bênção.

— Dá pra acreditar nisso? — riu Benjen ao lado de Nate com um balde de pipoca em mãos. — Parece que esse menino está virando gente!

— Quem é ele mesmo? — murmurou Kilik sem desgrudar os olhos do livro que tinha em mãos.

— Scorpius Malfoy — disse Nate, sentindo o estômago embrulhar pela lembrança de sua mãe falando aquele nome. — Ele é o garoto amigo do Potter. Os meninos do sexto ano o chamam de “Sombra do Albus”.

Kilik ergueu o olhar, falando:

— Amigo do seu sucessor? E ele brigou com o James?

— Eu nunca disse que já tinha escolhido o Potter como sucessor. — Deu de ombros com um sorriso.

Nate criou um sistema de poder na Sonserina, e agora estava sendo pressionado a mantê-lo, entregando a coroa a alguém competente e com moral. Afinal, era o último ano de reinado.

— Não é como se você tivesse muita escolha — continuou o Kilik, virando uma página. — Além dele, o sexto ano tem o Zabini. E se você for escolher uma menina, a única opção é a Stephany Tuane.

— Eu não gosto do Zabini. Ele tem um ar de traidor, se liga? — resmungou Benjen, torcendo a cara. Nate não podia concordar mais. Daria o “trono” a alguém do primeiro ano, mas não daria a Dake Zabini. Ser Rei da Sonserina significava levar todas as boas características da casa, especialmente a determinação, a esperteza e a fraternidade. — Mas parece que quem estava de conversinha com ele ontem era a Maddie. Isso é tão estranho…

— Não fale de uma dama sem que ela esteja presente,querido.

Nenhum dos três disse aquilo. Olharam para a esquerda de Nate e viram o sorriso expansivo e incrível de ninguém menos que Madeline Nott. O Parkinson poderia reconhecer aquele olhar vibrante e maquiagem excessiva a quilômetros, assim como os cabelos negros que caíam pouco abaixo dos ombros, constantemente assanhados, e as poses provocativas. Terrivelmente provocativas.

— Elegante como sempre, Maddie — murmurou Nate com sobriedade.

Ela não respondeu, só acenou com a mão uma indicação para Kilik e Benjen darem o fora de perto, o que eles fizeram sem reclamar ou questionar. Levaram inclusive a pipoca, para o desgosto de Nate. Ele frisou o olhar, observando enquanto Madeline se jogava na poltroninha ao lado do rei, erguendo as pernas para cima dos joelhos do rapaz.

— Elegante, mas controladora. — Nate riu para si mesmo. Como sempre, ela deu um risinho gostoso. — O que quer, Maddie?

— Perturbar você. Esqueceu que é o meu jeito favorito de dizer que te amo? — Ela balançou os ombros graciosamente, como se estivesse acompanhada de uma trilha sonora de fundo.

— O amor dói.

— Ah, claro. Não pude deixar de notar que você está encarando o Flint com uma péssima expressão. Isso vai te dar rugas. O que achou de dividir o rival James com outro sonserino?

Ele revirou os olhos. Será que ninguém iria parar de falar na surra que o garoto levou? Se não fosse pela intromissão de Lily Potter, teria sido trucidado.

— Nott, você não costuma provocar por nada. Qual o seu interesse no assunto?

Ela ergueu uma sobrancelha e sorriu, baixando o queixo, sempre fazia isso quando tramava algo. Geralmente eram coisas ruins, como no dia em que causou a transferência de uma menina da Corvinal para Durmstrang depois de chamar Madeline de maluca. Loucaline era sua alcunha pelas costas. Mas Maddie não era de toda má, coisas boas também aconteciam na sua presença! Não que Nate se lembrasse de alguma naquele instante. Perguntaria a Kilik e Benjen depois.

— O meu interesse é Scorpius Malfoy, claro!

O moreno não evitou coçar o ouvido. Devia estar com cera.

— Desculpa, eu não entendi direito. Você está interessada no menino Malfoy? — Madeline só assentiu com rapidez e sem vergonha. — Por acaso entrou em algum tipo de seita que inclua sacrifício humano e não me contou? Se quer matar alguém, mate o seu amiguinho Zabini.

— Não, bobinho! — Ela revirou os olhos, mas não negou que Dake Zabini era seu amiguinho. Isso não cheirava bem. Estendeu os braços e jogou o rosto para perto dele, iniciando o discurso: — Pense comigo! Neste vasto universo de bruxos e bruxas bonzinhos, onde apenas os mais fortes e ferozes sonserinos são reconhecidos, surge um jovem. Não um jovem comum, um jovem sem coragem que sofria nas mãos de valentões grifinórios, mas que, subitamente, se impõe contra o sistema! Jovem esse de família importante e decidido a reconstruir seu nome…

— Como você sabe que ele quer reconstruir o nome?

Madeline bateu na sua testa com a ponta dos dedos.

— Não me interrompa. Voltando! Então, ele é apresentado à bela, à poderosa, à magnífica e...

— Já entendi, ele é apresentado a você — disse o rapaz, levanto outra batida. — Au! Para com isso, cara.

— Para de me interromper, cara. — Pigarreou finalmente, jogando os cabelos para trás. — Resumindo a história, estou interessada, romanticamente falando, em Scorpius Malfoy. Eu vi como os olhos dele brilharam pra o James ontem na briga, não é todo tipo de homem que tem esse tipo de olhar.

Ele suspirou. Maddie quer o que Maddie quer. Mas aquilo dava uma angústia no rapaz, a mesma angústia que ele sentiu quando ela falou sobre Jasper Wood. Daquela vez, tudo deu errado para a Nott, o que significava que Scorpius Malfoy poderia não ser uma boa escolha.

Nate costumava ter pressentimentos certeiros.

— Certo. Você é como uma irmã para mim, então vou fingir que aceito seja lá o que está sentindo. Só quero saber o que você quer de mim.

Rapidamente, Madeline apontou para o peito de Nate.

— Muito simples, eu quero que você se aproxime dele e o ajude a se tornar tão incrível quanto eu sei que ele vai ser!

— Não force a barra — resmungou o rapaz, massageando as têmporas. Na sua cabeça, Malfoy era um garoto inofensivo demais e aparentemente bonzinho demais. O fato de Madeline querer se aproximar dele provavelmente o corromperia irreversivelmente. E o que Pansy Parkinson diria de seu filho desastre se aproximar da criança do seu grande amor? O fato era que essas duas mulheres um dia iriam matá-lo. — Eu não vou ajudar ninguém a se tornar nada… Mas posso ao menos conhecer o garoto pra saber se ele vale a pena. Se for um cara chato, vou logo avisando que eu chuto a bunda dele antes de você se aproximar. Nada de lições e nada de mudanças, sou apenas um avaliador. É pegar ou largar.

Madeline soltou um grito, jogando-se para cima de Nate com força e animação. Era assim quase sempre, Madeline se lançavacde cabeça em suas paixões da pior forma possível e acabava arrastando Nate para encruzilhadas do diabo para defendê-la. Aconteceu isso no segundo ano, no terceiro ano, no quinto ano e estava acontecendo ali. Benjen dizia que no final iriam ficar juntos, mas ele não sabia o que realmente acontecia no coração do Parkinson ou da Nott para ter esse tipo de suposição.

O plano era bem simples, nada muito cheio de disfarces, escondidas e mentiras. No fim da tarde da sexta, ele, Benjen e Kilik se aproximaram de Scorpius e de Albus Severus e os chamaram para o Três Vassouras. O garoto Potter fez uma cara desconfiada, mas topou também. Enquanto isso, o Malfoy se saiu, bem… um tanto fora do esperado. Ninguém iria forçar amizade nenhuma com ninguém. Se o Malfoy fosse honesto e tivesse um mínimo de decência, tudo correria bem.

— Olhe pelo lado bom, Nate — disse Benjen, saltitando rapidamente ao lado do amigo. Tinham acabado de virar a esquina do corredor em que encontraram com os dois sextanistas. — Mesmo que o Malfoy-Kid seja um pé no saco, ainda podemos nos aproximar do Albus e ver se ele merece ser o próximo Rei da Sonserina.

Nate maneou a cabeça. Não era o pior dos planos.

— Ainda acho que você foi legal demais com ele. Quer dizer, você tem uma reputação de cara mau a zelar. — Kilik coçou a cabeça, um tanto incomodado.

— Mas eu sou a pessoa mais legal dessa escola — riu-se Nate, enfiando as mãos nos bolsos da capa. — É como eu disse antes, quero conhecer o Malfoy pela Maddie. E vai ser ótimo ter mais pessoas na cruzada contra o James Potter.

Ainda assim, Kilik não pareceu comovido com as boas intenções do Parkinson.

— Hmpf. Se fosse eu, ameaçaria o Malfoy até ele me contar todos os seus pecados.

— E é por isso que o Nate é Rei, não você. — Benjen passou na frente dos dois e se virou, andando de ré para ficar cara a cara com os dois. — Eu queria ser Rei. Se a soberania na casa tivesse sido estabelecida antes, com certeza eu estaria concorrendo ao cargo.

Nate deu um sorriso orgulhoso de lado, erguendo os ombros ao dizer:

— Fique à vontade de brigar comigo por ele.

— E te encarar depois que você de tornou o bam bam bam do sétimo ano? Não, obrigado. Eu tenho dentes a manter na minha boca.

— Ah, vamos lá, Ben! — Nate começou a andar mais rápido, afinando o olhar com excitação. — Uma partida de duelo, só uma! Só magia, nada de regras, tudo ou nada!

Benjen gargalhou, também apressando o passo para não ser pego.

— ‘Cê tá louco? Kilik, segura Nossa Majestade!

Kilik continuava calmo há passos de distância, resmungando sem alterar o tom de voz:

— É Vossa Majestade, cara de bunda.

— Que sej…

Benjen foi interrompido de supetão quando seu corpo se chocou contra outro estudante no meio do corredor. Olhou para trás e viu os cabelos escuros penteados para cima de ninguém menos que James Sirius Potter. Estava na frente da gárgula da sala da diretora com uma feição nada agradável.

Oh-oh. Ia dar briga.

— Olha por onde anda, cobra — rosnou o grifinório, encarando os outros dois rapazes logo em seguida.

Se era isso que ele queria, era isso que ele teria. Nate enfiou as mãos no bolso e sorriu para a gárgula.

— Benjen e Kilik, vocês estão presenciando uma cena nada rara de falta de controle e ódio excessivo de um típico grifinório — disse Nate com graça. — O que foi? McGonagall está tentando te colocando na linha? De novo?

— Só o de praxe, Parkinson. Ela já nem se surpreende com a quantidade de vezes que eu mandei um sonserino para a ala hospitalar — rebateu James.

— Ah, por favor! Não pense em respostas tão rápido, seu cérebro pode ter uma sobrecarga.

— Por mais que eu adore as discussões de vocês dois — interrompeu Kilik, cruzando os braços —, não é nada inteligente brigar na frente da sala da diretora.

Eles se encararam por um instante, batendo os olhos verdes brilhantes do Potter com os azuis escuros do Parkinson. Realmente não era algo muito esperto de se fazer, mas era difícil encontrar passatempos tão bons quanto perturbar o juízo de James Sirius.

— Tudo bem, é só mais um dia em que um Potter sobrevive para contar a história — suspirou Nate com um sorriso.

— E um Parkinson foge com a “alta nobreza” da Sonserina. — James cuspiu na parede com um retorcer de nariz. — Até a próxima, cara de Grindylow.

“Cara de Grindylow”, James disse. Okay então...

— Estou ansioso por isso, Verme-cego.

Com isso, ambos deram as costas e saíram para lados contrários do corredor em passos fortes e apressados.

— Só eu acho fofo quando vocês dois se xingam assim? — Benjen deu um riso animado enquanto acompanhava o passo de Nate. — Quer dizer, isso é tão segundo ano. Desde o início dessa inimizade épica, vocês dois se chamam assim.

— É tudo questão de tradição, meu caro. Enquanto estivermos vivos, eu sempre serei cara de Grindylow, e ele sempre será o meu Verme-cego. — disse o Parkinson, dando de ombros.

Kilik balançou a cabeça.

— Tão românticos.

— Bom, hora de continuar sendo romântico — mentiu Nate, fingindo que olhava o relógio em seu pulso. — Tenho que procurar pela Maddie antes do jantar. Vejo vocês mais tarde?

A dupla assentiu. Separaram-se nas escadas, Nate indo para o térreo e os dois caminhando na direção da biblioteca. Apressou o passo, coisa que raramente fazia fora de brincadeira, chegando o quanto antes no pátio de transfiguração e, consequentemente, no portão da Torre de Astronomia, diametralmente oposto à sala do Professor Akilah. Nate não ligava de verdade se o viam entrar ali vez ou outra, ao menos não o suficiente para tentar ser discreto. O problema maior era subir as escadas, ainda mais porque era proibido aparatar dentro das dependências do Castelo.

Oh glória de código… Que porcaria de código…

O fato era que Nate Parkinson estava acostumado a passar por aqueles degraus. Pelo menos uma vez no mês, o código era chamado, e ele saía de qualquer lugar que estivesse na direção do topo da Torre. Isso quando não havia mais! A última vez em que isso aconteceu não tinha mais que três semanas, então se quisessem continuar mantendo o código em segredo, tinham que parar de subir por um tempo.

Esse era o trato deles.

Quando Nate colocou os pés no último andar, um objeto cortou sua visão ao ser jogado contra sua cabeça. Num movimento furtivo, o rapaz o agarrou ainda no ar com a mão, era uma caixa de cigarro Pall Mall. Então, riu pelo nariz.

— Cigarro de palha? Sério? Estamos decaindo tanto assim?

No parapeito da varanda da Torre, apoiado pelos braços na grade de metal com um sorriso debochado prendendo seu próprio cigarro, estava James Sirius Potter.

— Não reclama, essas porras são caras — disse, soltando um trago ao passo que Nate se aproximava e colocava um na boca, acendendo-o com um balançar de varinha que produziu uma chama na ponta.

“Cara de Grindylow” e “Verme-cego” eram códigos para “Vamos conversar na Torre de Astronomia”. Não importava em que situação estivessem, se um dizia o código, o outro acataria. Podiam estar querendo se matar do lado de fora, mas bastava pisar ali que imediatamente voltavam sete anos no relógio, para a época em que foram bons amigos. Mesmo que agora se dissessem os melhores inimigos que poderiam ter.

Nate e James se conheceram no primeiro ano, na última cabine do trem de Hogwarts. Naquela época, não havia casas e não havia mais ninguém. James era só um garoto que queria fugir da fama do pai, e Nate era um aspirante a dominador do mundo para escapar das crises neuróticas da mãe. Eles nunca riram tanto quanto naquela viagem aparentemente curta.

Grifinória e Sonserina. Mesmo em casas separadas, os dois se divertiram juntos e toda e qualquer circunstância. Especialmente quando Emilé Duchannes caiu da vassoura na primeira aula de vôo, e quando Elois McLaggen derramou uma poção da coleção pessoal de Slughorn em sala e fez crescer grama em todos os corredores do Castelo. Costumavam contar tudo um para o outro, ao menos até o incidente com Madeline Nott e um cara mais velho da Grifinória que protegia James. Naquele dia, cortaram laços. Declararam-se rivais até que a morte os separasse. Aquele era para ser o fim deles.

Não foi.

No segundo ano, meteram-se em uma briga feia perto do natal. Ambos ficaram de detenção, sozinhos numa sala fazendo redação. Então, num gesto um tanto desesperado, James perguntou sobre como seu irmão mais novo, Albus, estava se saindo na Sonserina. Nate também comentou sobre a chegada de Scorpius Malfoy, e como rever o Sr. Malfoy foi doloroso para Pansy. Coisas assim não eram fáceis de contar para outras pessoas, mas, miraculosamente, era natural entre eles. Sentiram falta um do outro, mesmo que fosse incrível ter um inimigo juramentado dentro da escola. Foi assim que os códigos surgiram.

A graça de ter um rival era poder ter alguém com quem competir em notas, atenção e moral, alguém para extravasar a raiva do mundo nos gritos, nas brigas físicas e até nos insultos mais bobos do mundo (a exemplo da criatividade imensa de James em usar como código “cara de Grindylow” e “Verme-cego”). Um era o vilão do outro. Seriam inimigos até precisarem ser amigos novamente, às escondidas.

— Você chegou bem rápido aqui. — Nate sentou-se ao lado do Potter, deixando as pernas doloridas esticarem-se no chão de madeira. — Se me disser que veio de vassoura depois de todo aquele drama de querer ser mais discreto, eu juro que quebro a sua cara.

James desviou o olhar, rindo de nervoso ao passo que também se sentava.

— Foi mal, eu juro que subo de escada da próxima vez...

— Inacreditável — bufou Nate, também rindo. — Não reclame se um dia descobrirem nossa amizade secreta. Ainda acho que o Kilik sabe.

— Kilik Virgil? — exclamou o Potter, erguendo o queixo para olhar para o teto. — Se bem que nós já quase fomos pegos algumas vezes por aquele-que-não-deve-ser-nomeado, ser descoberto por um dos seus amigos não parece ser tão ruim. Lembra de quando ele e a minha prima vieram se agarrar na Torre?

De imediato, Nate tirou o cigarro da boca e cuspiu.

— Eu odeio esse cara. — A imagem de Jasper Wood agarrando-se aos beijos com Rose Weasley se formou em sua mente. Era um homem completamente odioso. — Pessoas como a Weasley e Madeline deveriam escolher melhor onde enfiam as próprias línguas.

— Pessoas excêntricas e controladoras tendem a ficar juntas, essa é a lei da natureza.

Os dois brindaram a isso, batendo os cigarros um no outro.

— E então, sobre o quê queria conversar? — murmurou Nate, relaxando os ombros como podia.

James respirou fundo. Estava com um olhar pesado de quando ficava com um pensamento insistente na cabeça.

— Sextanistas. Fiquei de detenção depois daquela briga com escamoso do Malfoy no início da semana. Agora, todo dia McGonagall quer me ver depois das aulas no seu escritório.

— Não sei se você sabe, mas esse tipo de coisa acontece depois que você fica brincando de ping-pong com um garoto no meio da escola — riu Nate, recebendo uma cotovelada de leve na costela. — Certo, parei...

— Eu queria saber de você sobre esse cara. Quer dizer, ele é o melhor amigo do meu irmão, e Lily não para de falar dele depois da briga. Agora nenhum dos dois quer falar comigo de jeito nenhum. — Soltou um muxoxo, esfregando as mãos na própria cabeça. Definitivamente, estava angustiado. — Você sabe como a minha relação com os meus irmãos já é complicada, agora ela só piorou porque eu perdi o controle com esse garoto.

— James, você surtou legal só porque a Elois disse que o batom na camisa do Malfoy era o mesmo que a Lily estava usando. E mesmo que fosse o batom dela, não cabia a você bater nele até que ele confessasse algo. — Nate pigarreou, lembrando-se de como Kilik havia dito que devia fazer aquilo para descobrir os podres do Malfoy por Madeline.

— Você devia ter dito isso pra mim quando eu estava de cabeça quente — murmurou para si mesmo antes de encarar o rosto de Nate com as sobrancelhas franzidas. — E desde quando você defende o Malfoy? Achei que o seu objetivo de vida era ignorar a existência dele até a formatura.

Nate achou graça. Era tudo que ele mais queria antes por causa da relação de sua mãe com o pai de Scorpius.

— Bem que eu queria, mas a Madeline resolveu que está apaixonada e me pediu pra conhecê-lo. Me ajudaria muito se você conseguisse controlar os ânimos perto dele.

— Vou tentar, mas não posso prometer nada — disse James, amassando a bituca do cigarro no chão. — Madeline tem mesmo um péssimo gosto.

— Nem me fale. Quão engraçado seria se sua prima também gostasse dele?

James riu alto.

— Claro, claro. A gente devia se ajudar nesse assunto — falou com animação, arrancando da mão de Nate a caixa dos cigarros. — Eu pego leve com o garoto nesse fim de semana, e você me diz se ele é confiável. O que eu sinceramente acho difícil porque a) ele é um Malfoy e b) isso é motivo suficiente. Se o Malfoy não passar no seu crivo, eu vou chutar a bunda dele daqui até Hogsmeade. Quero ver se ele não larga o pé peçonhento do Albus.

— É fascinante como você confia no julgamento do seu próprio irmão, que é amigo do cara há anos.

Esse era um dos motivos pelos quais James tinha problemas de se entender com Albus e Lily. Ele tinha aquele senso de responsabilidade tão grande que começava a sufocar os dois Potters mais novos de uns dois anos para cá, mesmo que os amasse mais que a si mesmo. E de sufoco, Nate entendia mais do que ninguém. Talvez por isso sempre estivesse por perto quando James perdia a cabeça, ele era o único que o grifinório escutava com relação a isso e a várias outras coisas.

Nate desejou que Scorpius Malfoy fosse uma boa pessoa, isso com certeza ajudaria James a quebrar um pouco aquela cabeça dura.

De repente, um estalo lhe veio à cabeça.

— James, por que você vai pegar leve com ele nesse fim de semana? — disse o moreno, piscando rapidamente os olhinhos claros.

— Ah, é que sábado a tarde tem a detenção do Akilah. — O outro acendeu mais o cigarro que tinha pego. — Talvez eu só provoque ele um pouquinho...

Nate realmente se esforçou para não rir na frente de James. Com certeza o Malfoy tinha se esquecido da detenção ou planejava fugir dela para ir a Hogsmeade com Albus, o que certamente daria mais pilha para a raiva de James. Em prol da ciência de sua curiosidade para ver o que Scorpius Malfoy faria, Nate manteve-se de boca fechada. Seria, no mínimo, muito engraçado.

.

Atualmente

— Cansei! — berrou Madeline, assustando Kilik, Benjen e Roxanne Weasley. Ela se levantou de uma vez e encarou Nate, cuja tranquilidade inalterada a deixava ainda mais enfurecida. Se havia algo que ele achava engraçado era deixar Maddie com ódio. — Ele não vem. Ou ele veio e não quis se sentar perto de mim por sua causa.

O Parkinson apenas ergueu o olhar para ela, estava folgado demais no banco da arquibancada da Sonserina, enquanto o time se matava contra a Lufa-Lufa.

— Quer apostar quanto como na hora que você sair ele chega? — disse calmamente. Houve um grito por parte da Sonserina com mais um gol. O placar estava 90 a 60 para o time verde e prata. — Ele gosta demais de Albus Potter para faltar ao primeiro jogo dele como capitão.

Madeline até olhou para o espaço ao lado de Nate, mas rapidamente deu as costas, desaparecendo no meio dos alunos. Como sempre, a impaciência era sua maior inimiga.

— Espero que você esteja certo — murmurou Roxanne, aproximando-se do rapaz. Estava sentada ao lado dele, enquanto Kilik e Benjen brigavam no banco acima dos dois. — Quer dizer, não é do feitio do Scorpius se atrasar. Espero que nada tenha acontecido.

A cabeça larga de Benjen se aproximou dos dois, dizendo:

— Em Hogwarts? Nada de interessante acontece em Hogwarts desde que aboliram os duelos por serem muito perigosos.

— Ao menos quando tinham duelos, a gente podia brigar com alguém sem levar repreensão dos professores — disse Kilik, provavelmente se referindo a Benjen e ao atual duelo dos dois pela mão de Roxanne Weasley, que desconhecia por completo a disputa e estava mais interessada no jogo do que no fato de os dois tentarem puxar assunto.

— Acho que ele virá — falou Nate para ela. — Se não, Scorpius Malfoy não é quem eu pensava que ele fosse. E isso será um belo problema.

Um grito da Lufa-Lufa soou e todos os torcedores em pé gritaram histericamente. Era mais um gol da casa rival.

Foi quando, em meio aos montes de garotos e garotas vestidos de verde ou com acessórios verdes, uma cabeça loura e alta surgiu, ofegante e às pressas.

— Malfoy! — berrou Benjen, acenando para ele.

O sorriso de Scorpius foi aliviado, ainda mais quando ele se jogou ao lado da Weasley, respirando como se todo oxigênio do mundo fosse insuficiente.

— Che… guei… graças… a… Mer...lin…

Mas antes mesmo que pudesse dizer qualquer coisa, Albus Potter fez um vôo rápido em cima da arquibancada, jogando-se para dentro do campo com giros. Quando finalmente parou, ele ergueu a mão com um urro.

Albus Potter pegou o pomo de ouro! É isso mesmo, minha gente, o capitão da Sonserina fez seu nome! — gritou o narrador.

Todos da casa pularam entre berros, palmas e assobios altos! Até mesmo Nate, Kilik e Benjen, que não tinham o costume, vibraram com a conquista. Mas o mais alto dos gritos foi de ninguém menos que Scorpius, nem parecia que há meio minuto estava morrendo sem fôlego.

Se James pudesse ver de perto como a amizade daqueles dois era, ele certamente poderia mudar, nem que fosse um pouquinho, a forma de agir com os irmãos. E era esse o objetivo de Nate. Ele sabia que o coração de James Sirius era bom, por mais que sua cabeça fosse quente. Seria melhor para Albus e para Lily, as coisas mudariam na casa dos Potter. E mudando assim, talvez, mas só talvez, eles, Nate e James, não precisariam mais de códigos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então, eu sei que tinha prometido que o capítulo ia vir junto de um Spin-off com foco no Nate, mas os últimos dias me pegaram de jeito, então não deu pra terminar já que eu estou envolvida com outro projeto.