Aprendendo a Mentir escrita por Starsky


Capítulo 13
Capítulo 12 — Sonserina vs. Lufa-Lufa: práticas suicidas.


Notas iniciais do capítulo

HOJE TENHO UMA NOTÍCIA LINDAA! AaM recebeu mais uma lindíssima recomendação! Linda, cheirosa, amorzinho e cheia de palavras gostosinhas ♥ o que significa que esse capítulo lindo e maravilhoso é dedicado à maravilhosa Menina Perdida (u/634217/). Muito muito muito obrigada pelo carinho.
NÃO ME BATAM PELO TAMANHO DO CAPÍTULO! Juro que tentei diminuir ao máximo, até mesmo separando algumas cenas em capítulos futuros, mas foi bem difícil kkk. ENFIM! Espero que não pirem com a quantidade de palavras e que curtam bastante essa lindeza aqui hahaha. A NARRAÇÃO DO SCORP ESTÁ UM AMOOOR ♥



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Capítulo 12

Sonserina vs. Lufa-Lufa: práticas suicidas.

Scorpius

 

Dias de jogo de quadribol até tinham suas vantagens. Na suave opinião de Scorpius, não havia lugar mais sublime do que a biblioteca silenciosa de Madame Pince, já que praticamente toda escola se envolvia em torcidas organizadas para suas casas. Aquele espaço mágico acabava sendo habitado apenas por ele e por outros ratos de biblioteca, e a musicalidade era responsabilidade das páginas dos livros virando. Entretanto, nem tudo na vida é perfeito. E a calma tende a ser sempre interrompida por Albus Severus Potter.

— Então, isso significa que você quer ficar?

Madame Pince silvou um “shhh” agudo para que fizesse silêncio. Como se Albus se importasse.

— Eu realmente preciso adiantar essa matéria de Transfiguração — murmurou o loiro, afinando os lábios. Estava sentado com seu uniforme de jogo pronto e com a Firebolt-Supreme debaixo do braço. — E dias de jogo são os melhores pra isso. Não tem ninguém na biblioteca praticamente.

— E é exatamente por isso que você não vai ficar. Tem noção do quanto as pessoas estão falando sobre você desde o “incidente” com Pirraça? — Albus gesticulou as aspas com um sorriso malandro. — Vamos, é o primeiro jogo do ano. Eu preciso do meu maior torcedor gritando toda vez que eu chegar perto de pegar o pomo.

— Eu não torço — disse friamente, recebendo uma careta do amigo. — E mesmo que torcesse, você não iria precisar de mim. A escola quase inteira acha que vocês vão ganhar a Taça das Casas esse ano.

Aquilo fez com que o rosto de Albus relaxasse minimamente. Era verdade que a Sonserina era favorita naquele ano, especialmente com a campanha de Albus e de uma terceiranista chamada Erika Ensen que jogava como artilheira. O problema era que Albus ficava tão alucinado com os jogos que se perdia no resto de sua vida! Durante a semana inteira, o jogo foi a única coisa que saiu da sua boca.

— Eu não queria ter que dizer isso, mas você tem obrigação moral de ir me assistir! — berrou e foi novamente repreendido por Madame Pince. — Todo mundo vai estar lá. Até a Roxy disse que vai assistir na torcida da Sonserina. Vá pro jogo que eu juro que não te perturbo a semana inteira com a palavra “quadribol”.

Scorpius ergueu uma única sobrancelha, dizendo:

— Isso significa o quê?

— Que se eu disser a palavra “quadribol” uma única vez durante toda essa semana, eu vou ter que…

— Conseguir um encontro com a Lily para mim — interrompeu-o, fechando o livro de capa dura de uma vez. O rosto de Albus ficou estático e assustado, o que fez Scorpius soltar o riso. — Brincadeira. Você pode me comprar uma pizza no Diabretes da Cornualha da próxima vez que formos a Hogsmeade.

Todo o ar retido no Potter saiu como num furo de uma bexiga. Ele riu logo em seguida.

— Cara, você quase me assustou. Isso de brincar que vai ser meu cunhado não faz bem pro coração.

Rapidamente, Scorpius organizou seu material, pondo os livros debaixo do braço e começando a andar para fora da biblioteca. Já sabia que iria embora em algum momento antes do jogo. Albus sempre o tirava de lá para a torcida.

— Eu já ia de qualquer forma. Mas essa de não poder falar a palavra “quadribol” foi a melhor das chantagens que você já fez.

Quando saíram de lá, depararam-se com um corredor imenso do castelo completamente vazio e completamente em silêncio. Certamente, todos já estavam começando a pintar os rostos e a ajeitar os tambores. Até mesmo quem era da Grifinória e da Corvinal não perderia o jogo por nada. De acordo com Albus e Roxanne, a Lufa-Lufa de Emilé Duchannes e Barnard Smith estava em ascensão no que dizia respeito à estratégia ofensiva. Não que Scorpius entendesse o que isso significava. Ele só sabia ver quando alguém marcava um ponto e quando alguém se machucava feio. E só porque Albus passou todo primeiro ano dos dois explicando cada passo do jogo.

Mas, no geral, eles sempre eram do mesmo jeito. As paredes do Castelo se enchiam de cores e estandartes dos times que iam jogar, assim como todos que passavam com bandeirinhas e caras pintadas.

Cada casa tinha uma torcida bem característica. Sempre havia música, batuques e apitos, porém algo as distinguia. Na Sonserina, vez ou outra, alguém conjurava uma serpente de fogos sob o campo. Slughorn, diretor da casa, estava cego demais para reclamar. Já a Lufa-Lufa erguia uma bandeira imensa preta e amarela, que dançava em cima das traves. McGonagall estimulava esse tipo de coisa com palminhas e risos animados.

Só que para Scorpius, aquilo não era nada demais. Era bonito, okay, mas nada de extraordinário! Draco até tentou incentivar o garoto a gostar do esporte por ter sido apanhador na época do colégio e por trabalhar atualmente no desenvolvimento de novos modelos e na distribuição da companhia Flyte e Barker. O fato de Scorpius preferir livros era quase música para os ouvidos de Astoria.

Mães…

— Te vejo depois do jogo! — berrou o Potter, apressando o passo quando saíram do castelo e pulando em cima da própria vassoura.

Scorpius olhou para o caminho que tinha que percorrer com todos os livros em mãos completamente abismado. O campo de quadribol ficava a mais de dois quilômetros do castelo. Bem que ele já podia ter permissão de aparatar… O sistema era bem rígido nas aulas e não deixava que nenhum dos alunos tentasse fora do curso extraordinário do Ministério.

Suspirando, ele estava para começar a andar, quando subitamente seu ombro foi pegue. Os olhos azuis de Scorpius se voltaram num susto para trás, dando de cara com um sorriso passivo e aberto de ninguém menos que...

— Nate! — exclamou, sorrindo também.

— E aí, Malfoy? Indo pro jogo?

Kilik e Benjen estavam logo atrás, empurrando um ao outro. Nate parecia não se importar com aquilo.

— Err, vou sim. Estava a caminho agor...

— Não me faça rir! — rosnou Kilik com o olhar fundo. — Você disse um “oi” e um “Wingtown blá blá blá” pra ela. Lógico que ela te acha um retardado.

— E você com a sua simpatia estratosférica iam muito ganhar uma garota! — Benjen empurrou o ombro do amigo, ficando com o rosto num vermelho anormal.

— Ao menos eu não sou um idiota clássico que não fecha a boca.

— Estranho, achei que você não conseguia abrir a sua!

Nate rolou os olhos azuis com o barulho vindo das suas costas, pois em menos de um segundo, os dois sonserinos começaram a se estapear, jogando os corpos um por cima do outro.

— Eles estão bem? — disse Scorpius, observando a cena por cima do ombro do Parkinson.

— Eles vão ficar — respondeu ele, bufando. — Essa briga já está rolando desde semana passada, depois que você e a irmã do Fred saíram do Três Vassouras.

De imediato, Scorpius franziu o cenho. Benjen pulou em cima de Kilik e o derrubou.

— E essa briga toda é por…

Nate Parkinson ouviu o estrondo e se virou, erguendo os dois amigos pela gola das camisas, um em cada mão. Uma cena engraçada, já que Benjen era alto e magricela, enquanto Kilik, mais baixo e mais fechado, se deixava ser segurado.

— A briga desses imbecis — rugiu Nate nos ouvidos de ambos, soltando-os num empurrão — é por prioridade para dar em cima da sua amiga Roxanne Weasley.

A saliva que Scorpius estava para engolir se perdeu no meio do caminho, fazendo-a engasgar e tossir desesperadamente.

Rox-xanne?! — Foi o que ele conseguiu emitir.

— Bom, ela disse que vocês não eram exclusivos — murmurou Benjen, coçando a nuca. — A não ser que você tenha algum problema. Nós honramos o código de honra dos amigos. Brothers, tá ligado?

“Amigos”? Ele realmente disse amigos?

— Sim, sim. — Kilik balançou a cabeça. — Se você gosta dela, nós nunca falaremos desse assunto outra vez.

Scorpius travou por um momento. Não tinha absolutamente nenhuma resposta para aquilo além de imaginar uma reação da Weasley que não fosse uma risada incrédula.

— Eu não gosto dela — falou e congelou instantaneamente. Por que havia falado aquilo? — De nenhuma garota. Quer dizer, somos amigos agora, eu acho. Apenas amigos! Juro que não há nada além disso.

— Então a prioridade é minha — soaram Kilik e Benjen juntos, antes de se encararem e jogarem seus corpos um contra o outro novamente.

Com um sorriso gracioso, Nate passou por eles, jogando o braço por cima de Scorpius para andarem juntos a caminho do campo. Por mais que não fosse tão alto quanto o loiro, havia uma imponência em Nate que fazia qualquer um parecer pequeno ao seu lado. Era um excesso de confiança incrível.

— Então, — começou a falar em tom de bom humor — ouvi falar que lufanos estão quase te idolatrando ultimamente. Muito legal essa reviravolta que você teve.

— Reviravolta?

— É. De “Sombra do Albus” para sonserino que apanhou barra brigou com o James para sonserino que surpreendentemente simpático que salvou Luf-Lufa do sopão de Shrake. — Scorpius deu uma risada nervosa. Realmente havia sido uma bela mudança. Rose Weasley tinha talento. — Qual o próximo movimento?

Varinha, vassoura e Sonserina — recitou com a voz da ruiva ecoando em sua mente, sorrindo enquanto olhava para o outro. — É estranho ter um plano de mudança de vida?

Devagar, Nate negou com um movimento de cabeça, soltando-se do ombro de Scorp. Por mais intimidador que fosse, era fácil se aproximar do moreno. Ele tinha leveza e brutalidade ao mesmo tempo.

Talvez a parte “Sonserina” do plano de Rose estivesse se cumprindo, afinal.

— Só faça um favor a si mesmo — disse Nate com um levantar de ombros — de não esquecer do Potter. Muita gente aqui pode não ser sua amiga como ele é. Nós sonserinos temos que nos apoiar, não acha?

— Não há muito o que se preocupar quanto a nós. Provavelmente vamos continuar lado a lado ainda velhos, gritando um com o outro depois que perdermos a audição.

Nate riu. Kilik e Benjen surgiram ao lado dos dois logo em seguida com suas vestes abarrotadas e gravatas fora do lugar. Estavam ofegantes e com pressa de fazer caras empurradas um para o outro.

Era legal ouvir esse tipo de preocupação vinda de Nate Parkinson. Quer dizer, aquela era a primeira vez que alguém tentava “tomar de conta” deles. Não que fosse necessário.

Dormiam lado a lado, para início de conversa. As camas compartilhavam o mesmo baú cheio de besteiras e guloseimas trancadas. Tinham quase todas as mesmas aulas, com exceção de Poções e Trato Com Criaturas Mágicas, que Albus não fazia, e de Adivinhação, que Scorpius se recusava a estudar. Quando Albus tinha ideias de traquinagens, era Scorpius quem o salvava de ser pego. Quando Scorpius dormia na biblioteca, era Albus quem o acordava pra voltar às Masmorras. Scorpius ajudava Albus com os estudos e Albus ajudava Scorpius a comer os bolos solados que Astoria Malfoy inventava. Ficavam com dor de barriga juntos quase sempre.

E por mais amigos que Albus tivesse naquele lugar, Scorpius sempre foi o primeiro deles.

— Ah! — Scorpius exclamou, parando de andar imediatamente abaixo de um conjunto de árvores. — Esqueci de falar! Roxanne vai assistir o jogo na torcida da Sonserina. Ela já deve estar por lá, inclusive.

Os olhos de Nate rolaram, e, de repente, Benjen e Kilik partiram numa corrida sem anúncio! O garoto loiro só conseguiu rir de tudo aquilo.

— Você me paga, Malfoy — riu-se Nate, começando a andar na direção dos amigos em passo rápido e deixando Scorp na sombra das folhas. Não deu mais que cinco ou seis passos antes de virar apenas o rosto para gritar: — Te vejo no jogo! Madeline está ansiosa para sentar ao seu lado!

Subitamente, o rosto começou a formigar. O fato de Madeline Nott estar interessada em Scorpius Malfoy não era apenas improvável, era bizarro! E parecia estar ficando cada vez mais real. Dava até mesmo para escutar a voz de Albus falando ao encalço do seu ouvido:

“Muitas garotas chegam a uma época de sua vida em que elas querem salvar alguma coisa. Pode ser um gato, um cachorro ou um cara. Não que você seja algo a ser salvo, mas, no seu lugar, eu teria cuidado. Madeline pode ser mais arisca do que a gente pensa!”

A lembrança daquela conversa fez Scorpius suspirar de chateação. Não esperava realmente que uma moça como ela fosse se interessar de verdade por um cara como ele. Quer dizer, ela era cheia de poder! Era mais velha, seu corpo era chamativo, sua risada era alta. Tudo nela exalava força de vontade, popularidade, brutalidade e sonserinidade (tradução livre do dicionário de Albus Potter: épico!). Se Nate era o Rei da Sonserina, Madeline Nott devia ser considerada o anjo da casa. Ou o demônio, dependendo do ponto de vista. Para Rose, era mais ou menos isso que a moça era.

Rose e Madeline. Era engraçado pensar nas duas. Quase imediatamente sua mente formava a imagem delas brigando no pátio, puxando os cabelos uma da outra. Madeline com as madeixas escuras como breu, e Rose com fios rubros e alisados.

Scorpius ergueu o olhar, vendo raios de sol transpassarem os buracos por entre as folhas das árvores acima de sua cabeça. O vento batia mais frio que no início das aulas, faltava pouco para o início de novembro. Faltava pouco para muitos coisa na verdade! A Noite das Bruxas era no dia seguinte, domingo, e na outra sexta seria o primeiro jantar do Clube do Slug. E, pela primeira vez, Scorpious estava ansioso com o fim de outubro.

Como Nate mesmo falou: que reviravolta!

O barulho que o vento fazia era agradável, quase simbólico. Se estivesse na biblioteca, provavelmente não sentiria aquilo, um dos poucos momentos de calma naquela escola, e ninguém podia tirar isso dele.

Ninguém além dela, claro.

Subitamente, houve o som de galhos quebrando. Uma grande massa vermelha e escura despencou na frente de Scorpius, literalmente! Caiu em pé num estrondo. E como reação completamente normal, ele se jogou para trás com um berro!

— Já vou logo avisando que se você sentar com a Loucaline… — A voz da massa disse. Foi quando ele percebeu que não era uma massa comum, ah não! Com aquela voz irritantemente doce e fina só podia ser uma pessoa! Ela ajeitou os cabelos vermelhos para trás e deixou o sorriso brando e os olhos castanhos esverdeados tomarem a cena. —... Eu vou raspar isso amarelo que você chama de cabelo.

Ele engoliu a seco com o riso de Rose Weasley.

— C-c-como?! De onde você surgiu?! — Levantou-se o mais rápido que pode, batendo as mãos na calça jeans, agora cheia de terra. Olhou pra cima da árvore rápido, dizendo: — Você acabou de pular dali? Estava me espionando?

Rose franziu a testa e deu de ombros nus. Estava com uma camisa de lã de gola larga que pegava de braço a braço bem folgada.

— Não importa. Temos coisas mais importantes a conversar!

Sem reação imediata, ele a viu erguer a barra da camisa. Todo seu rosto ficou em brasas, enquanto os olhos arregalavam como duas bolas de bilhar. O reflexo foi semi-imediato de jogar as mãos nos olhos, mesmo que com uma pequena frestra involuntária entre os dedos mindinho e anelar. Com uma bufada, Rose resmungou:

— O que pensa que está fazendo? Olhe, está quase terminado!

Debaixo da sua camisa saíram dois pedaços de papel, um velho e um pouco dobrado. Ambos ele conhecia bem.

— Você não está insinuando que...

— Sim! — Rose sorriu e deu um pulinho antes de encarar os arredores para ver se alguém se aproximava. — Falta pouquíssimo! Eu só não estou conseguindo direito alinhar as bordas. Vez ou outra a tinta pula do papel! É frustrante.

Ela entregou ambos os papéis para o rapaz, que tirou a varinha do bolso, batendo nos dois ao mesmo tempo:

Eu juro solenemente não fazer nada de bom.

A tinta tomou forma, engrenando e dançando sobre os papéis. Não tinha como negar que a réplica estava encantadoramente perfeita, desde os detalhes dos passos das pessoas, até mesmo às indicações dos cantos do Castelo. Nenhum lugar fora poupado ou deixado de lado.

— Está bom, não está? — disse Rose, jogando os cabelos longos para trás. O garoto assentiu. — Passei quinta a noite terminando cada detalhe. Descobri que tenho muito talento para desenho, por sinal!

— Fala sério, quantas horas você tem todo dia? — Sorriu também, aliviando o rosto desconcertado.

— Você não conhece verdadeiramente a magia até me ver transformar 24 horas em 30. — Os olhos dela se fecharam nos cantos com o riso. Formavam marquinhas em cima das sardas mal distribuídas, mas o Malfoy nunca as havia notado. — Então, alguma ideia?

Ele sacudiu a cabeça. No que estava pensando?

— Bom, acho que um feitiço de logística de condicionamento serve. Tipo, para ligar as extremidades do universo imaginário do feitiço Homunculus com o papel, se liga?

— Você sabe algum?

Sabia uns dois ou três, mas não diria isso a Rose. Certamente isso faria com que aquele bom humor entre os dois acabasse, e ela corresse para a biblioteca para aprender quatro desses feitiços, só para batê-lo.

Lignares, eu acho. Não deve ser esse exatame…

A garota tomou o papel mais novo das mãos dele e fez como sugerido, deixando que as linhas de tinta se costurassem e fixassem cada centímetro no papiro novo. Scorpius só conseguiu escutar um grunhido surpreso da moça, como se até ali ela tivesse duvidado de que funcionaria.

— Olha, você não é inútil meesmo. Acho que o mapa está quase pronto, então! — Rose deu um pulinho animado ao lado do rapaz. Foi quando ele olhou mais próximo ao seu rosto. Estava com olheiras. Olheiras essa que de repente saltaram num susto quando a moça o encarou de olhos arregalados. — Ei! Vamos aproveitar que todo mundo está no jogo para devolver o original para Teddy!

Ela estava louca ou o que?

— De jeito nenhum. — Scorpius deu de costas e começou a andar. Pena que não chegou a ir muito longe.

— Tudo bem — disse ela suavemente, — até porque se eu for pega, não é como se eu fosse cair sozinha. Afinal, eu tive ótimos cúmplices.

Os passos pararam, e todo aquele vento gostoso que ele pensava que sentia momentos antes se transformou no fogo do inferno.

— Eu odeio essa garota. — Olhou para ela e viu seu sorriso travesso debaixo e olhos que praticamente cuspiam fogo. Se havia algo que emanava daquela garota era fogo.

Quando percebeu, estavam dentro do castelo, mais especificamente no pátio, de frente para uma longa cadeia de janelas que se colocavam umas acima das outras. E na frente de ambos, havia uma vassoura de cabo ressecado e palha em aspecto desastroso. Claro que tudo tinha sido meticulosamente planejado por ela. Como ainda conseguia se surpreender?!

— Então você abre a janela e deixa o mapa na gaveta! — Sorriu ela, batendo no ombro do rapaz. — Está preparado?

— Tá louca, garota?! — berrou, enfiando as mãos na cabeça. — Você quer que eu, Scorpius Malfoy, o maior desastre no quesito vôo, entre na sala do Professor Lupin pela janela?! — Começou a andar em voltas, olhando para a grama sem direção certa. Ia cair no chão. Ia se jogar contra as paredes. Ia chacoalhar no ar como uma lombriga. Ia repetir toda violência da primeira aula de vôo (e de todas as outras) do primeiro ano. Parou e encarou Rose, tentando não tremer os joelhos. — Sem chance de eu ir. Nenhuma! No momento em que eu subo em vassouras, elas criam personalidade e perdem o controle total.

— Dramático — murmurou.

— Eu tenho certeza que você já tinha pensado nessa invasão antes de ir falar comigo do mapa.

Sem vergonha alguma, ela assentiu com a cabeça. Inacreditável...

— Eu até iria, mas não posso ficar a mais de dois metros de altura do chão. — Piscou rapidamente e ergueu a vassoura. — E agora é a sua chance de mostrar o seu valor. Se tiver medo de cair, eu te salvo com Aresto Momentum.

— Mas só vamos testar esse feitiço no próximo semestre...

— Por isso a situação vai ser uma ótima forma de eu ter vantagem sobre a turma — exclamou ela, vendo o rosto do rapaz amolecer. Rose tinha sérios problemas, era impressionante que ainda não tivesse uma ordem de prisão preventiva no seu nome. — Certo… Brincadeiras a parte, você é realmente a única pessoa que pode fazer isso. Eu tenho pavor de altura, você sabe! E o Albus não é confiável de ser deixado sozinho na sala do Teddy.

— Achei que não tinha pedido ao Albus porque ele estava jogando — disse Scorp com um levantar de sobrancelha.

— Pff, eu não me importo com quadribol. Por mim, esportes como xadrez bruxo seriam mais valorizados!

Aquilo fez Scorpius soltar uma risada frouxa e sem querer, simplesmente amava quando outras pessoas reclamavam de quadribol.

— Eu vou — sentenciou e afinou os lábios, estava perdido mesmo. — Mas você vai subir na vassoura comigo. Não tem a menor chance de eu ir sozinho.

O queixo de Rose caiu num grunhido:

— Você não...

— Só vou se você for — cortou ele.

—... Escutou o que...

— Não me importo.

—...  Acabei de falar?!

— Essa é a minha condição. Sinta-se à vontade para explodir a porta da sala do Professor se não quiser ir comigo.

Os olhos dela rolaram enquanto sua boca proferia um urro desconcertado.

— Lógico que eu não iria explodir! — Bateu o pé e cruzou os braços, erguendo a visão para a janela do terceiro andar. — Ela está trancada por magia, eu já tentei ir lá. E explosão é coisa do Albus!

Por um momento encarou a cara lavada de Rose, distraída com prováveis cálculos de distância entre seu pé e o muro que precisavam subir numa vassoura. Estava focada demais, mexendo os ombros como se ajeitasse a própria coluna. Ele já havia visto isso antes… Parecia até que ela fazia aquilo para pensar direito. Das outras vezes, porém, Scorpius sempre se dava mal. Foi quando engasgou com a própria saliva!

Cof cof cof. Tinha realmente ganhado uma discussão com Rose Weasley?! Cof cof cof. Preciso bater no próprio peito para acalmar o sufoco.

Então, Rose virou o corpo para o rapaz, mantendo a pose controlada ao falar:

— Certo, a estratégia é bem simples. Os dois sobem na vassoura, mas eu fico na frente para descer e colocar o mapa na gaveta. Consegue manter a vassoura suspensa por um minuto sem a  minha ajuda? — Scorpius assentiu com a cabeça um tanto temeroso. — Ótimo. Na hora de descer, eu não vou conseguir olhar para baixo. Se você nos fizer cair, saiba que eu consigo quebrar o seu braço em três antes que você diga “Sir Nicholas de Mimsy-Porpington”.

O rosto de Scorpius formigou ao ser encarado pela moça, mas aquele era mesmo o jeito.

— Certo. — Balançou a cabeça para perder aquela sensação. — Estou pronto.

Rose posicionou para que os dois montassem, ele atrás, e ela mais a frente com os pés no apoiador, sibilando:

— Então… vamos…

Lentamente, retiraram os pés do chão. E para a surpresa da nação, a vassoura não se desequilibrou de imediato.

— Três segundos e ainda estamos vivos! Acho que podemos ir até o fim — riu-se Scorpius.

— É disso que eu preciso, otimismo irônico. — Ela rosnou, dando-lhe uma cotovelada no braço.

— Ei, foi você quem começou me chamando de Scorpius. Ironia é intimidade para mim, pergunte para o Albus.

Começaram a subir, trancados com toda e qualquer alteração de movimento. Um andar. Dois andares. Chegar ao terceiro andar foi um semi-pesadelo tão angustiante, que Scorpius começava a se animar. Não era como se tivesse medo de voar, ele só não sabia. Nunca soube. Iria dizer a Rose que ao menos tinha ficado feliz.

Porém, antes mesmo de cutucá-la, seu olhar encontrou as mãos dela agarradas no cabo da vassoura. Havia tanta pressão que os dedos começavam a ficar roxos. Era pavor, e com certeza ela estava morrendo por dentro, orgulhosa demais para dizer algo. Um aperto atingiu Scorpius numa sensação de arrependimento. Não deveria tê-la forçado a subir também.

— Weasley, eu...

— Meu nome é Rose — disse sua voz, estava enjoada. — Chegamos.

Scorpius viu o parapeito da janela de vidraçaria colorida. A sala do Lupin estava vazia, ainda bem. Esticou o braço, abrindo a escotilha e liberando a entrada. Num movimento sorrateiro, Rose esticou as pernas como pode e se jogou dentro da torre, ao passo em que o rapaz se ajeitava mais para frente na vassoura, ajeitando os pés no pedal.

— Eu já volto — disse ela de rosto baixo e correu para dentro.

Ótimo, resmungou para si mesmo. Agora estou me dobrando para Grindelrose! Ela vai se aproveitar disso! Ah, se vai!

Notou que ela mexia freneticamente nos papéis das gavetas do professor. Ajeitava uma mecha de cabelo para trás da orelha e respirava fundo de olhos fechados. Estava procurando força. Isso era ser parte da Grifinória.

Ela não vai se aproveitar, veio até aqui para não me deixar subir só. Pensou e deu um sorriso simples, certo de que por um instante ou outro, Rose não era a louca manipuladora que ele achava. É, ela não era. Começou a balançar a cabeça com a ideia fixa, iria conversar com ela sobre esse medo. O problema foi que balançou tanto que a vassoura perdeu o equilíbrio.

De repente, Scorpius viu a ponta da frente subir, enquanto a de trás descia e girava para trás.

— Ah não. Ah não. Não, não, não, não, não!

Scorpius segurou firme o cabo, girando juntamente com a vassoura, de cabeça para baixo até voltar para cima, numa espécie de carrossel suspenso e vertical. Uma, duas, três, quatro vezes. O giro não parava. Claro que isso ia acontecer! Afinal, aquilo era realidade, e a realidade é uma droga para alguém como Scorpius Malfoy.

— O que está fazendo? — A voz de Rose soou pela janela. Ela o observava volvendo no ar com as sobrancelhas prensadas.

— Acredite, não estou fazendo nada por livre e espontânea vontade — disse ele, choroso.

Rose riu baixinho.

— Pra onde você iria sem mim?

— Lugar nenhum, só, por favor, me tira daqui. Estou começando a enjoar. — De fato estava. O bolo de cenoura que recebeu no correio da manhã estava se embrulhando e pedindo espaço pela saída mais próxima.

— Já estou…

Ela parou por um momento. Tinha congelado ao olhar a altura. Droga.

— Weasley, ei. — Scorpius tentou chamar sua atenção, mas o rosto dela estava fixo com chão há vários metros de distância. — Ei, olha pra mim. Weasley, eu tô bem aqui. Olha pra mim.

Não olhou. Continuou estática de um jeito completamente bizarro, e, enquanto isso, ele ainda estava girando.

— Scorpius… — Foi a única coisa que saiu da sua boa.

— Segura em mim — disse ele, estendendo o braço para Rose. Não adiantou de nada, mas tinha que insistir. — me puxa para perto, Rose.

Ao escutar seu nome, ela o encarou por um momento, agarrando seu braço e puxando-o para perto. Num respirar ligeiro, saltou para cima do rapaz, que abraço-—a contra si num jeito desesperado de não perder o controle. Vamos cair, vamos cair. Scorpius chegou a fechar os olhos no susto, mas a vassoura balançou e balançou e não voltou a girar.

Não voltou a girar. NÃO ESTAVA GIRANDO! Abriu os olhos e percebeu que planavam no ar sem o menor esforço, ele e Rose. Ele e Rose. Rose esta que ele abraçava com um braço, enquanto segurava o cabo da vassoura com o outro. Rose esta que estava engalfinhada com a sua camisa, tendo a cara enfiada no seu peito.Desce

— Desce logo com essa vassoura — grunhiu a ruiva sem tirar o rosto de perto do Malfoy.

Não era como se ele soubesse exatamente o que fazer para descer, mas já viu a tranquilidade de Albus tantas vezes só colocando o bico da frente para baixo que pensou que aquilo funcionaria.

Só que ao se tratar de Scorpius, as coisas tendem a dar erradas. A vassoura mergulhou num vôo tão rápido que os gritos de Rose e Scorpius provavelmente ecoariam por toda eternidade naquele pátio. Ele até tentou erguer vôo outra vez, mas já era bem tarde para isso, foram jogados em conjunto no meio da grama num tipo de twist carpado sem jeito. Quando caíram no chão, Scorpius ainda estava abraçado a Rose, tentando frustradamente amortecer a sua queda.

Havia grama em toda sua roupa. Isso já estava se tornando um tipo de tradição.

— Ahhhhh — gemeu ele, soltando-se da moça e jogando-se para o lado. — Me lembre de nunca subir numa vassoura outra vez.

— Uuuui — gemeu ela, sentando-se e massageando a própria cabeça. — Me lembre de nunca tentar subir numa janela outra vez.

Entreolharam-se por um instante. Não rir daquilo foi quase impossível.

Caíram na gargalhada da mesma forma que caíram da vassoura.

— Você devia ter visto a sua cara quando chegou lá em cima. — Scorpius também se sentou, colocando a mão na boca, estava rindo alto demais.

— Minha cara? Você grita como uma mandrágora! — Ela gargalhou, sacudindo os ombros com graça. Scorpius não conseguiu deixar de pensar como era bom ouvi-la assim, a sua versão assustada era absurdamente preocupante. — Mas você sabe, né? Se algum dia disser a alguém o que aconteceu, eu…

— Quebra meu braço em três, já entendi. — Ele balançou a cabeça, segurando o sorriso. — Ninguém nunca vai saber que Rose Weasley é de fato humana.

— Eu não era antes? — A voz dela não soou com a alegria de antes. Na verdade, uma sombra lhe tomou o os olhos grandes sob as sardas. — Isso não é muito diferente de me chamar de megera.

Ahn? Megera?

— Eu não te chamei de megera. — Ao menos nunca na frente dela, pensou.

— É, mas o James chamou — disse, seca. — Ele e outras pessoas da minha família, os últimos que deveriam falar de mim pelas costas. Não é como se eu nunca tivesse merecido, mas, poxa, eles são família! Deviam dizer essas coisas na minha cara! Agora, eu não consigo tirar isso da cabeça.

O garoto engoliu a seco por um momento.

— Bom, eu já te chamei de megera também. — Rose não olhou pra ele e nem esboçou qualquer reação. — Mas agora que eu te conheço, só te acho, bom, excêntrica.

Ela soltou uma risada pelo nariz.

— Excêntrica?

— Do tipo que troca uma ajuda quase mínima com um mapa por vários auxílios, além de práticas suicidas — falou ele, movendo-se para o lado dela. — Tudo bem que no início era uma troca justa, mas você podia ter parado a qualquer momento, ainda mais depois da confusão com o James. Acho que você está curiosa como tudo vai acabar, e provavelmente gosta da companhia minha e do Albus.

O rosto dela ficou tão vermelho quanto seu cabelo para a surpresa de Scorpius, que também começou a se sentir errado em ter dito aquilo, adquirindo o mesmo rubor em seu rosto. Rose, porém, nada respondeu. Nenhuma palavra saiu de seus lábios sobre aquele assunto, e Scorp realmente olhou para eles.

— V-você… não tinha que estar no jogo do Albus ou algo assim?

Num pulo súbito, o garoto se ergueu sem o menor equilíbrio, era grande demais. O JOGO! Havia esquecido completamente!

— Pelas barbas de Merlin, ele vai me matar! Eu preciso ir! — Bateu com toda velocidade possível na própria roupa antes de girar no próprio eixo. O melhor caminho era por dentro do castelo. Não devia ter perdido mais que meia hora de jogo. Sequer chegou a se despedir de Rose, arregaçando a bolsa com os livros nos ombros e correndo pelo gramado. — Por favor, que ele não tenha pegue o pomo ainda...

A última coisa que escutou foi a voz de Rose retorcendo sua espinha ao gritar:

— Precisa de uma carona de vassoura?

Chegou virar apenas o rosto para vê-la desaparecendo atrás de si já com o rosto normalizado, mas ainda sentada, afrouxando o cenho. Não deu pra ver, mas talvez ela estivesse sorrindo.

À distância, estava bela.


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Notas finais do capítulo

Estão sentindo esse cheiro? Estão sentindo? Estão sentindo o ship fluir? HAHAHAHA Espero que tenham gostado! E queria saber o que vocês estão vendo na relação Scorose até então! E também quanto ao Nate e seus amigos crushados na Roxie! Não deixem de comentar nada! Eu sei que foi longo, mas valeu a pena!
Agora, preparem seus corações sonserinos... O próximo capítulo será narrado na visão linda e maravilhosa do meu crush da fic: Nate Parkinson! Então se preparem! Vejo vocês em: "Capítulo 13 - Códigos".
E melhor, após a publicação dele, postarei um Spin-Off de três capítulos em homenagem ao Nate separadamente! Mando o link nas próximas notas, prometo ♥