Underneath darkened skies escrita por Srta Who


Capítulo 5
Fantasmas de Carne e Osso




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/695255/chapter/5

“Durante os anos que passou em Tatooine ao lado de Luke Skywalker, Ben Kenobi recebeu algumas visitas inusitadas em sua inóspita morada, mas entre elas destaca-se uma em especial, que apareceu no dia em que Luke completou seis anos de idade. ”

—Luke. Acorda, Luke. – Chamou Ben balançando o menino numa, até então malsucedida, tentativa de acordá-lo.

—Hmmm... – Ele murmurou abrindo os olhos e sentindo uma imensa vontade de fecha-los novamente. – Os capangas do Jabba voltaram? – Ele resmungou. Kenobi deu uma risadinha, lembrando da história que contara a Luke sobre o que aconteceu na última seca.

—Eles não se atreveriam. – Respondeu Ben sorrindo para o garoto sonolento.

—Então o que foi? – Luke perguntou sentando na cama e coçando os olhos. Definitivamente ele era um garotinho adorável. Começou a treinar no ano passado, então seu cabelo fora cortado e adicionada a tradicional trança de padawan. O homem fitou o garoto por alguns momentos, era mais que obvia, a semelhança de Luke com Anakin era gritante, ainda mais depois que seu treinamento começou, ambos aprendiam extraordinariamente rápido, sem falar na personalidade. E era isso que mais preocupava Kenobi.

—Hoje é seu aniversário. – Ele disse animadamente.

—Eu sei.

—Ano passado você estava mais animado. Não parou de falar nisso durante semanas.

—Eu estava animado para começar meu treinamento.

—E não está mais animado?

—Estou com sono. – Ele resmungou.

—Treine sua mente para resistir a ele. – Provocou Kenobi.

—Pai! – Ele reclamou. “Pai” Ben pensou. Aquelas três letras saiam constantemente da boca do garoto desde que ele tinha um ano de vida. Com o tempo o jedi apenas se acostumou com a palavra sendo dirigida a ele, mas nesse dia não, nunca nesse dia, nunca aniversário da morte de Anakin e Padmé. Nesse dia sua alma pesava ouvindo-o chama-lo de pai. E pesava da forma como a alma de um jedi jamais deveria pesar.

—Luke.

—Sim?

—Você sabe, não sabe?

—Sei o que? – Perguntou o menino depois de um longo bocejo.

—Que eu não sou seu pai. Que seu pai...

—Meu pai era Anakin Skywalker, um grande jedi, que morreu no dia em que eu nasci. Ele era seu melhor amigo, e quando minha mãe morreu, pouco tempo depois, você cuidou de mim. Você me conta essa história desde que eu me entendo por gente.

—Eu só não quero...

—Roubar o lugar dele, eu sei. Temos essa conversa todos os anos. – Ben deu um pequeno sorriso sentindo-se extremamente bobo. O sorriso logo foi substituído por um olhar melancólico em direção a Luke. Ele lembrava muito Anakin.

—Eu amava muito o seu pai e sua mãe, eu nunca roubaria o lugar deles. – Disse mais para si mesmo do que para o menino a sua frente. –Amava eles, tanto quanto amo você. – Completou apertando o nariz do jovem padawan. – Agora levanta, temos trabalho na fazenda e depois um treinamento.

—Só mais cinco minutinhos, pai. – Ele resmungou.

—Nem mais um segundo. – Kenobi o pegou no colo arrancando-o da cama sob o som das risadas do menino. Aquela era só mais uma manhã na vida do jovem Skywalker e do já não tão jovem assim Kenobi. Uma manhã normal que levaria a um dia nem tão normal assim.

...

—Essa foi por pouco! – Exclamou a mulher sentindo o suor descer por sua testa. A jedi havia acabado de desviar de um tiro que seria fatal a pequena nave que ela havia roubado em sua fuga. – R4, quais são os planetas menos perigosos mais próximos? – R4 deu alguns bips e logo após apresentou a mulher uma imagem holográfica de um planeta onde ela havia estado apenas uma ou duas vezes, mas que ainda assim era inconfundível aos olhos da jedi.

—Há alguma outra opção? – A resposta veio ríspida em forma de ‘bips’ característicos dos astromecanicos.

“Não”

—Pois bem. – Ela disse engolindo seco. – Ajustar o rumo para Tatooine. E que a força esteja conosco. – Ouvir o droid ajustando as coordenadas para aquele planeta lhe causava calafrios, por todo o corpo. Ela temia o que encontraria lá, pelo que lembrava o lugar era controlado por Jabba o Hutt, com quem havia se encontrado quando salvou seu filho das garras de Ziro.

            Fora a sensação estranha que a ideia de ir lá lhe causava. A força era nublada naquelas redondezas, algum segredo terrível escondia-se naquele planeta seco, um segredo que ela não estava nem um pouco animada para descobrir.

...

—Essa foi por pouco. – Riu Ben observando o garoto que tinha visão tapada por um capacete tentado desviar com seu sabre de luz os tiros que os três robozinhos a sua frente lançavam.

—Por pouco? Isso é muito difícil! – Exclamou o garoto jogando o capacete para o lado.

—Essa, meu jovem padawan. – Kenobi aproximou-se do capacete jogado na areia e limpou-o com as mangas amareladas de sua velha túnica e entregou-o a um frustrado Luke. – É a diferença entre a vida e a morte num campo de batalha. Sinta a força fluir por você.

—Eu sinto, mas ainda é difícil. – O jedi ajoelhou-se em frente ao menino e olhou-o nos olhos.

—Consegue sentir?

—O que?

—Feche os olhos e sinta, sei que é difícil com tudo sendo consumido pelo lado negro, mas tente sentir a areia ao seu redor, os infinitos grãos que cobrem o planeta, sinta o calor dos sois, a vida que queima dentro das flores que sobrevivem a esse clima inóspito. Sinta a força dentro de você espalhar-se e misturar-se com toda a força viva que pulsa nesse planeta. Sinta, Luke, sinta. – O padawan não querendo decepcionar seu mestre fechou os olhos e tentou fazer o que ele lhe pedia. No começo Luke não sentiu absolutamente nada, ele respirou fundo e então sentiu um formigamento percorrer seu corpo, que relaxou diante da sensação. E lentamente a força dentro do garoto começou a se expandir e entrar em contato, primeiro com a areia, depois com o céu, as flores, os animais e por último com seu mestre.   

Mas assim que sua força tocou Kenobi, e a mente de Luke escureceu, quando “a luz” voltou ele estava no quarto de Ben, o garoto já havia ido lá algumas vezes, era bem simples, havia apenas uma cama, um baú para roupas e uma caixa de madeira escura entalhada com formas que lembravam losangos, na qual ele estava terminantemente proibido de tocar, e claro, ele morria de curiosidade para saber o que havia lá dentro, mas nunca desobedeceria seu mestre, não tinha, e talvez nunca tivesse, coragem o bastante para trair sua confiança.

            Ben sentiu seu peito se encher de alegria vendo Luke tentar conectar-se com toda a força do lugar. Para ele ensinar sempre fora a mais nobre entre as funções de um jedi, o corpo definha até a morte, as habilidades lentamente são perdidas e as memorias enfraquecem com os anos, mas o conhecimento que repassamos prevalece, mostrando-se obstinado diante da prova do tempo. “A capacidade de ensinar é a dádiva do ser, e a mente de uma criança, tão liberta de malícias e apta a aprender é dadiva do universo. ” O jedi pensou. Foi então que seu padawan, que antes apresentava uma expressão serena apertou as pálpebras e cerrou os punhos como se estivesse sentindo dor, o sorriso, o sorriso singelo carregado por Kenobi se desfez e a felicidade que antes sentia foi substituída por preocupação.

—Luke. – Ele chamou. – Você está bem? – Não houve resposta. Será que estava tendo uma visão? Elas podem ser bem cansativas para os mais jovens. –Luke, pode abrir os olhos. É o bastante por hoje. – Ele tocou o ombro do garoto. – É o bastante. – Ele repetiu. O rapaz imediatamente acordou, e estava exausto mentalmente. Ele sentiu tudo girar, seu estomago embrulhou e suas pernas cambalearam teria caído no chão se Kenobi não tivesse o segurado. – Acho que deveria ter lhe dado os cinco minutos a mais. – Brincou o mais velho.

—Dá próxima vez escute o que seu padawan diz. – Respondeu Luke um pouco ofegante, mas sorrindo com a piada. Algum dia ele ainda faria Ben confessar sobre como ele conseguia fazer todos rirem por pior que fosse a situação.

—Aqui. – Ele disse entregando um cantil com água nas mãos de Luke que bebeu metade de seu conteúdo de uma vez. O garoto estava pálido.

—Obrigado.

—O que aconteceu? – Ele perguntou depois que a cor voltou ao rosto de Luke que estava sentado no chão já há alguns minutos.

—Eu... eu não sei.

—Visões podem ser bem desgastantes para mentes mais jovens. Teve uma visão?  

—Não, não foi uma visão, senti como se eu fosse tudo ao redor, até mesmo você, e de repente vi a imagem daquela caixa do seu quarto em minha mente, e uma voz vinda dentro dela chamou meu nome, enquanto outra gritava ‘você era meu irmão, eu amei você’, a voz gritava muito alto, e parecia sofrida. Meu corpo começou a doer, e então abri os olhos.

—A.... a voz, como ela era? Era um homem?

—Você vai achar que estou delirando.

—Diga.

—A voz... ela era sua. Quer dizer, ao menos, era uma voz bem parecida. - Naquele momento Ben entendeu. “Como pude ser tão idiota? ” Ele se perguntou mentalmente. “Como pude achar que manter o sabre de luz de Anakin tão próximo a seu filho seria uma boa ideia? Devia ter previsto que algo assim aconteceria”

—Algo errado, mestre? – O garoto perguntou ao ver o homem mais velho com uma expressão fixa encarando o nada.

—Não, estava apenas pensando. – Ele respondeu sem olhar para Luke. – Vamos para casa, vou fazer o jantar, você deve estar faminto depois de tudo isso. Consegue andar?

—Consigo. – Luke disse ficando de pé. Os sois que o planeta orbitava se punham, o que deixava tudo num tom amarelo alaranjado melancólico enquanto mestre e aprendiz rumavam em direção à solitária morada que perdia-se em meio a seus únicos vizinhos num raio de quilômetros, os grãos de areia do mar duna.

O memento silencioso na volta para casa era sempre uma constante, o aprendiz pensava no que havia feito de errado e como poderia melhorar, já o mestre quase sempre pensava na lição do dia seguinte. Mas nesse fim de tarde foi diferente, a curiosidade de Luke estava atiçada sobre o que acontecera, e Ben preocupado sobre como poderia esconder o último pedaço de Anakin longe da visão e da percepção de seu sagaz padawan.

            Ao chegarem em casa Ben mandou Luke descansar enquanto ele preparava o jantar, “chega de supressas por um dia”, ele disse ao garoto que o obedeceu, como sempre obedecia. Luke entrou em seu quarto sentindo suas pernas tremerem um pouco, ele imediatamente se jogou na cama.

            O rapaz apertou os olhos, o que o fez se sentir melhor por um momento, mas logo em seguida a ele lembrou da tal caixa, o que quer que houvesse lá dentro era nublado pela força, e só se aproximar da cortina de nevoa o fazia se sentir tonto.

            Enquanto preparava a sopa Ben conseguia desviar os pensamentos do sabre luz guardado em seu quarto. Presa naquela caixa de madeira marrom estava seu passado, estavam os dois irmãos mortos. Ele já perdera as contas de quantas vezes acordou no meio da madrugada e o libertou de sua frágil prisão, de quantas vezes o segurara, sentindo o frio fúnebre do metal gelar sua alma. Em algumas noites, talvez as mais tristes, Ben quase podia se sentir como Obi-Wan mais uma vez, e nessas noites ele podia sentir o espirito de Anakin fluindo por aquela arma, como se ele ainda estivesse vivo, como se aquela bestialidade não tivesse o matado, como se todo aquele sofrimento não passasse de um delírio, mas no fim a noite sempre acabava, e a realidade batia sua porta.

Mas esses devaneios não ajudariam em nada a questão agora era, o que fazer com o sabre de luz? Jogar fora não era nem de longe uma opção, no momento certo, ele pertenceria a Luke, enterrar talvez. Sim enterrar era uma boa ideia. Tocar naquilo faria Luke sentir tudo o que seu pai sentiu principalmente nos extremos de dor e alegria, e absorver tais memorias muito jovem... isso poderia destruí-lo por dentro, ou pior, poderiam leva-lo para o lado negro, e Ben não permitiria isso, não permitiria que outro aprendiz seu fosse seduzido e depois morto pelo pelas trevas que envolvem os sith desde tempos imemoriáveis, isso está fora de cogitação.

—Pai? - Ben foi tirado de seus pensamentos pela voz de Luke que atravessava a sala chamando-o.

—Você deveria estar descansando.

—Eu estava, até ouvir alguém batendo a porta.

—A porta?

—Não ouviu?

—Estava pensando. – Ele respondeu com um sorriso amarelo. –Vá para o seu quarto, não recebemos visitas frequentemente, e a essa hora... pode ser perigoso.

—É só a porta, quem poderia ser? O imperador? – Kenobi sentiu uma corrente elétrica gelada percorrer sua espinha, ele imediatamente afastou-se do balcão da cozinha e andou rapidamente até a porta.

— Não se preocupe, eu atendo. – O jedi usou a força para que seu sabre de luz levitasse ao lado da porta, segurança em primeiro lugar. Ele estampou um sorriso cordial no rosto. – Boa noite, não recebemos muitas visitas aqui em que posso... – As palavras ficaram presas em sua garganta, ao dar de cara com aquele rosto, por um segundo ele não respirou, como se tivesse visto um fantasma, bem, talvez tivesse mesmo visto, não um fantasma de força, como era o caso de Qui-Gon, mas um fantasma vivo, um fantasma que andava, respirava e se assustava.

            Aqueles olhos azuis outrora tão vividos e brilhantes estavam trêmulos e amedrontados, talvez para os orbes azuis ele fosse o fantasma. Os lábios ressecados indicavam desidratação, “deve estar a horas sem água”, pensou Kenobi.

Por alguns segundos os dois fantasmas de carne e osso ficaram apenas ali, estáticos, se encarando, tentando encontrar em meio as marcas dos duros anos que se passaram alguma coisa, qualquer coisa que lembrasse vagamente quem um dia eles foram.

Nada, ao menos visualmente, não havia nada, suas expressões não eram as mesmas que tinham durante a guerra, ela parecia mais velha, muito mais velha do que de fato era, e ele aos olhos dela parecia ele outro homem, além dos cabelos brancos que despontavam aqui e ali, ele carregava orbes quase sem brilho, cansados, mas alertas.

—Ah-Ahsoka? – Ele gaguejou por fim, ainda não acreditando no que via.

—Mestre Kenobi. – Ela murmurou num misto de alegria e confusão.

—Ben, por favor, me chame de Ben. – Quando Kenobi pediu que ela o chamasse por outro nome foi mais que uma surpresa, foi um soco no estomago. “Ele está tentando se esconder, e eu acabo de estragar seu disfarce, parabéns, Ahsoka, parabéns”

—Me desculpe.

—Desculpar? – O homem a sua frente arqueou uma sobrancelha.

—Eu não sabia que você estava aqui. Senti uma presença confiável, mas não sabia que era você, eu apenas segui o caminho que a força indicou, eu juro que não era minha intenção. – Ela falava rapidamente e olhava constantemente para os lados. Cometera um erro de padawan vindo até ele e isso a fazia se sentir como se ainda fosse uma.

—Ahsoka! Acalme-se. O que está acontecendo?

—Tem stormtroopers me perseguindo.

—Pai, quem está aí? – Perguntou Luke curioso. Ahsoka arregalou os olhos.

—Esse... esse é Anakin? Ele acabou de te chamar de pai?

—Quem é você? E como sabe o nome do meu pai biológico?

—Pai biológico?

—Luke, essa é Ahsoka, Ahsoka, esse é o filho de Anakin.

—Filho? Anakin teve um filho?!

—Entre, eu estava preparando o jantar, posso te explicar tudo o que aconteceu desde que você deixou a ordem.

—Desculpe, não temos tempo para isso. Mestre... Ben. – Ela corrigiu-se, pensando que se ele mudou de nome deve ser para garantir a segurança dele e provavelmente a do filho de seu mestre também. – Temos de sair daqui.

—Os stormtroopers nunca vão te achar no meio desse deserto, só uma pessoa com experiência ou com auxílio da força poderia chegar a um lugar tão isolado. E até onde eu sei as tropas imperiais não tem um dos dois a seu favor.

—Você não entende.

—Então explique.

—Zerege está com eles.

—Mestre Zerege sumiu antes das guerras clônicas.

—Ele não sumiu, ele foi para o lado negro, tornou-se aprendiz de Palpatine, e agora está atrás de mim, cabeças jedi valem muito lá fora. E até onde sei, Vader adoraria ter a minha. – O jedi engoliu seco, viera para esse deserto para evitar problemas, mas aparentemente os problemas o perseguem.

—Luke, pegue seu sabre de luz, e nossos mantos, temos de conseguir uma nave para Ahsoka.   

—A essa hora?   

—Há todo o tipo de piloto há poucas horas daqui, prepare o speeder, vou dar água a nossa visitante. – Algo naquela situação o assustava, quem era aquela mulher? Como ela sabia o nome de seu pai? Zerege? O que estava acontecendo? Porém sem conseguir formular uma frase que expresse sua confusão o garoto deu as costas e obedeceu seu pai e mestre. Ele sempre obedecia.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Underneath darkened skies" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.