These broken hearts escrita por Bianca Romanoff


Capítulo 3
Old Memories


Notas iniciais do capítulo

Ooooi meus amoores! Como vocês estão?
Este capítulo foca mais no Bucky, nas memórias, como já diz o título. Espero que gostem! Boa leitura!



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— быть сильным    Seja forte.    

— Seja forte, Natasha. 

As palavras eram proferidas pelo Soldado Invernal enquanto disferia chutes e socos em minha direção. A versão mais nova e mais inocente de mim mesma esquivava-se dos golpes, rolando pelo chão e inutilmente tentando equiparar minha força com a dele.  Eu ainda já havia participado da Cerimônia. Minhas forças eram sobre-humanas, no entanto, o pouco treinamento que recebi na Sala Vermelha antes de ser resgatada não se comparava aos anos de prática de James. A dor que invadia meu corpo era excruciante. A cada novo golpe eu pensava em simplesmente sucumbir ao poder do Soldado. Mas eu sabia que a punição por desistência era ainda maior do que por realmente perder.    

— Пожалуйста  Por favor.   Supliquei quase mentalmente, mas ele percebeu. Sua mão estava enganchada em meu pescoço, me fazendo engasgar com meu próprio sofrimento. O aperto afrouxou, e desabei com as mãos protegendo o rosto de ir de encontro ao chão.    

— Спасибо  Obrigada.    

— перекомпонуйте себя  Recomponha-se.  A dureza nas palavras não combinava com o olhar complacente.    

 — Vamos, levante-se.   Eu obedeço, me apoiando nos braços trêmulos para colocar-me de pé, secando o sangue no canto da boca com as costas da mão, esperando pelo próximo golpe. Mas ao invés disso, Bucky me oferece uma mão amiga, e me segura quando desabo em seus braços.    

— Это будет хорошо  Vai ficar tudo bem.  O Soldado me escolta até seus aposentos, me deixando ficar confortável em sua pequena cama.   

 — Você é uma ótima lutadora, Romanoff.   

 — Não o suficiente para vencer você, Barnes.    Ele ri.    

— Eu gostaria de não ter passado tantas horas sendo espancado para isso. 

  — É isso que eles querem fazer comigo, não é? Me tornar grandiosa como você para que eu possa fazer o trabalho sujo deles.    

— Internalize essa raiva e utilize-a nos combates.    

— É o que você faz para vencer, Soldado?    

— Acho que terá que experimentar para descobrir, черная вдова (Viúva Negra).    

Desperto com Steve me sacudindo, clamando por meu nome repetidas vezes.

  — Natasha! Está tudo bem...    

— O que houve?  — sento-me na cama, desnorteada.  — Você estava suando frio e sussurrando algumas palavras em russo... 

— Foi só um pesadelo. — eu rumorejo mais para mim mesma. 

 Um pesadelo real.  

 Eu omiti a verdade de Steve, eu e Bucky tínhamos mais história do que apenas um conflito em que ele atirava em mim. Eu o conheci na KGB, quando fui capturada pela segunda vez. Me colocaram para treinar junto com o infame Soldado Invernal, para que ele pudesse compartilhar um pouco de suas incríveis habilidades de luta. Com o passar do tempo, Bucky parou de ser o inimigo e passou a ser um amigo, e então um amante. Ele foi um dos poucos que eu realmente amei.  Ele não me reconheceu quando batalhamos em Washington, e nem durante a Guerra. Eu não passava de mais uma peça no jogo para Bucky.  Não que eu ainda resguardasse tais sentimentos afetivos, porém era complicado alquimiar o passado que tivemos juntos.   

— Está tudo bem, você está segura agora. — Steve afaga meus cabelos e me puxa para mais perto. Aninho-me em seu peito enquanto as lágrimas brotam em meus olhos. 

— Você não sabe de metade da história. — eu sussurro antes de pegar no sono ali, aconchegada no calor dos braços de Steve. 

Pov Bucky 

  A casa era estranhamente grande. Confortável demais. Era insólito para mim.

Eu nunca estive na comodidade de uma cama macia. Cresci e fui criado em uma casa no Brooklyn, um bairro de condições sociais e econômicas baixas. Os dias de soldado servindo na guerra obviamente não foram os mais luxuosos. Quando capturado pelo governo soviético, eu ficava confinado a um pequeno cômodo desconfortável. 

Rolo na cama buscando uma posição menos confortável, até conseguir um sono leve repleto de lembranças.  Éramos colocados em uma espécie de arena e forçados a batalhar contra o outro até que um desistisse ou fosse imobilizado completamente.  

 Natasha era jovem, inexperiente. Ela havia sido capturada pela KGB há pouco tempo, porém eu reconhecia que ela já havia sido modificada anteriormente. Sempre me perguntava como ela escapou e foi pega novamente, mas nunca perguntei. 

Ainda assim, ela era uma oponente muito boa. Não fossem pelos meus anos de treinamento, ela teria grandes chances de vencer. 

Quando abriram os portões, Natasha não hesitou em me atacar. Consegui me esquivar de seus chutes e agarrar sua perna para girá-la no ar e derrubá-la no chão. Ela cai com um baque mas se levanta com um salto de costas e contra-ataca, acertando uma série de socos no meu peito antes de girar e me acertar um chute de costas, agarrar meu braço e me derrubar por cima de seu ombro. 

Fiquei prostrado no chão por alguns segundos, chocado. Ela não estava para brincadeiras hoje. Talvez eu não devesse ter dito para canalizar sua raiva.  A luta seguiu por vários minutos, até que, enfim, Natasha conseguiu enganchar suas pernas ao redor do meu pescoço em um golpe fatal me levando de volta para o chão e imobilizando.

  Eu devia ter ficado furioso por perder uma luta em tantos anos, mas só conseguia me orgulhar da jovem ruiva que antes perambulava tão perdida e desfocada, e agora conseguira derrubar um grande oponente.  Dei três tapas fracos em sua perna indicando que me rendia. Ela relaxou o aperto que me sufocava. Me desvencilhei de seu corpo e arquejei por ar, de joelhos, humilhado. Ao invés de estender-se orgulhosa e cuspir no adversário, ela me ofereceu a mão e me auxiliou a colocar-me de pé.   

— Это был хороший бой , солдат  Foi uma boa luta, Soldado.  Um sentimento desconhecido atravessou meu interior ao observá-la retirar-se, não sem antes lançar-me um sorriso malicioso por cima do ombro. 

— вы проблема , девушка — murmurei para mim mesmo, retribuindo o sorriso torto. 

Você é um problema, garota.  

Desperto com um sobressalto. A série de travesseiros aos quais eu me cerquei antes de dormir, como uma espécie de barreira, estava espalhada pelo chão.   

  Apesar do sonho ter acabado, as memórias estavam frescas em minha mente. Era como se eu pudesse ainda sentir o calor do corpo dela no meu, o perfume, a textura dos cachos ruivos, a pele tenra, a voz rouca...  Não. Eu me censuro. Ela não é mais aquela pessoa, e nem você.  Tento conter meus sentimentos difusos, mas não consigo pregar os olhos, então decido caminhar pela praia. A areia molhada me trazia uma sensação de paz, especialmente com o som das ondas ao fundo.    

— Não consegue dormir?  — a voz de Steve quebra o silêncio no ar e o barulho dos meus turbulentos pensamentos.    

— Pesadelos.  — respondo simplesmente. Ele assente.    

— O mesmo com Natasha.  — o nome faz os pelos da minha nuca se eriçarem.

  Eu não tinha um nome naquela época. Era chamado de Soldado, pronto para servir, sempre. Natasha fazia parte do programa Viúva Negra, junto com outras garotas que cresceram com ela, mas ela se destacava dentre elas. Não somente pela força, inteligência e beleza. Natasha era exótica.

 — вы не имеете имя , солдат ? (Você não tem nome, Soldado?) 

— Я не помню (Não me lembro) 

— Как вы хотите, чтобы я вас называть? (Como quer que eu lhe chame?) — a pergunta era sólida, muito válida, mas ainda assim, eu não obtinha a resposta. Ela umedeceu os lábios, um sorriso apontando.

— такие Alek? (Que tal Alek?) — não a respondo com palavras, apenas com um sorriso. Foi o primeiro sorriso honesto que eu dei em dias. Ela retribuiu com uma gargalhada sonoramente amena. — это означает, что защитник (Significa defensor.) 

— Alek. — eu repeti, explorando o som do nome na minha voz. Ainda que ficasse melhor na dela.   

— Bucky... Você está bem? — Steve me tira do torpor. 

— Sim... É só... Só estou um pouco confuso. 

— Deve ser difícil ter todas as memórias voltando assim. 

— Natasha... Ela está bem? — indago, pigarreando quando minha voz falha ao pronunciar o nome dela. 

— Está. Eu a ajudei a controlar a euforia para dormir. Não sai antes de me certificar de que ela estivesse tranquila. 

Eu queria contar a ele. Queria confessar que as memórias que me assombravam não eram memórias ruins, mas sim de alegria, de amor, de sexo. Como eu pude me esquecer completamente? Cerro os punhos com ódio daqueles que me forçaram a esquecê-la, que me arrancaram de perto dela. 

— Bucky... Tem certeza que está bem? — Steve me puxa dos devaneios novamente. 

— Você e Natasha... Têm alguma coisa? — pergunto hesitante. Steve fica da cor de um tomate, e gagueja: 

— N-não. Nós... Não temos nada. Somos só... Amigos. Você sabe.

  Eu aquiesço. Mas eu sabia da verdade. Conhecia bem Steve, agora que as memórias estão de volta. Ele não se interessava facilmente por ninguém, mas quando colocava seus olhos na “garota certa” era como se houvesse um brilho ali impossível de confundir ou deixar passar. E era exatamente assim com Peggy. E Natasha. Ele a olhava com o mesmo encanto.

  Mas Natasha era um mistério mais difícil de ser desvendado. Não havia nenhuma faísca notável quando ela se apaixonava. As más línguas diziam que talvez fosse porque ela não se apaixonasse, apenas usassem cada homem e mulher com qual ela já se relacionou como peças sexuais descartáveis. 

Eu não acredito nisso. 

Tenho ciência que ela não se repudia por seduzir seus alvos em função de extrair mais informações ou mesmo dar o cheque mate. Era a jogada da Viúva Negra, o modo como ela atraía as presas para sua teia. Com apenas um sorriso arrebatador para aliciar e derrubar centenas de oponentes, desde os mais fracos ou mais astutos e prepotentes.   Mas havia aqueles com os quais ela não se deitava por pura conveniência ou prazer. Ela era capaz de amar. 

— Por que a pergunta? 

— Ah, você sabe... Reparei que você dava atenção demasiada a ela e desconfiei. Foi só um palpite. 

— Bem, um palpite errôneo. Porque como eu disse, nós somos amigos. E somente amigos. Nada mais. 

Eu quis responder que se estivesse falando a verdade, ele não precisaria se justificar tanto, velho truque de espião, quanto menos detalhes e atenção você der ao assunto, menos desconfiança atrairá, mas preferi guardar pra mim mesmo.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Gente, era pra as memórias ficarem em itálico, mas eu tive um probleminha pra postar, inclusive se tiverem erros na paragrafação é por isso, então ignorem. Espero que tenham gostado! Comentem! Beijinhooos