Underneath darkened skies escrita por Srta Who


Capítulo 1
Ben Kenobi.


Notas iniciais do capítulo

Já postei tantas fics que toda vez que vou criar uma nova abre uma mensagem: De novo? Tem certeza?



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            Já tentou alguma vez em sua vida esvaziar a sua mente? Mas, não, não estou falando de esvaziar sua mente em meio a calmo ambiente com a consciência tranquila de que todos a quem você ama estão bem. Não, assim é muito fácil, você só tem de fechar os olhos e como num passe de mágica sua mente estará vazia, e você provavelmente vai dormir. Estou perguntando se já tentou esvaziar a mente em meio ao completo caos, enquanto tudo ao seu redor desmorona, enquanto a única imagem que você tem em sua cabeça é a de seu melhor amigo, a imagem de seu irmão, semimorto, rastejando, sendo queimado, e gritando aos quatro ventos sobre o quanto ele te odeia, ou talvez da mulher mais forte que você já conheceu, morrendo em prantos numa mesa de parto, sem vida alguma em seus olhos, sem razão alguma para viver. Já tentou esvaziar sua mente nessas condições? Não tente, é inútil, Kenobi é a prova viva disso.

            Ele podia ouvir o que o senador Organa e mestre Yoda falavam, é claro que podia, não estava surdo. Os homens discutiam algo sobre o senado, sobre como o fim dele seria rápido e impiedoso nas mãos do novo imperador, mas tudo o que eles falavam passava direto por Obi-Wan, se é que ele ainda merecia ser chamado por esse nome, e era esquecido imediatamente. Não que ele não quisesse prestar atenção, ele só não conseguia prestar atenção.

Sua mente treinada ao longo dos anos como jedi já não adiantava de nada, seus sentimentos, sempre tão bem escondidos por baixo da fachada do ‘negociador’ sempre calmo, agora fluíam descontrolados, numa mistura enlouquecedora de amor, raiva, dor e medo, muito medo, isso levaria qualquer jedi para o lado negro, mas não ele, nunca ele.  

            Sua dor era pela lembrança da perda de tudo e todos que importavam para ele, primeiro seu mestre, depois seus amigos jedis, seguidos de Anakin, Padmé e por último a republica o ideal pelo qual ele dedicou sua vida, o motivo que ele tinha para levantar e lutar todos os dias se fora. Seu medo era pelas duas crianças que acabaram de nascer e que talvez não vivessem o bastante para aprenderem a falar. E seu amor era por Anakin, era por seu irmão, não por aquele que lutou com ele, mas por seu Padawan, aquele que o ensinou mais do que qualquer outro. Sua raiva, ou melhor dizendo, seu ódio não era direcionado ao imperador, ou qualquer outra pessoa, seu ódio era de si mesmo, de sua cegueira, era ódio por todos os erros imperdoáveis que cometera.

            E enquanto toda aquela loucura o consumia por dentro seus olhos focavam num ponto fixo da mesa onde haviam alguns grãos de poeira, aquilo era tudo o que ele podia ver, tudo o que queria ver.  

Em determinado momento ele sentiu-se fora de seu corpo, observando tudo de cima, como se na verdade nada daquilo estivesse acontecendo com ele, sentiu-se como um mero observador de toda aquela confusão, foi a primeira vez em horas que sentiu a o peso em suas costas ser um pouco aliviado.

—E quanto a Luke e Leia, mestre Yoda? – Organa perguntou.

—Escondidas a salvo, as crianças devem ser mantidas. – Respondeu Yoda.

—Sim. – Concordou o senador. – Mas onde? – O senador olhou diretamente para Kenobi que estava do outro lado da mesa, ele parecia pensativo, na verdade, parecia que ele se quer os ouvia. – Mestre Kenobi? – Ele chamou.

—Sim? – Ele respondeu.

—O que acha que devemos fazer com as crianças?

            A menção aos filhos de seus amigos o tirou daquela bolha na qual ele havia se fechado, de fato, o que aconteceria com eles a partir de agora? Eles não tinham ninguém. Padmé não tinha família e a mãe de Anakin morrera antes do começo da guerra dos clones. Quem cuidaria deles agora?

—Devem ser levado a algum lugar onde os sith não possam sentir sua presença. – Aquilo era obvio, mas, foi a melhor resposta que o veio à cabeça.

—Separados eles devem ser. – Disse Yoda. Kenobi pensou em questionar seu antigo mestre, mas ele estava certo, se Luke e Leia crescessem juntos o imperador poderia sentir sua presença.

—Minha mulher e eu ficaremos com a garota, nós sempre falamos sobre adotar uma garotinha. Ela será amada conosco. 

—Mestre, e quanto a Luke? A mãe de Anakin está morta, que eu saiba a senadora Amidala não tinha família.

—Ela tinha um tio.

—Acha que ele criaria Luke?

—Improvável, ele foi assassinado numa emboscada algumas horas atrás. – Kenobi engoliu seco, o que aconteceria com o garoto agora?

—Mestre, o que acha? Não podemos deixa-lo com qualquer um. Seria um grande risco, não só para ele, mas para a família que o adotasse também.

—Do menino, você deve cuidar.

—O que? Mestre Yoda, não tenho certeza se consigo! –Obi-Wan não disse, mas em sua cabeça as memorias de Anakin ainda o atormentavam, e agora, todos os movimentos desse imenso jogo de Palpatine pareciam tão claros que o homem se odiava ainda mais, como Yoda poderia se quer sugerir algo assim? Como ele poderia ser pai de um garoto, quando falhara tão miseravelmente como mestre?

—Remorso, eu vejo em você, mestre Kenobi. Culpando-se por Anakin ter ido para o lado negro, você está.

—Eu era o mestre dele, devia tê-lo ensinado melhor, deveria ter percebido que havia algo errado, eu deveria...

—Atormentar-se com o passado apenas dor o trará. Uma segunda chance através do garoto você a força lhe dá, recusa-la não deve. – Obi-Wan poderia continuar argumentando e numerar centenas de milhares de razões pelas quais Luke estaria melhor com outra pessoa, mas, a imagem de Padmé lhe veio à mente, ele devia isso a ela.

—Você está certo, mestre. Para onde devo leva-lo? Ficar em Coruscant já não é uma opção viável.

—Em Tatooine ele deve crescer.

—Tatooine? Não é muito arriscado mantê-lo no lugar onde seu pai nasceu?

—Consumido pelo ódio, Darth Vader está sendo, inebriada sua visão está sendo. Nada ele verá.

—Devo treina-lo como jedi?

—Treinado o garoto deve ser. Mas aprender a força da maneira correta, ele deve. As regras jedi a muito não funcionam.

—Então, como devo ensina-lo, mestre?

—Como ensina-lo, você já sabe.

—Que assim seja. – Organa e Kenobi levantaram-se.

—Até que a hora chegue, desaparecer nós iremos. – Os homens dirigiam-se à saída para buscar os bebês.

—Mestre Kenobi, espere um momento. – Kenobi voltou a sentar-se.

—Enquanto em Tatooine, um treinamento tenho para você.

—Treinamento?

—Um velho amigo aprendeu o caminho da imortalidade. Ele voltou do reino dos mortos da Força. Seu antigo mestre.

—Qui-Gon?! – Ele exclamou surpreso. Seria possível? Ele poderia ver seu mestre novamente?

—Como conversar com ele, eu vou ensinar a você.

            Aquilo não acabava com sua dor, longe disso, mas aquela informação, aquele pequeno pedaço de esperança era tudo o que Kenobi precisava, era o motivo que ele procurava para continuar acordando todos os dias. Ele cuidaria de Luke e poderia pedir conselhos a seu amado mestre. Isso o reconfortava em sua dor.

...

            Obi-Wan deixou mestre Yoda sozinho na mesa e foi em direção a sala onde os recém-nascidos estavam, bem, onde Luke estava, Leia já havia sido levada para Alderaan quando ele chegou.

            Kenobi pegou aquele pequeno ser humano em seu colo. Era tudo o que restara de Padmé e Anakin, não aqueles que ele viu hoje, não, definitivamente, aqueles eram apenas pálidos reflexos das pessoas que ele conhecera e amara tão profundamente.  

—Luke Skywalker. – Ele murmurou, o garotinho sorriu e mexeu-se em seus braços. Aparentemente ele gostava desse nome. – Não se preocupe com nada pequenino, enquanto meu coração bater nenhum mal recairá sobre você. – Luke pareceu inquieto com aquelas palavras. – Acho que isso deve ser porque não fomos devidamente apresentados, meu nome é Obi... – Ele parou abruptamente.

“Jedi são os guardiões da paz na Galáxia.

Jedi usam seu poder para defender e proteger.

Jedi respeitam toda a vida em qualquer forma.

Jedi servem os outros ao invés de chefiá-los, pelo bem da Galáxia.

Jedi procuram aprimorar-se através do conhecimento e do treinamento.”

            As palavras ressoavam em sua cabeça como um mantra, era hora de deixar tudo o que aquele nome representou para trás, ou aquele passado o caçaria, mesmo na remota Tatooine.

—Meu nome é Ben Kenobi, prazer em te conhecer, Luke Skywalker. – E assim, com um par de lágrimas caídas de seus olhos e de acordo com os costumes jedi, de ser sempre altruísta, de visar o bem do próximo e não o próprio, morria definitivamente o nome ‘Obi-Wan’. Ele nunca fora era senhor de coisa alguma, era um mero servo da paz, e se esse servo precisava desistir de tudo que conhecia pela chance de algum dia alcançar o equilíbrio na força, então assim seria.

Com esse pensamento nascia Ben Kenobi, mestre, pai adotivo, guardião, aquele que concertaria os erros deixados para trás pelo falecido Obi-Wan Kenobi.  


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Notas finais do capítulo

May the force be with you all.