Aprendendo a Mentir escrita por Starsky


Capítulo 12
Capítulo 11 — Nem tudo é o que parece ser.


Notas iniciais do capítulo

Fiquei muito muito feliz de poder introduzir apropriadamente dois dos personagens que eu mais gosto da fanfic: a Alice e o Lysander. Por ser um capítulo que narra tudo de forma diferente, creio que alguém possa ficar chateado pela falta de Scorose hahaha, mas não vão se arrepender! Boa leitura a todos!



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Capítulo 11 — Nem tudo é o que parece ser.

Hugo

 

Segunda-feira era o pior dia da semana. E, a cada semana, parecia que piorava ainda mais! Não havia Trato com Criaturas Mágicas e nem Aritmância, e Herbologia estava no primeiro horário da manhã do quinto ano, o que era péssimo para alguém de hábitos noturnos peculiares como Hugo Granger-Weasley. Entretanto, tudo havia se tornado mais belo e assustador depois que voltou às pressas para o castelo numa corrida pessoal com Rose, atravessou as escadarias e praticamente escancarou o quadro da Mulher Gorda ao berrar a senha!  Olhou para os lados rapidamente, encarando alguns alunos da Grifinória conversando entre si e, como sempre, ignorando-o por completo. Precisava de duas pessoas, apenas. Duas pessoas que certamente não fingiriam que ele não existia.

Foi quando deu de cara com Lily atravessando o salão de meias no meio do joelho e roupas que provavelmente caberiam duas vezes a sua forma microscópica de corpo, logo antes de cair no meio dos puffs vermelhos ao lado das escadas que davam para o quarto das meninas. Alice estava com ela e riu um pouco na sua chegada.

Hugo sequer piscou, correndo para perto delas.

— … terminei a saga “A Mágica Seleção”¹. Por favor, diga-me que vai ler! — A voz de Alice crescia à medida que o garoto Weasley se aproximava, um tanto aguda e anasalada.

— Lógico que não — disse Lily com um riso alto. — Não há força mágica que consiga me fazer parar de ler “A Menina Que Roubava Poções”² para começo de conversa…

— Tenho notícias! — berrou ele, jogando-se entre elas e dando um susto ligeiro em ambas.

Hugo não era grande e nem forte. Tinha cabelos ruivos cacheados para cima e olhos pouco maiores que o tamanho comum para alguém com a cabeça do tamanho da sua, mas nada que pudesse levar as meninas a se assustarem toda vez que ele brotava.

— Hugo! — Alice sacudiu as mãos com angústia. — Eu já disse para você parar com essas coisas.

— Estamos discutindo séries de livros. Quer entrar na discussão? — perguntou Lily, acomodando-se de lado para que ele coubesse melhor no lugar pouco premeditado. — Responda rápido: “A Menina Que Roubava Poções” ou “A Mágica Seleção”?

Ele entreabriu a boca, parando imediatamente o que ia falar. Como assim Lily estava comparando “A Menina Que Roubava Poções” a “A Mágica Seleção”?!

— “A Menina Que Roubava Poções”, lógico! Não tem nem o que pensar sobre isso — resmungou, sacudindo a cabeça. — Francamente, Lil, eu não esperava esse tipo de pergunta vinda de você.

Ela sorriu e deu de ombros.

— Foi exatamente o que eu disse para a Alice, mas ela é uma romântica incorrigível.

Alice era de fato romântica, só que de um jeito ligeiramente assustador.

— E-enfim! Eu tenho um assunto muito, muito mesmo, mais interessante que isso! — berrou, animado como geralmente ficava. Sentia que poderia explodir com a informação. Sabia que Lily e Alice eram as únicas com quem podia dividir aquilo. — Acabei de ver duas pessoas conversando. Duas pessoas que ninguém nunca imaginaria que conversariam, ririam e interagiriam juntas sem tiros e bombas rolando.

Lily ergueu uma única sobrancelha e Alice apoiou o rosto no punho cerrado.

— Isso cheira a fofoca — disse a Longbottom, trocando olhares com a amiga antes de voltar a encará-lo. — É sobre o Albus?

Ele negou.

— Então é sobre o James? — Lily indagou, revirando os olhos como se já imaginasse o que o irmão teria feito.

— Não é sobre os Potter, é muito...

— Então não me interessa. — As duas soaram juntas.

—... Melhor… — Hugo sacudiu a cabeça ferozmente. Tinha certeza de que iria fazer o queixo das duas caírem, se um dia conseguisse começar a falar o que havia presenciado. — Escutem! Eu acabei de ver minha irmã conversando com aquele garoto Malfoy da Sonserina, o Sombra do Albus!

As orelhas de Alice captaram a mensagem com uma tremenda atenção!

— Ela estava batendo nele? Pobre coitado.

— Não! Essa é a parte interessante da coisa. — Hugo se aproximou, quase jogando o próprio corpo em cima da Longbottom. — Era uma conversa íntima. Com direito a risadas e caras pensativas! Tá percebendo o que eu quero dizer?

— Ahn… Ela estava ameaçando ele de morte? — disse Alice.

Lily deu uma risada, falando:

— O nome dele é Scorpius, não “Sombra do Albus”. Se Rose estava conversando com ele, coisa boa não era.

O garoto assentiu com a cabeça, movendo-se para ficar de frente para ambas as meninas. Precisava respirar fundo para o que ia dizer.

— Eu tenho uma teoria. E estou contando com vocês duas! — Elas se entreolharam, como se dissessem uma a outra que aquele era mais um plano de Hugo Weasley. Não era. Era maior. — Rose está voltando com “o esquema”!

Silêncio. Nem Lily e nem Alice falaram nada, apenas fitaram o garoto caladas. Ele precisou empurrar o ombro das duas para quem tivessem alguma reação.

— Ah... — Alice balançou a cabeça. — Quer dizer, ele que ajuda meu príncipe Albus a passar nas provas né? Deve ser inteligente. Ele provavelmente está fazendo alguma coisa pela Rose… Não é, Lil?

— Hugo, passou pela sua cabeça que eles pudessem estar paquerando, e você estava invadindo a privacidade deles? — disse a ruiva, erguendo uma sobrancelha.

— Pelas barbas de Dumbledore! — Alice estremeceu num berro agudo. — Um sonserino e uma grifinória! Como os trouxas dizem, Lily? Shippo, né? Eu ship-po. Shippei fortemente.

Como sempre, uma romântica incorrigível. Ela com certeza estava se imaginando com Albus naquela situação.

— Pfff. Estamos falando de Rose. Com certeza eles estão tramando algo. E eu vou descobrir o que é para proteger minha irmã de um sonserino tosco. — Parou por um instante. Albus também era um. — Sem ofensa, Lily.

Ela balançou a cabeça com graça.

— Eu só pensaria duas vezes antes de dar uma de protetor pra cima da sua irmã. Digo isso como uma irmã que tem um irmão com essa doença. Você se lembra de como ela encarou isso da última vez, não lembra?

E como lembrava. Hugo havia descoberto sobre o “esquema” e dito para alguns colegas que precisavam de nota. Seria uma forma de ganhar a amizade daqueles caras. Só que eles estavam mais interessados em ver como a famigerada Rose Weasley se saía em situações ruins, ameaçando contar para Mcgonagall. E Hugo sabia que se dissesse para a irmã, não acreditaria. Seria péssimo, e daria muito errado para ela. Então, deu uma de garoto mimado e disse que contaria para os pais deles se ela não parasse. Rose ficou um mês com raiva.

— Um dia, ela ainda vai agradecer que eu nasci. — Estava tão convencido disso que se recusava a admitir que esse acontecimento semi-lendário tinha boas chances de demorar uma vida inteira pra acontecer. — Vamos jantar! Eu explico meu plano e vocês me ajudam.

Devagar, Lily contraiu os lábios.

— Foi mal, não tô com fome.

Subitamente, Alice largou uma cotovelada no braço da prima Potter.

— Você prometeu ao menos o jantar, Lily — disse a morena com seriedade, antes de fitar o olhar de Hugo levemente. — Querido, por mais que eu entenda todo o lance de perseguidor, acredite em mim quando digo que o seu caso não vale a pena. Dá um tempo pra ela, você nem tinha que estar bisbilhotando pra início de conversa.

— Falou aquela que persegue o irmão da Lily desde sempre.

Aparentemente, Lil nunca se incomodou. Pelo contrário, ela foi a primeira a ter sugerido que Alice e Albus tinham muito em comum. Talvez isso tenha feito com que o processo doentio de só se imaginar com o Potter crescesse mais.

— É como eu sempre digo — continuou Alice, levantando-se dos puffs — faça o que a Lily diz, ignore o que eu faço, e o mundo gira normalmente.

Hugo retorceu a cara sardenta e ligeiramente vermelha, resmungando:

— Deixa pra lá, eu faço tudo sozinho.

Ele se levantou, seguido de Lily.

— Hugo, deixe essa teoria da conspiração de…

De imediato, o garoto zarpou pelo Salão Comunal, subindo as escadas para o dormitório dos meninos. Não era uma simples teoria da conspiração, era querer prevenir que sua irmã fosse quebrar a cara no futuro com a venda de colas. Estava claro que demais que era isso que Rose estava fazendo. Quer dizer, por que outro motivo ela estaria conversando com o Malfoy? Não era ela a maior anti-Sonserina da vida?

Hugo não jantou muito. Sequer dormiu direito. Ou dormiu e não sonhou. Piscou os olhos e já era dia, mas ninguém nunca o acordava. Tinha o plano de entender o que Rose estava fazendo tão fixo na cabeça que deixou de lado completamente a aula de Transfiguração do Professor Akilah, e todo o resto da manhã que deveria estar estudando para as NOMs. Lily e Alice não se importavam que uma nuvem negra se formava na cabeça dele, conversando entre si, enquanto alguns fusíveis se fundiam no ruivo dos seus cabelos.

Rose e um Malfoy conversando só poderia significar poucas coisas:

1) Rose voltou com “o esquema” e está forçando o Sombra do Albus a ajudar a distribuir as colas para as pessoas da Sonserina.

2) Rose voltou com “o esquema” e foi descoberta pelo Sombra do Albus, que deve ser um tipo de concorrência no submundo das colas.

Até porque estava falando de Rose Weasley. Ela jamais pediria ajuda como uma pessoa normal ou seria chantageada por alguém.

Hugo riscou as opções no caderno, enfiando as mãos nos cabelos. Não fazia o menor sentido vê-la conversar com pessoas que ela odeia cheia de risinhos. Simplesmente não fazia. Ele precisava ver com os próprios olhos que tipo de pessoa era Scorpius Malfoy. E que tipo de nome era esse afinal? Scorpius! Como se ele fosse causar qualquer tipo de intimidação.

Organizou seus pertences e correu para fora da sala de Transfiguração com o objetivo na cabeça: iria pegar seus equipamentos da Geminialidades Weasley e iria descobrir afinal o que estava acontecendo. Ele só não imaginava que, ao entrar no Castelo, precisaria frear o passo às pressas.

— Explodir?! Você tem sérios problemas, Albus.

Hugo jogou-se contra a parede, ao lado do portão de entrada para não ser visto. Lá dentro estavam Albus, Roxanne e o famigerado Scorpius Malfoy.

— Não é explodiiiir no sentido literal da palavra! É mais um show pirotécnico de grandes dimensões. Você está exagerando — berrou a voz do primo Potter. — Pensa no lado artístico, se liga? Um show de quadribol do time da Sonserina e do time da Grifinória ia chamar atenção do Profeta Diário.

Houve uma risada masculina. Devia ser do Malfoy.

Hugo levou o rosto à porta para observar o trio animado da forma mais discreta possível. Estavam com suas mochilas e uns sacos de plástico nas mãos. O ruivo precisou afinar os olhos para ver que eram, estranhamente, várias varinhas de alcaçuz. O que eles fariam com todas elas? Talvez fosse pagamento para Rosie! Até porque, Roxie não desgrudava de Rose, e Albus era o pequeno poste que tinha a sombra do Malfoy!

Entretanto, antes que pudesse ir até os três, Hugo sentiu uma mão tocar suas costas! O garoto deu um pulo com um giro, encarando sem fôlego duas presenças de mesmo tamanho, cabelo loiro e...

— Fazendo o que Huggies-fralda? — disse Lorcan com um sorriso debochado.

Lorcan e Lysander Scamander estavam na sua frente. Era engraçado ver como eram tão iguais e tão diferentes, a começar pelas vestes: Lufa-Lufa e Corvinal, respectivamente.

— Lorcan. Lysander. — Hugo tateou a pedra da parede para se escorar. — O que estão fazendo aqui?

Ambos tinham longos cabelos, batendo nos ombros e geralmente assanhados. Sua mãe era tão próxima de Tio Harry que Lily recebeu seu nome como homenagem. Todos amavam tia Luna. Nem todos amavam a dupla dinâmica. Por “nem todos”, ele se referia a Roxanne Weasley.

— Ah, a gente estava ali com o pessoal esperando a hora do almoço — disse Lysander, mansinho. Enquanto Lorcan era trovão, Lys era gentileza. — Pirraça sumiu com as guloseimas do Salão Comunal da Lufa-Lufa, e estão todos com medo do sopão de ninho de Shrake com cravo do almoço. Sabe, as pessoas não gostam muito dela porque é escura e grossa, mas eu acho muito bom que os elfos estejam mudando o cardápio.

Gentileza, mas com um gosto estranho para comidas. Sopa de Shrake era grotesca.

— Você está cada vez mais parecido com a mamãe — resmungou Lorcan, voltando a encarar Hugo. — Nós te vimos e achamos que estava espionando alguém. Quem é?

Os gêmeos esticaram a cabeça na abertura do portão para olhar. A reação foi instantânea: Lysander jogou-se para o lado de Hugo e Lorcan caiu na gargalhada. Precisaram puxá-lo para que não denunciasse a posição de espreita.

— O que está fazendo? — Hugo engasgou, empurrando Lysander com o ombro.

Lorcan não parava de rir.

— Relaxa, ele só está nervoso. É a paixão pela Roxanne gritando dentro dele — explicou.

O ruivo franziu o cenho.

— Eu a amo desde que ouvi sua doce voz falar em Nargles sem que ela torcesse a cara. — A voz de Lysander saiu automática, e seus olhos fixos no horizonte. Os irmãos Scamander nunca foram conhecidos por lidar bem com suas paixonites. Hugo ouvia muito bem quando Rose falava que Priya pirava com Lorcan e suas investidas nada discretas. — Acredita que eles já deixaram um visgo para nós? Lógico que roubaram meu cachecol reciclado como pagamento, mas… Quase foi um momento mágico.

Os olhos dele brilhavam tanto quanto os fios loiros e longos de seus cabelos. Para Hugo, que conhecia Roxanne desde a vida inteira, as chances de ela gostar de alguém mole e sentimental eram semi-nulas. Tanto que ela evitava até mesmo olhar para os gêmeos.

— Relaxa, mano. Nosso plano de fazer ciúme a ela vai funcionar… — Lorcan bateu no ombro de Lysander, mas sua voz não tinha muita confiança. — Em algum momento, vai funcionar…

Aquilo fez o rosto do outro gêmeo atingir uma coloração vermelha.

— Plano de quê? — Hugo engasgou. Aquilo parecia algo que Alice falaria.

Porém, Lorcan estufou o peito, como se fosse contar vantagem ou algo do gênero. Era muito estranha a comparação com Lysander, que passava as mãos nas bochechas, completamente alheio à pergunta.

— Nós iremos conquistar Priya e Roxanne com o engenhoso método do ciúme — declarou Lorcan. — Por anos, elas nos ignoraram, mas agora que nós dissemos por aí que trocamos nossos interesses amorosos, elas vão ter que sentir o baque. Entende o que eu tô falando?

— Os resultados até agora beiraram ao negativo — suspirou Lys.

— Vamos, Scorpius! — A voz de Roxanne soou num berro subitamente.

— Ah! Vão devagar! — gritou o Malfoy. Albus deu uma risada mais ao fundo, como se já estivesse longe.

Droga! De imediato, Hugo jogou-se por cima de Lysander para espiar! Scorpius, Roxanne e Albus corriam juntos para dentro do castelo. Iriam escapar.

— Não, não, não… — O Weasley segurou os próprios cabelos.

— O que há de errado com ele? — disse Lysander.

— Talvez também esteja apaixonado pela Roxie. — Lorcan riu, balançando os ombros. — Ou pelo Albus.

Não podia perder o trio de vista. Precisava descobrir o que estavam armando.

— Vocês não entendem. Eu acho que o Malfoy está planejando algo com Rose. Preciso descobrir o que é o quanto antes!

Cada um dos Scamander frisou o olhar da mesma maneira.

— James odeia esse cara — murmurou Lorcan para si mesmo. Como sempre, ele conseguia idolatrar James Sirius Potter até nas menores coisas. — Você quer ajuda?

Lysander pendeu o rosto, dizendo:

— Não é algo muito educado perseguir colegas, não acham?

Hugo resmungou e resmungou. O que não adiantou muito, já que a cada passo que ele dava, os dois irmãos o seguiam. Foram encontrar o trio que perseguiam já no Salão Principal, conversando bem ao fundo. Discutindo, na verdade. Albus e Roxie gesticulavam assustadoramente um para o outro, enquanto Scorpius Malfoy os observada com risadas.

Lorcan, Lysander e Hugo sentaram-se à beira da primeira mesa, todos com olhos vidrados na cena. Scorpius se destacava por ser alto, ao passo que Albus e Roxanne, ambos realmente baixos, pareciam crianças brigando. Só realmente pararam quando Roxie segurou a cabeça do Potter em direção ao início do Salão. De uma vez, os dois exagerados começaram a acenar sem a menor discrição.

“Estão apontando para quem?” Hugo fez menção de perguntar para os outros. Porém, atrás dele, passou o corpo alto de cabeça de fogaréu mais respeitado (e temido) de Hogwarts, enquanto sua voz feminina e angelical resmungava para si mesma:

— … Não, eles não conseguem ser mais palhaços. É algo impossível para esses dois cérebros de pomo de ouro. É pedir demais. É…

Rose não viu seu próprio irmão, focada demais em xingar os primos como podia durante toda a extensão de seu trajeto.

— Muito suspeito — disse Hugo.

— Acho que ela vai matá-los — riu Lorcan.

— Acho que ela vai comê-los — completou Lysander, pestanejando.

Rose chegou perto dos outros hesitante. Observava ao redor se outros alunos os viam juntos, mas sequer notava que os Scamanders e seu irmão não os tiravam de vista. Literalmente! Viram quando Rose brigou com Albus e como Roxanne riu de como ela sacudia as mãos pedindo por silêncio. Scorpius continuava na sua, observando Rose abrir e fechar a boca num discurso infinito.

Então, ele mostrou a sacola das varinhas de alcaçuz com um sorriso. Rose arrancou-as de suas mãos e o encarou com um sorriso largo. De repente, Roxanne e Albus tinham sido completamente ignorados, e a conversa aparentemente interessante se situava apenas entre a Weasley e o Malfoy.

— Cara, Rose tem uma cara de maníaca que eu vou te contar. — Lorcan estremeceu os ombros. — Parece que ela vai dominar o mundo com essa sacola. O que será que estão falando?

— Não faço ideia — bufou Hugo. — Eu até tenho as orelhas da Geminialidades Weasley, mas estão no dormitório.

Lysander sacou a própria varinha do bolso, batendo-a no nariz ao dizer:

Abaffiato é para isolar sons e conversas. Sonorus é para ampliar o volume da voz… Eu realmente não sou muito bom com feitiços sonoros, mas acho que num caso desses, deve-se usar “Acustiunico”— Suspirou antes de bater a mão na mesa. — Você tem certeza de que estão planejando algo ruim? Eles parecem estar bem tranquilos, não acha?

Realmente pareciam. Scorpius pegou de volta o saco e ficou vermelho com algo que Rose disse, dando alguns passos para trás. Roxanne ria sem parar, e o barulho de sua risada começava a fazer eco. Foi quando Scorpius se distanciou sozinho dos outros, andando até uma mesa ontem um grupo de lufanos do sexto ano conversavam. Pararam quase que instantaneamente na presença do Malfoy. Ele olhou para trás, como quem vai desistir, mas viu Roxie, Rose e Albus acenando juntos para que continuasse.

Aí, ele disse algo. Os lufanos disseram algo. Todos sorriram, e o Malfoy entregou varinhas de alcaçuz para eles. Uma das meninas chegou a se levantar e estalar um beijo na bochecha dele. Aquilo foi surpreendente.

— Ele não era o “Sombra do Albus”?! — Hugo sacudiu o rosto sardento com indignação.

— Não há nada de interessante. O que devemos fazer? — falou Lorcan, antes de bocejar.

Hugo não respondeu. Olhou para Scorpius se mover para outra mesa e fazer a mesma coisa. Disse algo e recebeu simpatia em retorno. O que diabos ele estava falando?

De repente, a visão de Hugo foi coberta pelo surgimento de um suéter grande da Grifinória vestindo um corpo que se meteu bem na sua frente. Bastou fitar o rosto do dono do corpo para soltar um revirar de olhos. Era uma nada feliz Alice Longbottom.

— Perseguição é crime — disse ela.

— E hipocrisia deveria ser. — Ele a empurrou para o lado, tentando ver o que estava acontecendo do outro lado.

— Não se Lily me apoia. — Alice voltou para o mesmo lugar, jogando as mãos na cintura. — Eu não acredito que você conseguiu fazer o Lorcan e o Lys te acompanharem.

Lorcan ergueu as mãos de imediato.

— Em minha defesa, eu achei que ia pegar algum podre do Malfoy para levar para o James. Mas ele só fica aí dando de amiguinho com a Rose. Quer apostar quanto como isso vai dar em namoro?

Alice abriu a boca para dizer algo, mas engoliu a própria língua, jogando-se no banco ao lado de Hugo para observar também a cena.

— Eles estão conversando? Bem que a Lily disse que podia rolar um clima…

Aquilo fez Hugo revirar os olhos.

— Claro que não está rolando. Nunca que a Rose ia ter “um clima” com alguém da Sonserina! Papai iria matá-la na hora — bufou, cruzando os braços. — Por favor não me diga que ela te pediu para ver o que estava fazendo. Eu odeio quando vocês acham que eu estou obsessivo e ficam me seguindo.

— Tá certo, não vou dizer. — Alice sorriu sem tirar os olhos de Scorpius. — Mas eles são oficialmente um shipp agora.

— O que é um “shipp”? — sussurrou Lysander para o irmão, que deu de ombros.

Quando Hugo percebeu, o Malfoy estava em pé, e duas moças da Lufa-Lufa conversavam com ele. Elas colocavam a mão na boca de surpresa, soltavam sorrisos e até chamavam outros membros de sua casa para se aproximar. Roxie, Albus e Rose continuavam apenas observando de longe, cochichando algo uns para os outros vez ou outra.

— Alice, você deveria ir lá saber o que está acontecendo — murmurou o Weasley, cutucando o braço da menina, cuja expressão de nojinho surgiu de forma nada sutil.

— Eihn?

O grifinório suspirou, erguendo três dedos para enumerar seu argumento:

— Lorcan é time James, então nunca que o Sombra do Albus vai conversar com ele livremente. Lysander não consegue não olhar para a Roxanne quando ela está por perto. — Apontou com a cabeça para o Scamander, que se encolhia gradativamente. — E Rose vai suspeitar se eu me aproximar.

Lentamente, a Longbottom bufou.

— Migo, não vou. Vai que o Albus pensa bobagem sobre isso, sei lá.

— Eu realmente não entendo essa sua fixação pelo Potter. Ele é só uma cópia mal feita do James — Lorcan soltou um muxoxo.

Foi quando Alice explodiu, levantando de uma vez e batendo as mãos na mesa com um grito:

— Repete isso para você ver quem é que vai virar cópia de trasgo! Repete que eu quero ver!

Hugo a puxou pelo manto de volta à cadeira.

— Shiu! Quer arruinar o meu plano?

Lorcan ria baixinho só de ver a fumaça escapando das orelhas de Alice. No fim das contas, ela cedeu. Em passos pesados de quem ainda estava digerindo o insulto ao seu deus grego, mas cedeu.

Scorpius estava conversando com Anna Lovelace e suas amigas, todas lufanas e todas animadas com varinhas de alcaçuz em mãos. Ele ficou surpreso quando Alice o cutucando, interrompendo o que parecia ser uma confraternização da maior linha de passagem de cola da história. Devia ser isso, Hugo pensava. O Malfoy podia ser um tipo de bode expiatório, caso Mcgonagall suspeitasse das atividades ilícitas de Rose.

Entretanto, Alice sorriu surpresa ao lado do sonserino e recebeu uma varinha também, piscando violentamente.

— Oh-oh — exclamou Locarn, batendo no ombro do irmão. — Ela vai largar o Albus e se apaixonar por ele também.

Algo no interior de Hugo embrulhou.

— Eu discordo — sussurrou Lysander. — Acredito que o sentimento de Alice com o Albus seja verdadeiro. Assustadoramente verdadeiro, pra falar a verdade. — Então, suspirou, batendo a testa na mesa e gemendo alto. Suas orelhas contrastavam com os cabelos dourados num tom de vermelho nervoso. — Eu queria ter essa coragem dela. Alice não se importa com rejeição…

Lorcan assentiu. Pena que os dois Scamander tinham sérios problemas amorosos, e Hugo Weasley realmente não se importava.

Olhou para seu alvo novamente e viu Alice acenando um tchauzinho para Scorpius Malfoy, enquanto voltava com as pernas saltitando. Era uma garota completamente diferente daquela raivosa que havia saído de perto deles. Bastou chegar na mesa dos três rapazes para que Hugo a atacasse logo:

— O que ele disse?! É algo relacionado com as provas? Ele te oferecer respostas para as NOMs? Rose sabe que esse ano vão cair dois capítulos a mais de Herbologia que no ano dela? É bom que ela venda as colas certas para o pessoal do nosso ano porque...

— Ei, maníaco do parque! Relaxa — disse ela com um sorriso mais alegre — o Malfoy não falou nada sobre provas. Só perguntou se nós íamos ficar o horário de almoço inteiro assistindo ele.

Lysander ergueu a cabeça de imediato. Lorcan franziu o cenho. E o queixo de Hugo caiu ligeiramente.

— N-n-n-nós? Assistindo?

— É! — Alice sentou-se, abrindo as mãos e mostrando cinco varinhas. — Ele é um cara legal. Disse que ouviu falar que o pessoal da Lufa-Lufa foi assaltado por Pirraça para forçá-los a comer sopa de Shrake, então trouxe varinhas de alcaçuz para ajudar na digestão.

— Mentira! — Lorcan avançou sobre uma, agarrando-se a ela e examinando cada milímetro de sua extensão açucarada. — Deve ter veneno aqui. Só pode ter!

— Isso está estranho, muito estranho — falou o ruivo, pegando, junto a Lysander, um dos doces. — Ele disse mais alguma coisa?

Alice meteu uma varinha entre os dentes e guardou a outra.

— Nossa, ele foi super legal comigo. Juro que não esperava por isso! Eu disse que não era da Lufa-Lufa, mas ele insistiu que eu trouxesse as varinhas. Até mesmo me deu uma para entregar à Lily. Sei lá, acho que sempre o vi como o “Sombra do Albus” engomadinho que ficava no canto… Não imaginei que ele fosse desses que se importa com as pobres almas que vão tomar sopão de Shrake.

— Ali, você não deveria menosprezar sopa de Shrake — refutou Lysander com o doce na boca também.

— O que eu estou querendo dizer — continuou ela — é que nem tudo é realmente o que parece.

Lysander concordou com a cabeça.

— Ele ainda é o “Sombra do Albus”. Só não está tão engomadinho desde a briga com o James. — Lorcan levantou-se numa espreguiçada. — Se me dão licença, eu, como lufano agraciado com esse presente, vou comê-lo às escondidas antes que James apareça e me deserde da gangue.

Os outros dois também foram embora pouco depois. Alice iria achar Lily para almoçarem juntas, e Lysander ia se certificar de ganhar uma generosa porção de sopa. Mas Hugo continuou ali um tanto atento e um tanto frustrado.

Quer dizer, toda a teoria das colas começava a ir um pouco por água abaixo. Rose devia estar interagindo com eles porque Roxanne estava ali. Roxanne devia estar ali porque conversava sobre quadribol com Albus. Albus estava ali porque estava sempre grudado no Malfoy. E o Malfoy só estava ali… Sendo legal para a surpresa da nação.

Certo que as coisas nem sempre são o que parecem! Como Lysander, talvez. Roxie nem mesmo conseguia ficar dois minutos perto dele, só porque ele ficava nervoso. Como Lorcan que… tudo bem, Lorcan conseguia ser bem irritante às vezes.

Mas havia Alice! Que só era vista como stalker do Albus, mas era a melhor pessoa que Hugo conhecia. Ela só estava desperdiçando tempo correndo atrás do primo Potter.

Num suspiro, Hugo decidiu largar a teoria. Provavelmente Lily estava certa, como sempre, e ele só estava exagerando. Olhou através do Salão Principal para Rose, que ria juntamente a Roxanne. Priya Patil chegou próxima às duas e falou algo animado. Samuel Thomas foi outro que chegou na roda deles de grifinórios, gesticulando algo exageradamente.

Entretanto, quando ninguém além de Hugo via, Rose derrubou propositadamente uma sacola de veludo no chão. Nenhum dos outros que estavam com ela notou, mas a presença sobrenatural de Pirraça surgiu debaixo do chão e puxou a sacola consigo.

Hugo precisou piscar algumas vezes para entender o que havia acabado de presenciar. Não. Claro que não. Devia estar imaginando coisas! Não era como se houvesse qualquer chance de Rose ter sido a causa para Pirraça ter assaltado os lufanos.

— Deve ser coisa da minha cabeça — disse a si mesmo, levantando-se para ir atrás de Alice e Lily. — Claro, claro. Coisa da minha cabeça...


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Notas finais do capítulo

¹: “A Mágica Seleção” seria uma versão alternativa de "A Seleção" no mundo mágico.
²: “A Menina Que Roubava Poções” seria uma versão alternativa de "A Menina Que Roubava Livros" no mundo mágico.

Quero saber o que acharam do capítulo e dos personagens apresentados! E quero ver quem são as Alices daqui que gritam que shippam tudo e todos hahahahahahaha (cof cof Alice bem aqui cof cof).
Espero que tenham gostado! Logo logo teremos o próximo capítulo maravilhoso:
Capítulo 12 - Sonserina vs Lufa-Lufa: práticas suicidas.