Havia se passado duas semanas desde o beijo e não os dois rapazes não estavam se falando. Isso fazia Dylan se sentir péssimo. Como se não bastasse estar brigado com Elliot e não ter mais seu admirador secreto para conversar, agora não tinha Tyler também. Por incrível que pudesse parecer, preferia quando ficavam apenas flertando, mas mantinham o status da relação em “amizade”.

E... Era impressão sua, ou o amigo – amigo? – e Lydia se beijavam mais do que o necessário? Sério, até o atual momento, ter um armário quase que de frente com o de Ty não lhe incomodava, porém agora parecia um método de tortura bastante eficaz.

O casal não desgrudava. Ficavam ali, trocando beijos e carícias, como se estivessem em algum tipo de filme pornô com roupas. Queria vomitar. Bem... Na verdade, só queria estar no lugar da ruiva mesmo. Porque, santo Deus... Tyler Raymond beijava incrivelmente bem!

— Vai ficar aí se torturando? – ouviu a voz de Maritza atrás de si.

Virou-se em direção a amiga. Ela era a única que não o tinha abandonado, diante de toda aquela confusão. Deu um meio sorriso à ela e Nate, que a acompanhava sempre, agora que namoravam.

— Eles precisam mesmo ficar assim o tempo inteiro? – reclamou. – E perto do meu armário, ainda por cima?

— Os dois estão juntos, cara. – disse Nate. – E sempre foi assim. Você só reparou agora, porque está com o coração partido.

— Eu sei. – revirou os olhos, diante do realismo exagerado do novo amigo. – Mas e vocês dois? Já se resolveram?

— Já. – Mari respondeu pelo namorado. – E o Nate pode ter algo que, quem sabe, considere relevante para te contar.

— Que seria...? – olhou-os, curioso.

— Ele não está feliz. – revelou Nate. – Parece que sim, mas ele não está. E estou me sentindo um imbecil por isso.

— A culpa não é sua, querido. – Mari falou, dando um beijo na bochecha dele. – Mesmo se você não tivesse dito aquelas coisas, ele não terminaria com a Lydia.

Dylan suspirou.

Se Tyler não estava feliz, por que não vinha até ele? Por que não acabava logo com aquele relacionamento para que pudessem ficar juntos? Poxa, não era como se fosse obrigá-lo a sair do armário ou algo assim. Nem ele mesmo havia se assumido!

***

Desconfiança era o que Lydia sentia com todo aquele “grude” repentino por parte do namorado. Quer dizer, óbvio que não reclamaria, afinal, havia sentido muito a falta do rapaz algumas semanas atrás, quando ele agia de maneira estranha, mas não fazia sentido. De repente ele tinha voltado ao que costumava ser no começo do relacionamento, sem que ela sequer precisasse reclamar da forma como ele vinha agindo? Por favor, podia estar apaixonada, mas isso não a tornava burra.

Porém, como Alli vivia dizendo, não adiantava surtar e confrontá-lo, para depois se arrepender e implorar por perdão. Esperaria alguma evidência surgir. Como, por exemplo, a Camilla vir falar com ela.

Falando em Allison... Aquela “coisa” que ocorrera no dia em que decidiram seguir Ty e Cami havia se repetido, duas vezes, mais especificamente. Não sabia o que estava acontecendo... Talvez fosse apenas a carência falando mais alto. Afinal, embora o namorado estivesse agora sempre presente, e a beijasse todo o tempo, continuava emocionalmente distante. Ela conhecia um olhar de “estou aqui, mas minha mente está em outro lugar / pessoa” muito bem.

— Boo! – Allison exclamou ao aproximar-se dela, em uma tentativa falha de assustá-la.

— Boa tentativa. – sorriu, enquanto a outra resmungava um “droga”. – Só funciona se estivermos vendo um filme de terror, Alli.

— É, deve ser isso mesmo. – a loira concordou, também abrindo um sorriso. - Ei, qual foi o milagre que aconteceu, para você estar em um local que o Ty não esteja?

O comentário soou um tanto quanto enciumado e isso fez Lydia rir.

— Saudades da melhor amiga? – questionou, arqueando uma sobrancelha.

— Óbvio! – Alli assentiu, revirando os olhos. – Vocês não desgrudam mais, é como se tivéssemos voltado no tempo. Estão igual ano passado, quando começaram a namorar.

— Você fica fofa com ciúmes. – brincou, passando os braços ao redor da cintura dela e a abraçando.

— Eu não estou com ciúmes. – Allison corou.

— Claro que não. – Lydia ironizou, ao mesmo tempo em que praticamente a obrigava a corresponder ao abraço.

***

Tyler era incapaz de encontrar palavras suficientemente satisfatórias para descrever o quão mal se sentia. Estava com tanta raiva de si mesmo... Era um babaca! Não merecia Lydia e muito menos Dylan. A havia traído e agora estava ali, agindo como se tudo estivesse normal, como se não estivesse tão perdido e confuso que sentia vontade de chorar toda vez que via seu colega de time olhando em sua direção, com aquela maldita expressão triste!

Inclusive, era o que acontecia naquele exato momento. Sabia que Dyl o observava e caramba, como queria ir até ele, beijá-lo e se desculpar... Mas não podia. Lydia era uma garota incrível e ele a amava, de coração... Não podia terminar tudo, sem mais nem menos, para se jogar de cabeça em um outro relacionamento, que não tinha como saber se daria certo. E, acima de tudo, não podia magoá-la dessa forma.

— Cara... – Nate o chamou. – Quer parar?

— Parar com o quê? – fez-se de desentendido.

— Não banca o bobo, Ty. Você sabe muito bem do que estou falando. – por alguma razão, o loiro riu. – Se quer ficar com ele, vai lá. Mas se pretende continuar com a Lydia, supera isso.

— Pensei que fosse contra a ideia de eu ficar com ele. – comentou.

— Eu caí na real, você sabe disso. – Nate sorriu minimamente e tocou-lhe o ombro. – Agora só quero ver o meu melhor amigo feliz.

Um enorme sorriso iluminou o rosto até então dominado pela tristeza do de olhos azuis.

— Cara, eu não sei nem o que dizer... – Tyler murmurinhou.

— Certo. Sei muito bem o que quer fazer agora. Vem logo! – Nathaniel abriu os braços e imediatamente Ty o abraçou. – Agora... – o afastou. – O que vai fazer?

— Eu não tenho outra opção, Nate. – ele disse, triste. – Não posso arriscar tudo assim para ficar com ele.

— Tudo bem então. – Nate deu de ombros. – Mas se será assim, pode ao menos fingir que não está triste? Odeio te ver desse jeito...

Ty sorriu mais uma vez. Não um sorriso falso, como os que dava à Lydia e Allison, mas um sincero. A única coisa boa que havia vindo de toda aquela confusão toda era que tinha recuperado seu melhor amigo...

***

Elliot contou mentalmente de um a dez antes de se aproximar de Dylan. Havia repassado o “texto” em sua cabeça durante toda a noite. Seria um plano eficiente, sem dúvida alguma, contudo, ainda temia aquele 1% de possibilidade de fracasso. Se falhasse – por não ser convincente o bastante, ou sei lá – perderia a amizade do rapaz para sempre, mas, honestamente, que outra chance tinha de conseguir o que queria?

— Hey... – cumprimentou o Churchill com certo medo de qual seria sua reação ao vê-lo.  

Dylan estranhou. Estavam sem se falar há dias e, de repente, ele aparecia? Porém, não questionou. Preferia aquilo à ser ignorado. Então, somente sorriu, cumprimentando-o de volta. Elliot soltou o ar que nem sabia que prendia.

— Como tem ido? – o asiático perguntou, pois realmente estava preocupado.

Dyl deixou escapar um longo suspiro.

— Péssimo. – respondeu. – Ele nem mesmo fala comigo mais...

— É compreensível, sabe? Que ele esteja ajudado... – disse Elliot, se repreendendo em sua cabeça logo em seguida. Não deveria defender Tyler e menos ainda fazer com que o de pele morena enxergasse o lado dele da situação. Precisava mantê-los assim, distantes, se quisesse fazer seu plano dar certo. – De qualquer forma, não é bem sobre a confusão com o Raymond que vim falar.

— Não? – Dylan olhou-o, confuso. – Sobre o que então?

— Bem... – Elliot colocou as mãos no bolso e olhou para o chão antes de prosseguir: – É sobre o seu admirador secreto, Dyl.

Dylan arregalou os olhos.

— Como você...?

— Sou eu! – interrompeu-o, para soltar sua mentira finalmente.

— O quê? – Dyl franziu o cenho. – Mas...

— Olha a minha mochila. – pediu e Dylan o fez.

O rapaz não acreditava naquilo! Eram todas as cartas que haviam sumido do seu armário. Como não tinha pensado em Elliot antes? Sabia que o amigo era apaixonado por ele... Se sentia tão idiota.

— Então por isso aquela mensagem, no dia em que beijei o Ty... – dizia Dylan, para si mesmo. – Você estava bravo comigo.

— É... Claro... Foi isso. – Elliot balançou a cabeça para cima e para baixo, em confirmação, embora não fizesse a menor ideia do que o amigo falava.

— Por que não me disse logo que era você? – Dyl questionou. – Isso teria me poupado de muito sofrimento, sabia?

— Eu sinto muito. – fez uma voz chorosa teatral. – Tudo que eu queria era expressar meus sentimentos por você de alguma forma, sem ter que dizer tudo pessoalmente, para não estragar nossa amizade...

— Elliot... – Dylan murmurou, cuidadoso. – Por favor, não chora. Juro que não estou bravo, okay? Só surpreso mesmo. E qual é, você sabe que nada no mundo pode estragar a nossa amizade... Mas, hey, por que decidiu me contar agora, então?

— Para te pedir uma chance. – olhou bem fundo nos olhos chocolate. Agora era o momento de passar toda a sua verdade, se declarar, dizer tudo o que sentia, sendo 100% sincero. – Sei que gosta do Tyler e que não me vê dessa forma, mas... Eu posso te fazer muito feliz! Só preciso de um tempo para te conquistar, uma oportunidade. Te farei esquecer seus sentimentos por ele e acabarei com toda essa sua tristeza, se me permitir... Tudo que te peço é uma chance, Dyl. Só uma. Se não der certo, eu irei compreender.

Dylan o olhava nos olhos também. Não sabia o que responder. De fato, não conseguia vê-lo dessa forma, mas... Ele era seu admirador secreto! O garoto fofo pelo qual havia se interessado, antes de descobrir sua identidade. Se como “A.S” ele o tinha conquistado, por que como Elliot não poderia?

É, estava decidido. Daria uma chance a seu melhor amigo. E foi com isso em mente que se aproximou dele e o beijou. O coração de Elliot disparou e logo correspondeu Dylan, com toda a vontade e amor do mundo. Porém, o outro não o sentiu, pois tudo o que pensava era em Tyler Raymond e em como precisava urgentemente esquecê-lo.