Fora do normal - Draco e Luna escrita por karinacardoso


Capítulo 6
O baile




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Draco não sabia o que pensar. Quem quer que estivesse à sua frente, não era Di-lua Lovegood. A garota usava um vestido lilás que contrastava encantadoramente com sua pele. O corpo do vestido era justo, com um decote que insinuava atributos que Draco jamais imaginara nela (e ele estava imaginando muito nesse momento). As alças eram feitas de pequenas flores, lilases como o vestido, que ornavam o corpete e as camadas que formavam a saia a partir da cintura. Seu cabelo, sempre despenteado, estava solto em cachos loiros que caíam pelos ombros. E ela brilhava! Draco levou alguns segundos para perceber que não era a beleza dela que irradiava, mas minúsculas borboletas cintilantes que voavam ao redor de seus cabelos, fazendo com que eles reluzissem e se movimentassem, tornando Luna uma visão etérea e impressionante. Draco nem sequer se aborrecia com esse toque de maluquice, pois não conseguia tirar os olhos dela.  

— Eu... você está...

— Atrasada – emendou Luna – Ande, se apresse.

— Eu... claro.

Se Draco pudesse afastar os olhos de Luna por um minuto sequer, veria que Hermione trazia um olhar carregado de suspeita. “Humpf, melhor eu me apressar” pensou a garota. ”Espero mesmo que Rony tenha comprado um traje novo esse ano...”.

O Salão estava lindo naquela noite. O céu estava ainda mais estrelado, e bolhas luminosas flutuavam por todo o local. De perto, porém, dava para notar que se tratavam de pequenas esferas de gelo iluminadas. Além disso, fadas cintilantes voavam pelo lugar, parecendo aglomerados de purpurina saltitantes. Mesas de 4 lugares estavam dispostas pelo Salão, em volta de um enorme espaço vazio que serviria como pista de dança. Draco e Luna entraram de braços dados, mas ele já não temia pelo momento que tanto o angustiara ao longo da semana. Quando estavam na metade do caminho em direção às mesas, Draco pode sentir os primeiros olhares, e depois um cochicho que se espalhou por todo o local. Ele  reconheceu dentro de si o orgulho, um sentimento que conhecia tão bem mas que há tanto tempo não sentia. Lembrou-se da primeira vez que apareceu em público com Penny, o ar de inveja e desejo que os cercava, a sensação de ser o guardião de uma joia cobiçada que pertencia somente a ele.

Nessa noite, não era inveja e cobiça que dominava o Salão, mas um senso geral de curiosidade e surpresa. Olhando de esguelha para Luna, Draco pensou que as pessoas atraem aquilo que vibram, e nada poderia estar mais longe daquela menina do que sentimentos torpes como os que seguiam Penélope. Ela observava o Salão, alheia à balbúrdia que se formava ao redor de si, e Draco soube que ela não pertencia aos holofotes. Não tinha a segurança e o domínio daqueles que são conscientes da atenção que atraem, que buscam intencionalmente ser a estrela principal. Ela nunca seria a joia desejada que era Penélope, mas um tesouro misterioso cujos segredos eram um enigma até mesmo para ele, seu protetor. Quando terminaram de cruzar o Salão, Draco vivenciava um tipo de orgulho que jamais sentira, e ao imaginar a expressão de Penny quando o visse, sentiu-se o dono do mundo.

Ele escolheu uma mesa à vista de todos, mas antes que pudessem se sentar, Pansy se materializou em sua frente. Ela usava um vestido de veludo cor de vinho, o cabelo preso num coque lateral, e estava mais bonita do que Draco se lembrava que ela fosse, à exceção da fúria em seu rosto que a deixava tão vermelha quanto o vestido.

— O que é o isso, Draco? – disparou, pulando as apresentações.

— Eu acredito que seja uma mesa onde você está nos impedindo de sentar.

— Você realmente pretende vir ao Baile com a Di-lua?

Draco percebeu Luna ajeitando nervosamente o cabelo ao seu lado.

— Eu já estou no Baile. Sim, com a Luna, obrigado.

— Isso é ridículo! Ela é ridícula! Não sabe que ninguém nunca traz ela no Baile? Consegue imaginar o que vão falar de você amanhã?

Draco olhou para Luna, que agora parecia igualmente desconfortável e concentrada na ponta dos próprios pés, deliberadamente evitando fazer parte da conversa.

— Imagino que vão dizer que meu par estava brilhando – sorriu ele, colocando um braço protetor ao redor dos ombros de Luna – E que Pansy Parkinson deu escândalo de ciúmes porque o par dela parecia um trasgo em veludo vermelho.

— Não estou com ciúmes!

— Você concorda com a parte do par, então?

O rosto de Pansy transformou-se em uma máscara de ultraje, e ela deu as costas sem dizer mais nada. Draco reparou que ainda abraçava Luna e a soltou rapidamente.

— Me desculpe por isso. Ela é muito possessiva –  disse Draco, enquanto eles se sentavam.

—  Não tem problema, eu acho – respondeu a bruxa, visivelmente tensa.

— Elas duelaram uma vez, sabia? Ela e a Penn...élope. A Pansy perdeu feio.

Luna não respondeu, apenas o encarou, enquanto Draco se arrependia de ter trazido Penélope para a conversa novamente.

— Hum, o salão está mais bonito do que no ano passado – emendou ele, mudando de assunto.

— Eu não vim ao Baile no ano passado.

— Ah, verdade. Nunca quis vir?

— Ninguém nunca me chamou – disse Luna, dando de ombros. Ela não parecia se importar realmente. – Todo ano tem fadas?

— Para falar a verdade não. São engraçadas, não acha?

Luna olhou assombrada para ele.

— Como pode achar engraçado?

— Por que não acharia?

— Ora – Luna levantou as sobrancelhas – elas são vampíricas, todo mundo sabe...

— Vampíricas?

— Claro, meu pai publicou um artigo sobre isso no mês passado, você não leu? Elas são capazes de matar um homem em segundos!

Draco olhou novamente para as reluzentes criaturas que não deviam medir mais do que três centímetros.

— Tem certeza? Como exatamente elas fariam isso?

— Mordendo nossa orelha e sugando nosso cérebro, é claro – disse Luna com um olhar etéreo que a fazia parecer maluca – É por isso que vim com minhas borboletas de escudo, mas sabe, eu não acho que elas funcionem realmente. É o que meu pai diz.

Draco sentiu o encantamento pela garota diminuir um pouco. Por um momento, ele se esqueceu que Luna continuava sendo a desvairada de sempre, e que até mesmo seu brilho encantador deveria ter uma motivação insana. Correndo os olhos pelo Salão enquanto Luna falava, Draco notou um par de olhos verdes encarando-o do outro lado. Rapidamente, se apressou em rir e aparentar imensa diversão, e pôde sentir, mais do que ver, uma fúria gelada emanando em sua direção. Ficou satisfeito, embora sua reação tenha empolgado Luna e a incentivado a discorrer sobre uma infinidade de outras conspirações, assunto no qual parecia ser uma autoridade.

Depois do que pareceram a Draco horas, um grupo subiu ao palco e começou a tocar uma música dançante muito boa.

— Quer dançar? – perguntou Draco.

— Ãnh... não, obrigada – disse ela, e Draco sorriu. Ele desconfiava que ela não soubesse dançar.

— Vamos – ele pegou-a pela mão, mas ela se manteve firme na cadeira.

— Não, tem fadas demais lá...

Draco alargou o sorriso e olhou-a bem nos olhos.

— Não se preocupe. Você estará comigo.

Ele sentiu, com satisfação, que a mão da garota estremeceu levemente sob a sua. Puxou-a com mais firmeza, e desta vez ela não ofereceu resistência. Os dois se encaminharam para o meio da pista, onde já havia um certo número de pessoas. Draco percebeu novamente os olhares impressionados e puxou Luna, que ele carregava pela mão, para mais perto de si. Estranhava essa repentina necessidade de cuidado em relação à garota, mas não podia evitar: ele conhecia o mundo da popularidade, e ela não. Colocou-se no meio da pista, e a observou. Luna olhava com certo pavor para cima e por sobre os ombros.

— Sabe dançar?

— Eu... sim, claro.

Draco estreitou os olhos. Ela estava tentando impressioná-lo.

— Ok. Me mostre então.

Ela olhou para ele desconfiada.

— E se uma delas me atacar?

Draco não pôde deixar de rir.

— Eu protejo você – disse ele, e Luna corou um pouco.

— Se elas morderem minha orelha...

— Ninguém vai morder sua orelha – disse apressadamente. “Ou pelo menos, ainda não”, pensou ele, imediatamente assustando-se com o próprio pensamento.

— Anda, quero ver – disse, tentando distrair a si mesmo.

Luna deu uma última olhada para cima e começou a dançar. A princípio, movia-se com timidez, buscando fadas ao seu redor a cada passo. Quando se envolveu com o som e decidiu fechar os olhos, no entanto, ela subitamente parecia fazer parte da música. Draco ergueu as sobrancelhas, surpreso pela centésima vez naquela noite. Ele olhou para os pés dela, que se moviam com desenvoltura; observou suas pernas, meio ocultas sob o vestido; o quadril que balançava acompanhando o ritmo dançante; seus braços que faziam movimentos leves, coordenando-se perfeitamente com o balanço do corpo; as borboletas que agitavam seus cabelos e faziam parecer que havia uma brisa que soprava só para ela; toda aquela luz espiralando ao redor que lhe davam um ar de irrealidade mágica, como se fosse a deusa de algum conto ancestral. Num instinto, seus olhos focaram o decote provocante do vestido, que balançava sugestivamente, o que causou uma pontada conhecida em seu baixo ventre. Na mesma hora, Draco desviou o olhar e só então percebeu que várias pessoas haviam parado de dançar para admirar Luna. Notou especialmente um garoto do sexto ano que a observava com o olhar repleto de segundas intenções, e que Draco conhecia muito bem: era o modo como ele costumava olhar para a maioria das garotas. Enraiveceu-se ao perceber que sabia exatamente que tipo de imagens estavam se passando na cabeça do garoto naquele momento. Sem pensar, pegou o braço de Luna e a arrastou para fora da pista com certa violência.

— Aaaaiii, o que foi?

— É que... tinha uma fada... hm, uma fada sobrevoando você.

Luna arregalou os olhos.

— Sério? Eu sabia que isso ia acontecer!

E, como aquela explicação pareceu contentá-la, eles voltaram a se sentar. Enquanto Luna tagarelava sobre a ineficiência das borboletas escudo, Draco voltou a observar o movimento. Ainda sentia raiva pelo recente episódio, e se não se conhecesse melhor, diria que chegou a sentir ciúmes. Riu sozinho do absurdo da ideia. Ninguém entraria numa disputa por Luna Lovegood. Por outro lado, ninguém nunca tinha visto essa Luna Lovegood. O incômodo dessa percepção o convenceu de que ele precisava se distrair, e como era de hábito, seus olhos esquadrinharam o ambiente buscando Penny. Ele a encontrou dançando com um garoto de cabelos loiros, num canto pouco iluminado e afastado demais para quem tivesse boas intenções. A perspectiva fez o rosto de Draco se incendiar e seus pensamentos recentes sobre Luna desvaneceram completamente. Ele tentou desviar o olhar, mas não pôde. O casal nem sequer fingia que estava tentando acompanhar a música, num ritmo lento e fora de sincronia. Draco suspeitava que aquele atrito todo entre os dois iria em breve produzir faíscas, além das que ele mesmo se sentia prestes a soltar. Quando a mão do rapaz deslizou muito abaixo do seria conveniente num ambiente público, a respiração de Draco se acelerou e um impulso quase o fez se levantar, mas então ele percebeu os olhos de Luna cravados nele.

— Você ia atrás dela?

— Não, claro que não. – disse Draco se ajeitando na cadeira. – Para falar a verdade, nem vi que ela estava ali...

— E como sabe de quem estou falando?

— Eu... – Draco fechou a cara – isso não é da sua conta.

— Bom, você é meu par, não?

— Óbvio – respondeu distraído, ao perceber que Penny havia desaparecido.

Uma música lenta tinha começado, e Penny e seu parceiro dançavam no meio do salão. Ele não era o único a reparar no casal, certamente graças à elegância dos movimentos de Penélope e sua beleza que jamais passava despercebida. Draco admirava os longos cachos negros e a ondulação do vestido de cetim verde que combinava perfeitamente com aqueles olhos. Quase podia sentir-se ali, pressionando seu corpo contra o dela, sentindo o aroma doce do seu perfume... Aquele cheiro que ele ainda sentia todos os dias, que antigamente o fariam esquecer os olhares de admiração e inveja ao seu redor. De fato, TINHA sido ele no ano anterior, e agora todos podiam ver que Draco era passado na vida dela. Um outro qualquer ocupava seu lugar! Aquela exibição era uma humilhação, e ele sentiu-se mais uma vez enraivecido. Quando os lábios daquele garoto tocaram os de Penélope, a raiva virou combustível para a impulsividade, e ele se levantou num pulo. Com o sangue Malfoy correndo nas veias, Draco foi capaz de frear a besteira que estava prestes a fazer, e ao invés disso pegou a mão de Luna e arrastou-a para a pista novamente.

— Ei, o que está fazendo?

— Nós vamos dançar.

— Espera, mas e as fadas?

— Para o diabo com as suas malditas fadas!!

Ele se colocou perto do casal e puxou Luna para bem junto de si. Não sabia exatamente o que pretendia com aquilo, apenas precisava fazer alguma coisa. Seu ódio o fazia comprimir Luna contra seu corpo muito além do necessário.

— Você está apertando dema...

— Shhhhh!

As mãos do acompanhante de Penny estavam percorrendo caminhos muito conhecidos por Draco e ele sentia seu sangue-frio cada vez menos no controle. Quanto mais seus impulsos violentos o dominavam, mais ele apertava a pobre Luna. Era um milagre ela ainda respirar. Até esse momento eles não haviam ficado tão perto, e por isso o perfume suave que ela exalava não o havia alcançado. De repente, no entanto, aquela fragrância floral tomou conta de sua mente. Embora doce como o perfume de Penélope, o cheiro era fresco e amplo como os campos de tulipa da Holanda, o lugar mais belo que ele já visitara. De súbito, como em seu passado com Penny, sua mente se apagou, e ele não via mais ninguém à sua volta, nem mesmo a ex-namorada. Só o que sentia era aquele perfume penetrando em suas narinas e envolvendo-o, e depois de alguns segundos de torpor inebriante, ele olhou-a impressionado. Ela o encarava com uma surpresa inocente, tentando entender o que acontecia. Para ser justo, Draco também não entendia, como quase sempre acontecia com tudo que se relacionava com aquela garota. Não sabia como alguém como ela conseguia perturbá-lo de tantas maneiras. Mas mais do que isso, ele começou a notar com clareza o corpo dela grudado no seu, suas mãos apertando a cintura dela, aquele brilho imaterial ao redor dela e o perfume encantador... E, ainda mais perceptível e um tanto desesperado, sentiu seu corpo produzir uma reação instantânea ao movimento que os dois corpos faziam um contra o outro. Por breves momentos, agarrou-se à esperança de que Luna era distraída demais, fora da realidade demais, ela mesma demais para notar uma ereção. No entanto, a garota de repente arregalou os olhos assustada, se afastando dele. Ficaram alguns segundos em silêncio, sem que nenhum dos dois soubesse como reagir, e então ela saiu correndo. Algumas pessoas olharam curiosas, mas pareceram não perceber o motivo. “Viva as roupas pretas e as calças largas”, pensou Draco, antes de sair do salão atrás de Luna.  


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Notas finais do capítulo

Ah, meu capítulo favorito! Quando os sentimentos do Draco pela Luna começam a ficar mais claros, mesmo que ele ainda não entenda. Ele começa a compará-la com a Penélope, que nem todo mundo que tenta superar um ex. E claro, porque a Luna samba na cara da sociedade!



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