These broken hearts escrita por Bianca Romanoff


Capítulo 12
Dark Past


Notas iniciais do capítulo

o capítulo tá grandinho, mas leiam com carinho! Tá meio pesadinho porque se trata das memórias da Natasha, do passado dela, então tem muito sofrimento né. Espero que gostem!



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— Shuri é a pessoa mais inteligente que vai conhecer na sua vida. Ela mesma montou o meu traje, e é praticamente a dona de tudo aqui... Digo, quem projetou tudo. — T’challa tagarelava sem parar sobre sua irmã no caminho para o seu laboratório. — Ela vai consertar você em um instante.

Consertar você. Engoli em seco com as palavras. Steve, que insistiu em me acompanhar, pigarreou, mas T’challa não pareceu perceber. O “laboratório” de Shuri era imenso, com diversos painéis que eu não compreendia, tudo bordado por uma tecnologia bem à frente de qualquer uma que eu já tivesse visto. Talvez se equiparasse um pouco com a de Stark, mas eu temia ser ainda mais avançada.

— Seja bem-vinda, agente Romanoff! — a garota era... Menor do que eu imaginara. Era magra, com a pele morena e os cabelos trançados. Tinha um ar jovial e alegre. — Capitão. — ela cumprimentou. — E você, Nakia está te esperando! — ela deu um tapinha no ombro do irmão, que se despediu e disparou pela porta.

— Então... — comecei, um pouco hesitante em subir na espécie de “maca” que ela apontava.

A verdade é que laboratórios e consultórios me traziam arrepios. Memórias que eu gostaria que se mantivessem desvanecidas vinham à tona a todo vapor. Sabia que estava trêmula, e fiz o máximo para parecer rija. Um braço me ajudou a subir, e o calor que emanava de Steve me acalmava um pouco. Minha respiração estava arquejante, e meu peito subia e descia avidamente quando finalmente me deitei na maca.

— Está tudo bem, não vou realizar nenhum procedimento. Só quero entender seu metabolismo e encontrar o ship que me disseram. — Shuri tranquilizou-me. Steve segurava minha mão, e eu sentia que esta suava frio.

A presença dele ali me acalentava, mas ao mesmo tempo, eu sentia medo. Medo que ele pudesse enxergar uma parte de mim que eu não gostaria. Shuri pareceu perceber meu desconforto enquanto içava a manga da minha camisa para conectar algum dispositivo intravenoso que eu desconhecia. Era como tirar sangue, exceto que com muito mais tecnologia. Somente uma gota pingou numa espécie de tubo de ensaio, e logo um holograma de painel se ergueu na visão de Shuri, que o decifrava com facilidade.

— Uau, seu metabolismo é bem acelerado. Suas condições físicas são melhores que a de nossos soldados... Como... Como isso é possível? — os olhos dela brilhavam, estupefatos e admirados.

— Sim, eu sou... Modificada. — Modificada era um abrandamento que eu usava para mim mesma. Torturada em laboratório por anos, injetada com soros testes que tinham tantos efeitos colaterais... Até que outros funcionassem, me deixavam mais ágil, mais forte, mais parecida com o monstro que queriam que eu fosse. Treinada estoicamente, castigada se cometesse um mísero equívoco...

— Natasha, está tudo bem. Você está bem. — a voz de Steve me arrancou do transe, e percebi que os paineis apitavam indicando que minha pressão subia.

— Talvez... Talvez pudesse deixar-nos a sós, Capitão. — Shuri parecia insegura em pedir.

— Não, não vou deixá-la. — ele prontamente replicou.

— Steve, tudo bem. — apertei a mão que me segurava. — Estou em boas mãos. Está tudo bem. — tentei assegulhar-me, apesar da voz falha. Ele inclinou-se para beijar minha testa.

— Estarei por perto, qualquer coisa... — Shuri assentiu, e ele saiu.

— Não precisa se preocupar, ninguém aqui vai te machucar. — ela garantiu, um tom tenro. Parecia que de alguma forma aqueles paineis mostrassem a ela tudo que me aconteceu. — Sabe, eu não daria mais que vinte e cinco anos pra você. 1928 faz de você uma idosa, e ainda assim...

— São experimentos poderosos. Eu sou “melhorada”, eles diziam. — havia uma dor profunda na minha voz.

— É uma boa forma de ver as coisas. — ela sorriu. — Quer dizer, você fica bonita pra sempre. E é super forte e...

— E as coisas que tive que abrir mão para isso? — solucei. — Nunca foi minha escolha. Ninguém nunca me perguntou se eu queria ser assim. — as lágrimas ameaçavam cair, mas eu as segurei.

— Sei que não há nada que eu possa dizer para amenizar sua dor mas... Alguns danos são reversíveis. O ship não está inativo, e funciona com uma base de comandos. Eles podem facilmente ativá-lo novamente, como fizeram no Hawaii, mas eu também posso facilmente removê-lo. Não está em um local tão delicado, seria uma mini cirurgia muito simples que eu poderia fazer só com um pequeno furo abaixo da glabela. Indolor, eu prometo.

— Isso é bom. É uma boa notícia. E por que a cara triste?

— Pra retirar o dispositivo vou precisar entrar em uma área... Delicada. Vou ser honesta com você, vamos precisar acessar suas memórias.

— Não entendo... Como?

— Quando eu disse que o ship não estava em uma área perigosa, talvez tenha sido um eufemismo. Vou precisar acessar suas memórias para que não haja nenhum risco de perdê-las. Vai ser rápido, e só eu vou poder vê-las.

— Não. Absolutamente não. — comecei a me levantar, mas ela me empurrou de volta, com uma força mínima se comparada a minha, mas eu não lutaria com ela.

— Natasha, sei o quanto isso tudo é difícil, imagino o quanto suas memórias são... Obscuras. Mas precisamos fazer isso. Precisamos. Está bem?

— Só você vai ver?

— Só eu.

— E quando podemos fazer isso?

— Bom... Eu posso preparar tudo para hoje à tarde, se quiser.

...

Eu estava apreensiva, mas a medida que inalava o gás anestésico, começava a suavemente perder a consciência. Shuri estava nervosa em realizar o procedimento sozinha, mas eu exigi, e sabia que ela era capaz. Apesar de estar acomapanhada da melhor equipe de médicos na cirurgia de Barnes, fora ela quem realizou praticamente todo o feitio. E comigo não seria diferente.

Mergulhar nas memórias do Soldado tinha sido perturbador, no mínimo. Cenas de tortura, massacres... Sabia que o que encontraria ali não seria muito diferente, mas Shuri foi pega de surpresa.

As memórias começaram a se passar, como um filme, em que eu assistia a mim mesma como uma terceira pessoa.

Eu era apenas uma garotinha, encolhida entre escombros, as pequenas mãozinhas protegendo os ouvidos enquanto bombas eclodiam lá fora. A cidade parecia completamente devastada. Algumas pessoas corriam e gritavam, desesperadas. Havia corpos no chão, sendo pisoteados... Era um caos total.

Uma espécie de camburão antigo passou, disparei a segui-lo e consegui saltar para dentro da capota. Lá dentro, estava escuro, fétido, e havia uma série de animais mortos, frutos de uma caça que já apodrecia.

Em algum momento, saltei. Passaram-se horas, dias... Estava faminta, e meu corpo já não parecia aguentar mais. O frio cortante fazia com que me encolhesse e abraçasse as saias esfarrapadas. Alguém, uma senhora, ao que parecia, jogou para mim um pedaço de pão velho, que ricocheteou em uma poça, mas devorei-o avidamente.

Aquela memória se apagou, dando lugar a outra. Eu corria, os tênis maltrapilhos quase rasgando. Ao olhar por cima do ombro, percebi que ainda era perseguida. Estava assustada, mas não parava. Alcancei um beco sem saída, e vi a mim mesma segurando a respiração, sabendo que os homens me alcançariam, mas escalei uma lata de lixo e pulei o muro, continuando a corrida pelo que parecia ser um gueto.

— помощь! (Socorro!) — gritava, mas ninguém foi ajudar-me.

De repente, vi-me cercada pelos homens, que trajavam fardas parecidas com as do exército.

— Что вам нужно? (O que vocês querem?) — debati-me quando os soldados tentaram arrastar-me, mas foi em vão.

Então, ainda coberta de fuligem e nos mesmos vestidos esfrangalhados, entrava em um campus, que mais parecia uma prisão, com edifícios arrojados e de aparência antiga. A sede da KGB, onde fui criada... Olhava da janela gradificada de um camburão. E depois, era acompanhada por soldados até um quarto com várias beliches. Alguns olhares curiosos foram atraídos, levantando-se de suas camas e encarando a garota que chegara. Eram todas garotas, e todas crianças.

Depois, estava prostada em uma maca, em um macabro laboratório. Lembrava-me até demais daquele lugar, em que fui torturada por tantos anos. Minhas pernas e mãos estavam atadas, e orava em russo baixinho, suando frio enquanto uma dor excruciante me invadia por completo.

As memórias foram ficando mais difusas, e as imagens mais rápidas. Eu apanhava com um chicote, encolhendo-me em uma quina, suplicando e recitando preces. Depois, batia em um saco de pancadas até as mãos ficarem roxas. Dançava ballet ao lado de mais meninas, e alguém gritava ordens para que fôssemos mais rápidas.

Eu crescia ali, e não sabia ao certo quantos anos tinham se passado, mas não era mais uma criança. Dormia na beliche de baixo, de frente para uma garotinha loira, um pouco mais velha. Não consegui lembrar-me de seu nome. Nós duas nos tornávamos mais próximas, e todas as noites, antes de dormir, depois que as luzes se apagavam, acendíamos uma vela e contávamos histórias sobre nossa terra natal.

Então, um dia, acordei com o som de grunhidos da colega.

— O que foi? O que tem de errado com ela? — Eu exasperadamente gritava para os guardas que levavam a garota da cama. E ali, em seus lençois, uma marca de sangue.

— Sempre que uma garota sangra, eles a levam embora. — uma outra russa comentava, enquanto comíamos em uma cantina mórbida. — Não sei o que isso quer dizer, mas sei que nenhuma volta do mesmo jeito. Espero não sangrar nunca.

Sangrar. Eu sabia o que aquilo significava, era a menarca das garotas. Um calafrio percorreu minha espinha ao recordar-me.

Quando cheguei de volta ao quarto naquela noite, havia uma poça de sangue espalhando-se no chão. Engoli em seco, e ao aproximar-me, avistei minha amiga jazendo morta no chão com um furo de bala na cabeça. Quase não consegui conter meu próprio grito, e muitas das garotas atrás de mim também não. Mas a pequena Natasha continuava ali, implacável, com a expressão fria.

— Vá buscar um pano. — deleguei para uma garota que choramingava alto enquanto levavam o corpo da garota dali.

Monotonamente limpava o sangue viscoso do chão, que tingia de vermelho o pano branco, e nenhuma lágrima fora derramada.

Naquela noite, a garotinha que chorava seguiu-me até minha cama, segurando uma vela, e pediu se poderia ficar. Ela era jovem, não devia ter mais que cinco anos, e olhava para mim como uma irmã mais nova. Então permiti que ela, que lembrei-me ser chamada Lessa, dormisse ali naquela noite.

Alguns dias se passaram, e a rotina continuava a mesma. Em uma determinada tarde, eu e uma garota que reconheci como Alana, dividíamos um sanduíche roubado, sentadas no telhado do lado de fora da janela do dormitório.

— O que acha que aquele sangue significa? — Alana me perguntava.

— Eu não sei. Talvez haja algo de errado com elas, algum experimeto que teve efeito colateral.

— Elas não falam sobre isso, as garotas que vão para lá.

Dei de ombros, desinteressada. Eu devia ter por volta dos treze anos, o corpo começando a se desenvolver, e meus fios ruivos eram longos, meu rosto parecia mais tenro...

— Quando acha que seremos mandadas em missão?

— Sei lá. Você não tem medo? De falhar? — perguntei.

— A Viúva Negra não falha. — Alana repetiu as palavras que eu ouvira tantas vezes.

— Tem razão.

— Sabe, Nat, sei que não podemos nos chamar assim, mas... Você é o ser mais próximo de “amiga” que eu tenho.

— Shh! — cobri sua boca. — Não deixe que a ouçam.

Alana foi enviada em sua primeira missão alguns dias depois daquela conversa. E três dias depois, recebemos sua carcaça para enterrar. Éramos muitas no começo, mas a cada dia mais morriam, ou eram assassinadas.

— Alana vai voltar? — Lessa, que havia pegado o hábito de dormir na minha cama, perguntou.

— Alana está morta. — a dureza nas palavras fez a criança se encolher, mas não parecia haver mais nenhuma gota de emoção na minha voz.

Na manhã seguinte, foi a minha vez de sangrar. Sabia que não havia porque lutar, mas ainda assim esperneei e ataquei quantos conseguisse, na esperança de não ser levada ao laboratório. Mas em vão.

Com as mãos e os tornozelos amarrados, as pernas abertas em uma posição comprometedora, eu chorava.

— Por favor, por favor... — suplicava.

— Esse sangue significa que você é uma mulher, agora, Natasha. Sabe o que isso significa? — neguei com a cabeça. — Que pode ter seu futuro brilhante roubado por um homem. Só estamos aqui para nos certificar de que isso não ocorra.

Eu lembrava-me daquela cientista. Ela era cruel, sempre com dóceis palavras para disfarçar o que realmente estava fazendo. Estava pronta para esterelizar-me. Era uma cena pesada, e meu corpo começava a reagir na sala de cirurgias, então Shuri deu um jeito, e a memória se esvaiu.

Então, lá estava eu, agora um pouco mais velha. Devia ter dezesseis anos, no máximo. Estava em missão. Os cabelos ruivos comportavam-se até minha cintura, e meu semblante estava mais duro. Atirava em todos que cruzassem meu caminho, no que parecia ser um trem. Os passageiros não eram mais que cidadãos inocentes, e choravam. Eu não sentia nada. Tinha um alvo em mira, mas qualquer um que interceptasse o trajeto até ele era baleado.

Em outro flash, eu estava deitada, em um quarto de hotel, com um homem que não reconheci. Era obrigada a ter relações com meus alvos em algumas missões, antes de matá-los, mas aquilo não era problema para mim. Qualquer coisa que fosse necessária para atingir os fins era justificada. Degolei aquele homem, e limpei o sangue em minhas mãos com um lenço, metodicamente cumprindo a missão.

Depois, estava ao lado de Bucky, e já era uma adulta. Usava uma máscara igual a dele, que cobria até meu nariz, deixando a mostra apenas aqueles olhos sem vida. Tinha uma metralhadora nas mãos, e abria fogo contra uma multidão de pessoas em um navio em chamas.

— Temos que ir! — O Soldado gritou. — Rápido.

Nos atiramos no mar, e uma chuva de balas rugiu acima de nós.

— Mergulhe! Estão atirando na gente! — ele comandou, e eu obedeci.

Quando finalmente emergi para puxar o ar, uma criança se agarrava a mim, choramingando.

— Mamãe! Por favor!

— Sua mãe estava no navio? — apontei.

Ele assentiu, e sem nenhuma hesitação, quebrei seu pescoço, para que morresse de forma indolor.

— Natasha! — a voz de Bucky chamava, mas começava a ficar distorcida, e então... Parecia com a voz de Steve, e o cenário marinho dava lugar à sala de cirurgia.

— Saiam daqui! Saiam, agora! Vão! — Shuri desesperadamente gritava.

Eu não devia estar acordada... Olhei em volta, desnorteada, e foi então que o vi. Paralisado, como se tivesse acabado de ver um fantasma, Steve Rogers. Seus olhos estavam fixos na espécie de “tela” que acabara de exibir alguns de meus piores momentos, e então, fixaram-se nos meus.

Estavam marejados e assustados, e mais que isso... Decepcionados.

— Stev... — comecei, mas de súbito, um assobio agudo disparou nos meus ouvidos.

Aquele mesmo som do Hawaii... Minha respiração ficara presa nos pulmões, e meu corpo se retorcia inteiro. Shuri mexia nos paineis, o mais rápido que podia, o desespero tomando-a por completo quando se deu conta do que acontecia.

E então, eu não estava mais no controle.


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Notas finais do capítulo

COMENTEM! Ps: a parte do sangue eu vou explicar mais depois...
O que acham que vai acontecer com a Nat descontrolada ein?
Beijinhos