Melodias escrita por Half Fallen


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

espero que gostem!



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Era uma noite fria, daquelas que você tem vontade de se guardar dentro de um cobertor e nunca mais sair. Era, também, uma daquelas noites frias em que a cidade ficava mais quente, mais harmônica. 

Noite que o som embalava todo o lugar e o frio já não mais parecia tão agressivo assim. Na verdade, era a desculpa perfeita para casais se abraçarem, darem as mãos e até mesmo dançarem. Típico do país do amor, típico da França.

Foi neste pensamento que uma menina de cabelos cor-de-caramelo resolveu sair de sua casa, acompanhada apenas de seu violão. Seu nome era Bonnie e ela adorava cantar músicas de amor. Se inspirava facilmente com casais, se inspirava facilmente com aquele clima gélido, aquela desculpa perfeita para um carinho.

Apesar de não acreditar no amor para si mesma. Os outros poderiam ter uma linda história de amor, todos os seus amigos poderiam achar uma pessoa para a vida, mas ela? Ela não. Bonnie não era o tipo de pessoa a se apaixonar.

Desceu as escadas a pensar que música tocar e, também, rezando baixinho para que o seu banco preferido não estivesse ocupado. Estava vestida de algo simples, um vestido preto de mangas até o cotovelo. Um sapato fechado, também preto e um chapéu também preto, dando um contraste com sua pele pálida.

Parecia saltitar pelos degraus e, quando finalmente chegou ao chão, já tinha a música que iria tocar na cabeça. The Manual, Eddy Kim, por que não? Era uma música boa para a noite de hoje. 

Bonnie andou o mais rápido que pôde nas ruas da sua pequena vizinhança no interior do país, pensando se as pessoas estranhariam por cantar uma música em coreano. Mas, se as pessoas estivessem românticas como Bonnie pensava que estariam, a língua da música seria o de menos.

Chegou na praça e sorriu ao ver o quão movimentada ela estava. As luzes que iluminavam as ruas que conectavam a praça a outros lugares não eram agressivas, eram de cor alaranjada, deixando as pedras no chão gentilmente iluminadas.

Havia umas barraquinhas de comida aqui e ali, duas ou três pessoas cantando ou tocando violino nas esquinas e, o mais importante, haviam muitos casais para lá e para cá. Risinhos bobos, brincadeiras próprias, o amor estava no ar, como sempre.

Bonnie inspirou e correu até o seu banquinho que estava, milagrosamente, vazio. Sentou-se, abriu a capinha do seu violão e o retirou com cuidado. Passou os dedos com carinho pela madeira de cor marrom médio e sorriu. Dedilhou um pouco, checou a afinação e inspirou forte. 

Então, gentilmente, começou:

 Budeureopge mudeuitge, ttatteutage kkok anajusio.

A voz de Bonnie era calma, um pouco grossa, mas agradável. Era algo para se ouvir quando se quisesse paz ou amor e era essa a sensação que passava. Cada casal ali, ao ouvir a música da moça, sentia-se em um filme onde aquela música em especial era seu tema de fundo. 

Bonnie olhava para cada casal, mas eles não olhavam para ela. Eles sorriam uns para os outros, davam beijinhos aqui e ali. Uns seguravam as mãos mais forte, outros se abraçavam. A mulher sabia exatamente que eles ouviam sua música e que se sentiam mais próximos com ela.

Acima de tudo, era isso que ela queria ver.

— Geunal achimen meonjeo ireonaseo, turning on jazz, gentle kiss neol barabwa.

Foi exatamente quando ela apareceu. Bonnie estava olhando ao redor e avistou uma moça. Ela era menor que ela, disso com certeza. E com aquelas roupas de frio ficava menor ainda. O frio estava sendo-lhe tão grande que sua pele branca estava avermelhando-se, em busca de calor. Bonnie sorriu de canto. Com certeza aquela garota não era da França, para sentir tamanho frio.

Tentou não rir enquanto a olhava. Ela estava usando um casaco de pelugem cinza sintética que ia até seus joelhos, uma calça colada preta e tênis. Usava óculos a frente de seus olhos castanho-escuro e, dali, Bonnie conseguia ver o quão embaçados ficavam quando a garota assoprava as mãos.

Bonnie resolveu, então, olhar para outra pessoa, outro casal. Encarar estranhos não era algo muito educado a se fazer. Mas, por que aquela menina estava sozinha? Quer dizer... Numa noite como essa. Exatamente numa noite como essa?

A cantora não aguentou sua curiosidade e olhou com o canto dos olhos para a direção da garota... Para vê-la andando em sua direção. Bonnie teve que concentrar-se para não interromper sua canção de tão surpresa que ela estava. O que iria acontecer agora? 

Bonnie virou-se para a menina e ela já estava parada, há uns seis passos a frente dela. Ela estava sorrindo tímida, encarando Bonnie e aproveitando sua música. A cantora sorriu para ela e continuou a cantar, dedilhando suavemente seu violão.

A estranha sorriu mais aberto e Bonnie sentiu seu coração disparar. Aquela menina.. tinha algo especial nela. Ela tinha toda aquela aura de gentileza e novo ao redor dela. Bonnie estava encantada com aquele jeitinho tímido da menina e não conseguiu parar de olhar para ela até terminar a música.

I areumdaun girl nochiji masio...

Bonnie parou de tocar e ouviu aplausos sutis vindos da menina que a olhava. Sem graça, a cantora riu baixinho e agradeceu com a cabeça. 

— Você canta tão bem! — foi o comentário da estranha

— Ora, obrigada. — disse Bonnie, um pouco tímida — Espero que tenha gostado.

— Sim, eu gostei. Eu só realmente não esperava ouvir música coreana aqui.

— Oh! Você conhece?! 

Bonnie animou-se de tal maneira que seus olhos brilharam e a estranha riu daquela reação quase infantil. A cantora sentiu-se completamente tímida na hora e coçou a cabeça sem-graça. 

— Sim, eu conheço — a estranha disse, após rir — e, modéstia parte, ficou muito boa sua adaptação.

— Obrigada. Bom, já por ser minha única platéia, me dê a honra de escolher uma música?

— Oh... têm certeza? Eu não quero atrapalhar.

— Claro, pode pedir.

— Então...

A estranha sentou-se ao lado da cantora que sentiu-se estranhamente nervosa e ansiosa ao lado da menina. A estranha colocou o dedo no queixo e pôs-se a pensar. 

— A propósito qual seu nome?

— Você pode me chamar de Gee. E o seu?

— Bonnie.

— Okay, bunny, eu escolho... But It's Better if You Do, conhece?

— Panic! at the Disco?

— Exatamente!

Bonnie arregalou os olhos. Aquela não era uma música... formidável para uma noite como aquela. Não era sequer romântica, não chegava nem perto.  Bonnie olhou para Gee e viu o sorriso dela, que agora era amigável, como se conhecessem-se por um tempo. 

Tinha como negar aquilo?

Bonnie suspirou, inspirou e então começou:

Now I'm of consenting age to be forgetting you in a cabaret.

Bonnie começou a canção um pouco sem jeito, mas depois de um tempo, Gee juntou-se a ela e, o que antes fazia Bonnie hesitar, começou a ser o mesmo motivo para se divertir. Ela ria bastante com as caretas que Gee fazia, as graças e tudo o mais. 

Era a primeira daquelas noites gélidas em que Bonnie tinha uma companhia.

Naquela noite, Bonnie e Gee desenvolveram uma amizade que parecia de meses e meses. Tocaram diversas músicas juntas, conversaram. Estavam as duas comendo um croissant sentadas no banco da praça quando Bonnie finalmente perguntou:

— Gee, de onde você é?

— Brasil. Epa, espera, como você soube?

— Que você não era daqui? Fácil! Não está frio e olha o casaco que você está usando!

— Oh, verdade. 

As duas riram, mas dessa vez, Bonnie arriscou uma outra pergunta... Dessa vez mais melancólica:

— E, quando você vai embora?

— Amanhã.

A cantora assustou-se e olhou para a brasileira, assustada. Mas já?!

— É. Essa é minha última noite aqui. Por isso devo aproveitar tudo. 

Bonnie de repente encontrou-se sem chão. Estava se divertindo tanto com aquela menina que queria mais.. Poderia ficar com ela o dia todo. Aproveitaram o resto da noite juntas e Bonnie fez questão de levar Gee até o lugar onde ela estava hospedada, que, felizmente, não era longe.

Mas a noite toda, Bonnie se pegou pensando na menina. Ela já iria embora? Bom, pelo menos tinha o seu telefone. Perguntou que horas era o vôo e Gee disse, mas, quando mandou a menina ir dormir, percebeu que ela já dormira há muito tempo.

E com muito custo, Bonnie também dormiu.

Quando acordou no outro dia era 12:30 e o sol estava tímido. Bonnie espreguiçou-se, preparou um café e sentiu seu cheiro. Olhou pela janela e então para o sofá... Seu violão ainda estava ali e ela pegou-se pensando: "O que estou fazendo?"

Tomou um banho mais do que rápido, vestiu-se com o primeiro jeans azul que viu, a primeira camisa de linho branca e seu tamanco. Pegou o violão e saiu correndo. Gritou esbaforida para o primeiro táxi, acenou freneticamente e, quando ele parou, ela disse sem pensar:

— Aeroporto, aeroporto!

13:00.

O vôo dela era às 14:00.

Quando era 13:35, Bonnie chegou no aeroporto. Pagou rapidamente e saiu correndo para a ala do vôo dela. O vôo de Gee já estava sendo anunciado e ela tinha pouco tempo. Correu o mais rápido que seus tamancos a deixavam e quando avistou Gee na fila, não hesitou em começar a cantar mais uma música de Panic! At The Disco:

When the moon fell in love with the sun, all was golden in the sky, all was golden when the day met the night.

Gee olhou para trás ao reconhecer a voz e não pôde aguentar. Riu divertidamente da situação e da forma com que Bonnie atropelava alguns acordes por puro nervosismo. Saiu da fila e caminhou lentamente até Bonnie que agora não a olhava. E quando chegou a frente dela, Gee sorriu grande.

— Ora, bunny, o que está fazendo aqui?

— Eu... E-Eu... — Bonnie continuou a tocar a melodia enquanto falava — Eu só queria te ver de novo. Quer dizer... Eu não podia deixar você ir sem... sem antes te convidar para um café, mas, mas agora é tarde e-

Gee posicionou a mão sobre o ombro de Bonnie que conseguiu a encarar dessa vez. Era tão estranho sentir algo assim por uma pessoa que não conhecia. Mas Bonnie sentia. Ela queria conhecê-la. Era esse o tal do maldito clique?

— É um pouco tarde sim. — Bonnie estremeceu, envergonhada — Mas... Eu pretendo voltar para a França, sabe como é, gosto daqui.

— Mesmo?!

— Mesmo.

— Quando?!

— Hmm.. Daqui há um mês?

Bonnie soltou o ar que não sabia que estava segurando e então estendeu a mão e acariciou o rosto da menor, sorrindo gentil e tranquila.

— Então... você aceita tomar um café comigo?

— Será um prazer, bunny.

— Ótimo.

Gee riu e então abraçou Bonnie, que retribuiu com um sorriso terno.

— Última chamada para vôo 347, em direção a Santos Dumont, Rio de Janeiro.

— Tenho que ir, bunny. A gente mantém contato.

— Mesmo?

Gee depositou um beijo gentil no rosto da menina mais alta e sorriu.

— Claro.

Bonnie, então, sem resistir. Gentilmente selou os lábios da menina, com um beijo curto e singelo. Afastou-se e olhou para Gee, tímida. Ela também estava tímida, mas riu ao ver que a cara de Bonnie estava totalmente vermelha.

— ... Eu tenho que ir.

— Tá, me manda mensagem quando chegar.

E Bonnie observou Gee andar e fazer seu check-in. Elas se olhavam toda a hora e trocavam sorrisos e acenos. Quando Gee fora embora, Bonnie deu às costas e sorriu. Mal poderia esperar para aquele café com Gee e, por mais que fosse estranho admitir, já estava sentindo falta.

Então sentiu seu celular vibrar.

"À propósito, bunny, eu não gosto de café. Vai ter que ser mais criativa se quiser me levar a um encontro ;)"

Bonnie riu.

É, talvez amor exista até mesmo para ela.

 


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Notas finais do capítulo

Por favor, comentem se tiver gostado! Um beijinho e feliz dia dos namorados Gee! ♥



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