Corações Quebrados escrita por Clara Eduarda


Capítulo 1
Enfrentando Renesmee




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/695338/chapter/1

POV Bella

Recolhi uma das muitas caixas empilhadas no banco traseiro e a trouxe para fora de minha caminhonete colocando-a em cima uma da outra. São várias caixas que tenho de transportar, mas estou sozinha nesta tarefa então vou aos poucos e faço como posso para subir com elas até meu apartamento recém-alugado.

O clima de maio ajudava bastante, já que, posso me dar ao desfrute de usar uma roupa bem mais leve; um short jeans azul, uma blusa bem folgadinha e desbotada. Antes de pegar as caixas e seguir meu trajeto fixei minha atenção nos cardaços de meus all star que estavam em todas as direções então parei por uns segundos para atá-los em um nó visando não tropeçar. Olhei para cima e vejo então a senhora Newton observando-me da janela do primeiro andar. A maioria dos vizinhos sabiam que sou a nova moradora do bairro e isso se devia ao fato da minha mudança ir ocorrendo aos poucos, conforme o tempo me permitia.

 Decidi mudar visando ter um pouco mais de independência. Eu poderia continuar vivendo na casa de minha mãe, minha irmã e avó, mas terminar um casamento e voltar a novamente a conviver com familiares não é o que esperava para esta nova fase de minha vida, sem contar que, viver com eles significaria que as brigas seriam constantes. Amo minha família, mas um pouco de estabilidade e espaço depois de um divórcio é a melhor opção.

 Conheci Jacob Black na universidade sete anos atrás e ambos só tivemos um ano de namoro até decidirmos nos casar. O noivado foi tranquilo, perfeito, mas depois que nos casamos as coisas mudaram e ficaram difíceis. Jacob se mostrou ser um homem ciumento e possessivo demais. Não precisei de muito tempo para me dar conta que o casamento foi um erro; éramos diferentes em muitos aspectos. Ele queria viver no campo, eu na cidade. Ele queria filhos e mais filhos, e eu ainda não estava preparada para outra gravidez. Nossas opiniões sempre eram diferentes e dificilmente entrávamos em um consenso. Brigávamos muito! 

 Desta maneira cheguei ao meu limite e soube então que não poderia suportar mais aquela situação e nem ele então encaixotei minhas coisas e dei fim ao nosso casamento. Jacob não esperava esta minha decisão repentina e tentou reverter a situação se ajoelhando implorando que repensasse. Mantive firme minha decisão dando fim àquele meu outro grande erro e Jacob ficou furioso.

 Depois disto, mudei para casa de minha mãe em Seattle, enquanto dava entrada nos trâmites do divórcio e durante todo o processo vivi a seu lado. Tem aproximadamente meio ano que voltei a ser solteira.

 Boa parte das caixas já estavam no apartamento, mas quando desci para pegar a que restava notei que não estava sozinha. Havia uma garota me observando. A princípio não dei tanta importância. A última caixa estava demasiadamente pesada, tinha quase certeza que era naquela que estavam meus livros que coleciono, dado o peso. Suspirei sustentando a caixa com uma só mão enquanto apressadamente com a outra mão livre joguei o cabelo para trás da orelha lamentando por não ter aceitado a ajuda de minha irmã, a caçula Francesca, para o fim da mudança. Embora eu esteja segura que ela não cooperaria tanto, no máximo uma caixa e depois se dedicaria a seu celular me deixando com a parte difícil.

 Uma tossida leve atrás de mim me fez interromper o trajeto.

 — Desculpa, você é Isabella Swan?

 Com a caixa ainda em mãos olhei com curiosidade para a garota frente a mim; alta, ruiva de olhos castanhos, piercing no nariz, expressões juvenis. Seus cabelos chegavam a seus cotovelos e havia uma mochila encarapitada em suas costas fazendo com que se parecesse uma viajante.

 Levantei um de meus joelhos para me ajudar a sustentar a caixa descansando assim um pouco meus braços.

 — Sou eu sim… e você, quem é?

 A princípio ela não me respondeu. No entanto, fiquei perdida por alguma razão reprimindo o impulso de fechar meus olhos e depois abrir para ver se ela prosseguia ali.

 — Claro que é você, não mudou muito…

 Movi minha cabeça confusa.

 — Nós nos conhecemos? — Perguntei, por fim.

 Sua boca se contorceu minimamente e então a garota a minha frente retirou uma foto do bolso de sua jardineira e passa a olhar da foto pra mim. Por um instante penso que é uma brincadeira sua.

 — Eu a encontrei por aí... — explica sem deixar de me olhar parecendo estar chateada. — Toma!

Peguei a foto de suas mãos mantendo a caixa ainda em minhas pernas.

 Me surpreendi ao ver que na foto estava eu, com meus 15 anos, mais ou menos, e nela sorria parada frente a uma árvore com meu uniforme surrado do colégio que estudei. Fiquei perplexa me questionando internamente como é que aquela garota conseguiu aquela foto. Nem eu relembro do momento ao qual a foto foi tirada.

 A olhei desconfiada.

 — Como você conseguiu essa foto?

 Ela minimamente encolheu seus ombros, mas sem deixar de desprender seu olhar do meu.

 — Eu sou Renesmee, a filha de Edward Cullen.

 A caixa caiu estrondosamente em segundos no chão. Se fosse algo sem ser os livros provavelmente estaria quebrado agora. Meu coração deixou de bater por alguns instantes, mas ainda estava com a foto entre meus dedos, a segurava o mais forte que eu podia, mas estava descrente, não podia acreditar, o que essa menina disse é…

 — Não posso acreditar… — disse mas minha voz morreu no silêncio.

 — Sim, acredite — disse ela voltando a encolher seus ombros, levando suas mãos a alça de sua mochila. — Então… você é a mulher que me abandonou.

 Não era bem uma pergunta e sim um fato. Não pude dizer nada. A voz não saia de minha boca, as palavras se perderam e por mais que lutasse para encontrá-las.

 Logo me dei conta que seu rosto era familiar… seus olhos, meus olhos, seu nariz, meu nariz… mas jamais passou pela minha mente que fosse… que fosse minha filha.

 Tive de enterrar um passado que me atormentou com o passar dos anos. Nunca encontrei lógica quando diziam que cedo ou tarde esqueceria o que passou, porque nunca esqueci. No entanto, encontrei uma maneira de lidar com tudo e sair daquele túnel escuro e consegui ser o que sou agora. Deixei o rosto doce de uma recém nascida para trás e hoje a mesma está com 14 anos e em minha frente.

 — Ei… você vai dizer algo ou vai ficar em silêncio por mais tempo?

 Por fim conseguir me mover sem perder o detalhe de seu olhar em nenhum instante.

 — É que… não pode ser você…

 — Te digo que mudei muito nesses 14 anos!

 Parecia que havia uma atadura em meus lábios que dificultasse um diálogo mais extenso.

 — Sim.

 — Bem, vamos fazer uma coisa. Vou te fazer uma pergunta, você me responde e te prometo que vou embora e você não voltará a me ver. — Barganhou Renesmee com a postura, voz, olhar… tudo nela exalava puro rancor. Por que você me abandonou?

 Não precisei de muito tempo para começar a chorar depois dessa sua pergunta. Renesmee tinha os olhos marejados também, mas se conteve.

 — É uma história muito complicada.

 — Estou escutando!

 — Você não vai quer escutá-la. — Disse não encontrando resistência a essa minha negativa a ela. — Como você me encontrou?

 Renesmee se moveu um pouquinho, mudando o peso de uma perna para outra cruzando os braços. Meus pés estavam petrificados no chão e a caixa contendo meus livros ainda estirada só que esquecida.

 — Não foi fácil te encontrar, levei meses juntando informações sobre você. Minha família não queria me dar tais informações que precisa, então arranjei meu jeito e me virei por conta própria. Sabia que foi a melhor amiga da minha tia Alice. — Informou-me e a simples menção da irmã de Edward trouxe sentimentos confusos. — Você é mais jovem do que imaginei.

 Seu olhar mudava a todo instante, uma hora me olhava como se aparentasse me consolar e em outros momentos me olha com tanta tristeza e rancor.

 — Seu pai sabe que você está aqui?

 Renesmee soltou uma risada fingida assim que terminei minha pergunta.

 — Não, ele não sabe. Se soubesse de meus planos nunca teria deixado eu vir e eu o entendo. Não é como se eu fosse de fato vir fazer um trabalho de escola. — Sacudiu a cabeça por me revelar a mentira que inventou ao pai para sair de casa. — Vai responder o que eu te perguntei? Não quero e nem posso chegar tarde em casa!

 Por instinto Renesmee olhou para ambos os lados espiando se alguém estava nos observando. Um tremor violento voltou a me assolar quando novamente nos encaramos. Ainda era difícil de acreditar que tinha diante de mim a bebê de 14 anos atrás. Respirei profundamente, uma dor repentina surgiu em meu peito me impossibilitando de avançar. Renesmee se deu conta que algo errado está acontecendo comigo e dá um passo a meu encontro.

 Meu coração voltou a acelerar.

 — Nãoaquieu — gaguejo sentindo-me enjoada, minha memória está boa, posso falar sobre isso com ela, apesar de terem se passado 14 anos. —

 — Se sente bem?

 Levei uma mão sobre meu peito, exatamente no lugar onde está meu coração. A pontada segue ali, me esfaqueando por tantos anos de abandono.

 Por tantos anos de covardia.

 Senti que estava caindo e tudo ficou preto.

 (...)

 O vento soprado no ar me afogou quando acordei recebendo uma lufada forte de ar em meus olhos fazendo com que os fechasse novamente e ao abrir vi que alguém está abanando meu rosto. Um cheiro forte e desagradável de álcool ou acetona invade meu olfato, mas tento não dar tanta importância a isso.

 Com sobressalto visualizei dois pares de olhos observando-me.

 — Ela acordou! — Diz um garoto desconhecido de olhos azuis para... Renesmee.

 E então o que parece ter sido apenas um pesadelo finalmente se demonstra ser uma realidade.

 — Que susto você me deu… você é intolerante a emoções fortes? — Pergunta Renesmee irritada sacudindo a cabeça de um lado para o outro.

 Me endireitei no sofá e ao olhar ao meu redor comprovo que os móveis som meus me dando conta que estou em meu apartamento. A maioria das coisas ainda está embalada em caixas espalhadas pelos cômodos. Tento me levantar, mas desisto quando outra vertigem me atinge simplesmente por me sentar.

 — Você ainda está muito fraca, senhorita, quer que eu a leve a um hospital?

 Sacudi a cabeça em negativa.

 — Quem é você? — Perguntei, por fim, não me recordando de conhecer o garoto de olhos azuis.

 — Oh, eu sou Mike Newton, o filho do porteiro e moro no primeiro andar. Minha mãe me disse que você vive aqui então acredite que seria melhor te trazer… espero que não se irrite por eu estar aqui, de verdade não quis invadir nem…

 — Tudo bem… muito obrigada Mike.

 — Disponha — respondeu repentinamente relaxado e alegre. Logo ele se deu conta que estou bem e que sua presença não é mais necessária então se coloca de pé para ir. — Qualquer coisa, estamos no primeiro andar.

 Sorri em agradecimento e voltando a ficar sozinha com Renesmee.

 Ela continuou com sua mochila nas costas, mas agora olhava todos os cantos de meu apartamento. Notei que seu cabelo ficava ainda mais ruivo do que ao ar livre. Ela fez um som estranho com a boca quando tocou um metal com a unha. Seus dedos passam pelas caixas ainda fechadas ao passo que passeava pela sala, olhou a vista da janela, observou a cozinha… antes de voltar a olhar para mim. E novamente seu olhar rancoroso fez com que me sentisse mal, mesmo sentada no sofá. Quis me aproximar, mas me detive para não correr o risco de desmaiar outra vez. O olhar de Renesmee  era intenso e exatamente como os meus marrons; como chocolates derretidos.

 — Eu poderia gritar com você, sabe — iniciou apoiando uma de suas mãos na mesa. — Você merece por me abandonar e ter feito isso te transforma automaticamente em uma maldita.

 Fechei meus olhos reprimindo o desejo de chorar outra vez.

 Ela prosseguiu:

 — Eu tenho todo o direito de te odiar também, porque por sua culpa eu tive de crescer e conviver com o fantasma de uma mãe que nunca me quis. — Confessou.

 — Renes… — tentei dizer algo.

 — Mas não vou gritar e nem te odiar, simplesmente ignoro ambas as vontades quando olho para você, ademais não me criaram para odiar as pessoas e muito menos julgá-las. Não sei seus motivos porque ninguém teve a decência de me contar. Talvez com pena que a pobre e estúpida Renesmee sofra, não? Bem… não sei.

 — Renesmee… — a interrompi. — Também não é assim. Você não sabe como foi, está vomitando as palavras, não me conhece, não sabe de nada!

 Minhas mãos se fecharam em punhos criando coragem para me controlar. Renesmee não tinha que pagar por uma culpa que não a corresponde, mas sabia que se lhe dissesse a verdade

— Eu era muito jovem! — Me desculpei com essa desculpa, em parte era verdade, mas não é essa a real verdade. Mas ela queria explicações e eu as daria. — Tive medo.

 A garota a minha frente sorriu sem emoção.

 — Que estranho… meu pai também era muito jovem e ainda assim cuidou de mim. — Rebateu.

 Seus olhos não deixavam os meus.

 — As coisas nem sempre são o que parecem Renesmee, mas você ainda é uma criança para entender…

 Suas sobrancelhas se ergueram.

 — Você não tem direito nenhum de me dar sermões sobre o que eu devo ou não devo deixar de entender. — cuspiu.

— Eu sei que você me despreza e em parte entendo que me odeie, não esperaria outra coisa. — sequei as lágrimas que caíram sem querer. — Me perdoa?

— Não te odeio, já te disse. E não, eu não aceito seu perdão. — espalmei as lágrimas que voltaram a se formar em meus olhos perante suas palavras. Renesmee se afastou da mesa e caminhou até a porta. — Era só isso o que eu queria saber e o que queria te dizer… Adeus.

 Ambas nos olhamos uma vez mais e então ela se foi. Controlei-me para não sair correndo atrás dela, mas não o fiz e fiquei sentada no sofá, tremendo e chorando como a muito tempo não chorava.

 Era provável que esta tenha sido a última vez que a vi.

 E doía, doía muito.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que vocês gostem e para me animar a postar o próximo que tal me dizerem o que acharam? Devo continuar?
Beijos ♥