" E o acaso vai estar lá enquanto eu andar distraído..."

— Titãs

Abri os olhos de forma lenta e desejei continuar deitada naquela cama macia e quente. Não havia dormido, estava apenas recompondo o tempo que passei longe da minha confortável cama. A claridade do quarto fez com que meus olhos ardessem por pequenos segundos.

 Devo admitir que vagar pela sua própria casa trombando com pessoas e outras é, no mínimo, estranho, ainda mais quando é a primeira vez que os vejo, e quando eles serão a salvação de minha vida e da minha família. Tia Rosalie e tio Emmett enviaram os mais improváveis nômades, e meus avós enviaram antigos conhecidos.

 Minha cabeça guarda os mais bagunçados pensamentos, e meu coração os mais bagunçados sentimentos. Ainda me perguntara que diabo acontecera quando vi, pela primeira vez, Benjamin. Em minha atual situação, eu poderia escrever um livro enorme, que provavelmente levaria uma eternidade para ser lido.

 Joguei os pés para fora da cama e com muito esforço me pus de pé. Fui até o banheiro, onde prendi meu cabelo longo que fora clareando com o tempo em um rabo de cavalo improvisado. Aproximei meu rosto da pia e aparei um pouco d’água com as mãos. Com calma, segui caminhando para o box, onde a água quente provavelmente me traria as mais simples resposta para a confusão mental e sentimental.

 Ao terminar um demorado banho, voltei para o quarto. Sentei-me na beirada da cama enquanto fazia pequenos movimentos com a toalha para secar meu cabelo. Liguei a televisão pequena que há no quarto e passei a encarar um ponto fixo e nada interessante: A borda cor de madeira do enorme espelho.

 Ligue Pizza’s com, a melhor pizza de toda forks.

— Seu mentiroso- sussurrei mudando de canal. Aquela pizza, obviamente era uma das piores comidas que eu já fora obrigada a comer.

 Coloquei Pretty Little Liars para assistir e enquanto os episódios da série se iniciavam, eu fui à busca de uma roupa. Ao vestir-me, fui até o canto esquerdo do quarto, onde três caixas grandes e brancas guardavam muitos livros. Eu havia prometido que guardaria-os assim que a estante destinada apenas aos meus livros ficasse pronta. Com dificuldade, levantei uma das caixas e a pus na cama. Alguém bateu a porta. Ao abri-la, me deparei com tia Rose e uma mulher de cabelos lisos como o da Kate, porém, os olhos eram como rubis.  

— Mandaram-nos busca-la- Tia Rose sorriu. Apoiei o peso de meu corpo em uma das pernas e permiti-me tombar no batente da porta- Novas testemunhas acabaram de chegar.

— Precisa mostrar a eles, assim como fez conosco, que não é o que pensam ser- a outra mulher falou. Cheguei a pergunta-me quem era aquela.

— Eu..estou indo- falei- preciso levar estas caixas lá para baixo.

— Esperamos você, estamos todos do lado de fora.

  Acene observando-as ir embora. Voltei e peguei a caixa, em seguida desci com elas escada a baixo. Devo admitir que quase caí, mas retomei o equilíbrio rapidamente. Deixei a primeira caixa no primeiro degrau da escada e subi em busca da segunda.

 Quando finalmente estava descendo com a terceira, minha testa já estava suada e o calor detestável me dava à sensação de ser uma gelatina. Sem olhar para frente, esbarrei em alguém, mas devido estar segurando a caixa com força, ela não caiu. Quase disse o contrário a meu respeito.  Abaixei um pouco a caixa e vi por cima dela os olhos vermelhos como os da mulher na porta de meu quarto acompanhando tia Rosalie. Eu sorri desajeitadamente.

— Desculpa- falei arrancando de Benjamin uma risada baixa.

— Tudo bem! – ele me olhou de forma tão constrangedora que por um momento imaginei estar apenas com a parte interna a frente dele, sem a pele protendo. E senti que meus pensamentos estavam expostos- Pediram para te chamar. Zafrina e Senna estão esperando-a!

— Quem? – Perguntei rapidamente, antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa ele tomou a caixa de minha mão e empilhou-a em cima das outras.

— Vem!

— Preciso arrumar isso- falei enquanto ele saia caminhando para o lado de fora.

— Se quiser, posso ajuda-la depois- falou.

 Olhei para as caixas e sem tempo segui Benjamin para fora. Ao atravessar a porta, encontrei atrás de meus pais duas vampiras morenas. Uma delas, possuía o cabelo liso que ia até sua cintura, era escuro e possuía uma pequena franja acima dos olhos. Ela era muito alta e magra, a pele morena parecia brilhar mesmo sem o sol. A outra possuía o cabelo crespo seco e também de cor preta, era pouco menor que a companheira. As duas possuíam os olhos vermelhos e um aspecto selvagem e dominante. No rosto, uma pintura quase familiar me fez adivinhar de onde elas vieram. Amazônia-Brasil.

Eu não esperava reunir tantas culturas.

— Estas são Zafrina e Senna, do Brasil- meu pai falou.

— Zafrina tem o poder de criar ilusões na mente das pessoas- meu avô explicou. Sorri para ela- Pode mostrar a ela?

 Eu concordei. Os desenhos em volta de seus olhos e por toda a extensão de seu corpo quase descoberto eram realmente fascinantes. Estendi as mãos e toquei em seu rosto. Ao nos separar, ela me olhou com um pequeno sorriso nos lábios.

— Vamos ajuda-los.

[...]

— Os miseráveis?- Perguntou-me Garret, um nômade americano.

— É um clássico- respondi- Victor Hugo poderia ser considerado meu escritor favorito, mas em termos de favoritismo, outra pessoas já tem seu lugar garantido.

— Quem?

— Rick Riordan- falei enquanto colocava o ultimo livro na estante- Ele é um anjo, o anjo dos adolescentes e jovens. É um Deus grego!

— Poupe-me de seus fanatismos- Garret revirou os olhos. Ele é tão insensível.

— Gosto do modo de como Rick Riordan escreve- Kate sentou-se no sofá a minha frente.

— Gosta de autores contemporâneos? – Ele perguntou fixando seu olhar nela- Interessante.

— Alguns são admiráveis- Kate respondeu com um sorriso nos lábios.

 Ri e olhei em direção a janela, não negando que procurava Benjamin. O encarei até que a mesma morena do andar de cima seguiu até ele, que a envolveu em um abraço enquanto conversava com meus pais. Desviei o olhar e mordi o berço inferior. Meu estômago doeu e eu amassei as ultimas caixas.

— Essa é Tia- Alistair falou ao meu lado. Ele é um vampiro um pouco antissocial. — Parceira de Benjamin.

— Bom saber- falei.

— É mesmo? – ele perguntou e eu o encarei. Sua maneira um pouco intimidadora me fez encolher os ombros- Legal!

 Levantei e fui para o quarto. Preciso de um belo banho quente e relaxador. Meus joelhos começavam a ficar bom, o corte estava se fechando e não há mais sangue, mas uma grande marca roxo-azulada ainda é visível.

Preciso pensar em minha vida.

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