The Wonders Vol 1: Catastrofe escrita por Marcos Bossolon


Capítulo 7
Episódio 1: Eclipse (pt 7)




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Eduardo - Mato Grosso

 

Eduardo acordou com o barulho do galo cantando. Queria ter ignorado, mas aparentemente o galo não desistia. Levantou cambaleando e vestiu uma calça sobre a cueca Box que usava. Saiu pela porta do velho quarto desnorteado e de saco cheio. Ainda se perguntava como ele conseguia ficar estressado vivendo numa fazenda.

O homem seguiu pelo corredor até o banheiro e lavou o rosto. Observou que sua barba já havia crescido bastante e o cabelo estava completamente bagunçado. Estava parecendo mesmo um daqueles homens que vive na floresta e luta com ursos. Não teve a mínima vontade de aparar nenhum dos dois. Também não tinha vontade de lutar com ursos, até porque não havia ursos naquela região cheia de fazendas.

Desceu as escadas para tomar café da manhã e fazer sua caminhada pela fazenda alimentando os animais. Sua esposa e os dois filhos já estavam de pé. A mulher, que era magra e cheia de sonhos quando se casaram agora estava gorda e passava o dia limpando a casa ou cuidando das galinhas. Os filhos, um de dez e outro de doze anos passava o dia correndo pelo campo, quando não estavam na escola (o que não era o caso hoje, já que tinha aula).

Enquanto tomava seu café o cachorro da família, um vira-lata  cheio de sarna e com os pelos mal-cuidados se aproximou da mesa, na esperança de que Eduardo lhe desse algo para comer.

— O que quer? — Perguntou Eduardo e o cachorro inclinou a cabeça. — Ah você quer comer? Se pelo menos fizesse algo útil! Por quê ao invés de me olhar com essa cara de fome não vai la fora e busca o jornal para mim?

Mal acabou de dizer isso e o cachorro saiu correndo. Eduardo murmurou um “idiota” e voltou sua atenção ao seu café. Pouco tempo depois o cachorro retornara e, em sua boca, o jornal daquela manhã. Confuso Eduardo apanhou o jornal da boca do cachorro. Diante dos olhos acusadores do animal não teve outra saída além de cumprir sua promessa e dar-lhe o resto de seu pão para que comesse.

Eduardo levantou seu corpo pesado e tratou de cuidar das tarefas diárias. Atravessou a porta da casa até o quintal, onde sua mulher estendia a roupa no varal da frente.

— Quem ensinou o cachorro a pegar o jornal? — Perguntou com seu sotaque do campo.

Adriele bufou impaciente. Já não era de hoje que o amor entre os dois acabara e a única coisa que restava para eles eram os filhos. Não tinha a mínima paciência para o marido.

— O que foi? — Perguntou demonstrando claramente sua irritação.

— Quem ensinou truques para o cachorro?

— Vou saber? Deve ter sido o Gabriel! Ele vive com esse sarnento!

Eduardo abanou a cabeças e resolveu que não entraria numa discussão com Adriele. Não naquele dia. Seguiu pelos arredores da fazenda ouvindo novamente o galo cantar, dessa vez próximo a seu ouvido.

— Maldito galo! — Berrou com a ave. — Será que dapra calar a boca!

A ave olhou-o assustado e logo em seguida se calou e não deu um pio a mais. Eduardo murmurou um “obrigado” e seguiu seu caminho até onde os poucos bois estavam. Não passavam de sete. Quando herdara a fazenda de seu falecido pai havia mais. Pensou que seria a sorte grande. Mas uma doença levou mais da metade do rebanho. Recomeçar e expandir estava parecendo uma tarefa impossível agora.

Eduardo despejava a ração para os bois quando viu uma caminhonete cara 4 x4 se aproximar da propriedade. Como se aquele dia já não estivesse ruim o bastante, ainda teria que agüentar Osvaldo lhe enchendo a paciência.

— Comam. Eu já volto. — Disse Eduardo indo na direção da caminhonete sem nem reparar que todos os bois deixaram o que estavam fazendo para cumprir a ordem do dono.

— Ora ora. Se não é Eduardo, meu afiliado! — Cumprimentou o velho Osvaldo.

Eduardo tinha nojo de lembrar que aquele homem um dia fora seu padrinho. Quando o pai morreu, tudo que Osvaldo queria era por as mãos em suas terras. Eduardo bateu o pé e negou. Depois só desgraças aconteceram e agora ele era mais infeliz que nunca e Osvaldo mais parecia zombar dele do que realmente cuidar do afiliado.

— Osvaldo. — Disse Eduardo. — A que devo a honra.

— Ora vim ver como andam os negócios! — Disse Osvaldo olhando em volta. — Parece que não andam nada bem. Bom... você é um jovem inexperiente no assunto. Devia mesmo passar os negócios a alguém que entende mais.

— Quer dizer você. — Disse Eduardo.

— Edu! — Sua mulher surgia atrás do marido com um sorriso no rosto. — Não trate mau seu padrinho! Ele só quer o melhor para você!

— Ora mas se não é a jovem Adriele! — Disse Osvaldo com um sorriso largo abraçando a moça. — Está cada vez mais bonita!

— Obrigada, seu Osvaldo! — Disse Adriele e depois voltou-se para o marido. — Edu, por quê não vai buscar as crianças na escola enquanto eu sirvo um café para seu Osvaldo!

Eduardo estava relutante, mas assentiu. Qualquer coisa era melhor que ficar ali com Osvaldo cobiçando tudo que era seu por direito. Seguiu até a cocheira e amarrou a charrete de madeira no cavalo. Sentou-se no banco e pegou as rédeas quando viu o cachorro novamente ao seu lado.

— Já que aprendeu a pegar o jornal, vê se aprende a ser mais útil e fica de olho nesse Osvaldo. Não deixa ele chegar perto dos bois.

Como da outra vez, o cachorro saiu correndo imediatamente enquanto latia. Eduardo deu um puxão nas rédeas e o cavalo saiu relinchando estrada a fora, puxando a charrete com Eduardo. Tudo estava ruim naquele dia, como fora nos últimos anos de sua vida. Mas, pelo menos naquele dia, os animais pareciam estar dispostos a o obedecerem.


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