Você Nunca Vai Saber escrita por Eponine


Capítulo 1
Único




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— Merlin do céu, ele está jogando xadrez mental com esse moleque? — Um garoto alto bufou, de braços cruzados. — Ou estão rindo da nossa cara, o mais provável.

Lembro de ter me virado e não gostado dele. Não o achei engraçado. Ou estava irritada demais para achar qualquer coisa engraçada, o que é provável. Viro para frente novamente e desejo que o teto caia em cima do Chapéu e eles arranjem outro método mais eficiente para Seleção. Mas estávamos falando de um gêmeo Weasley e é claro que ele não terminou de falar:

— Que falta de educação, eu estava falando com você. — disse ele, indignado.  — Oh não... Você é surda?

Quase me rendi.

Eu disse quase. Veja bem, se eu tivesse rido, o gêmeo não teria ficado encantado, pelo contrário. O meu silêncio o atiçou. Ele apertou seus olhos azuis, aproximando-se mais um pouco.

— Quer saber meu nome? — Continuei o fitando, séria. — É um nome extremamente interessante.

Esse é Fred.

Durante muitos anos, eu não soube. Às vezes eu perdia alguns minutos, imersa em lembranças, tentando adivinhar qual dos dois falou comigo. Hoje eu sei que era Fred, porque ele é o mais impaciente. Sua voz é um pouco mais estridente, seu sorriso é mais fácil, sua malicia é mais acentuada. Agora, eu consigo saber exatamente quem é quem, em todas as minhas memórias, eu sei quem é quem.

— Ah é? — o garoto pôs a mão no peito após o deboche, fingindo assustar-se. Então eu gargalhei, infelizmente, o que chamou a atenção de todo o Salão, que esperava em silêncio absoluto a decisão do Chapéu. McGonagall mira seus olhos para nós como se pudesse tocar fogo apenas com os olhos, e talvez ela possa.

— Foi ele. — O garoto ruivo apontou para uma cópia sua ao seu lado. O segundo levantou a cabeça pacificamente, com uma expressão dissimulada. Eu levei um susto quando percebi que tinham dois. George é cínico. Ele é maldoso. Seu sorriso é maior, seus olhos parecem mais avaliativos e imersos.

— Muito honesto. — comentou o segundo. O primeiro apenas riu.

— Não quero sujar minha ficha.

— SILÊNCIO! — cortou a Professora McGonagall. Virei-me para frente, segurando o riso. O chapéu finalmente se decidiu e a fila andou rapidamente entre berros de anúncio. Meu nome finalmente foi chamado e eu só senti meu estresse se tornar nervosismo quando o silêncio dominou o lugar para que eu fosse selecionada. Meus pés pareciam se mover em câmera lenta, minhas mãos suavam, e quando eu finalmente subi até o local e olhei para todo o Salão, meu coração simplesmente parou.

Ali estava eu, em Hogwarts.

Naquele pequeno palco, várias coisas aconteceram: Teve a vez que eu cai das costas de George e bati a cabeça no chão, a vez em que eu escorreguei, a vez em que eu tive um surto de raiva e tentei quebrar o medidor de pontos das Casas... Mas nenhuma lembrança é melhor que a da Seleção.

O Chapéu sequer relou em meus cabelos crespos:

— GRIFINÓRIA!

Eu estava tão eufórica quando praticamente voei até a mesa da Grifinória que sequer notei Fred sendo chamado logo depois de mim. Bati palmas sem saber para quem enquanto o garoto tremia-se até a mesa, sentando-se, tenso. Eu não observei o suor em sua testa. Eu não notei como ele murmurava Grifinória como se fosse uma oração enquanto observava o Chapéu decidir o destino do irmão. Eu sequer vi o quão pequeno e estranho ele pareceu, ali, por uma fração de segundos.

Fred é o mais preocupado. O mais ambicioso e calculista.

— GRIFINÓRIA!

— Eu só queria sentar e comer! — mais uma prova de que era George. Ele adora falar frases desconexas para velar o que realmente está sentindo. Ele é mais frio, mais distante.

— Qual o nome de vocês mesmo? — Inocente como eu era, sequer desconfiava da índole dos dois. Os gêmeos entreolharam-se maliciosos.

Quando isso acontece, é normal ter dificuldade em saber quem é quem. Parece que se misturam e viram um só.

— Esse é o Fabian. — O primeiro apontou para o segundo. — E eu sou o Gideon.

— Eu sou a Angelina. — Sorri, apertando a mão dos dois. Eles pareciam simpáticos, extrovertidos, boas companhias. E eram, quer dizer, só se eles gostassem de você. — Nossa, seria melhor se tivessem caído em casas diferentes, assim dá para diferenciar. — os dois gargalharam da minha cara por segundos infinitos, e eu, idiota, ri também, mesmo sem achar a menor graça no que eu disse.

Naquela época, eu nunca conseguia distinguir os dois. Na verdade, até hoje eu não sei muito bem com quem fui ao baile. Mas, anos depois, eu notei que quem gostava de me chamar de ‘leãozinho’ por todos aqueles anos era Fred, e não George. Quem tinha a mania de massagear minhas costas durante as aulas de Trato de Criaturas Mágicas, era George. Quem dançou por quase quatro horas comigo no Baile fora George. Quem mandou os chocolates de pimenta na vez em que quebrei minha perna, fora Fred.

Ele estava certo, eu só soube quando um partiu.

Mas já não era George, era um quebra cabeça pela metade. Um livro rasgado ao meio. Uma pessoa quase irreconhecível. Ele não contava que isso aconteceria, e se não tivesse acontecido, talvez eu nunca realmente chegasse a saber quem era quem. E talvez, eu esteja errada porque essa versão que está aqui, é só uma sombra de algo que era conjunto.

É um indivíduo que foi obrigado a se tornar individual. É injusto separá-los. Não existe essa separação, só a tristeza.

— Ah doce Angelina... — riu Gideon. — Você nunca vai saber quem é quem.

Infelizmente eu soube.

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

EU TO TENTO UMA CRIANÇA COM OS SPOILERS DE CURSED CHILD


Já consigo pensar em 1615642167 fanfics só com a miserinha de spoilers, imaginem quando tiver os livros, quero mil fanfics sobre esse novo mundo, aaaaaaa


Mas por enquanto vamos continuar falando sobre o velho...


Espero que gostem...


;)