Like I'm gonna lose you escrita por bells


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Minha segunda historia! Espero que gostem, eu estava escrevendo um bônus pra minha outra historia, Como recuperar o tempo perdido, mas não cosnegui porque tinha outra ideia na cabeça. Vou portar o primiero capitulo para saber se tem pessoas interessadas em ler. Por favor, comentar para me dizer o que vocês acharam.

link para a musica: https://www.youtube.com/watch?v=2-MBfn8XjIU



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/695862/chapter/1

ANASTÁSIA

 

—Aaahhh! - Resmunguei enquanto desligava o despertador. _Maldito aparelho dos infernos. – Completei.

—Vejo que acordou de mal humor. – A voz ronca e brincalhona vinha do banheiro.

—Você que acorda com um bom humor sobrenatural. – Respondi irritada e ele apenas riu. _Está acordado há muito tempo?

—Acordei agora pouco. Vou preparar nosso café da manhã e te espero lá embaixo.

—Não podemos só ficar na cama? – Pedi me virando para ficar de barriga pra cima.

—Adoraria, mas já combinamos com o Eric, não é fácil reservar um estúdio. – Argumentou. Nicolas se aproximou de mim e me beijou. _Agora deixa de ser preguiçosa e levanta. – Me deu um tapa na bunda quando me virei e saiu do quarto rindo ao ouvir meus xingamentos. 

Encostei a cabeça na cama de novo e fiquei pensando na sorte que eu tinha. Vocês já olharam pra alguém e pensaram que queriam passar o resto da vida com essa pessoa? Eu pensava isso toda vez que acordava e olhava para o Nick. Começamos a namorar há dois anos, agora estávamos noivos e morando juntos. Para muitas pessoas isso pode parecer muito rápido e precipitado, mas eu sentia que conhecia o Nick a minha vida inteira e que não conseguiria viver mais sem ele. Então para que perder o tempo?

Nicolas e eu nos conhecemos na escola de música “The Boston Conservatory”. Eu estava no meu segundo ano e ele tinha vindo da Itália para fazer uma pós-graduação.

FLASHBACK ON

Estava correndo pelos corredores, era o primeiro dia de aulas do meu segundo ano na escola e eu já estava atrasada.  Era normal levar broncas pelos meus atrasos, meus professores, a pesar de reconhecer meu talento, consideravam que não era o bastante, precisava ser mais dedicada e focada em meus estudos. Por isso, este ano, prometi me focar 100% em meu maior objetivo, ser a melhor pianista do mundo.

Comecei a tocar piano com quatro anos, meu pai sempre gostou de tocar e foi ele quem percebeu meu talento pela primeira vez, por isso me colocou em uma escolinha, onde rapidamente desenvolvi meu talento e em pouco tempo ultrapassei as outras crianças. Quando terminei o colégio participei em uma audição e foi assim que ganhei uma bolsa para uma das melhores escolas de música e artes do mundo. Meus pais moravam em Seattle e a escola ficava em Boston, por isso tive que me mudar e aprender a me virar sozinha e conviver com outras pessoas.

Ser bolsista aumentava um pouco a pressão dos professores em cima de você, eles sempre esperavam mais, por isso me esforçava para me manter dentro de suas expectativas. O que me leva de volta ao primeiro dia de aula no segundo ano. Minha corrida pelos corredores da escola foi interrompida pela visão de Mia olhando pelas janelas de uma das salas. Mia era uma das minhas melhores amigas e estudava teatro na mesma escola, nos conhecemos logo no primeiro dia, quando descobri que ela seria minha companheira de quarto nos dormitórios, seu amor pelo drama e vestuários foi clara desde o começo, principalmente pela decoração do seu lado do quarto, extravagante seria a palavra certa.

Mia estava apoiada na parede botando, apenas, a cabeça na janela, tentando se esconder.

—O que está fazendo Mia? – Perguntei. Ela levou um susto e pulou para atrás. _Você saiu antes falando que tinha que chegar mais cedo para os ensaios.

—Que susto, Ana! – Disse batendo em meu ombro. _Estava indo em direção ao teatro, mas encontre um deus grego no caminho.

—Deus Grego? – Perguntei levantando uma das sobrancelhas.

—Sim! Olha. – Disse apontando para a janela. Eu me aproximei e dei uma olhada para dentro da sala, era um dos estúdios de gravação que a escola tinha, eles estavam à disposição dos alunos, mas era necessário reservar um horário. Dentro da sala haviam duas pessoas, mas meus olhos foram diretos para uma delas. Um homem... um homem não, um Deus, como Mia tinha falado. Ele era alto de cabelos escuros e com o sorriso mais lindo que eu já tinha visto, estava conversando com outro homem sentado em uma cadeira, fiquei admirando cada um de seus movimentos e cada parte de seu corpo, mas de repente ele se virou e olhou na minha direção, nossos olhos se encontraram e por alguns segundos me vi perdida em seus olhos verdes, até que ele sorriu pra mim, então eu em virei rapidamente e me afastei da sala levando Mia comigo.

—O que aconteceu? – Perguntou quando eu finalmente parei.

—Ele e viu. – Respondi.

—Serio? E como foi? De que cor são os olhos dele? – Perguntou rapidamente.

—Verdes, incrivelmente verdes. – Respondi me lembrando daquele olhar.

—Vejo que você também ficou caidinha por ele. – Falou sorrindo, deixando claro o que ela estava pensando.

—Deixa de ser idiota, ele é bonito, mas não é para tanto. – Tentei disfarçar.

—Sei... – Mia estava prestes a falar outra coisa, mas eu olhei para meu relógio e percebi que já estava muito atrasada.

—Merda! Vou chegar tarde! – Saí correndo.

—Nos vemos no almoço. – Gritou Mia de longe. Eu apenas assenti e continuei correndo. Chegue na sala de aula e levei mais uma bronca do meu professor, mas foi logo esquecido assim que eu comecei a tocar. A aula pareceu passar muito rápido, era sempre assim quando estava tocando, quando percebi já era hora do almoço. Peguei minhas coisas e andei até a lanchonete que estava dentro do campus, de longe avistei Mia e Kate sentadas em uma mesa. Kate, melhor amiga número dois, está no terceiro ano de dança e é uma das melhores bailarinas da escola, nos conhecemos em uma festa no primeiro semestre e nos demos bem desde o começo. Chegando mais perto pude ouvir a conversa delas, estavam falando do cara de mais cedo.

—Estou falando sério, Kate. Ele é lindo! – Disse Mia quase pulando da cadeira.

—É um pouco difícil acreditar em você, Mia. Você fala isso, pelo menos, uma vez por semana, de caras diferentes e nem sempre é verdade.

—Desta vez é sério, pode perguntar para a Ana.

—Não me mete nisso. – Falei sentando na cadeira vazia.

—Você viu ele? – Perguntou Kate.

—Sim, a maluca da Mia estava seguindo ele hoje de manhã e me fez dar uma olhada. – Respondi tentando ficar calma, mas era difícil quando eu lembrava como ele era lindo.

—Então? – Perguntou Kate, querendo saber se o que a Mia falou era verdade.

—Ele era bonito, mas só isso... – Menti de novo.

—Ana só está tentando parecer madura e focada em seus estudos, mas eu sei que ela ficou caidinha nele. – Mia falou sorrindo. Aquela peste parecia ter um sexto sentido.

—Pensa o que você quiser, Mia. Kate, como foi sua aula? A professora pegou no seu pé de novo? – Perguntei mudando de assunto, se continuássemos no mesmo eu acabaria me entregando.

Meu plano deu certo e mudamos de assunto completamente, passamos o almoço falando sobre a megera da professora de balé, ela era uma daquelas bailarinas aposentadas que se achavam perfeitas e invejavam a nova geração de bailarinas e recentemente tinha pegado a Kate como ponto para descarregar suas frustrações.

—Mas então, vamos fazer alguma coisa mais tarde? Não tenho mais ensaios hoje. – Disse Mia.

—Também não. Podíamos pegar um cinema. – Kate falou anima.

—Desculpem meninas, mas reservei uma sala para ensaiar. – Respondi. Tinha reservado a sala na semana passada e estava ansiosa para ficar sozinha com o piano.

—O ano mal começou e você já está fazendo ensaios extras? – Perguntou Kate parecendo chateada.

—Não é bem um ensaio. Terminei uma música e queria arrumar algumas coisas no piano. – Respondi com medo, eu sabia o que vinha.

—Uma música nova?! – Perguntou Mia emocionada. _Deixa a gente ir junto! – Pediu. Elas sempre pediam o mesmo quando falava em uma música nova. Eu não me importava em tocar na frente de multidões, mas era muito reservada com minhas próprias composições, principalmente as que tinham uma letra.

—Ainda não... – Falei para tentar despista-las.

—Você sempre fala a mesma coisa e acaba nos enrolando. – Respondeu Kate.

—Desculpa meninas, mas ainda não me sinto segura para tocar minhas músicas em público.

—Bom eu já ouvi algumas quando você está no banho e, devo dizer que são lindas, mas a decisão é sua, quando se sentir mais confortável a gente vai estar aqui esperando ansiosamente.

—Prometo que um dia vocês vão ouvir todas elas. – Falei sorrindo. _Agora eu tenho que ir, mas podem ir no cinema sem mim. Divirtam-se. – Peguei minhas coisas e andei de volta para o prédio principal.

Cheguei na sala e pude respirar fundo sabendo que estava sozinha e que não tinha ninguém me julgando ou analisando cada nota que eu tocava no piano. Eu adorava meus professores e sabia que tudo o que eles faziam era para me tornar uma pianista melhor, mas também gostava de tocar sozinha e apenas apreciar a música. Sentei no banco do piano, peguei minhas partituras na bolsa e preparei tudo pra começar a tocar.  Comecei a testar algumas teclas e logo tinha uma melodia fluindo, passei alguns minutos concertando algumas notas e trocando o tempo de outras, quando achei que estava perfeito peguei meu caderno da mochila e procurei a letra da música. Meu caderno era como um diário, nele escrevia todas as minhas músicas e, a maioria delas, eram muito pessoais. Comecei a compor quando tinha 14 anos e hoje meu caderno estava quase cheio, muitas delas nem foram concluídas, mas as guardava mesmo assim.

Comecei a tocar e cantar junto a melodia, que se encaixaram perfeitamente. A medida que ia cantando mudava algumas coisas na letra, quando achava necessário. Despois de repetir a música quatro vezes fiquei satisfeita com o resultado, então decidi toca-la por inteiro, sem pausas ou mudanças. Fechei os olhos e deixei a música me levar, quando terminei ouvi um bater de palmas que fez pular no banco.

—Isso foi incrível. – Falou a pessoa de pé ao lado da porta. Me levantei do banco para ver melhor quem era a pessoa e me surpreendi ao me encontrar com aqueles olhos verdes de mais cedo.

—O que está fazendo aqui? – Perguntei. _A sala está reservada.

—Primeiro, aqui está escrito que a sala está reservada até às 18h e já são 19h30, então ela não pertence mais a você.- Não tinha percebido que era tão tarde. _ Segundo, achei justo dar uma espiada já que você fez o mesmo hoje de manhã. – Disse sorrindo e me deixando muito constrangida.

—Não estava espiando. – Respondi com o rosto queimando de vergonha, ele tinha me visto mais cedo.

—Não foi o que me pareceu, mas não me importo quando garotas bonitas estão interessadas em mim. – Se gabou.

—Não olhei por que estava interessada em você, apenas achei que fosse outra pessoa. – Menti.

—Então devo ser muito parecido com essa pessoa, porque você ficou olhando pra mim por muito tempo.

—Bom, se faz bem para sua autoestima achar que eu estava te observando eu não me importo, mas não gosto que invadam meus ensaios, é pessoal. – Falei chateada desta vez, ele tinha ouvido uma das minhas músicas, nem Mia e Kate tinha escutado.

—Peço desculpas por ter invadido seu ensaio, mas não por ter ouvido sua música. Você tem talento. – Disse se aproximando.

—Eu sei, por isso tenho uma bolsa. – Respondi e ele riu.

—Confiante, gostei disso. Sei que você é a pianista número um do segundo ano, mas estava falando da letra e da sua voz, é linda. Faz aula de canto? – Perguntou agora mais perto de mim. Como ele sabia isso de mim? _Fiquei curioso depois de você ficar me espiando, então decidi investigar. É muito fácil descobrir coisas aqui, principalmente quando quem se procura é uma estrela. – Falou com um meio sorriso sedutor.

—Não sou uma estrela e não é da sua conta que aulas eu pegou ou deixo de pegar. – Falei pegando minhas coisas e enfiando tudo dentro da mochila.

—Hey! Não precisa ficar chateada, já pedi desculpas por invadir. – Disse segundando meu braço de forma delicada.

—Eu ouvi. – Falei e continuei pegando minhas coisas, estava mais constrangida do que chateada, queria sair logo da lá.

—OK, vamos fingir que nada aconteceu. – Falou entrando na minha frente. _Prometo esquecer que ouvi a sua música, nem lembro mais dela. – Brincou. _E eu vou pagar um jantar, aposto que você não comeu nada desde o almoço. – Completou. Se não fossem por aqueles lindos olhos verdes eu provavelmente teria desviado dele e fugido daquele lugar, mas algo me manteve lá, olhando pra ele. _Por favor? – Pediu mais uma vez. Eu tentei negar, mas minha barriga respondeu antes de mim, com um grande ronquido. _Acho que isso foi uma resposta. Meu nome é Nicolas Conte, mas pode me chamar de Nick. – Disse sorrindo.

—Meu nome é Anastásia Steele, mas pode me chamar de Ana. – Ele apenas sorriu, segurou minha mão e me puxou para fora da sala.

FLASH BACK OFF

Depois desse dia começamos a sair com mais frequência, mesmo por que eu não tinha opção, ele ficava me seguindo e me perturbando até eu aceitar, até que um dia ele me pediu em namoro e não consegui dizer que não. Mia quase teve um ataque quando ficou sabendo, bem, ela teve um ataque. Kate ficou feliz e estava quase dando uma festa para celebrar o fato de não estar mais encalhada, ela jurava que eu iria morrer sozinha se eu não me esforçasse um pouco e pensasse em outra coisa que não fosse o piano. Acho que no fundo ela tinha certeza, nunca dei importância a relacionamentos, sempre me foquei no piano e, se dependesse de mim e minha falta de atitude, provavelmente continuaria solteira. Mas Nick foi persistente o bastante para me conquistar e me ensinar a me focar em outras coisas. Foi graças a ele que consegui mostrar minhas músicas para outras pessoas e comecei a fazer aulas de canto, onde acabei descobrindo que tinha certo talento para isso. Mas nunca seria como meu piano, gostava de cantar, mas ainda era só um “hobby”.

Depois de algum tempo de namoro, Nick me pediu para que morássemos juntos, eu neguei inicialmente, não me achava preparada para tomar esse passo, mas da mesma foram que ele me convenceu a namorar com ele, me convenceu a morar com ele. Nick não morava nos dormitórios, ele tinha um departamento perto da escola, se sentia mais confortável assim. O começo foi difícil, tínhamos manias e costumes diferentes, brigávamos muito e, na maioria, das vezes tinha vontade de bater nele, considerei muitas vezes em voltar para os dormitórios, mas acabamos nos entendendo, não foi fácil.

—Amor! Você vai querer panquecas? – Gritou Nick da cozinha. As panquecas dele são as melhores.

—Sim! Já estou indo. – Gritei de volta. Me levantei rapidamente e fui para o banheiro tomar meu banho e me arrumar. Quando estive pronta fui até a cozinha e encontrei Nick cozinhando de avental, não me cansava de ver ele desse jeito. _Que cheiro maravilhoso!

         _É incrível como seu humor muda quando tem comida no meio. – Disse rindo de mim. Eu deu um tapa em seu ombro e ele riu.

         _Não tem como resistir a suas panquecas, elas são incríveis.

         _Claro que elas são, sou eu que estou fazendo e eu sou incrível.

         _Metido. – Nick riu mais uma vez, mas continuou fazendo as panquecas. Quando terminou, serviu nossos pratos e se sentou do meu lado.

         _Você realmente não vai me contar o que vamos fazer no estúdio? – Perguntei mais uma vez, tinha feito a mesma pergunta na noite anterior, mas não tive resposta, ele conseguiu me distrair...

         _O que se faz em estúdios, Ana? – Zombou de mim.

         _Não me trate como criança. Você sabe o que eu quero dizer. – Falei emburrada.

         _Você vai saber quando a gente chegar lá, agora deixa de ser curiosa e termina seu café da manhã, estamos atrasados. – Nick me deu um selinho e continuou comendo. Eu bufei e continuei comendo, a única forma de descobrir era indo com ele.

         Assim que terminamos de comer, arrumamos nossas coisas e saímos em direção a escola, onde ele tinha reservado um estúdio. Como o apartamento era perto conseguimos ir andando, sem problemas. Liam, melhor amigo de Nick, estava nos esperando na porta.

         _Estão atrasados. – Nos reprendeu.

         _A culpa foi dela. – Nick me acusou e Liam riu da minha cara feia.

         _Vamos logo, temos muito que fazer. – Nos apresou. Os três entramos no estúdio e ninguém falou nada, Nick foi até uma guitarra apoiada na parede e se sentou em uma das cadeiras.

         _Lembra do pesadelo que você teve mês passado? – Perguntou. Claro que lembrava. Como poderia esquecer? Foi o pior sono que já tive.

         Nick e eu estávamos andando na praia, como fazíamos aos finais de semana. O sol estava começando a descer e tinham poucas pessoas ainda lá e estava começando a ficar frio.

         _O que acha de irmos pra casa? – Perguntou Nick parando de andar.

         _Não, vamos ficar mais um pouco, ainda está cedo. – Reclamei.

         _Está começando a ficar frio e estamos sem casacos. – Rebateu.

         _Não estou com frio. – Menti.                                

         _Está com pele de galinha e seus dedos estão gelados, assim como seu nariz. – Disse dando um beijo no meu nariz.

         _Ok... estou com frio, mas quero ficar mais um pouco. – Pedi.

         _Tudo bem, vem cá. – Nick me puxou e grudou minhas costas em seu peito, me abraçando para tentar me aquecer.

         Ficamos abraçados por muito tempo, olhando o sol desaparecer no horizonte e de repente tudo ficou escuro, não consegui ver mais nada, apenas ouvir as ondas do mar batendo na areia.

         _Nick? – Perguntei tentando me virar, mas ele não respondeu, em lugar disso, me soltou e foi andando em direção ao mar. _Nick! – Gritei, mas ele ignorou.

Tentei ir atrás dele, mas minhas pernas não conseguiam de mexer. Aos poucos ele começou a desaparecer no meio da escuridão, até que não consegui mais vê-lo. Tentei gritar mais uma vez, mas nada aconteceu. Fiquei sozinha no meio da escuridão, sem poder me mexer ou gritas, apenas sabendo que Nick tinha sumido e não voltaria. Um vazio me invadiu e uma dor no me peito que nunca imaginei sentir. Acordei de uma vez, estava suada e ainda tremia, comecei a tatear a cama procurando-o.

—Ana? Você está bem? – Uma paz me invadiu ao ouvir a sua voz e pude sentir meu coração voltando ao normal quando o vi virando na cama e olhando pra mim. _Teve um pesadelo? –  Perguntou.

—Sim, foi apenas um pesadelo. – Suspirei alivia, mas o alivio não durou muito. Olhando pra ele, ali, deitado ao lado, percebi que um dia ele poderia não estar, percebi que poderia perde-lo a qualquer momento e eu não poderia fazer nada. Aquele medo e vazio, de pouco tempo atrás me invadiram com mais força, me fazendo perceber que, a pesar de ter sido apenas um sonho, podia se tornar uma realidade a qualquer momento. Pode parecer loucura, mas tinha medo demais para ser racional.

—Amor? Por que está chorando? – Nick me perguntou e, só então, percebi que lagrimas caiam sem parar por meus olhos. Eu não consegui dizer nada, apenas o abracei e tentei ficar o mais próximo possível dele. _Vai ficar tudo bem. – Foi o único que ele disse e me segurou com força durante o resto da noite.

No dia seguinte contei ao Nick o que tinha acontecido no meu sonho e, surpreendentemente, ele entendeu minha reação e meu medo, mas disse que eu não podia me preocupar com algo que pode ou não acontecer e que se dependesse dele, nós ficaríamos juntos para sempre. A pesar das palavras de Nick e eu mesma tentando me acalmar, foi difícil esquecer aquele sonho, era algo que me deixava desconfortável e por mais que tentasse ignorar continuava voltando.

—Lembro, mas o que isso tema ver? – Perguntei, mas sem querer falar do assunto.

         _Bom, eu sei que você ainda não superou e o difícil que é pra você, por isso quis fazer isso pra você. – Disse me entregando uma folha de papel. _É uma forma diferente de ver o sonho, as vezes materializar algo, nos ajuda a deixa-lo para atrás. – Comecei a ler a letra da música que ele tinha composto pra mim e lagrimas começaram a sair dos meus olhos. _Se você não quiser fazer isso, eu entendo, mas a música continua sendo sua. – Concluiu.

—Ela é linda, você cantaria ela comigo? – Perguntei. Não sabia se conseguiria faze-lo sozinha.

—Claro, jamais perderia a honra de cantar com você. – Respondeu sorrindo.

E assim passamos o dia no estúdio de gravação, cantando e fazendo arranjos, paramos para almoçar e continuamos. No final do dia, a música estava quase pronta e ambos estávamos exaustos. [música: https://www.youtube.com/watch?v=2-MBfn8XjIU]

—Acho que por hoje deu. – Disse Nick.

—Sim, podemos terminar amanhã. – Completou Liam.

—Que bom, porque estou morrendo de fome e me recuso a comer pizza de novo. – Falei, lembrando da pizza do almoço.

—Então vamos jantar. Vem com a gente, Liam?

—Adoraria, mas já tenho um encontro marcado. – Disse sorrindo.

—Outro? – Perguntei brincando com ele. _Achei que tivesse largado essa vida.

—É um segundo encontro com a mesma garota, então... – Disse constrangido.

—Achamos a menina certa? – Perguntou Nick.

—Espero que sim! – Respondeu animado. _Bom, até amanhã, casal!

Saímos todos juntos e fomos andando até o nosso restaurante favorito, onde tivemos nosso primeiro encontro, um restaurante chinês perto da escola. Sentamos na mesma mesa de sempre – sim, nós tínhamos uma mesa – e fizemos os pedidos.

—Como estão os ensaios? – Perguntou Nick. Há uma semana tinha sido escolhida como solista para tocar no concerto de encerramento da escola, não era nada fácil conseguir uma vaga na orquestra e muito menos ser chamada para um solo. Tive que disputar com o melhor pianista da escola, Francis, sempre foi o melhor, pelo menos era isso o que eu acreditava, por isso fiquei muito surpresa quando eu fui escolhida no lugar dele.

—Está sendo incrível! Quer dizer, eles são muito exigentes e os ensaios acabam comigo, mas é incrível! – Respondi animada e Nick riu.

—Está parecendo uma criança se preparando para o natal.

—É quase isso, estou morrendo de ansiedade, mal posso esperar, mas ao mesmo tempo estou morrendo de medo.

—É normal sentir medo, mas eu sei que você vai se sair incrível. – Disse Nick segurando minha mão por cima da mesa. _Mas eu acho que alguém não está lidando bem com tudo isso. – Nick continuou a falar. _Ouvi dizer que Francis não está indo às aulas. – Ele estava certo.

—Acho que ele não estava esperando por isso, na verdade, nem eu estava. Nunca pensei que fosse ser escolhida, ele sempre foi o melhor. Estou me sentindo um pouco culpada, como se eu tivesse roubado isso dele.

—Não fale isso de novo. Você não roubou nada de ninguém, você ganhou com seu esforço e talento. Você merece essa posição, amor. Não deixe que ninguém te faça pensar o contrário. – Nick disse cada palavra com convicção e seriedade.

—Você tem razão, mas com mesmo assim me sinto mal por ele.

—Ele vai superar, continua sendo um dos melhores pianistas da escola, não vai ser difícil. – Respirei fundo e mudamos de assunto.

Passamos o resto da noite conversando e rindo, nesses momentos podia esquecer o mundo, a escola, provas, concertos e qualquer problema que tivéssemos. Saímos do restaurante quando não tinha mais ninguém e os garçons estavam apenas esperando por nós. Já estava tarde e as ruas estavam vazias, Nick segurou minha mão e andamos em direção à casa. Estávamos passando pela escola quando Nick parou.

—O que foi? – Perguntei.

—É bem aqui. – Disse apontando ao teatro. _Daqui a alguns meses você estará aqui tocando seu solo e eu estarei na plateia me sentindo o cara mais feliz por estar casado com essa mulher maravilhosa. 

—O quê? - Perguntei confusa.

—Eu sei que tínhamos combinado esperar até você se formar e nos estabelecer, mas por que? Porque temos que esperar? Eu te amo e espero que você me ame também, ou nada disso fará sentido... – Disse me fazendo rir. _Já moramos juntos há quase um ano e eu não quero mais esperar, se dependesse de mim já estaríamos casados. – Nick respirou fundo e continuou. _Anastásia Steele, você gostaria de casar comigo o mais rápido possível, amanhã seria um ótimo dia. – Não consegui me segurar e comecei a rir.

—Você está falando sério?

—Sim! Bom, não precisa ser amanhã, mesmo porque nossos pais vão nos matar, mas acho que conseguimos arrumar tudo pra mês que vem. – Disse sorrindo. _Sei que vai ser uma loucura e você provavelmente vai me odiar no final de tudo, mas....

—Eu aceito. – Respondi sem deixar que ele continuasse a tagarelar.

—É serio? – Perguntou.

—Sim! Mas você vai ter que contar aos nossos pais. – Nick fez uma careta e começou a rir.

—Acho melhor irmos para casa, está ficando frio. – Nick, passou seus braços por meus ombros e nós viramos para continuar andando, mas paramos ao ver alguém na nossa frente.

—Mas se não é a melhor pianista da escola! – A pessoa na nossa frente estava com um casaco preto, cobrindo a cabeça, mas eu reconheci a voz.

—Francis? – Perguntei e ele levantou o rosto, confirmando minhas suspeitas. _O que está fazendo aqui?

—Estava dando uma volta, pensando em como você destruiu minha vida. – Nesse momento, Francis tirou uma arma do casaco, deixando-a pendurada e balançando enquanto ele falar. Nick, rapidamente, deu um passo para frente, tentando cobrir meu corpo com o dele. _Sabe, minha família inteira estava contando comigo para conseguir esse solo. Eu me preparei a vida inteira para isso E VOCÊ TIROU TUDO DE MIM, UMA MENINA IDIOTA QUE NÃO TEM A METADE DO TALENTO QUE EU TENHO! EU MERECIA ESSE SOLO, NÃO VOCÊ!! – Ele gritou as últimas frases e apontou a arma em nossa direção.

—Eu sinto muito, Francis, não sabia que era tão importante para você, mas pode ficar com o solo, ele é todo seu. – Falei tentando conter o choro preso na garganta.

—Ouviu, o solo é seu, podemos deixar as coisas assim, ninguém vai ficar sabendo do que aconteceu aqui. – Nick completou, mas Francis soltou um sorriso e manteve a arma apontada em nossa direção.

—Vocês acham que eu iria aceitar uma coisa ridícula como essa? Não quero suas sobras, EU ERA O MELHOR E VOCÊ TIROU ISSO DE MIM, NÃO TEM VOLTA. Só há uma solução. - Meu coração começou a bater mais rápido, sentia que sairia pela minha boca a qualquer momento. Segurei o braço de Nick com força.

—Francis por favor. As coisas não precisam ser assim, os professores cometeram um erro, você é o melhor, posso falar com eles. – Falei chorando.

—NÃO! O único jeito de ser o melhor de novo é acabar com você. – Ele estava claramente fora de si. Eu ia falar mais alguma coisa, mas me detive quando vi dois seguranças da escola logo atrás dele, esperança surgiu no meu peito, eles o deteriam e tudo seria apenas uma lembrança ruim.

—Francis, podemos conversar. Você é um pianista talentoso, não quer terminar preso por causa de um erro. – Eu sabia o que Nick estava fazendo, distraindo Francis para que os seguranças pudessem chegar mais perto. _Se você parar agora, pode continuar com sua carreira e ainda ser o melhor. – Ele parecia estar sendo convencido, abaixou a arma e começou a mexer o corpo de um lado ao outro, parecendo considerar as palavras de Nick.

Nesse momento as coisas aconteceram rápido demais, os seguranças chegaram perto o bastante e se jogaram em cima dele, tentado conte-lo. Francis se debateu, tentando se soltar, mas os seguranças já tinham controle dele, pelo menos foi o que eu pensei. Um dos seguranças tropeçou em uma pedra, soltando o braço de Francis, foram apenas uns segundos, mas foi o bastante para ele apontar a arma e atirar na nossa direção.

Eu fechei os olhos, esperando pela dor chegar, mas ela não veio. Em seu lugar senti um peso em cima de mim e, quando abri os olhos, Nick estava na minha frente, apoiando seu corpo em mim. _Nick? – O chamei, mas não ouve resposta, meu noivo apenas caiu aos meus pés, sobre uma poça de sangue.

—NICK! POR FAVOR, FALA COMIGO! ALGUEM CHAMA UMA AMBULÂNCIA! – Gritei desesperada, Nick apenas mantinha seus olhos nos meus e parecia estar engasgando. _Amor, fica comigo. Olha pra mim, vai ficar tudo bem. Por favor, preciso de você.

—Ana... – Falou devagar.

—Vai ficar tudo bem, a ambulância está chegando. – Falei para acalma-lo, mas na verdade estava tentando me acalmar.

—Eu te amo. – Disse, ainda mais fraco.

—Eu também te amo, agora fica calmo, a ambulância vai chegar e você vai ficar bem. – Minha visão estava turva por causa das lagrimas, mas pude ver um pequeno sorriso em seu rosto. Nick levantou sua mão e a passou por meu rosto.

—Você tem que me prometer... – Começou a falar engasgando, tentei detê-lo, mas ele continuou. _Você tem que seguir em frente, amor.

—Para! Você vai ficar bem, vamos casar mês que vem, lembra?

—Ana, promete. – Pediu de novo.

—Não, você não vai a lugar nenhum! Eu não quero, não consigo viver sem você. – Falei chorando.

—Pode sim... você é... – Nick começou a engasgar de novo.

—Nick? – Ele não respondeu. _Amor, por favor! Acorda!

[..]

A sala era fria, com as paredes pintadas de branco e corredores que pareciam não terminar. Não sabia que horas eram, nem a quanto tempo estava sentada naquele banco, apenas sentia que tinha sido uma eternidade. A ambulância chegou sem que eu percebesse, apenas senti alguém me separando do Nick para logo em seguida ser levado para dentro da ambulância e eu corri atrás dele. Os enfermeiros falavam comigo, mas eu não conseguia responder nada, apenas olhava para o corpo de Nick deitada na maca enquanto era atendido. Ao chegar no hospital fomos recebidos por uma equipe de médicos, que levaram meu noivo para dentro, me deixando sozinha em uma sala de espera, onde me encontrava esperando.

—Ana! – Me virei em direção as vozes e vi Mia e Kate correndo na minha direção. _Oh Meu Deus! Não acredito o que aconteceu. Você está bem? – Perguntou Mia apressurada. Eu apenas balancei a cabeça afirmando.

—Nick, ele... – Minha vez se perdeu no meio do choro.

—Oh, Ana. – Kate e Mia e abraçaram enquanto eu chorava. _Vai dar tudo certo, amiga. Nick é um cara forte, você vai ver. – Disse Kate e eu queria acreditar em suas palavras, era o que eu mais queria.

—Já falamos com os seus pais, eles estão vindo de carro. Também ligamos para os pais do Nick, estão vindo no primeiro voo. – Disse Kate e agradeci mentalmente por elas terem feito isso, eu não tinha nem lembrado desse detalhe.

—Familiares de Nicolas Conte? – Perguntou um médico ao sair da sala. Eu me levantei imediatamente.

—Sou a noiva dele.  Como ele está? – O médico suspirou e pude ver em seu olhar que não eram notícias boas.

—Eu sinto muito, senhorita. Mas não pudemos fazer nada.

—O que está querendo dizer? – Perguntei desesperada, me recusava a acreditar.

—Ana...- Kate me chamou mas eu ignorei.

—Me  diga o que aconteceu com ele. – Exigi ao médico de novo.

—Senhorita, o senhor Nicolas Conte faleceu. Eu sinto muito, sei que é difícil... – Cada palavra pareceu uma facada em meu peito. Senti o ar preso em minha garganta sem conseguir respirar, minhas pernas moles, incapazes de me sustentar e minha cabeça prestes a explodir.

—Ana, eu sinto muito. – Ouvi alguém dizer, mas minha mente já estava longe. Meu corpo caiu no chão e comecei a chorar descontroladamente.

—Não! Não é verdade! – Repetia sem parar. Senti braços me rodeando e podia ouvir palavras de conforto, mas nenhuma delas fazia sentido. Queria apenas acordar deste pesadelo e ver Nick deitado na nossa cama, como todos os dias, mas eu sabia que isso não iria mais acontecer, eu nunca mais o veria...

[...]

—Ana, querida. Estamos prontos. – Disse minha mão entrando pela porta. _O seu pai está nos esperando no carro. – Eu a ouvi falar, mas meu corpo não respondia, estava sentada na minha cama, vestindo aquele maldito vestido preto, tentando não pensar no que estava prestes a acontecer. _Querida? – Chamou mais uma vez. _Se você não quiser, não precisa ir.

—Não, eu vou. – Disse me levantando, por mais que machucasse, eu precisava estar lá. _Só preciso de um minuto. – Pedi.

—Claro, meu amor. Vamos estar esperando lá embaixo, qualquer coisa é só me chamar. – Balancei a cabeça e minha mãe saiu do quarto.

Andei até minha penteadeira e abri a primeira gaveta, onde guardava minhas joias. A primeira coisa que eu vi, foi o colar que Nick me deu no primeiro aniversario que passei com ele, era um colar de prata com uma pedra turquesa em forma de gota como pingente. Lembrei de ter amado o presente, não pelo valor ou pela beleza, mas porque Nick tinha lembrado de um comentário que eu fiz sobre ser a minha pedra favorita, meses antes. Isso era umas das coisas que eu amava nele, sempre prestava atenção no que eu falava, mesmo que fossem besteiras.

Peguei o colar e o coloquei no pescoço e me pareceu mais pesado desta vez. Me olhei no espelho e não reconhecia o rosto refletido nele. A menina na minha frente era pálida, com enormes olheiras e cabelo preso em uma trança bagunçada. Mas essa imagem não refletia nem um pouco como estava me sentindo por dentro, estava morta, uma grande parte minha morreu junto com ele.

Os dias desde o acidente se passaram sem que eu percebesse. Na verdade, eu me senti apenas uma espectadora, vendo as coisas acontecendo na minha frente, sem poder reagir, apenas me deixando levar pelas pessoas. Kate e Mia me levaram para casa depois da notícia, me deram um banho e tentaram em fazer dormir, sem sucesso. No dia seguinte, meus pais e os pais de Nick chegaram, eu não tive coragem de encara-los, pra minha sorte, eles preferiram ficar em um hotel.

Eu passei os últimos dias trancada em meu quarto, sem querer falar com ninguém, ou ver ninguém, meus pais estavam preocupados, eu podia perceber isso, mas eles entendiam que eu queria ficar sozinha. E agora aqui estou eu, me arrumando para sair de casa, para ir ao seu enterro, dizer adeus à pessoa que mais amei.

—Você está bem, filha? – Minha mãe perguntou pela milésima vez dentro do carro. Respirei fundo e respondi.

—Estou bem, mãe. – E voltei a olhar pela janela do carro.

O carro parou e eu sabia que tínhamos chegado. A paisagem verde e cheia de arvores do cemitério, dava a falsa impressão de calma, mas não consigo imaginar alguém calmo neste local. Pessoas vem aqui para se despedir de seres amados, eu apenas podia ver dor e sofrimento naquele lugar.

Andei ao lado dos meus pais, olhando sempre para baixo. Quando chegamos percebi que o local estava cheio de pessoas, estudantes da escola, professores, amigos e familiares, Nick era muito amado. Alguns olhavam para mim e me davam um leve sorriso, mas eu sabia que eles estavam tentando esconder a pena que sentiam de mim. Do outro lado pude ver os pais de Nick, estavam sentados em duas cadeiras, a mãe dele parecia devastada e o pai tentava mantes a calma, mas a dor estava marcada em seu rosto. Perderam o único filho e a culpa tinha sido minha.

A cerimônia começou antes que eu pudesse considerar me aproximar deles, então decidi ficar quieta apenas ouvindo o padre falando. Ele falava de como Nick era uma pessoa incrível, um aluno exemplar e um excelente musico. Falava e como era amado por todos que o conheciam e de como conseguia tocar o coração das pessoas e, principalmente, fala de como todos sentiriam a sua falta. Me segurei o tempo todo para não chorar, mesmo porque não achava que houvessem mais lagrimas para derramar. Me segurei para não preocupar meus pais, para não parecer fraca, para não dar pena, mas assim que o caixão começou a descer eu percebi que era lá dentro, percebi que não o veria nunca mais. Foi então que eu desabei, todas aquelas lagrimas que vinha segurando caíram de uma só vez, em um choro silencioso. Minha mãe me abraçou e dizia que eu iria ficar bem, mas eu sabia que era mentira, e nunca ficaria bem.

Pessoas passavam pela cova, jogavam flores e iam se dispersando em direção aos carros, os pais do Nick se mantinham no mesmo lugar, esperando que as pessoas saíssem para poder se despedir do filho. Eu quis me aproximar, mas alguém apareceu na minha frente.

—Hey, Ana. – Disse Liam com um sorriso fraco e os olhos vermelhos. _Eu sinto muito. Queria ter falado com você antes, mas tudo foi muito rápido.

—Sim, foi. – Respondi. Não tinha muito o que falar.

—Queria te entregar uma coisa. – Disse estendendo uma caixinha. _Ele queria que você tivesse isto. – Quando abri a caixa encontrei um CD, nosso CD. _Eu terminei os arranjos ontem, achei que você quisesse ficar com ele, é a única cópia.

—Obrigada. – Disse apenas. Liam assentiu e foi embora. Fiquei de pé olhando para aquele CD, a música que ele tinha feito pra mim, tínhamos terminado de gravar no dia em que tudo aconteceu. Foi por mim que estávamos lá, por meu sonho, por meu medo. Foi a mim que ele tentou matar não ele. Eu deveria estar naquele caixão e não o Nick. “A culpa é toda minha”. – Era o único que eu consegui pensar. Foi tudo minha culpa.

—Ana? – Alguém me chamou. Levantei o olhar e encontrei um par de olhos verdes olhando pra mim. A mãe de Nick me olhava preocupada e o pai dele estava logo do lado. _Você está bem, querida? – Perguntou. Não eu não estava bem e era a minha culpa, apenas minha culpa.

—Eu sinto muito. – Disse chorando e eles pareceram não entender. _A culpa foi minha, sinto muito. Por favor me perdoem.

—Não querida, não foi... – Ela tentou falar, mas eu não conseguia ouvir.

—Eu preciso sair daqui. Eu... me perdoem. – Dizendo isso, sai correndo pelo cemitério em direção ao carro. Quando cheguei encostei na porta e comecei a chorar. Meus pais chegaram logo atrás.

—Queria fique calma, a culpa não foi sua.

—Quero ir pra casa. – Falei interrompendo meu pai.

—Tudo bem, vamos te levar pra casa. – Respondeu.

—Não, eu quero ir pra casa, com vocês. Quero voltar pra casa em Seatle.

—Meu amor, e a escola? – Perguntou minha mãe.

—Não posso voltar, não agora. Por favor, só quero ir pra casa.

—Tudo bem, filha. Se é que você quer.

Sim, era isso o que eu queria, voltar pra casa. Me afastar de todas as lembranças, que, antes me faziam sorrir, mas que hoje não me causavam nada além de dor. Queria me afastar da culpa e do medo. Eu voltaria para Seattle.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero pelos comentarios! Para queme está seguindo minha outra historia, desculpem a demora, eu prometo postar o bonus, mas no momento estou sem inspiração pra ele.