Underneath darkened skies escrita por Srta Who


Capítulo 2
Um Pouco de Luz




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“Mestre Qui-Gon, por que aqui é tão frio?” Perguntou o jovem Obi-Wan, sentindo a neve, que cobria o chão do planeta Hactt até onde a vista alcançava e enterrava suas pernas quase até o joelho, congelar sua alma.

“Eles iluminam o planeta artificialmente, a estrela mãe desse lugar a muito se foi. E o povo que habita esse lugar é acostumado ao frio extremo” O padawan arqueou uma sobrancelha, sentindo a curiosidade de seus 13 anos ser aguçada.

“A estrela, ela morreu? ”

“Não há morte, Obi-Wan, há apenas a força. ”

—Não há morte, há apenas a força. - Repetiu mecanicamente Ben Kenobi, enquanto lançava um olhar melancólico à casa que habitaria com Luke, que dormia tranquilamente em seus braços, durante os próximos anos de sua vida, e talvez até sua morte.

—Há algo de errado com o lugar? – Uma voz perguntou ao seu lado. Em qualquer outro dia ele teria erguido seu sabre de luz, pois essa voz poderia vir de alguma ameaça, mas hoje não, hoje, Ben sabia de quem era aquela voz vinda do nada. –Que eu me lembre, você adorava ficar sozinho.

—Eu gosto de ficar sozinho, mestre, não de ser soterrado em areia. – Replicou com um pequeno sorriso no rosto sem desviar o olhar da casa e do quase infindável mar de dunas de areia que a cercava até onde a vista alcançava. – Eu não me preocuparia com sermos encontrados pelo império, tenho certeza que areia vai nos tragar bem antes disso.

—Vejo que mantém seu senso de humor meu jovem amigo.

—É tudo o que consegui manter de meu antigo eu. – Kenobi finalmente conseguiu tirar os olhos da casa triste e vazia a sua frente e olhar para Qui-Gon. Ele parecia um holograma, só que não estava tremendo com interferência, era nítido, azul, e de alguma forma parecia emitir luz própria, como um fantasma, parado ao seu lado o observando, talvez, esperando que ele dissesse algo.

Ben abriu a boca uma ou duas vezes, tentando encontrar em sua mente as palavras certas para a pergunta, o espectro azulado aguardava pacientemente enquanto os pequenos grãos de areia arrastados pelos ventos de Tatooine o atravessavam como se ele nem estivesse lá de fato. Será que eles não tinham respeito? Como podiam passar através de Qui-Gon? Pensava Kenobi. Então uma voz em sua cabeça o alertou:

“Ele é apenas força agora”

—Você me observou, após a sua... – Ben por um momento não teve força o suficiente para falar aquela palavra, ela ainda ficava presa a sua garganta e fazia parecer que a gravidade aumentara subitamente deixando seu corpo, especialmente seu coração, dez vezes mais pesado que o normal. –M- Morte? – Disse gaguejando.

—Todos os dias. Eu estava lá, enquanto você treinava Anakin, vi as noites que passou em claro revirando-se de um lado para o outro preocupado com o futuro de seu amigo. Estava ao seu lado quando foi capturado em Geonosis. Aplaudi, quando foi chamado para fazer parte do conselho jedi. Estive com você todos os dias durante a guerra dos clones. Sentei ao seu lado e chorei sua dor com você quando Satine morreu. Segurei sua mão tremula quando teve de erguer seu sabre de luz contra seu melhor amigo. E eu vi quando sacrificou sua identidade, a única coisa que realmente pode pertencer a um jedi, em nome dessa criança.

—Foram duros os anos sem o senhor, mestre.

—Você se tornou muito, muito mais do que todos, inclusive eu, esperávamos. Encarnou o verdadeiro significado do que ser um jedi, forte, mas não prepotente, sábio, mas não arrogante e altruísta ao máximo. A vontade crescente que sinto em você para questionar o que digo apenas provam minhas palavras. As décadas após minha morte o tornaram alguém extraordinário.  

—Se eu fosse metade do que você que diz que sou nada disso teria acontecido. – Kenobi desviou os olhos de Qui-Gon, muito envergonhado e magoado por pelo que houve. – Tudo o que acontecer daqui para frente, todos os jedis que morrerem, todo o terror que tomar a galáxia.... Será minha culpa, mestre, e estarei pronto para aceitar as consequências de meus atos.

—Não, não será sua culpa. Será minha. – A voz dele parecia distante e profunda.

Nesse momento um vento bem mais forte começou; levantando uma quantidade descomunal de areia. Acordando o até então adormecido Luke Skywalker, que começou a chorar. Ben desviou os olhos de Qui-Gon e olhou com ternura para o bebê em seus braços tentando acalma-lo.

—É só areia, pequenino, está tudo bem. – Falava ele balançando-o. – Mestre acho que deveríamos... – Quando o homem voltou a olhar para o lado Qui-Gon já não estava mais lá. Ele deu um suspiro profundo um tanto desapontado. –Acho que está na hora de conhecer nosso novo lar, Luke. – Kenobi forçou um sorriso para o garoto antes de começar a caminhada em direção a seu futuro. Um futuro nebuloso e ainda rodeado pela escuridão, mas ele sabia que tudo o que precisava para dissipar a escuridão era de um pouco de luz, e Kenobi tinha muito, muito mais que um pouco de luz, bem ali, chorando em seu colo.


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