Admirador secreto? escrita por Isa


Capítulo 11
Sinceridade.




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Fazia tempo que Elliot não se sentia daquela forma, estava tão inacreditavelmente feliz que ficava incapacitado de descrever como era a sensação de estar namorando seu melhor amigo, o garoto que tanto amava. Estavam juntos há quase um mês e, sendo honesto, ainda não tinha certeza da reciprocidade de seus sentimentos, contudo, preferia não pensar a respeito. Queria focar em ser um bom namorado. Afinal, era o que importava. Que Dylan fosse, aos poucos, se apaixonando por ele, até que finalmente, o amasse.

Alguns dias atrás havia conseguido fazer com que o outro deixasse o armário – por livre e espontânea pressão – e agora todos sabiam, incluindo Tyler, que estavam juntos. Surpreendentemente, a reação da maioria de seus colegas de time fora bastante positiva. A partir do momento que isso não interferia na maneira como jogavam basquete, não fazia diferença. Até porque, Elliot já era assumido há tempos, então não faria muito sentido se decidissem implicar justo agora.

Bem, na verdade, tinha um ou outro neandertal que insistia em fazer piadinhas estúpidas ou tentar ofendê-los, mas não se importavam. Nenhum deles queria enchê-los de porrada, ou algo assim, então estava tudo bem.

Ao menos, eles acreditavam que não. Até aquela manhã...

Quando entraram de mãos dadas no colégio, não demorou para que surgisse um pequeno grupo de bullys, que Elliot já conhecia muito bem. Sendo honesto, não se lembrava do nome de nenhum, mas sabia que faziam parte de alguma espécie de clube cristão conservador estranho. Sério, como aquilo era permitido em uma escola supostamente apartidária?

— Bom-dia, bichinhas! – o mais alto dos quatro exclamou, com um sorrisinho cruel de canto. – Como vão?

— Ótimos. Agora se puder sair da nossa frente eu agradeço. – respondeu Dylan, ácido. Porém, isso pareceu irritar ainda mais os mais velhos, que foram andando na direção deles e os cercando. – Qual o problema de vocês afinal, Brad?

“Brad.” Oh, sim, agora Elliot se lembrava! Aqueles garotos haviam sido expulsos do time, no ano anterior, antes dele e outros três entrarem para substituí-los.

— O nosso problema é bem simples, homo. – resmungou, erguendo um punho para Dylan. – Não queremos ser obrigados a olhar ‘pra dois caras se agarrando por aí.

Elliot deu um passo para trás, apavorado e, ao contrário dele, Dylan riu. Ou melhor, gargalhou.

— Sério, não sei o que me choca mais... Você achar que me chamar de “homo” seria uma ofensa, sua preocupação sem sentido com quem outra pessoa beija ou a ideia ridícula de que me batendo irá me tornar menos gay. – recebeu o olhar irritado de Brad, enquanto os outros – os capachos – franziram o cenho, confuso. – Querido, se quiser me bater, vá em frente, bata. Não vai mudar nada. Eu vou continuar gostando de garotos.

Os quatro trocaram olhares entre si, até que Brad disse:

— Oh, pelo visto a mocinha é corajosa! Certo então, se quer tanto apanhar, se prepare, porque é o que irá acontecer.

Elliot engoliu em seco. E, dessa vez, Dylan ficou com medo. Achou que enfrentando-o fosse fazê-lo parar, mas não funcionou. “Droga!” Praguejou mentalmente, quando os bullys cercavam a ele e seu – por que continuava sendo tão estranho chamá-lo assim? – namorado.

— Ei, o que vocês pensam que estão fazendo, seus retardados?! – perguntou Nate, gritando. Quando o casal olhou-o, eles viram que ao lado dele vinha Tyler. 

— Deixem o Dyl em paz. – Ty falou, entredentes. – E o Elliot também. – acrescentou, começando a se constranger. – Agora.

O coração de Dylan acelerou, enquanto olhava para ele. Fazia tempo que não o via assim, tão de perto. Se evitavam desde o beijo e, ainda mais, desde que começara a namorar Elliot. Estavam distantes e, caramba, como sentia falta de tê-lo por perto!

Brad encarou Tyler por alguns segundos, antes de assentir e deixar o local. Sabia que se meter com o armador principal do time impossibilitaria quaisquer futuras oportunidades de voltar a jogar naquela escola.

— Estão bem? – Nate perguntou, sério.

Elliot disparou então a falar, sobre o quão apavorado havia ficado. Enquanto Dylan permanecia encarando seu “ex alguma coisa”. Queria tanto falar com ele, abraçá-lo e... Maldição! Tudo que queria realmente era beijá-lo. Sentia-se culpado por isso. Não devia pensar coisas assim. Estava namorando e, mais importante, com seu melhor amigo. Por que não conseguia gostar dele como gostava de Tyler? Ele era o admirador secreto que o havia conquistado por meio de cartas e mensagens! Qual era afinal o seu problema? Não fazia sentido não conseguir vê-lo assim, considerando sua recente descoberta...

— Oi, Dylan. – Tyler o cumprimentou, surpreendendo-o. – Como tem passado?

— O-Oi... – gaguejou, xingando-se internamente por isso. – Muito bem. E você?

— Ótimo.

Ficaram se olhando por um curto – que pareceu longo – período de tempo, até que Elliot o puxou pelo braço e saíram andando. Dyl chegou a olhar para trás e viu que Ty o encarava. Suspirou, focando sua atenção em Elliot. Precisava superar Tyler Raymond, e o faria, independentemente do quão difícil fosse.

***

Oh, Deus... Como Maritza estava furiosa! Ela queria, sem exageros, bater em seu melhor amigo. Não por namorar Dylan, pois já não sentia mais nada por ele, graças a Nate, que a fazia muito feliz. A razão de toda a sua irritação era bem simples: desde e o início do relacionamento dos rapazes, ficara curiosa sobre como Elliot tinha sido capaz de convencer Dyl a dar-lhe uma chance e, bem, agora sabia. E não gostara nada daquilo!

— Você é um babaca. – enunciou, olhando-o diretamente nos olhos.

Elliot revirou os olhos.

— E...? – ele riu, ironizando sua raiva. – O importante é que estamos juntos. Posso agora conquistá-lo.

— Qual o mérito em conquistá-lo tão desonestamente? – ela retrucou, áspera. – Poxa, Elliot... Ninguém deveria começar um namoro com mentiras. Quando ele descobrir...

— Ele não vai. – a interrompeu. – A menos que decida abrir o bico. E você não vai.

— É claro que eu vou! O Dyl é tão meu amigo quanto você e ele merece saber a verdade. – ela disse, convicta.

— Se fizer isso, conto ‘pra sua irmã que o Tyler é bissexual, aí ela espalha para a escola toda e o Nate vai achar que a culpa a sua. Então ele termina com você e todos ficamos mal. – piscou. Ela arregalou os olhos. – Viu? Tudo se resolve conversando...

E a deixou lá, no meio da sala. Porém, pior que isso foi o que veio a seguir...

— Que história é essa de que o Ty é bi? – ouviu sua irmã praticamente berrar e olhou assustada em direção à porta. – D-Desculpa, Mari. Mas eu também estava curiosa sobre como ele e o Dylan ficaram juntos, então eu meio que te segui.

— C-Cami... – praguejou mentalmente por não perceber que ela estava ali. – Escuta, o que você ouviu, não pode...

— Ser espalhado, eu sei. – Maritza foi interrompida pela segunda vez no dia. – E eu não vou. Porque eu amo o Ty. Não quero que ele sofra. Mas...

“Sempre tem um “mas”.” Mari pensou, frustrada. Por mais que a amasse, às vezes desejava que a irmã não fosse tão egocêntrica.

— Isso pode ser útil.

— O quê? – lançou para a mais velha um olhar confuso.

— Você sabe, me ajudar a conseguir fazer com que ele largue aquel... A Lydia. – o quase xingamento referente a ruiva quase a fez rir. Por que as duas se odiavam mesmo? Mas logo recobrou sua consciência e se deu conta do resto da frase.

— Cami, não...

— Eu sei que não está comigo nessa, maninha, relaxa. – Camilla sorriu. – Mas o Elliot provavelmente estará disposto a me ajudar.

— Ele te odeia, lembra? – fez questão lembrar.

— Mas sabe o que ele odiaria mais? Perder o Dyl para o Ty. E ele provavelmente sabe que aquela coisa sem sal de cabelo pintado não é capaz de segurá-lo como eu. – e dizendo isso, Cami deixou a sala de aula e, novamente, Maritza estava sozinha no ambiente.

“Droga!” Praguejou. Aquilo não acabaria nada bem!

***

Tyler bateu com força a porta do armário. Elliot e Dylan se beijavam poucos metros à frente e não conseguia tirar os olhos da cena. Enxergava vermelho! Queria ir até lá, puxar o de pele morena pela gola da camisa e beijá-lo na frente de todos, mostrando como eles combinavam muito mais que o atual casal. Mas não podia! Tinha Lydia e, acima de tudo, não estava no direito de fazer algo assim. Não merecia Dyl e sabia disso. Talvez, no fim das contas, o garoto asiático fosse o melhor para ele, já que eram melhores amigos há tanto tempo.

— Amor? – Lydia chamou, com uma expressão interrogativa. – O que houve?

— Não é nada. – ele acabou soando mais frio do que gostaria.

Houveram alguns segundos de silêncio, até que ela simplesmente deu-lhe as costas e saiu.

Bufou, revoltado. Por que tudo parecia dar tão errado nos últimos tempos?

— Problemas no paraíso? – a pergunta veio seguida de um risinho baixo.

Se virou imediatamente.

— Dyl...

O garoto sorriu-lhe.

— Eu queria te agradecer pelo que fez mais cedo, foi muito legal da sua parte.

— Não está bravo comigo? – questionou, um tanto quanto surpreso. – Você sabe, por...

— Não. – a afirmação de Dylan o fez relaxar um pouco. – Chateado talvez, mas não bravo.

— E... Por que está falando comigo agora? Sabe, depois de todo esse tempo...

— Não sei. – Dyl foi sincero. – Acho que sinto a sua falta.

— E eu sinto a sua. – confessou. – Nós podemos conversar em particular?

Dylan pareceu um tanto receoso quanto àquilo, mas assentiu. Seguiram então até o ginásio e entraram no vestiário. Ninguém entraria ali até o horário do treino, então teriam bastante tempo para conversar.

Ficaram um tempo considerável calados, sem saber como iniciar o diálogo, até que então Tyler resolveu se pronunciar:

— Eu sinto muito.

— Pelo que, exatamente? – Dylan indagou. – Foi culpa minha, eu que te beijei.

— É, mas eu correspondi. – Ty responsabilizou-se. – Bastante...

— Olha, por essa parte, você não precisa mesmo se desculpar. – o pouco mais baixo brincou, parecendo bem mais tranquilo que o outro. – No início, eu fiquei furioso, sabe? Mas depois eu consegui entender o seu lado. Foi apenas um beijo, não significou nada ‘pra você. E está tudo bem, de verdade. Quer dizer, eu gostaria que tivesse significado, mas não posso te culpar por isso. Eu não deveria ter posto tantas esperanças naquilo que tínhamos.

Tyler encarou-o, incrédulo. Então era isso que ele pensava?

— Dylan... – suspirou. – Você entendeu tudo errado.

Dyl então lançou-lhe um olhar interrogativo.

— É claro que aquele beijo significou alguma coisa. Significou muito. Caramba, como poderia não significar? – Ty disparou a falar. – Eu já gostava de você, antes mesmo de começarmos a conversar. E quando viramos amigos, tínhamos aquela coisa dos flertes e por mim estava tudo bem, eu não considerava aquilo como traição, porque eu achava que nunca aconteceria nada de fato. Mas aí, eu comecei a me distanciar da Lyds, e nossa relação ficou estranha, enquanto o que eu sentia por você e, admito, ainda sinto, ia ficando cada vez mais forte. Quando você me beijou, eu nem sei se sou capaz de descrever em palavras o que eu senti. E eu sabia que era errado, trair a minha namorada, mas eu simplesmente não consegui não corresponder. Eu... Amo você, e...  

Dylan travou completamente nesse momento. Seu coração acelerou, seus olhos se arregalaram... Deus! Tyler tinha dito que o amava.

— ... mas o problema, Dyl, é que eu também a amo. – ouviu-o continuar, atentamente. – E estamos juntos há quase um ano e meio. Ela é muito especial ‘pra mim. Eu não quero magoá-la desse jeito. Muito menos perdê-la. E tenho sido um babaca com ela nesses últimos dias. E... – Tyler fez uma pausa. – Eu disse que te amo. – pareceu chocado consigo mesmo. – Droga. Eu sou um idiota. Eu não deveria...

Antes que ele pudesse terminar sua frase, Dylan o puxou pela nuca, beijando-o de repente. E, assim como da primeira vez, não houve resistência. Tyler não tentou se esquivar. Se sentia um imbecil por estar fazendo aquilo com seu melhor amigo – e namorado – mas... Tyler tinha dito que o amava! Mesmo que depois tenha acrescentado sentir o mesmo por Lydia – o que ela esperado, considerando que estavam juntos –, aquilo significava demais para deixar passar.

Hesitantes, separaram os lábios por uma fração de segundos, para olhar nos olhos um do outro. É, por mais que ambos estivessem namorando, não adiantava. Precisavam daquilo, mesmo que fosse a última vez.

Dessa vez, foi Tyler quem tomou a iniciativa, colando seus lábios mais uma vez. Finalmente, podiam ceder a seus sentimentos, sem correrem o risco de serem pegos outra vez...

E ali ficaram, por longos minutos, se beijando. Quando se separaram, não se olharam nos olhos. Dylan encarava o chão, enquanto o olhar de Tyler direcionou-se à porta, para certificar-se de que ninguém os havia visto, realmente.

— Isso... – Ty começou.

— Não vai acontecer de novo, eu sei. – Dylan “adivinhou”. – Eu também estou namorando agora, o que torna essa situação muito mais complicada. Mas... Eu precisava disso.

Tyler sorriu, murmurando um “eu também”.

— Então... Amigos? – Dyl sugeriu.

— Claro. – Tyler concordou. – Amigos. De verdade dessa vez, sem flertes, nem nada.

— Exato.

Ambos sorriram e deram um último beijo, um selinho, antes de seguirem cada um para um canto. Lidariam com a culpa mais tarde. Agora, estavam felizes demais pensando no que acabara de acontecer...


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