Aprendendo a Mentir escrita por Starsky


Capítulo 10
Capítulo 09 — No rosto não!


Notas iniciais do capítulo

Olá olá, panquecas e crepes da minha vida! Sei que sumi nos últimos tempos, mas muita coisa vem acontecendo! Nem mesmo minha cara de pau foi capaz de me fazer aparecer direito para responder todos os reviews com a emoção de sempre. MAS EU VOLTEI! Siiim! E voltei com advertências para o capítulo de hoje para pessoas que ficam com nó no coração com discussões:
Segurem as pontas, esse capítulo junta duas pessoas extremamente grosseiras e cruéis! Mas vocês superam e me dizem depois o que acharam deles hahahaha.
Boa leitura!



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 Capítulo 09

No rosto não!

Rose 

 

Primeiro, pegaria aqueles cabelos loiros desarrumados e os arrancaria com uma puxada violenta. Depois, graciosamente, cortaria os mamilos dele. Aí poderia usar levicorpus para arrastar o seu corpo de lagartixa numa lixa antes de fazer os testrálios pisotearem sua carcaça morta. É, era um bom plano para quando saísse da bendita detenção que não era sua.

Rose urrou de indignação e chutou uma das gaiolas. Estava furiosa! Como poderia ter sido tão estúpida a ponto de deixar aquilo acontecer?! Tudo bem, Scorpius Malfoy até tentou avisá-la, mas ainda assim não fez tudo ao seu alcance para impedir que ela se metesse naquela fria. E agora ele estava em Hogsmeade, divertindo-se com a sua prima e melhor amiga. Aquilo não podia estar acontecendo! Aquele garoto não era tão audacioso assim para se meter a roubar a pessoa favorita de Rose Weasley.

— Droga. Merda. Porcaria. — Chutou outra gaiola, chamando a atenção de James, que estava do outro lado da sala.

O cheiro de fezes de dezenas de animais infestava aquele lugar, era nauseante, e Rose queria chorar de tanta raiva que sentia de si mesma por não ter dado meia volta quando Scorpius disse para cancelar o plano. Estava tão convicta de que aquela tarde seria bem aproveitada que quebrar a cara daquela forma era a pior coisa do mundo.

— Se continuar assim vai sair fumaça da sua cabeça, Malfoy! — James berrou com uma risadinha incômoda, fazendo-a chutar mais um gradeado. — Sirva-se. A detenção é por minha conta.

Era! Era sim! E aquilo a deixava ainda mais enfurecida. James era seu primo, afinal. Ele estava do outro lado da sala, bem ao fundo e em frente a uma pilha maior de gaiolas que a dela. Seus cabelos arrepiados e cheios de gel quase reluziam, enquanto suas pernas longas acomodavam-se de forma obscena. Ele limpava ou fingia que o fazia. Sua pilha parecia estar do mesmo tamanho desde que ela entrou.

Quando eram crianças, os dois costumavam brigar para ver quem liderava as brincadeiras fantasiosas. Às vezes, ela ganhava. Raramente, ele ganhava. Nos outros casos, Teddy aparecia e colocava um ponto final, dizendo que Hugo ia comandar. Acabava que cada um ia para um lado diferente, todos se recusavam a deixar o irmão chato de Rose comandando todos.

Não era como se James fosse a pior pessoa do mundo. Ele era protetor com Lily e Albus, Rose registrou muito bem todas as vezes que assistiu os garotos mais velhos querendo implicar com o Potter sonserino, mas James se meteu. O problema aconteceu na sua trajetória depois que ele chegou ao quinto ano. Garotos com quinze anos são idiotas, especialmente aqueles que são filhos de Harry Potter. Eles se tornam garotos com dezessete anos idiotas.

Agora, ela estava presa com o trasgo do seu primo para evitar que o cara que deveria ser seu inimigo épico fosse descoberto! PATÉTICA! Rose Weasley!

Sentou-se enfurecida no chão, pegando um balde e um pano antes de voltar à limpeza. Se ao menos pudesse usar magia, as coisas seriam mais rápidas. Mas não, fora escravizada! Quisera ela que ao menos pudesse ganhar algum crédito depois daquilo. Talvez fosse carma por ser uma pessoa tão incrível e admirada pela escola. Com certeza era carma!

Muito tempo se passou. Talvez uma hora ou mais. De um lado da sala, Rose bufava e resmungava consigo mesma a cada gaiola que passava. Do outro, James assobiava com tranquilidade, fazendo o mesmo com a sua parte dos gradeados, mas numa lentidão que dava espasmos na Weasley. Como podia alguém ser tão relaxado?!

 Não era como se ela pudesse ter companhia muito pior. Parou a limpeza por um momento, imaginando que sonserinos seriam péssimas companhias, piores que James Potter com certeza. Então, um pensamento cruzou sua mente. Alguém, na verdade. Scorpius Malfoy não era culpado por ela estar ali. Ela não teria naquela situação se não tivesse sido um pouco cabeça dura. Um pouco!

Rose soltou um grito abafado cheio de frustração, batendo pés e mãos onde podia! Ótimo! Aquele era o final de toda sua vida escolar bem-sucedida! Estava admitindo para si mesma que um Malfoy não estava tão errado quanto ela gostaria.

— Você está parecendo uma chaleira. Percebeu que tem ar quente saindo das suas orelhas, não percebeu? Eu avisei que ia sair fumaça da sua cabeça — falou James com as sobrancelhas erguidas.

— Você... — Tossiu e pigarreou. Precisava fazer uma voz grossa para se passar por Scorpius. — Você deveria parar de prestar atenção em mim, Potter. Cuide das suas gaiolas, elas não vão se limpar nunca nesse seu ritmo.

James se levantou num pulo, ignorando-a por completo. Esse tipo de coisa não acontecia no geral. Por mais que competissem entre si, ele nunca foi de ignorá-la. Ah, é. Era Scorpius. Ele ignorava Scorpius. Se bem que todo mundo ignorava aquele garoto.

Rose acabou seguindo seu passo com os olhos, vendo-o se aproximar e sentar-se logo atrás dela. Estava ali para perturbar, lógico! Sentiu que ele cutucou-a com o pé. Estava estirado numa cadeira logo atrás dela com um sorriso debochado no rosto. Se soubesse que ali não era o Malfoy, aquele sorriso nunca aconteceria.

— Sabe, eu estava pensando — exclamou, erguendo o rosto. — O sentido básico das cobras não é o olfato? Como você está conseguindo suportar esse cheiro sem desmaiar?

Rose revirou os olhos. De todas as piadinhas que ele podia bolar para feri-la, aquela era a pior? Sério?

— Tente outra vez, não teve a menor graça. — Ela fez a voz grossa novamente.

— Não precisa ter, a graça é você — disse James com um bocejo. Aquilo foi mau, bem mau. — Mas eu não estou aqui para brigar outra vez, Malfoy. Acho que uma vez já deu para nós dois. — Claro, porque foi uma briga pra lá de justa! Ela pensou com sua pele pinicando. James se acomodou com mais seriedade, tirando-a de seus pensamentos. Ele estava para falar o motivo de ter atravessado a sala para perto dela. — Lily já insistiu que vocês não têm nada, e nela eu acredito. Mas quero saber também se você tem algum tipo de interesse desesperado e platônico na minha irmã? Eu já te vi olhando atravessado para ela outras vezes.

Ergueu as sobrancelhas loiras de imediato. O Malfoy encarava Lily? Se era algo visível a ponto de James perceber, provavelmente já estava num nível avançado. Quem poderia imaginar?! E se ele tivesse uma queda pela sua prima? Algo nela quis até rir, imaginando o que poderia ter passado pela cabeça ensebada de Scorpius quando ela surgiu com o batom. E com o plano de usar a fama de Lily pela escola!

Riu. Tentou até segurar com a mão na boca, mas foi inevitável sentir a risada sair de si e ver o claro incômodo transbordar por James. Lily e Scorpius. Potter e Malfoy. Que piada!

— Ele não... Eu não sei — falou, ainda com um sorriso enorme e uma agitação oscilante em seu interior. A voz grossa estava quase comprometida. Precisava contar aquilo para Roxie. — Quer dizer, o que eu iria ver em Lily Luna além do sobrenome? Se eu quisesse uma ruiva, eu estaria de olho em Rose Weasley. Ela sim é uma boa investida.

James a encarou, entortando o rosto.

— Rose? É sério?

Subitamente, o rosto dela ficou vermelho! Como assim “é sério”?!

— L-lógico. — Pigarreou para manter a voz grave. — Rose é a melhor da minha turma, além de ser a mais bonita!

Para sua surpresa, o Potter assoprou os beiços, achando graça do que ela falava. Aquilo deixou Rose desconcertada ao extremo!

— Ela até é bonitinha de rosto, o problema é que, além de reta, tem uma personalidade um tanto nojentinha. — James deu de ombros, como se estivesse falando a coisa mais normal do mundo. O queixo de Rose caiu quase que instantaneamente. — Claro que um Malfoy como você não vai conseguir coisa melhor, mas, acredite quando eu digo, Rose é um desastre como ser humano. Sempre foi. Hoje em dia só confirma tudo o que a família pensava dela quando criança.

A mandíbula da garota ficou fora de lugar. Foi como se alguém tivesse atingido com um raio no peito. Se qualquer outra pessoa tivesse dito aquilo, Rose teria gargalhado e ido embora. Só que aquele era James. James, seu primo! Ele a estava apunhalando pelas costas descaradamente e falando dos seus parentes. Os parentes! O que eles pensavam dela?! Isso não devia incluir seus pais, certo? Quer dizer, Ron a colocava num pedestal e Hermione dizia que ela era a bruxa mais inteligente da sua geração como se fosse um mantra. Roxanne? Não, ela nunca. Lucy? Dominique? Fred? Qual? Quem?!

Levantou-se do chão de uma vez. Seu rosto ardia com o transtorno, e a garganta secava naquela situação. Não podia acreditar no que estava ouvindo.

— Quando você fala do que a sua família pensa...

— Muita gente acha que ela é uma megera, dessas bem egoístas que só pensam em si mesmas. É bárbaro — disse, olhando para cima. O punho de Rose cerrou, ela estava para pular em cima da garganta daquele garoto. — O fato de Roxanne andar com ela é quase tão estranho quanto o fato de o meu irmãozinho andar com você.

Com você. Rose precisou de um momento para digerir que ainda estava na pele de Scorpius.

— E o que há de errado com pessoas como nós? — Referia-se a Scorpius e a ela. Muito mais a si mesma do que a qualquer outra pessoa. — Eu... Digo, Rose é perfeitamente capaz de ser uma pessoa normal, diferente de você, o nem tão famoso assim James Sirius Potter! — O olhar de James acendeu por um momento, e toda a sua cara simpática e repleta de humor negro se desfez. — Pensa que eu não sei o que dizem por aí sobre você? Que é estúpido como uma porta e que acha que provar sua masculinidade batendo naqueles que não podem revidar te faz uma pessoa melhor que as outras? Novidades para você, imbecil! Você não é ninguém! Você não é nem um terço de homem que... que... — quis dizer “Jasper”, mas isso a denunciaria quase que na hora. Não tinha nenhuma referência máscula em mente, todos eram tão imaturos e bobões quanto James. — Nem um teço de homem que eu sou! É, que eu, Scorpius Malfoy, sou! Isso! Scorpius Malfoy, euzinho aqui!

Eu deveria ter ficado calada, essa foi horrível.

Devagar e dando um susto em Rose, James se levantou também na sua frente. Por um instante, estavam quase da mesma altura. Aquilo quase nunca acontecia. Ele a encarava com peso e superioridade, coisa que ela também fez por ser excepcional nesse tipo de tratamento. Nunca mais venderia cola para aquele cretino.

— Eu prometi à Lily que não brigaria mais com você — disse ele, batendo a mão no ombro da moça antes de passar por ele com força, empurrando-a.

Aquilo não ia ficar daquele jeito. Ele pisou nela, agora era a sua vez de retribuir o favor. Começou a bater palmas, fazendo com que o rapaz parasse no canto.

— Parabéns, você está começando a criar juízo. Devia seguir os conselhos da Lily mais vezes, eles te fazem quase um ser humano. Quase...

James girou os calcanhares e a encarou. Estava começando a ficar furioso.

— Sério, o que há com você? É algum tipo de necessidade suicida de me provocar? — questionou, dando um passo na direção de Rose. — Porque se for o caso, você deveria trazer a sua família vergonhosa para o mesmo poço que você está. Eu ficaria muito mais que alegre em poder tirar esse seu sorriso que nem deveria existir.

— Mas eu estou rindo de você, não percebeu? — gracejou ela, erguendo o queixo.

— Rir de alguém superior a você em todos os quesitos existentes é um tanto desesperador. — James soltou um riso pouco abafado, entrelaçando os dedos e esticando os braços para poder estralar os ossinhos de sua mão. — Você tem uma família desgraçada que é parcialmente responsável pela desgraça da minha. Acha que Albus vai ser sempre seu amigo? Não acha que cedo ou tarde ele vai perceber que os Malfoys são a escória da sociedade bruxa? O lixo da humanidade? A prova do retrocesso? Infelizes bastardos que se acovardam? Você deve estar muito iludido para isso.

Rose engoliu a seco por um instante. Tinha a resposta na ponta da língua, mas a forma como James se expressou foi extremamente cruel. Quase tão cruel quanto o que ela própria falava. Porque Scorpius Malfoy não era tão escória assim. Um pouco por causa do sobrenome, mas nem tanto. James já deveria ter dito aquele tipo de coisa para o garoto loiro outras vezes. Era quase... incômodo pensar nisso.

— A-albus é meu melhor amigo. — Rose deu um passo para trás. James não podia se aproximar muito dela para não descobrir a sua verdadeira identidade. — Mas, poxa, eu esqueci que é necessário ter um amigo de verdade para conseguir identificar outra amizade sólida. Espero que a sua relação com seus capangas melhore, James.

Albus e Scorpius eram inseparáveis desde sempre. Não importava em quantas matérias o Malfoy ficasse em primeiro ou quantas partidas de quadribol Albus ganhasse, era como se não houvesse nenhum tipo de distância entre eles. Não que Rose sempre os observasse, só que era difícil não notar.

Ela mesma tentou separá-los no primeiro ano. Deviam estar nas segundas provas quando notou que Scorpius a seguia nas notas. Ficou furiosa na época e encurralou o primo Potter, mandando que ele parasse de andar com o sonserino mau-caráter e semi-albino. Albus riu na cara dela e a ignorou por completo. Se nem mesmo ela conseguia separá-los, nada seria capaz de fazê-lo.

— Alguém realmente deveria te ensinar a escolher melhor as suas brigas, Malfoy — disse, mexendo o pescoço de um lado para o outro.

Teria sido bem mais inteligente ter ficado quieta desde o princípio. Seus pelos eriçaram ao imaginar que haveria chances de James partir para a violência física. Ele estava se preparando para isso!

Rose não se aguentou. Meteu a mão no próprio bolso, retirando a varinha de abeto, enquanto a sacudia com distinção na lateral de seu corpo. Podia ser boa nos feitiços não-verbais, mas, apesar de seu intuito ser derrubar uma gaiola em cima de seu primo por birra, seus olhos encararam despreparados uma camada grossa e grotesca de fezes saltando sobre os robes de James Potter de uma vez.

O susto de ambos foi tão grande que pularam para trás ao mesmo tempo!

— Por Dumbledore... — sibilou James, erguendo os braços e vendo-se completamente sujo de dejetos.

— Ah meu Dumbledore... — murmurou Rose, levando as mãos à boca para segurar o riso.

Dos cabelos à ponta dos tênis brancos, James estava ensopado e assustado, cambaleando para trás. Literalmente ensopado porque a consistência de todo aquele cocô era bem pastosa e cheia de pontinhos mais grosseiros. Ele ergueu os olhos para Rose, desta vez furioso e expelindo fumaça pelas narinas. Certo, fodeu de vez, ela pensou.

O Potter levantou sua varinha para a moça, e ela fez o mesmo. Encaram-se em silêncio por meio segundo antes de jogarem feitiços um contra o outro:

Impedimenta!

Flipendo!

Um passou pelo outro como se nada estivesse em seu caminho, atingindo Rose e James, que voaram em direções contrárias pela sala! Ela se levantou quase que imediatamente após atingir o chão, desesperada para encontrar a varinha no meio das várias pernas de mesas e cadeiras. Ergueu o corpo e viu James esconder-se atrás da escrivaninha pesada do professor Akilah. Sua mão surgiu, lançando um raio púrpuro na direção dela, que se jogou entre as gaiolas para escapar.

Ótimo! Era só o que faltava para meu dia de detenção ficar completo!

Levantou o olhar devagar, vendo que James devia continuar escondido. Tudo bem que ela tinha usado magia primeiro, mas ele não precisava ter continuado. Ela só usou para se defender do brutamontes que não sabe discutir sem usar a força bruta!

— Potter! — gritou numa tentativa semi-falha de fazer a voz de Scorpius. — Vamos parar! Akilah pode aparecer aqui a qualquer momento!

Nenhum pio. Novamente, olhou para a escrivaninha, achando estranho que James não havia feito nada. Foi quando ouviu um barulho sugado atrás de si, arrepiando sua espinha. Virou-se a tempo suficiente para que a pata de James segurasse a gola do seu moletom, erguendo-a como quem levanta uma criança.

— Vai rir de mim agora, cobra albina? — rosnou ele, baixando o rosto para encará-la com o verde incisivo de seus olhos.

Rose levantou a mão com a varinha. De nada adiantou. James apontou para ela, silvando expeliarmus quase sem som. Desde quando ele é tão eficaz em feitiços não verbais?!

— Olha, podemos resolver isso de outra forma — disse ela, amarelando o riso. Se alguém visse aquela briga, certamente iria atrás dela e de explicações sobre ela estar na pele do Malfoy. Ótimo! Levantou-se, erguendo as mãos em sinal de trégua. — Parei de rir, viu? Lily pediu que você parasse com as brigas, então acho que vou honrar o pedido dela também.

Devagar, o corpo de James também se fez amostra. Ele estava mais perto que antes, tinha se movido no intervalo de tempo em que ela pensava.

— Claro... Estupefaça! — Um lampejo atingiu Rose no peito enfaixado por baixo do moletom, jogando-a para trás num segundo. — Pronto, agora podemos parar.

Com dificuldade e sem muito fôlego compassado, ela pôs a mão no próprio rosto e nos cabelos, com medo que o choque do feitiço tivesse feito com que sua transfiguração se desmanchasse. Ainda bem que ela era mais eficaz do que previa, tudo estava ridiculamente intacto. Levantou num pulo, exasperada ao ver que James guardava a varinha na maior calma.

— Ótimo! — gritou sem notar que havia sido mais fino que deveria. Pigarreou e desviou o olhar de James, batendo na própria roupa para tirar a poeira do chão e resmungando para si mesma: — Até parece que é muito ruim jogar bosta num bosta.

Talvez Rose tenha conseguido dar dois passos inteiros antes de ser puxada pela gola do moletom, ficando inteiramente virada para o olhar fumegante de James. E para seu braço puxado para trás. E para seu punho fechado prestes a acertar a fuça dela.

— Suas últimas palavras?!!

As mãos dela cobriram sua visão por instinto. Ia morrer e ia ter seu nariz perfeito quebrado em suas partes! Por que? Porque não conseguia ficar de bico calado!

— No rosto não! No rosto não! No rosto não!

Chegou até a sentir o corpo de James se movimentando enquanto sua vida passava diante dos seus olhos. Engraçado como essas coisas são extremamente capazes de acontecer! Podia ver que o ano havia começado com provas surpresas de revisão que ela detonou, com cerveja amanteigada com Roxanne, Samuel e Priya até o último trem para Hogwarts sair, com as aulas de Runas enchendo seu cronograma, com McGonagall conseguindo abrir Transfiguração Avançada... E com ela se enfiando em pele de Malfoy e se metendo naquela confusão.

Era o fim...

— James Potter!

Rose entreabriu os dedos para poder ver. A mão cerrada de James, que estava a menos de alguns centímetros da sua cara, saiu quase instantaneamente. Olhou para a porta da sala de Transfiguração ainda entre dedos, vendo ninguém menos que o Professor Akilah entrando seguido por Albus Potter com as roupas completamente sujas de terra e as mãos enfiadas nos cabelos de desespero. MAS O QUE?!

— Professor, não é o que... — James tremeu o queixo antes de ser interrompido por Akilah erguendo a mão.

— Eu só gostaria de saber o que a Srta. Weasley está fazendo aqui.

Se ainda havia sangue no rosto de Rose, todo ele desapareceu. James a encarou com cara de dúvida e tomou um susto, pulando para trás.

— Oh merda — murmurou ela, passando a mão na cabeça e sentindo que os fios curtos e loiros estavam maiores e inteiramente ruivos. Com o susto, a Transfiguração se desfez! Mas que droga! Olhou para o professor, suando frio e exasperada pelo que havia acontecido. — P-professor, eu só estava, bom, eu...

— Professor Akilah! — Outra voz surgiu atrás dele.

Rose já podia até enxergar a próxima matéria do Profeta Diário:

“Filha de heróis de guerra se disfarça na detenção para livrar filho de ex—comensal!”

“Rose Weasley mancha seu futuro brilhante para ajudar um zero a esquerda!”

“Romeu e Julieta bruxo teen: Rose Weasley ajuda Scorpius Malfoy!”

E pior? A cara de decepção de Rony, seu pai, duraria meses. Ou anos.

Scorpius Malfoy que aparecia atrás de Albus e Akilah, correndo e ofegando com o moletom igual ao da Weasley que voltou a ser ruiva.

— Ah, Sr. Malfoy — disse Akilah com um sorriso simpático, o mesmo que ele dava sempre que ia lascar alguém — que bom que pode se juntar a nós. Onde estava?

Ahn, banheiro, senhor. — Engoliu a seco, fazendo com que Rose rolasse os olhos. Estava encrencada com aquele belo mentiroso ali. — Eu acabei me sujando com os, ahn, dejetos. Rose... Quer dizer, a Wesley estava lá fora e eu pedi que ela, ahn, avisasse o Potter.

Ela estapeou a própria testa. Nunca, jamais, por nenhuma força natural ou não natural que Akilah, o grande feiticeiro renomado pela Europa e pela África, iria cair naquela conversa de...

— Hmm, entendo. O Sr. Potter já me distraiu o suficiente por uma tarde. Queiram, por favor, voltar aos seus dormitórios. — disse, ganhando olhares surpresos de todos. Especialmente de Rose e de James, para quem Akilah olhou em seguida. — E você, Sr. Potter, vá o quanto antes tomar banho. Você está fedendo.

Por fim, ele agitou a varinha na direção das gaiolas limpas que estavam espalhadas, fazendo com que elas se movessem umas para cima das outras e formasse uma pirâmide, enquanto as ainda sujas eram postas mais ao fundo da sala. Provavelmente, ele ainda as utilizaria para punir algum aluno.

James, que conseguiu se manter calado durante todo aquele tempo, tocou o ombro de Rose. Porém, agora que era ela mesma, a fúria subiu sua cabeça. Saiu da sala de Transfiguração como inocente e com passos de elefante, pesados o suficiente para tremer o chão. Ele podia ter dito tudo aquilo para Scorpius, mas era dela que ele falava. Era ela quem ele ridicularizava. Também estava fazendo o mesmo com o Malfoy, sendo mesquinho e terrivelmente grosseiro. Rose não deixaria aquilo passar.

Ao sair, Roxanne esperava de braços cruzados e um sorriso suave e um suspiro.

— Tenho que te contar uma coisa — ecoaram juntas, sem precisarem de abraço ou saudação para começarem caminhar lado a lado. Rose pode até mesmo escutar as risadas altas de Albus lá trás, provavelmente comemorando que aquela odisseia havia acabado bem para a cobra albina.

Ao menos alguém ali estava feliz. James disse que a família a achava uma megera. Tudo bem que Rose era ligeiramente superior, mas megera? Sacudiu a cabeça, sentindo o coração apertar um pouco. Aquele era um sentimento desconhecido.


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Notas finais do capítulo

James e Rose não são pessoas tão ruins. Eles melhoram, eu juro (cof cof cof cof acho cof cof cof cof). Quero ver se vocês não cansam da fanfic depois desse capítulo meio (muito) cruel. Mas piora? É, piora lá na frente.