Gaby - Porto Alegre

Gaby sabia que seu ultimo vídeo geraria alguma reação entre seus conhecidos, mas não imaginara que seria tão grande. Todos na escola a olhavam e se afastavam dela o dia inteiro. Ao longo do dia ela perdeu a conta de quantas vezes foi insultada ou alguém esbarrou nela e acusou a garota de tentar matá-lo. No mesmo dia, Gaby foi para a diretoria se justificar pelo menos três vezes.

Alguns diziam que era tudo montagem e que ela era uma farsa. Outros a tratavam como o próprio demônio e a chamavam de bruxa. A única que permanecera ao seu lado foi Julia. Ao sair da escola teve que correr para sair antes de todo mundo porque havia boatos de que alguns alunos queriam espancá-la na saída.

Gaby se lembrou que em diversos países onde os EVO’s haviam sido confirmados houveram vários protestos. Alguns contra aqueles que são diferentes e outros a favor da mistura. A garota imaginou que sua atitude poderia ajudar num dialogo e que teria apoio de seus inscritos, mas o que aconteceu foi justamente o contrário. Ela perdeu inscritos mais rápido que um piscar de olhos e alguém retirara seu vídeo do ar. Mesmo assim já haviam copiado o vídeo e espalhado por celulares.

Agora, Gaby e Julia seguiam apressadamente pela rua na esperança de se afastar da escola antes que algum aluno as encontrassem. O plano falhou completamente. Alguns alunos haviam matado a ultima aula e esperavam por elas algumas quadras da escola. Sairam de trás de um muro cercando Gaby e a amiga.

— Parem, por favor! Eu não fiz nada para vocês!

— Não! Só nasceu uma aberração! — Disse um grandalhão. — Ai se a outra for normal é melhor correr e não olhar pra trás!

— Cala a boca! — Rugiu Julia.

— Não diga que não avisei. — Falou o grandalhão e logo em seguida outro garoto acertou a cabeça de Gaby com um pedaço de pau.

Gaby caiu no chão e logo em seguida Julia caiu ao seu lado. As duas se curvaram tentando se defender da sequencia de chutes e socos que levavam um após o outro. Todos os garotos pareciam estar sobre elas batendo sem piedade.

— Parem com isso agora! — Ouviu-se uma voz masculina e um pedaço de madeira se quebrou na cabeça do grandalhão.

Os outros pararam seus golpes e Gaby pôde se levantar e ver quem a salvara. Um garoto de jaqueta jeans e causas jeans com rasgos no joelhos estava em pé encarando o grupo de garotos com um pedaço de pau quebrado nas mãos. Gaby o reconheceu. Era Fábio. Um cara esquisito de poucos amigos. Os garotos se entreolharam e riram.

— Ou vai fazer o que, esquisito? Bater em todos nós? — Falou um dos garotos

Fábio não se intimidou, ao invés disso enfiou a mão no bolso e sacou uma faca. A reação de Gabye  Julia foi a mesma que a dos garotos. Todos deram um passo para trás.

— Não. — Disse Fábio. — Foi só esfaquear o primeiro que vier!

— Não tem coragem! — Disse outro garoto.

— Paga pra ver! — Retrucou Fábio dando um passo a frente.

Diante da situação os garotos hesitaram. Um deles fungou e todos deram as costas e correram. Gaby ouviu um deles gritar algo como “ate pego amanha!”antes de virar a esquina.

Assim que os garotos sumiram a expressão de Fábio mudou completamente de um garoto durão para um simples garoto assustado.

— Caramba! — falou tirando do outro bolso uma bomba de ar e levando até a boca. — Ainda bem que eles foram em bora! Eu tava tão nervoso que quase tive um ataque de asma!

— Ahm... obrigada. — Disse Gaby se levantando com Julia.

— Vocês estão bem? — Perguntou o garoto. — Parece que eles te machucaram muito.

— não... ta tudo bem mesmo. — Tranquilizou Gaby.

— Ok... — Disse Fábio. — Por que esses covardes estavam te batendo?

As duas se entreolharam.

— Você não viu o vídeo na internet?

— Ahm... acho que não. — Disse Fábio — Gosto de vídeo-games, mas não fico vendo muitos vídeos na internet.

— Émas... Estavam passando para a escola inteira pelo celular... — Disse Julia.

— Ah! — Disse Fábio parecendo se lembrar de algo — Ta falando daquele vídeo da menina bonita com a flor de girasol? Espera. É você no vídeo? Caramba! Você é mesmo bonita!

Gaby corou, mas depois achou estranho a reação do garoto.

— Você não me odeia por causa do vídeo?

— Te odiar? Porque você tem super-poderes? — Perguntou Fábio e logo em seguida sorriu. — Ta brincando! Eu sempre quis conhecer alguém com poderes! Olha! Sou um grande fã de quadrinhos!

Fabio enfiou a mão na mochila e tirou um exemplar de uma revista em quadrinhos. O titulo 9th Wonders estava escrito na capa sobre o desenho de um homem japonês em nova York aparentemente muito feliz e de braços abertos, como se estivesse comemorando algo.

— Essa é uma das minhas favoritas. O autor morreu a alguns anos, por isso acabaram as edições. Eu estava voltando agora de uma loja de revistas antigas onde encontrei essa que eu ainda não tinha. Pelo visto é do meu personagem favorito: Hiro Nakamura.

Ele parou um momento quando percebeu que estava falando demais e estava bancando o esquisito de novo.

— Desculpe. Eu realmente me empolgo com tudo isso. — disse recolhendo o material que as duas tinham deixado cair e pondo-se a caminhar com elas. — Mas diz ai. Aquilo é mesmo real? Quer dizer. Eu ouvi que algumas pessoas com poderes tem surgido pelo mundo inteiro. Você... é mesmo uma delas,não é?

Gaby assentiu envergonhada e sem jeito. Fábio pareceu ainda mais empolgado.

— isso é demais! Uma super-heroina na minha frente!

— Ela não é uma super-heroína, cara! — Disse Julia

— Não. Mas pode ser.

— Eu só... faço plantas crescerem. — Disse Gaby corando.

— Mesmo assim, é demais!

— A gente tem que ir! — Disse Julia puxando a amiga — Nossa casa é pra la! Tchau! Obrigada!

— Não querem companhia? — Gritou Fábio conforme as duas se afastavam.

— Não precisa! — Gritou Julia apertando o passo.

As duas viraram a esquina deixando Fábio para trás.

— O que foi isso? — Perguntou Gaby se livrando das mãos da amiga

— Aquele cara era o Fabio! O esquisito! — Disse Julia como se fosse algo obvio.

— É mas ele salvou nossas vidas e, até agora, foi o único que pareceu achar legal eu ter poderes!

— Não acredito nisso! — Falou Julia — Você caiu na dele! Ele estava dando em cima de você, guria!

— Ah para! — Disse Gaby censurando a amiga que desatava a rir.