Admirador secreto? escrita por Isa


Capítulo 5
A ameaça.




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Tyler sentia-se um idiota. Não devia ter feito aquilo. Flertar com Dylan fora errado, muito, muito errado. Pior ainda: havia deixado na cara que tinha interesse nele, sendo que tudo que pretendia com aquela saída em grupo era fazer amizade com o garoto. Como se não bastasse, ainda tinha Lydia. Por mais que ela negasse e já tivesse até pedido desculpas pela forma como agira, ele conseguia ver que ela ainda estava chateada. Às vezes, conhecê-la tão bem se tornava algo horrível.

— Ei, Lyds... – chamou pela enésima vez. – ‘Tá tudo bem mesmo?

— Uhum. – ela murmurou, sem desviar os olhos do celular.

— Está conversando com a Alli? – inquiriu, curioso.

— Estou. – e foi a única resposta que recebeu. Nenhum “sobre tal coisa”, nenhum monólogo, nada.

Ty deixou um longo suspiro escapar, exausto daquilo. Odiava quando brigavam, era uma tortura. Ainda mais sabendo que ela tinha agora um motivo a mais para odiá-lo, sem nem saber disso. Talvez fosse uma espécie de “carma”, ou algo assim...

— Ah, qual é... – resmungou frustrado. – O que eu preciso fazer ‘pra você me desculpar?

Lydia revirou os olhos, antes de guardar seu IPhone no bolso.

— Amor, é sério, eu não ‘tô brava, nem chateada, ou sei lá. – ela riu. – Até porque você não fez nada demais, ‘né. Eu que agi feito uma idiota ciumenta. Ou será que essa preocupação toda é sinal de culpa?

Apesar do tom de brincadeira presente na última frase da garota, ele engoliu em seco. Ela não podia saber daquela “coisa” que sentia por Dylan, jamais! Caso contrário, seu relacionamento de quase um ano e meio seria completamente arruinado.

— Claro que não. – forçou uma risada. – Eu nunca trairia você...

De fato, era verdade. Ao menos, ele achava que sim. Quer dizer, ele gostava de Dylan, muito, e não tinha um bom histórico relacionado a seu recente convívio com o garoto, mas... Também amava Lydia, certo? E não seria capaz de machucá-la dessa maneira.

***

Elliot não sabia quantas vezes havia revirado os olhos naquela manhã. Dylan simplesmente não parava de falar sobre Tyler durante todo o caminho para a escola, e sequer percebia que estava fazendo isso, de tão nojentamente empolgado. A pior parte, eram as histórias dos supostos “flertes”, que sinceramente lhe faziam ter vontade de vomitar. Não que não gostasse de ver seu melhor amigo feliz, mas qual é, tinha o direito de sentir mal com tudo aquilo, considerando que gostava dele há tanto tempo.

— Quando a Mari chegar, é melhor você parar com isso, se não quer que ela perceba. – comentou “inocente”. Praticamente rezava para que a amiga ficasse pronta logo, assim não precisaria ouvir mais sobre o “príncipe encantado” Tyler Raymond.

— Desculpa. Eu ‘tô falando demais dele. – Dyl abaixou a cabeça, finalmente se lembrando do fato de que era insensível falar da pessoa que quer ficar com quem gosta de você. – E é verdade, se ela descobrir, provavelmente contará ‘pra Camilla e aquela vadia vai acabar espalhando.

— Sobre isso... É só pedir que ela não conte. – o asiático sugeriu o óbvio.

— É a irmã dela, cara. Claro que ela vai contar.

O pequeno “debate” teve fim quando avistaram as duas latinas saindo pela porta da casa em que moravam. Maritza veio em direção ao carro de Elliot, enquanto Camilla caminhava até o ponto de ônibus, de péssimo humor.

— Isso é meio cruel, não acham? – Mari comentou, observando a outra. – Se tem espaço no carro, por que não podem dar carona para as duas?

— Simples: odiamos su querida hermana... – respondeu Elliot, ao abrir a porta para ela.

Maritza se limitou a balançar a cabeça, em negação. Não entendia por que os amigos implicavam tanto com Camilla. Ela nunca havia feito nada de errado senão, talvez, deixar escapar uma informação ou outra... Sério que aquilo já era motivo para ódio?

***  

Aquela segunda-feira não poderia ter começado melhor para Tyler. Tudo com Lydia ia às mil maravilhas e, para a sua sorte, Dylan parecia estar levando de maneira natural o que havia acontecido no shopping, embora lançasse algumas indiretas vez ou outra. E, após muito se torturar, acabou tomando a decisão de que desde que não fizesse nada, não faria mal flertar de vez em quando...

Era uma lógica simples: ele não pretendia ficar com Dyl – queria, mas evitaria –, então no sentido literal da palavra não contava como traição... Certo?

Bom, errado. Mas fazer o quê? Não dava para evitar com o amigo sendo tão irrefutavelmente irresistível.

— O que eu tenho de errado? – seu melhor amigo, de repente, surgiu perguntando.

Desviou os olhos do celular – pelo qual trocava mensagens com Dylan – e olhou Nathaniel, que estava cabisbaixo, e julgando por aquela fala, em uma crise de baixa autoestima que não lhe era comum.

— Nada. – disse, sendo sincero. – Foi a Maritza outra vez?

— Como adivinhou? – Nate questionou sarcástico. – Não entendo qual é o problema. O que ela não vê em mim? Eu sou engraçado, sou legal, respeitoso...

— Talvez ela goste de outra pessoa...

— “Talvez” não, Ty. – o loiro afirmou, a contragosto. – Sabe o Churchill? Então, ela gosta dele, cara. E eu continuo aqui, fazendo papel de idiota.

— O Dyl?! – exclamou surpreso. Então ela não sabia que ele curtia garotos?

— É. – Nate suspirou. – Por que as garotas precisam ser tão complicadas?

— Sei lá. – deu de ombros.

— Ei, você fez a tarefa de Química? – Nathaniel indagou, já com aquela expressão de “se sim, me empresta”. Não era nenhuma surpresa que ele não tivesse feito, considerando o nível de responsabilidade com os estudos inexistente que mantinha.

— Fiz sim. Aqui, pode pegar. – entregou o caderno.

Nate então rumou para a biblioteca, e Tyler voltou a conversar via mensagens de texto com Dylan.

***

Allison sempre ria da forma como Lydia se assustava com facilidade ao assistir filmes de terror, e fazia questão de escolhê-los, apenas para se divertir com as reações exageradas da melhor amiga.

Certo, àquela hora elas deveriam estar ainda na escola, no laboratório de Química, em vez de matando o segundo horário na casa de Alli.  Contudo, as notas excelentes de ambas lhes dava tal “liberdade” – claro que se os professores descobrissem, estariam ferradas e seriam punidas severamente, como qualquer outro aluno. Mas preferiam não pensar sobre, afinal, até aquele dia nada havia acontecido.

O faziam – matar aula – sempre que queriam comemorar algo, e naquele dia específico, Lydia queria comemorar seu A+ em Física, assim como Allison com seu B. As duas tinham muita facilidade em aprender, o que era fantástico.

O longa-metragem que viam não estava nem na metade, e a ruiva já se encontrava apavorada. Era hilário!

— Como consegue ter medo disso? – Alli questionou, antes de empurrar um punhado de pipocas boca adentro. – É, no máximo, nojento.

— Claro que você não tem medo, sabe como é feito... – Lydia revirou os olhos verdes, embora sorrisse. – E é assustador sim, cala a boca.

— Não é. – insistiu. – Você que é medrosa demais.

Lydia nada respondeu, apenas olhou para ela, com uma cara de “não enche”. Alli gargalhou. Isso fez com que a menor sorrisse. O sorriso de sua bff era indiscutivelmente um dos mais belos que já vira na vida. Bom, assim como tudo em Allison, na realidade. Ela tinha uma beleza impressionante, e todos os seus atrativos eram multiplicados por mil quando sorria daquela forma. Lydia poderia passar horas a observando...

— Boo! – de repente, Alli berrou, assustando-a e fazendo com que desse um “pulo” para o lado. Isso fez as gargalhadas da loira aumentarem ainda mais.

— Sua cretina! – Exclamou Lydia. – Hora da vingança...

— O quê? – Allison perguntou, não entendendo. Então viu a melhor amiga se aproximar, com um sorriso malicioso. – Não! Lyds, não faz isso, por favor!

— Tarde demais. – disse Lydia, enquanto começava a fazer cócegas na outra, que ria, implorando para que ela parasse.

***

Choque.

Era o que Nate sentia naquele momento. Não acreditava no que tinha acabado de achar no caderno de seu melhor amigo. E começava a se arrepender por ter deixado a curiosidade falar mais alto e aberto o envelope branco, contendo o nome de Dylan Churchill no destinatário e “Admirador Secreto” no remetente.

Ler aquilo era como levar vários socos no estômago. Como assim Tyler era gay? O conhecia há anos, isso não fazia o menor sentido. E... Deus! Já havia se trocado na frente dele...

Não, pior: o que iriam pensar dele se aquela história se espalhasse?

Fechou os olhos, respirou fundo e contou de zero à dez. Então, se levantou e correu para fora da biblioteca, buscando o amigo e querendo explicações. Quando o encontrou, simplesmente puxou-o de maneira agressiva pelo braço, sem mais nem menos.

— Que história é essa, Ty?! – vociferou, mostrando a carta, para que o amigo compreendesse. – Você resolveu virar bicha agora, é isso? E a Lydia?  ‘Tá traindo ela com o Churchill?

— C-Como...? – Tyler murmurou com o pânico evidente em sua voz e expressão.

— Estava dentro do caderno que você me emprestou, cara. – Nate o soltou, percebendo que estava agindo como um babaca e que poderia machucá-lo segurando-o contra a parede daquela maneira. – Me explica essa história, anda.

Ty então começou a falar, sem imaginar que mais alguém além de Nathaniel o ouvia. Elliot prestava total atenção na história, boquiaberto. Então a situação era bem pior do que parecia... Tyler gostava de Dylan! Droga, assim suas chances diminuiriam ainda mais! E... Que história era aquela de cartas? Por que diabos Dyl não havia dito nada sobre ter um maldito admirador secreto?

— Então é isso? – Nate perguntou, retoricamente, após o fim da “justificativa” de Ty. – Você é bi então?

— Eu não sei. Eu só sei que gosto dele, mas não quero perder a Lydia e... Deus! Você não faz ideia do quão confuso essa situação me fez ficar. – Ty exprimiu, de cabeça baixa.

Nate queria ser compreensivo. Não se considerava um homofóbico. Sabe, não via problemas em alguém querer ficar com uma pessoa do mesmo sexo, apesar de achar estranho e nojento. Mas tinha que ser seu melhor amigo? Isso acabaria com a sua reputação, se vazasse...

E foi sentindo-se o maior idiota do mundo que disse:

— Olha, cara, seja o que você quiser... Mas é bom parar com essas cartas idiotas, senão vai se arrepender.

— “Me arrepender”? – Tyler repetiu interrogativamente, irônico. – E vai fazer o quê, me bater? É isso, Nate?

— Não... É claro que não... – negou. – Qual é Ty... Você sabe que eu nunca faria algo assim, mas... Eu não posso deixar você continuar com isso. Se o pessoal descobre, não vou poder ficar do seu lado. Vão acabar pensando que eu também sou... Assim.

— Deixaria sua reputação falar mais alto que a nossa amizade? – Ty perguntou, sequer conseguindo esboçar alguma reação mais.

— Eu... – Nate começou, mas não sabia como se justificar. Sabia que seria um imbecil por fazer aquilo, porém, se tratava de uma situação de necessidade: – Eu sinto muito... Mas se eu te vir chegando perto do armário do Churchill para colocar, ou mesmo te vir escrever outra porcaria dessas, eu vou mostrar isso aqui ‘pra todo mundo, incluindo a Lydia. Entendeu? Chega disso de admirador secreto! Nunca mais, Ty. Nunca mais.

E saiu, deixando um Tyler paralisado para trás. Não acreditava naquilo! Como seu melhor amigo pudera dizer algo assim, ameaça-lo dessa forma? Nate estava blefando, só podia. Ele não faria algo assim... Ou faria? Oh, estava perdido. Não podia arriscar. Teria que parar com as cartas. Mas não queria parar de escrever para Dylan... Como faria para expressar seus sentimentos por ele? Nessa recente “relação”, o máximo que podia se permitir eram alguns flertes. Nada mais que isso.

Seus pensamentos foram interrompidos pelo toque de notificação do celular. Pegou o IPhone no bolso e viu que se tratava de uma mensagem de Lydia.  

“Amor, não precisa me esperar depois da aula, tô na casa da Alli. Bjs. Amo vc. ♥” – Lyds :3

Ficou olhando a foto do contato dela em seu celular, odiando a si mesmo. Tudo seria tão mais fácil se não tivesse todos aqueles sentimentos por Dylan...


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