Felipe - São Paulo

Felipe caminhou lentamente até a sala 402 do cursinho. Não tinha pressa, havia chegado cedo como sempre. Percorreu a sala por entre as diversas carteiras e acomodou-se na do canto mais longe. Depositou seu livro de genética que comprara, escrito pelo professor indiano“Dr. ChandraSuresh” e se pusera a ler. Aos poucos os demais alunos forma entrando e se acomodando.

—Hey Einstein. — Soou uma voz jovem e masculina ao lado dele.

Felipe levantou a cabeça e encontrou seu colega de sala, Luciano sentado ao seu lado. Luciano tinha cabelos negros como os de Felipe, mas o rosto de Luciano era arredondado enquanto o de Felipe era fino. No queixo de Luciano havia um pequeno furo comum em algumas pessoas.

— E aí, Luciano. — Respondeu Felipe sem demonstrar muita emoção.

— Não para de estudar um minuto, hein?

Felipe riu.

— Posso te perguntar uma coisa? Seu pai tem furo no queixo?

Luciano fez uma careta enquanto se acomodava melhor na carteira.

— Por que essa pergunta esquisita?

— Seu queixo... — Felipe apontou para o pequeno orifício no queixo do colega. — tem um furo. É genético e só é transmitido pelo pai. Quer dizer que se seu pai não tiver furo no queixo...

— Sei então eu seria adotado, igual a você. — Luciano encarou o amigo. — Quando foi que seus pais te contaram que você era adotado?

— Eles não contaram. Eu descobri. — Respondeu Felipe — Aos dez anos.

— Você descobriu sozinho aos dez anos? Como?

— Observei a genética deles, li um livro sobre isso e comecei a estudá-los e estudar a mim mesmo.

— Caramba. — Suspirou Luciano — Ou você está mentindo ou você é mesmo um gênio...

Felipe gostaria de estar mentindo. Mas era verdade. Desde pequeno percebeu que aprendia as coisas muito mais rápido que as demais e, logo cedo aprendeu que os pais não eram exatamente seus pais biológicos. Mesmo assim, ele não fazia questão de descobrir quem eram. Se o abandonaram não importa mais. Foi na mesma época que começou a sentir algumas dores de cabeça essas mesmas que ele estava sentindo agora. Percebeu que quanto mais aprendia mais doía-lhe a cabeça. Sendo um gênio ou não, aquilo tinha algo a ver com sua genética.

—- Caramba. Você realmente é fanático por essa coisa de genética. Hein. — Falou Luciano cortando os pensamentos do amigo — Esse livro ai parece complicado. Está lendo desde quando?

— Ah. Comecei agora a pouco — respondeu felipe.

— Entendi. Começou já do meio?

— Não. — Estranhou Felipe. — Comecei desde a primeira página.

Luciano riu.

— Ta bom, agora você está exagerando! Está me dizendo que em poucos minutos leu umas duzentas páginas?

Felipe olhou confuso para o livro em sua mesa. Realmente estava na página duzentos e três. Reconhecia a página. Tinha mesmo lido o livro até ali, mas tinha certeza que só tinha passado alguns minutos. Sentiu uma forte pontada na cabeça que o fez curvar-se sobre a mesa.

— ei, cara. Você está bem? — perguntou Luciano acudindo o amigo.

Felipe sentiu a mente girar e a visão a ficar turva. Algo parecia estar escorrendo de seu nariz. Passou os dedos no liquido quente que escorria e olhou. Um vermelho vivo de sangue parecia estar encharcando seus dedos. O sangue respingava nas páginas do livro de Suresh. Ao longe ouvia Luciano gritar por ajuda. Assim, sua mente apagou-se.