O conto esquecido. escrita por Triz Quintal Dos Anjos


Capítulo 7
Livros voadores.


Notas iniciais do capítulo

Olá meus amorecos! Eu sei que estou atrasada de novo, porém tenho bons motivos. Estou entulhada de provas e trabalhos na escola, fora que tive prova oral no curso e estava enlouquecendo, além disso ainda tenho que estudar pra uma prova importantíssima que pretendo fazer esse ano. Agora acrescentem livros para ler, séries para atualizar, louça para lavar, quarto para arrumar, capítulo para escrever, capítulo para revisar, capítulo para postar, comentários para responder... Não tá dando não! Sou uma Triz só!
Caso tenha passado pela sua cabeça de eu querer deixar a fic em hiatos ou qualquer coisa do gênero, esqueça. O que vou fazer é diminuir a freqüência das postagens, para me dar mais tempo de me organizar. Então a partir de agora eu vou postar a cada duas semanas.
Sei que é bastante tempo para esperar, porém será temporário, prometo. Espero que me perdoem por ter que fazer isso.
Bom, para piorar as coisas (ou melhorar, depende do ponto de vista :v) é justamente nesse cap que as coisas vão esquentar. Vou parar por aqui, antes que eu dê spoiller.
Música de hoje: Fight Song - Rachel Platten



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O som da chuva era tão alto quanto tambores enormes e barulhentos sendo tocados por crianças de dois anos de idade, o que fazia com que eu e dona Renata tivéssemos que conversar gritando para podermos escutar uma a outra.

—Então foi a senhora que montou aquela biblioteca? –Perguntei.

 Após meia hora conversando com dona Renata nós já éramos amigas íntimas. Ok, talvez eu tenha exagerado. “Talvez” não, com certeza eu exagerei.

—Exatamente. Antigamente era minha garagem, mas como eu nunca aprendi a dirigir decidi investir em algo que eu gostasse e como eu sempre amei livros montei aquela biblioteca.

  Por mais que eu tivesse achado dona Renata um pouco estranha até que ela me surpreendeu de um jeito bom com essa biblioteca. Isso só faz de mim uma pessoa mais estranha já que eu estou falando isso de uma senhora que eu acabei de conhecer. Vai ver eu fui contaminada pela peculiaridade dela.

—Uou, que legal! Depois me mostra uns livros? –Perguntei animada.

—Com certeza Líria! Agora eu vou fazer o café, se quiser você pode ficar na varanda.

—Seria ótimo. Para que lado fica? –Perguntei gesticulando com as mãos.

  Ela apontou para a direita e foi para a direita que eu fui. Encontrei um corredor logo depois de uma enorme geladeira marrom-Não, não era uma passagem secreta ultra maneira, era só um corredor do lado da geladeira. - e segui em frente. Havia uma pequena porta de vidro no final dele e, ao abri-la, estava na varanda. Logo pude sentir o cheiro de terra molhada. Sentei-me em uma cadeira de balanço que era a única coisa que tinha ali.

  Abri minha mochila, peguei meu caderno e minha caneta e tentei escrever alguma coisa, mas não tive nenhuma idéia boa. Guardei minhas coisas na mochila novamente e joguei-a no chão.

  Balancei a cadeira para frente e para trás vendo aquele dilúvio cair. Odeio tempestades e agradeço muito por não estar trovejando nem relampeando. Tempestades como esta me assustam, e muito. Talvez porque quando eu era mais nova sempre tinha o mesmo pesadelo em noites chuvosas. Não aquele que eu costumo ter, um pior e que me assustava mil vezes mais. Era sempre a mesma coisa: a tempestade começava a cair e, quando eu finalmente dormia, tinha aquele pesadelo horrível, ou melhor, horrorível— Horroroso + horrível. Então eu acordava desesperada soluçando, morrendo de medo, mas ninguém vinha me consolar. Ninguém me abraçava dizendo que tudo não havia passado de um sonho ruim. Com o passar dos anos esse pesadelo foi se tornando menos frequente até, finalmente, desaparecer. Mas eu ainda tinha medo de que ele voltasse em noites chuvosas.

  Às vezes eu imaginava como teria sido se meus pais não tivessem me abandonado. Estaríamos felizes indo passear no parque e comeríamos um picolé de uva. Pode parecer estranho, mas eu nunca comi um picolé de uva. Não que eu me importe. Queria apenas ter uma família, pessoas que me amassem verdadeiramente, do jeito que eu sou. Talvez isso seja pedir demais.

—Líria? –A voz de dona Renata tirou-me bruscamente de meus pensamentos.

—Sim? –Respondi automaticamente ainda observando a chuva cair.

—O café já está pronto.

  Olhei em sua direção e percebi que ela me olhava com um sorriso nos lábios. Sempre fui muito boa em ler o que as pessoas estavam sentindo, mas eu não consegui ler o que dona Renata sentia naquele momento. Felicidade? Solidariedade? Amizade? Tristeza? Eu gostaria de saber.

—Estou indo. –Respondi um pouco aborrecida por ter falhado pela primeira vez em minha vida em adivinhar o que sentiam.

                             ❀✿❀

  Dona Renata cortou um enorme pedaço de bolo de cenoura e colocou em um prato á minha frente enquanto eu bebericava meu café. Infelizmente não tinha calda de chocolate.

—Quando eu disse do bolo de cenoura eu estava brincando dona Renata. Não quero incomodá-la.

—Que nada! Eu adoro bolo, ainda mais de cenoura!

  O assunto pareceu morrer ali. Ouvi alguém chamando um motorista de “Filho da mãe” que tinha molhado a pessoa que gritava com água suja, vulgo lama- Na verdade a pessoa exagerou muito um pouco e chamou de esgoto.

—Você tem filhos? –Perguntei, do nada.

  De repente a cozinha foi tomada por um silêncio incômodo. O som da chuva, que antes era agradável, - Mesmo sendo barulhento. - agora me irritava um pouco. O mundo parecia ter parado por um instante que pareceu uma eternidade.

—Não. –Dona Renata respondeu, por fim. Havia um pouco de medo e nervosismo em sua voz. Talvez um pouco de tristeza. –Infelizmente nunca tive filhos. Na verdade nunca me casei. –Ela deu uma pausa olhando para o nada antes de perguntar se meus pais não estavam preocupados.

—Eu não tenho pais. –Respondi automaticamente sem pensar. Amaldiçoei-me internamente por isso. Eu tenho pais, eles só são uns desnaturados e me abandonaram na porta de um orfanato. Dona Renata precisava saber dessa parte da minha vida? Definitivamente não. Não era nem para ela saber meu nome. Aliás, o que eu estava fazendo tomando café com uma completa estranha?!

—O que?! –Era impressão minha ou ela não parecia muito surpresa? –E para onde você vai quando sair daqui? –Minha resposta foi uma sobrancelha erguida que significava  “Para onde você acha que eu vou? Não é óbvio?”. – A meu Deus! Não vou deixar você sair daqui! Pode ficar o tempo que quiser!

  Não sei ao certo se me engasguei com o bolo ou com o café, provavelmente foi com susto que tomei ao escutar o que ela tinha dito.

—Oi? Acho que eu estou ouvindo coisas.

—Não está não!  Quer arrumar seu quarto agora ou mais tarde?

  Meu coração bateu mais rápido. Eu não sabia se por medo ou felicidade. Por mais estranho que fosse, aquilo era o mais próximo que eu tinha chegado de uma adoção. Por mais que não fosse, exatamente, uma.

                             ❀✿❀

  Após eu aceitar aquela ideia louca, eu e dona Renata fomos transformar o quartinho da bagunça em um quarto para mim. Não tinha como fazer nada muito detalhado, então simplesmente tiramos aquele monte de bugigangas dali e improvisamos uma cama. Para mim estava ótimo. Pelo menos não era um quarto cinzento.

—Bom –comecei- eu vou dar um passeio e já volto, certo?

—Claro Líria, não é como se eu fosse sua mãe. –Ela disse enquanto tirava o pó de um velho criado mudo. Por algum motivo aquela frase me magoou.

  Balancei a cabeça e caminhei pelo longo corredor que dava para a cozinha, chegando lá adentrei a biblioteca e saí do lugar. Tinha ouvido dona Renata falar alguma coisa sobre a porta da frente, mas eu não sabia para que lado ela ficava.

  Caminhei pela rua abarrotada de pessoas. Logo bem á frente havia uma pequena banca de jornal, a princípio eu estava apenas caminhando e aproveitando minha liberdade, tentando me decidir o que faria agora, porém quando passei pela banca de jornal algo me chamou atenção.

  Minha cara estampada na primeira página. Isso mesmo. Por sorte eu estava com o casaco azul marinho amarrado na cintura, rapidamente desamarrei-o e o vesti, colocando o capuz. O que a maioria das pessoas próximas achou estranho, talvez pela minha afobação.

  Peguei um dos jornais e comecei a ler. Ali dizia que uma garota Esquizofrênica havia escapado de um dos orfanatos da cidade do Rio de janeiro. Falava que as pessoas deviam ter cuidado, pois a menina – eu – vinha apresentando um comportamento agressivo e oferecia risco á segurança das pessoas.

  Eu estava tentando me lembrar como se respirava quando o jornaleiro disse:

—Menina, você tem que pagar pelo jornal.

  Assenti, e devolvi o jornal para ele, mas não sem antes ver a data no topo da folha: 29/01/16. Meu queixo caiu.

  Eu tinha certeza de que não tinha se passado tanto tempo assim! Quando saí do orfanato estávamos no início de janeiro, e só tinham se passado alguns dias, como podíamos já estar praticamente em fevereiro?

—Ei, espere aí. Você... eu já vi você em algum lugar. –Disse o jornaleiro, me arrancando de meus devaneios.

  Tinha me esquecido completamente de manter a cabeça baixa, ou seja: usar o capuz naquele calor infernal não tinha adiantado de nada.

—Er, claro que não. O senhor deve estar me confundido com alguma famosa. –Desconversei tentando esconder meu rosto.

—Espera aí. –ele olhou para o jornal e depois para mim, antes que pudesse fazer qualquer coisa eu saí correndo. –Peguem aquela garota! –Ouvi-o gritar ao longe.

  Por sorte ninguém deu ouvidos ao jornaleiro, porém eu tropecei em um paralelepípedo e caí  sentada em uma poça de lama fedorenta. Não me permiti cogitar a hipótese de que aquilo não era lama, eu preferi me levantar e continuar correndo até a biblioteca.

—Céus! O que diabos aconteceu com você?! –Dona Renata perguntou assustada assim que entrei como um furacão em sua garagem/ biblioteca.

  Eu estava tentando respirar mais devagar, mas me parecia impossível. Meu coração saltava tanto que cheguei a pensar que ele rasgaria meu peito e sairia pulando por aí.

—Nada importante. –Menti arfando. –Um cachorro m perseguiu até aqui.

—Pelo visto você não é amante de animais, não é mesmo? Bem, não importa, vamos encontrar uma roupa nova para você. –Disse dona Renata, tão rápido que quase não entendi nada.

                             ❀✿❀

—Gosta de qual tipo de livros? –Perguntou-me dona Renata.

  Eu estava um pouco chateada por ter sujado meu vestido verde claro, dona Renata me garantiu que depois de lavado ele ficaria exatamente como antes, porém eu ainda estava receosa quanto a isso.

—Livros de contos de fada são meus favoritos. –Falei fingindo um sorriso após um longo suspiro. Aquela fantasia que dona Renata tinha me arranjado estava me pinicando, sem falar nas trancinhas que eu havia feito em meu cabelo na tentativa de domá-lo. O resultado foi uma líria que parecia vinda do século XIX.

—Também amo contos de fadas! –Começou, sorrindo. – Não vejo a hora em que aqueles personagens finalmente virão me buscar.

—Te buscar? Você acredita em contos de fada? –Quase caí para trás depois do que ela disse. Meu Deus estou convivendo com uma louca.

—Claro que sim! Você não? –Neguei com um pouco de medo dela, que nem reparou e continuou. –Por quê?

—Porque é como acreditar na fada do dente ou no papai Noel. É só mais uma mentira que as pessoas contam para tentar fazer com que o mundo pareça um lugar legal de se viver.

—Certo. Acho que já sei o que você vai gostar. –Ela tirou um livro da enorme estante, como se soubesse a exata localização dele. Perguntei-me se ela era tão solitária a ponto de saber exatamente onde cada livro se encontrava. –Aqui está. –Finalizou entregando- me um livro com a capa já gasta, não consegui identificar muito bem, mas, se eu estiver certa, quando aquele livro era novo sua capa devia ser cinza. Odeio essa cor, no entanto ela me persegue.

—Vou sentar em uma poltrona daquele canto, ok?

—Ok. Se precisar de alguma coisa apenas me chame querida.

  Escolhi a poltrona que estava no canto mais escondido, em sua frente havia um espelho, o que era bem estranho, pois eu poderia ver-me lendo, coisa que eu –talvez ninguém- nunca tinha feito. Tive vontade de rir ao ver-me com aquela fantasia que usava.  Era um vestido lilás com a saia bem rodada batendo na altura dos meus joelhos e que tinha as pequenas mangas bufantes, eu usava por cima dele um corpete branco, ou qualquer que seja o nome daquele troço.

    Ao lado da poltrona tinha uma mesinha de cor escura com alguns marcadores, mas o que chamou minha atenção foi um calendário. Não o calendário em si, mas a data que nele estava marcada por um círculo vermelho. Trinta de janeiro de dois mil e dezesseis. Amanhã, de acordo com a data do jornal. Tinha me esquecido deste estranho acontecimento.  Um arrepio percorreu meu corpo e eu achei melhor esquecer aquilo novamente.

  Li o título do livro: “O livro dos contos”. Parecia ser legal, todavia assim que o abri tive uma surpresa ao constatar que estava completamente em branco.

—Mas que diabos é isso?

  Olhei para os lados na esperança de encontrar dona Renata, porém ela não estava em canto algum.

  De repente a porta pela qual eu tinha entrado duas semanas antes se abriu num estrondo e um vento forte e frio entrou na biblioteca derrubando estantes e, consequentemente, os livros que estavam nelas.

  Abaixei a cabeça para tentar me proteger quando uma estante que estava do meu lado veio a baixo. Onde raios estava dona Renata que não estava vendo nem ouvindo nada disso? Olhei de relance para o livro que ainda estava aberto em minhas mãos. Palavras se formavam sozinhas nele.

  A biblioteca parecia um furacão de livros, estantes e marcadores.

  Meu peito subia e descia rapidamente, eu estava apavorada. Tudo piorou quando li a frase bizarra que tinha sido escrita de um jeito bizarro naquele livro mais bizarro ainda: “Se fizer a escolha certa, esta resultará em sua maior vitória, porém, se fizer a escolha errada, a vitória será dele.”.

  Foi aí que me joguei no chão gritando desesperadamente, não só por medo da frase e do estranho modo como ela tinha surgido naquelas páginas do livro, mas também porque vários livros começaram a voar - Voar, bater as asas, ascender aos céus, ir para cima magicamente, utilizar uma bruxaria forte que te tire do chão, chame do que quiser. – em minha direção. Desconfio seriamente que queriam me atingir e teriam conseguido se eu não tivesse me jogado daquele jeito brusco no chão.

  Então, com a mesma rapidez com que veio, o furacão - Ou tornado, corrente de ar forte, revolução do oxigênio, sei lá. - parou e um silêncio assustador tomou conta da biblioteca. Olhei ao redor. Todas as estantes, livros e mais um monte de objetos e móveis estavam caídos a minha volta. Eu estava completamente descabelada e apavorada. Meu coração batia mais de um milhão de vezes por segundo.

  O livro que antes estava em minhas mãos agora estava fechado bem na minha frente.

  Com todo o cuidado existente no universo peguei o livro, ouvindo um barulho esquisito em seguida. Uma pedrinha tinha caído de dentro dele. Estranho? Mas, afinal, o que na minha vida não era estranho?

  A pequena pedra era do mesmo tamanho do pingente do meu cordão, a única diferença é que ela não era oval, e sim redonda, ou seja, era mais “gordinha” enquanto o meu pingente era mais comprido. O que chamou minha atenção é que ela mudava de cor a todo instante.

  A droga da minha curiosidade falou mais alto, então eu pus a mochila nas costas e, com a mão desocupada e trêmula, peguei a pedra. Nada aconteceu, tudo continuava como estava um segundo atrás. Respirei fundo e levantei. Me desiquilibrei um pouco e quase levei um tombo, mas consegui me segurar na parede.

  Olhei bem para a pedra, como se fosse a porta para algum lugar onde eu pretendia entrar. Como ela mudava de cor daquele jeito? Uma hora estava azul, na hora seguinte verde, depois violeta, cor-de-rosa, amarelo e assim por diante. Senti uma brisa fria acariciar meus cabelos; com medo de que fosse outro furacão do mal tirei meus olhos da pedra e quase desmaiei.

  Ali, definitivamente, não era a biblioteca da dona Renata.

  As estantes de livros deram lugar a enormes e belas árvores; o dia, antes nublado, estava lindo e com um sol grande, quente e amarelo vivo brilhando no céu de um encantador azul celeste. Á minha frente havia uma placa que, visivelmente, era improvisada.

  Ainda segurando a pedra e o livro em minhas mãos li o que estava escrito nela: ”Seja bem-vindo ao reino de Flórea!”.

—Mas o que...?

                   ✽Continua...


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Notas finais do capítulo

Bom, espero de todo o coração que tenham gostado! Me esforcei para escrever esse cap, mas mesmo assim achei que poderia ter ficado melhor, o que vocês acharam? Me digam aqui nos comentários! Tenho sentido falta de muita gente por aqui, viu! É melhor eu para, pois não estou numa boa situação para cobrar os comentários de vcs :p
Uma boa quinzena pra vcs, espero que sonhem com O conto esquecido todas as noites hahahahahah
Beijo no core de cada um de vcs! ♥