Dois Solteirões e Uma Pequena Dama escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 6
Capítulo 06 – Um Homem Pode Mudar


Notas iniciais do capítulo

Obrigada pelos comentários no capítulo anterior, pessoal.



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Quando Emmett chegou da rua, carregando a filha adormecida nos braços, encontrou o apartamento no mais puro silêncio. Edward ainda não tinha chegado e ele não fazia ideia de quando chegaria.

Tropeçou num dos brinquedos espalhados no caminho até o pé das escadas. Em vez de se irritar com isso, seu rosto adquiriu uma feição de contentamento. Ele tinha, ainda que em pouco tempo, aprendido que, ter os brinquedos espalhados pelo apartamento, eram a prova de que Pétala era de casa. Que ele tinha uma filha de verdade.

Deitou-a na cama de seu quarto, encobrindo-a até os ombros com os grossos cobertores de inverno. A cama imensa fazia Pétala aparentar ser menor do que era.

Ele aproveitou esse tempo livre para tomar um banho com calma.

Foi difícil tirar Rosalie dos pensamentos. O que era de certa forma, estranho. Era a primeira vez que se sentia assim em relação a uma mulher que sequer havia beijado.

Levou bastante tempo embaixo do chuveiro. Quando saiu, tinha a toalha em volta da cintura. No peito nu, escorria gotículas de água. Os cabelos curtos, molhados. E nos pés, chinelos de dedo.

Reparou em Pétala na cama. Ela ainda dormia, só que em outra posição. Ele havia a deixado dormindo de lado, mas agora ela dormia de bruços. Mesmo tendo insistido muito no caminho até em casa para que não pusesse o polegar na boca, ela o pôs.

Caminhava até o closet, quando ouviu a voz do irmão no andar de baixo.

— Pétala, o titio já está em casa. Cadê você, Pequena Dama?

Emmett se apressou ainda de toalha ao patamar da escada. Atirando com uma mira perfeita um urso branco de pelúcia na cabeça do irmão. Edward se assustou, chegando até mesmo soltar um palavrão.

— Cale essa boca! – Emmett alertou de onde estava.

— Ficou doido? – Edward se queixou, abaixando o olhar encontrando o bicho de pelúcia no chão, aos seus pés.

— Fale baixo – Emmett voltou a falar. – Pétala está dormindo. Caso você não saiba, ou tenha se esquecido, crianças pequenas precisam de um horário para soneca. E se isso não acontece, ficam bem irritadas.

Edward ergueu o olhar, encontrando o irmão no alto da escada. – Cara, você esqueceu só um detalhe. Eu nunca fui pai ou tio antes. Mas aí, isso não deveria ter acontecido mais cedo?

— Deveria. Mas, acontece que tivemos ir ao pediatra. E ela ficou tão tristinha pela Callie não está com ela lá, que eu tive de levá-la para um passeio. Mas isso você já sabe. Até falou com a gente pelo telefone.

— Eu sei. Mas, mano, ela vai ficar ligadona mais tarde. Quando a gente quiser dormir, ela vai querer ficar acordada. Isso não vai prestar.

— E pensa que eu não sei. Mas não quero obrigar ela ficar acordada agora. Ela está com sono, melhor deixá-la dormir.

— É tão estranho a gente ter de falar aos sussurros, não acha? – comentou Edward. – Eu vou tomar um banho já que não posso brincar com minha sobrinha. E aproveitar pra dá um telefonema pra Bella.

Edward desapareceu de vista, a caminho do próprio quarto. E Emmett voltou para o dele, para terminar de se vestir.

[...]

Estavam sentados no sofá da sala, jogando uma partida de vídeo game. Cada um com uma lata de cerveja do lado. Uma pizza pela metade, ainda na caixa, descansava sobre a mesinha de centro.

Edward vibrou alto demais, após passar de fase no jogo. Pulando do sofá com o joystick nas mãos. No mesmo instante, Emmett acertou o bumbum dele com o pé. Edward pulou pra frente ainda tentando descobrir o que tinha acontecido. O irmão se controlou para não cair na gargalhada e acordar a criança que dormia lá em cima.

— Pétala – disse apenas. E Edward olhou em direção as escadas.

— Isso foi demais – disse ele.

Cerca de vinte minutos mais tarde, Pétala acordou. Ela saiu da cama arrastando os pezinhos. Levando a ovelhinha embaixo do braço. As meias de algodão em seus pés silenciavam seus passos no corredor.

Ela desceu o primeiro lance de escada se apoiando na lateral de vidro e se sentou no chão, encostando a cabecinha no vidro. De onde estava podia vê-los de costas. Ouvindo perfeitamente o que diziam. Na verdade, reclamavam aos sussurros o tempo todo sobre o jogo.

— Papai... – ela chamou. Sua voz ainda sonolenta. Meio chorosa, também.

Os dois olharam pra trás no mesmo instante, pra escada, seguindo o som de sua voz. Sorrisos amáveis estampavam seus rostos de traços fortes. Quando antes tudo o que os alegravam eram farra e mulheres bonitas.

— Ela já acordou – disparou Edward em voz alta, como que estivesse esperando por isso há horas. – Ela acordou – repetiu com alegria.

— Acordou papai? – Emmett falou com ela.

Pétala estendeu os bracinhos, mostrando aos dois que queria colo.

Antes que Emmett pudesse tomar qualquer iniciativa, o irmão disparou para perto de sua filha. Ele permaneceu sentado, olhando sobre o encosto do sofá, Edward subir um lance de escada de madeira de lei e alcançar sua filha. Pegando a menininha preguiçosa no colo.

— Que preguiça é essa titio? – Edward comentou com ela.

Pétala passou os braços em volta do pescoço dele dizendo:

— Eu quero leite com chocolate no copinho.

O tio se pôs a descer os degraus com ela no colo.

— Ei, irmão, ela quer leite com chocolate. E no copinho.

— Eu vou lá preparar – Emmett se levantou, desistindo completamente do jogo. Atravessou o espaço que separava os cômodos bem no momento que o irmão sentava no sofá com Pétala no colo.

Foi apenas questão de segundos para que a tevê estivesse sintonizada no canal infantil outra vez.

Emmett deixou cair na bancada um pouco de achocolatado em pó durante o preparo do leite pra filha. Deixando ali para limpar depois. Pôs a mistura no copinho de treinamento cor-de-rosa que ela gostava. E que ela mesma tinha escolhido na loja.

Quando se aproximou com o copo na mão, Pétala trocou o colo do tio pelo dele.

Pelos próximos minutos ela se distraiu tomando o leite com chocolate, de olho no desenho da Moranguinho que aparecia na tela gigante da tevê da sala.

— Preciso que cuide dela pra mim amanhã – Emmett comentou, depois de um tempo. – Marquei um jantar com Rose. A garota da farmácia.

Edward virou o rosto para o lado que o irmão estava. Sua expressão dizia claramente “eu sabia”.

— Encontrei com ela no Shopping hoje. Estava com os sobrinhos. Gêmeos, de seis anos. Uns espoletas. Você precisava ver, eles eram terríveis. Fiquei até assustado.

— Cara, isso sim que é sorte. Já é a segunda vez que você encontra com essa garota por acaso. Se eu acreditasse, diria que é o destino conspirando. Só que tirando os moleques do pacote, claro.

— E você e Bella? Não estava ao telefone com ela agora a pouco?

— Sim, estava. Acontece que só nos encontramos naquele dia mesmo. Mas já está tudo combinado para o fim de semana. Sexta à noite, melhor dizendo. Já estou ficando ansioso.

— Vai ficar com Pétala amanhã à noite? – insistiu.

Pétala deu risadinha olhando a tevê, fazendo com que os dois olhassem pra ela um instante e quisessem rir também.

E então Edward acertou um tapa no ombro de Emmett. – Não se preocupe. Pode ir se encontrar com essa Rose. Eu cuido da pequena.

— Então eu vou telefonar pra ela. Pra gente combinar um horário. – Ele abaixou a cabeça, olhando no rostinho de Pétala. – Fique aqui vendo desenho com o titio que o papai vai fazer uma ligação.

— Acabou – ela disse, mostrando o copinho vazio pra ele.

— Tudo bem. Você vai querer mais?

— Não.

— Não?

— Não – ela repetiu, sorrindo pra ele. – Obrigada, papai.

— Por nada. Fique aqui com seu titio, eu já volto.

Emmett a pôs no sofá. E então se afastou levando o copinho vazio e o celular pra cozinha.

Ligou no número dela, que ficou registrado na primeira vez que se falaram. Rosalie atendeu no terceiro toque. Emmett ficou imaginando se ela estaria esperando sua ligação com ansiedade. Gostou muito de pensar que estivesse. Isso fazia com que se sentisse seguro. Confortável.

Por todo o tempo que esteve falando ao telefone com Rose, ambos ouviram as risadinhas de Pétala assistindo desenho animado. Algumas vezes a risada de Edward acompanhava a dela com uma diferença gritante de sonoridade.

Rosalie ficou surpresa por ela ainda está acordada àquela hora da noite. Já passava das dez. Emmett explicou que ela tinha dormido por várias horas desde que tinham deixado o shopping naquele fim de tarde.

Ela sorriu, desejando para os dois boa-sorte. E mandou um beijo pra Pétala antes de desligar.

Tinham combinado de ele ir buscá-la na casa dela na noite seguinte. Obviamente ela lhe passara todas as informações necessárias de como chegar lá.

— Tudo certo – Emmett avisou ao irmão, de volta à sala. – Amanhã à noite irei buscá-la na casa dela. Fica um pouquinho longe daqui, mas não importa.

Edward assentiu, olhando muito rápido pra Emmett. Ele e Pétala estavam agora montando um castelo de lego no tapete branco da sala. Emmett se juntou a eles. E os três juntos montaram o maior castelo que as peças permitiram.

Como Edward tinha mencionado ao chegar do trabalho, Pétala agora estava a todo vapor. O sono parecia algo distante. Ela os fez dançar junto com ela as canções do DVD da Galinha Pintadinha. Brincaram de pular. De correr e até de boneca.

Bem mais tarde, quase duas da manhã, ela desmoronou de sono em cima dos brinquedos.

O pai e o tio estavam esgotados. Largados no chão, em lados oposto da sala. Sem coragem nem pra levantar.

— Você a leva pra cama – Emmett pediu.

— Você leva – o irmão se esquivou. – Afinal, a filha é sua.

— Na hora de deixá-la fazer o que quer você não reclama nenhum pouco.

— Eu avisei que ela iria ficar ligadona, não avisei. Agora vê se não deixa mais ela voltar a dormir naquele mesmo horário outro dia.

— Está certo. A culpa foi toda minha. – Emmett se levantou com dificuldade. – Nem depois da academia me sinto tão esgotado – comentou. E pegou a filha adormecida nos braços. Seu corpo pequeno era pra ele como uma pluma, não pesava nada. Subiu as escadas com ela facilmente, ainda que reclamasse de estar exausto.

Pétala deixou cair da boca o polegar. Os lábios permanecendo entreabertos, com um filete de baba no canto. Tão vulnerável. Tão pequena. Porém tão amada.

É estranho como as coisas podem mudar muito rápido. Num dia, ele era um solteiro curtindo a vida. No outro, um pai dedicado e responsável. Emmett tinha certeza que, ainda que de um jeito bagunçado, eles haviam se tornado uma família.

[...]

Foi Emmett quem ficou com ela no dia seguinte. Durante todo o dia eles estiveram no apartamento. Com exceção dos poucos minutos que desceu com ela para ir à pracinha a uma quadra do edifício. Retornando às pressas por causa de uma garoa fina que os pegou de surpresa. Fazendo com que a temperatura despencasse alguns graus.

O apartamento estava uma bagunça, havia brinquedos por todos os cantos. Potinhos de Danoninho vazios sobre o balcão da cozinha e até mesmo na mesinha do telefone fixo. Emmett tinha encontrado um embaixo da almofada do sofá.

Na área de serviço, pilhas e mais pilhas de roupas a serem lavadas. A faxineira não tinha aparecido desde a chegada de Pétala ao apartamento. O que tornava a bagunça que os dois já faziam ainda pior. Dois solteiros vivendo no mesmo apartamento a desordem já é meio que natural. Agora, com uma criança inclusa, sem dúvida havia ficado ainda pior.

Foi por isso que, enquanto Pétala brincava com suas bonecas na sala de estar, Emmett esteve ocupado catando todas as embalagens de comidas vazias e pondo-as no lixo.

Por isso não viu quando aconteceu. Quando percebeu já foi o choro estridente da filha revelando que havia se machucado.

Sem ele perceber, Pétala havia subido o primeiro lance de escada, errando na pisada em algum momento. E então ela caiu no degrau de madeira batendo com o queixo no degrau mais acima.

Emmett largou tudo que estava fazendo indo encontrá-la às pressas. Pétala chorava muito e mantinha a mãozinha no queixo o tempo todo como que assim aliviasse a dor. Emmett moveu sua mão pequena para poder ver a gravidade do machucado. Havia um pequeno corte e um filete de sangue escorria na pele alva do queixo dela e sujara a mãozinha.

Ele desceu os degraus que havia subido, voltando pra cozinha muito rápido com Pétala nos braços. Todo aquele choro o deixava ainda mais nervoso. Num gesto rápido, abriu a geladeira recolhendo um punhado de gelo. Atirou tudo dentro da pia.

Sentou ela na bancada ao lado. Reconhecendo em seu rosto sinais de dor e medo.

— Já vai passar – falou com ela. Suas mãos estavam tremendo quando as encostou ao rosto da filha.

— Papai... – ela choramingou.

— Fique quietinha, o papai vai pegar o estojo de primeiros socorros no banheiro – ele afagou os bracinhos dela, apressado. – Eu já volto. Não se mexa.

Num instante estava correndo ao banheiro social onde se lembrava de ter visto pela última vez o estojo de primeiros socorros. Revirou todas as gavetas em tempo recorde, derrubando tudo no chão. Não encontrou nada. E não fazia ideia de onde o irmão poderia ter guardado. Voltou à cozinha correndo. Pétala ainda chorava.

— O papai não encontrou – disse. – Mas irei usar o gelo. – Ele estava de frente pra ela outra vez, agitado.

— Tem sangue... – Pétala soluçou assustada, olhando na palma da mãozinha o vermelho de seu sangue.

Emmett segurou na mãozinha dela. – É só um pouquinho. O papai já vai cuidar disso.

— A mamãe... Quero a mamãe. Mamãe Callie.

— O papai está tentando filhinha.

Ele imediatamente umedeceu um paninho de cozinha embaixo da torneira. E quando encostou, ainda que muito devagar, no queixo dela, Pétala chorou ainda mais alto. De repente começou se perguntar se os vizinhos no andar de baixo estariam ouvindo. E o que poderiam estar imaginando. Será que pensariam que estava espancando a própria filha? Não gostou nada desse pensamento. E se esforçou para não voltar a pensar nisso.

Dedicou-se a limpar o queixo dela, com todo cuidado possível. Depois fez uma compressa de gelo e pediu que segurasse junto ao queixo, enquanto procurava as chaves do carro.

Iria com ela a farmácia em busca de uns curativos e qualquer coisa que pudesse ser usada no ferimento para evitar uma inflamação.

Ele voltou à cozinha correndo e pegou ela no colo outra vez. Num instante, estavam descendo de elevador até a garagem. Desativou o alarme do carro ainda enquanto se aproximava. Ajeitou Pétala na cadeirinha, no banco de trás. E seguiu para a farmácia mais próxima. Que, por acaso, era a do irmão de Rosalie.

Pétala tinha parado de chorar, porém seu rosto ainda estava marcado pelas lágrimas. O queixo inchado. E ao redor do ferimento, um arroxeado recente.

Ao entrar na farmácia com Pétala no colo, desejou muito que Rosalie estivesse ali. Seria bom um pouco de apoio. E uma presença feminina que garantisse a sua filha que o dodói iria sarar logo. Porque ele sabia, Pétala queria muito que Callie estivesse ali. E, assim como Callie, para seu desgosto, Rosalie também não estava.

O irmão dela se encontrava nos fundos do estabelecimento, com um jaleco branco, sentado num banco alto, atrás do balcão de medicamentos. Logo ali ao lado de onde estava havia uma porta fechada. Atrás dele outras duas estavam abertas. E lá na frente, a mesma moça do outro dia atendia no caixa.

Uma senhora de cabelos tingidos de louro deixava a farmácia com um enorme guarda-chuva.

Quando desceu do carro, ele tinha dado um jeito de pôr seu casaco preto sobre Pétala para protegê-la da chuva que caía. Agora o casaco estava pendurado no ombro dele, molhado.

Depois de ele explicar ao irmão de Rosalie o que tinha acontecido no apartamento com a filha, e dizer o que precisava, Jasper achou melhor limpar novamente o machucado com o produto adequado e fazer um curativo.

Emmett acabou descobrindo que a porta fechada escondia um pequeno consultório. Não se surpreendeu nenhum pouco quando Pétala voltou a chorar.

Jasper pediu que ele se sentasse na cadeira com a filha. E foi muito cuidadoso ao limpar o ferimento no queixo dela. Passar um remedinho e pôr um band-aid da Doutora Brinquedos.

Pétala parou de chorar assim que ele disse pra ela qual seria seu curativo. Então Jasper pegou um pequeno espelho e segurou de frente para ela.

A garotinha se pegou admirando o curativo. E quando ela virou, olhando no rosto do pai, tinha uma expressão de contentamento e satisfação.

— Que legal papai – Emmett falou com ela. E ao se dirigir a Jasper disse: – Você a fez ganhar o dia com esse curativo da Doutora Brinquedos. Ela adora a Doutora.

— As crianças adoram esses curativos que representam seus desenhos animados favoritos. Mas dessa vez foi na sorte que acertei.

Emmett ficou de pé novamente com Pétala no colo.

— Só tenha mais cuidado com a escada – Jasper orientou, quando deixavam o pequeno consultório. – Foi um machucado pequeno, mas poderia ter sido algo mais sério. Não queremos essa princesa numa emergência de hospital, não é verdade?!

Emmett beijou no rosto da filha, com culpa. – Nem quero pensar nisso. Estou sempre de olho nela. Foi apenas um segundo.

— Crianças são imprevisíveis. Num minuto estamos com elas ao alcance de nossos olhos, no outro, não. Sou pai de gêmeos, de seis anos. Se você soubesse o que eles aprontam em casa. E o que minha esposa e eu já tivemos de passar por causa deles.

Foi então que Emmett se lembrou dos sobrinhos de Rosalie. Os garotinhos de cabelos louros e cacheados, brincando na área de recreação do Shopping. Eles eram mesmo terríveis.

Emmett agradeceu e se encaminhou com a filha ao caixa onde a moça já tinha registrado o novo estojo de primeiros socorros que comprou. Incluindo os vários band-aid com temas infantis.

[...]

— Cara, eu não acredito que deixou ela se machucar – Edward estava resmungando pela terceira vez. Ele tinha chegado do trabalho há trinta minutos e ainda não tinha se conformado com a queda da sobrinha na escada.

Pétala estava no colo dele, no sofá da sala. A tevê como sempre sintonizada no canal infantil.

Emmett se encontrava atrás do sofá, segurando alguns brinquedos que tinha acabado de recolher. Parando para olhar o irmão, incomodado.

— Eu não deixei acontecer. Foi um acidente. Ela é minha filha, tá legal. Eu nunca permitiria que se machucasse se isso estivesse ao meu alcance.

— Eu sou o tio. Não fale como se eu não significasse nada.

— Você só é o tio porque antes disso eu sou o pai – Emmett respondeu, irritado por ter sido injustamente acusado de negligência pelo o irmão. E guardou os brinquedos dentro do cesto colorido que estava ao pé da escada.

— Você chorou muito, princesa? – ele ouviu Edward perguntar a menina.

— Chorei muito. Muito, muito, muito. Só que o papai ficou cuidando de mim – sua filhinha respondeu. E um meio sorriso marcou os lábios dele diante da resposta dela.

— Escada malvada. Mas não chore mais, não – O tio disse pra ela, logo depois. E lhe deu um beijo no rosto. – Tenha mais cuidado da próxima vez que subir as escadas.

— Escada malvada – ela repetiu, e tio deu risada.

Ela cutucou no queixo dele com as pontas dos dedinhos, depois voltou olhar para a tela de tevê gigante.

— Ainda vai sair com Rose?

Emmett estava a caminho da cozinha quando respondeu a pergunta do irmão.

— Sim. Não posso deixá-la na mão. Pétala está bem, foi um machucadinho. O próprio irmão de Rose me garantiu. Então acho que tudo bem eu ir.

— E ele é o quê?

— Ele é médico farmacêutico e pai de gêmeos. Olha, eu vou servir o jantar pra ela e depois ela vai dormir. Nem vai te dar trabalho.

O tio abraçou Pétala e ela virou o rostinho olhando pra ele, contente.

— Eu nem acho mais que seja trabalhoso cuidar dela – disse, sorrindo pra sobrinha.

— Que bom. Assim não me sentirei culpado sempre que precisar deixá-la com você.

Pétala soltou uma risadinha com qualquer coisa que tenha visto no desenho animado. Num instante, ela ficou de pé no sofá, cantando e dançando junto com os personagens do desenho A Casa do Mickey Mouse.

Mais tarde, depois de ter servido o jantar de Pétala, Emmett e Edward a puseram na cama com mais uma canção. Finalizando a noite com uma historinha.

Depois ele tomou um banho e se trocou para o encontro com Rosalie.

— Vê se não vai fazer barulho e acordá-la – avisou ao irmão, já se preparando para sair. – E muito menos chame algum casinho pra vir aqui essa noite. Não quero minha filha presenciando coisas inadequadas pra sua idade.

— Não vou chamar ninguém. Vou ficar de boa aqui assistindo tevê. Vou aproveitar que terei a telona só pra mim. Já que agora esses momentos se tornaram raros. Boa sorte com a Rose.

— Obrigado – a resposta veio quando Emmett fechava a porta.

No silêncio que ficou o apartamento, Edward se jogou no sofá, com o controle da tevê na mão. Mudando imediatamente do canal infantil para o de esportes.

[...]

Emmett levou alguns minutos para encontrar o endereço de Rosalie, seguindo as orientações do GPS.

A casa branca de dois andares, com janelas no estilo vitoriano, ficava coladinha a varias outras no mesmo estilo. A frente delas se estendia uma pequena escadaria. Na casa de Rosalie, as luzes lá dentro estavam todas acesas.

Ele reparou nas janelas da casa ainda de dentro do carro e ficou imaginando se ela o teria visto chegar.

A noite estava fria e nublada, embora a chuva que caíra a tarde tivesse passado.

Ele saiu do carro fechando a porta com cuidado para não chamar atenção dos vizinhos. Antes de subir a escadaria que o levaria à porta da frente da casa dela, esfregou as mãos uma na outra espantando o firo. A porta era quase toda em vidro. Trazendo um desenho decorativo que impedia quem estivesse do lado de fora ver o lado de dentro.

Ele esticou o braço para tocar a campainha. E ficou ali mexendo as pernas como estivesse ansioso demais. Ou apenas sentindo muito frio. Aguardou alguns instantes para tocar de novo.

Lá dentro, Rosalie descia as escadas que ficava ao lado da parede enfeitada por quadros com fotos da família.

— Já estou indo – anunciou em voz alta, apressando-se até a porta.

Emmett ouviu sua voz, ainda que abafada pelas paredes. Sentiu-se ansioso. E começou a pensar o que estaria acontecendo a ele para se sentir desse jeito em se tratando dela.

A porta foi aberta, e Emmett por pouco não perdeu o ar. Ela usava um vestido vermelho, com meia-calça grossa preta e sapatos de salto alto. Pendurado em seu braço estava o sobretudo grafite. A bolsa preta, na mão. Seus cabelos dourados, bem escovados, brilhavam sedosos sobre os ombros feito uma cascata de ouro.

— Você está linda – disse, por fim.

Ela pendurou a alça prateada da bolsa no ombro.

— Obrigada. Espero não ter demorado tanto, porque que está frio aqui fora.

— Não se preocupe. Você não demorou nada.

Rosalie apagou as luzes da sala e fechou a porta ao sair.

Eles desciam a escadaria na frente da casa, quando Emmett decidiu questionar.

— Mora sozinha?

Rose olhou para o lado buscando o olhar dele. – Na verdade, não. Moro com meus pais. Acontece que eles estão viajando. Acho que essa deve ser a quinta lua de mel dos dois. Mesmo depois de anos juntos, continuam os mesmos apaixonados.

Emmett anuiu. E passou à frente dela para abrir a porta do carro.

— Obrigada – a resposta veio ainda enquanto ela se acomodava no banco do carona.

Emmett fechou a porta com o mesmo cuidado de quando chegou ali. Deu a volta por trás do veículo e se acomodou no assento do motorista.

— Como está a Pétala? – Rose pediu.

— Hoje ela caiu na escada e machucou o queixo.

— Coitadinha. Foi grave?

— Por sorte, não. Foi um corte superficial. Mas ela chorou muito por causa da dor e do susto que tomou ao cair. Ela queria que a mãe estivesse lá para cuidar dela. E eu me sinto péssimo, porque não quero que sofra.

— Eu sei que é difícil. Mas você precisa tomar mais cuidado com ela e a escada.

— Foi o que seu irmão me disse.

— Onde você o encontrou? Na farmácia?

— Sim. Eu precisei de um estojo novo de primeiros socorros porque não encontrei o que tínhamos em casa. Seu irmão cuidou do machucado dela. Lembrando que eu tinha feito isso no apartamento antes de sair, só não tinha os curativos e os remédios. Mas eu limpei com água limpa e pus gelo. Ele pôs um curativo da Doutora Brinquedos e ela ficou toda contente.

— Que bom que tudo acabou bem.

— Nem me fale. Foi um baita susto.

[...]

Eles jantaram num restaurante no centro da cidade. O ambiente aconchegante. O jantar foi agradável e descontraído. A comida era excelente. E o vinho, o melhor da casa. Emmett escolhera a dedo para agradar o paladar de Rosalie.

Depois de deixarem o restaurante, deram uma volta pelo centro. Ambos devidamente agasalhados para suportar aquela noite fria de outono nas ruas de São Francisco.

Enquanto caminhavam, com a ponte Golden Gate iluminada ao longe, ele segurou na mão dela. Rosalie parou ao toque da mão dele na sua. Virou-se de frente para ele. E ficaram se olhando por alguns instantes. A brisa gelada soprou os cabelos dela no rosto, e Emmett os afastou com a mão num gesto lento e cuidadoso.

Involuntariamente, Rosalie inclinou o corpo na direção do dele. Não fossem os saltos de seus sapatos, teria ficado nas pontas dos pés. Seus lábios roçaram um no outro bem de leve antecedendo o contato mais prolongado. O beijo foi intenso. Nada comparado a outros beijos que ele experimentara ao longo de sua vida adulta.

Seus lábios se afastaram na esperança de um novo contato. Emmett beijou no canto dos lábios dela. Na bochecha e também nos olhos. E novamente abocanhou os lábios dela com desejo voraz.

Caminhando pelo centro, encontraram um grupo de artistas de rua que tocavam músicas de Elvis Presley na calçada. Acabaram parando para apreciar.

Emmett riu quando ela começou mexer o corpo no ritmo da música. Mas não recusou quando ela pegou em suas mãos e o fez dançar com ela. Rodeado de pessoas desconhecidas. Na noite fria.

Sentiram-se bobos. Riram um do outro. Arrancando risos das demais pessoas que ali estavam.

E então, por mais que ele quisesse prolongar, chegou o momento de levá-la de volta pra casa.

Ele tinha estacionado o carro em frente à casa dela fazia poucos minutos. Estavam no final de um beijo agora.

— Adorei sair com você essa noite – disse ele, logo depois. E sua mão grande acariciou a nuca de Rosalie.

— Confesso que também gostei muito – Rose admitiu. – Você é uma ótima companhia. E beija muito bem, por sinal – brincou.

Emmett abriu um sorriso de covinhas e, no instante seguinte, seus lábios estavam devorando os dela outra vez.

Quando Rosalie saiu do carro, ele a acompanhou até a porta da frente. E ficaram de frente um para o outro.

— Obrigada, Emmett. Foi uma noite maravilhosa. Eu me diverti muito.

— Vamos repetir?

— Com toda certeza. Quero muito sair com você outra vez.

— Eu te ligo – disse ele. E beijou na têmpora direita dela antes de se afastar.

Rosalie retirou as chaves da bolsa e pôs a correta na fechadura. Num instante, a porta estava aberta.

— Mande um beijinho meu pra Pétala – pediu, vendo ele se aproximar novamente do carro.

— Pode deixar – respondeu por detrás da porta aberta do veículo. – Ela vai ficar muito contente.

Rosalie acenou pra ele. E ele ficou aguardando até que ela fechasse a porta e as luzes fossem acesas do lado de dentro.

[...]

Chegando ao apartamento, encontrou Edward roncando no sofá da sala. A tevê estava ligada no noticiário.

O barulho na porta fez com que Edward acordasse. Ele olhou o irmão como tivesse tomado um susto. Os cabelos estavam bagunçados e os olhos, miúdos.

— Já voltou? – perguntou surpreso. – Que horas são agora?

Emmett olhou no visor do celular.

— Duas e quarenta e cinco da manhã – disse.

— Pensei que fosse ficar com ela a noite toda. Algo não saiu como esperava?

— Com ela é diferente. Rose não é mulher para uma só noite. Quero ficar com ela pra valer.

— Você quer dizer, namorar firme com ela? Ficar com uma só mulher para o resto da vida? – e então ele se levantou do sofá, com as roupas amarotadas e os cabelos terrivelmente bagunçados. Passando a mão no rosto antes de voltar a falar: – Cara, você está mesmo mudado.

— E a garota que conheceu no jogo de baseball? Não vai me dizer que não está interessado nela.

— Eu sempre estou interessado quando o negocio é mulher. Mas, você pode sim ter razão. Aquela garota tem os olhos mais lindos que já vi. Eles me enfeitiçam. Sexta-feira à noite descobrirei o que realmente quero. Se for mesmo aquela garota dos olhos chocolate, não deixarei escapar.

Emmett anuiu. E seguiu rumo às escadas.

— E Pétala? – Ele parou com o pé no primeiro degrau de madeira de lei.

— Está dormindo desde que você saiu. Sério, foi como se eu estivesse sozinho. Só subi lá pra ver se estava tudo bem. Nem fiz barulho, nem nada. Ela está dormindo feito um anjo. Até tinha me esquecido da babá eletrônica.

— Obrigado, mano. Você tem sido de uma ajuda e tanto.

— Não precisa agradecer. Eu amo aquela garotinha. Ela é nossa mascote. Nossa Pequena Dama.

— Ainda assim, obrigado por me ajudar com ela hoje.

— Está certo. Agora eu vou pra minha cama. Porque o sofá é confortável, mas nada como minha cama. Lá é quase o paraíso. – E ele se retirou da sala, coçando as costas enquanto caminhava.

Emmett subiu os dois lances de escada. Entrou no quarto sem fazer barulho. Deu uma olhadinha em Pétala dormindo em sua cama; as perninhas esparramadas, o polegar direito na boca e a ovelhinha ao lado do corpo. Ajeitou o cobertor pesado a fim de mantê-la aquecida e foi ao banheiro tomar um banho. Pensando no como as coisas estavam mudando tão depressa para ele e também para o irmão.

 


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Notas finais do capítulo

Aguardo por vocês nos comentários ;)
Beijo, beijo
Sill