Sebastian se perguntava o que estava fazendo ali fora em pleno inverno, sendo que tinha tantas coisas a serem resolvidas e malas a serem feitas para poder então despachar para sua nova casa, mas não, ele estava enfrentando o frio enquanto esperava seu vizinho pronunciar alguma palavra ou dizer de uma vez o motivo do encontro repentino. Ele jurava que se nos próximos minutos nada saísse daquela boca daria meia volta e não haverá uma próxima vez para dizer, afinal estava sentindo suas mãos congelarem pela falta da luva.

— Soube que vai se mudar. – Ciel finalmente criou a coragem para dizer após os longos minutos em silêncio.

— Sim, em alguns dias. – Sebastian esfregou as mãos na tentativa de esquentá-los, ele apenas desejava que a conversa acabasse logo para se aquecer.

— Queria fazer uma coisa antes de você partir! – o menor remexeu em sua mochila atrás encontrar seu celular.

— Uma foto?! – o moreno poderia até rir disso, o longo minuto que pareciam ser uma eternidade finalmente acabaria após a foto.

Sem se importar em tirar uma foto Sebastian aproximou-se do menor e sorriu. Era apenas uma foto e nada mais, não custava fazer isso para seu vizinho, afinal, se conheciam desde que eram crianças.

— Sebastian? – o moreno virou-se a cabeça para Ciel que mantinha a sua expressão indiferente. – Até a sua partida, eu quero que me beije sete vezes! – dizia sem demonstrar estar brincando.

— Nem pensar, eu não vou beijar um garoto! – Sebastian deu um passo para o lado para poder encarar melhor Ciel. – Não me interessa o que você tem na cabeça, e o motivo de querer isso, mas eu já vou logo avisando que não irei te beijar!

"Eu não posso sair beijando ele, eu sou hetero! Eu gosto de garotas, garotas com peitos e bundas grandes, com curvas generosas."

— Não terei escolhas a não ser isso! – o menor resmungou, deixando Sebastian sem entender o que ele estava querendo dizer. – Sebastian! – Ciel tocou o rosto moreno virando para si e pego totalmente de surpresa, os lábios tocando aos seus no exato momento que o "click" foi disparado e a luz do flash clareou tudo.

—... – Sebastian estava sem ação, não conseguia fazer nada além de piscar e encarar o menor. – O que...

— Quero que me beije sete vezes! Ou… Você vai ver essa foto espalhar para todos os seus amigos ou toda a escola onde você está trabalhando meio período.

Sebastian olhou atentamente a procura de um pingo de mentira, que ele só estava brincando.

— Isso não é um blefe, depois de cumprir irei apagar e na sua frente se vai sentir melhor.

Não era como se importasse com isso, mas acontece que tinha sido tirado sem sua permissão e fora do seu ângulo favorável e odiava isso, mas também não queria beijar Ciel sete vezes e nem que as fotos saíssem por aí nas mãos de qualquer um, isso era um abuso que estava sofrendo e tudo por culpa de um garoto mais novo que ele. É claro que poderia muito bem pegar o celular a força e apagar a foto e nem precisaria ceder à chantagem. Tinha as escolhas na mesa, bastava apenas escolher qual seria.

Sebastian não queria aceitar nenhuma das escolhas que tinha pensando, não iria sair do nada beijando um garoto, principalmente sendo ele o seu vizinho. Querendo ou não tinha uma reputação a zelar e também não é como se eles fossem tão amigos assim para aceitar algo, eles brincavam quando crianças, quando Sebastian tinha ainda seus oito anos e Ciel apenas cinco, três anos era uma diferença grande entre eles, ainda mais que Sebastian vai se mudar para fora do país.

"Não posso beijá-lo assim do nada só por que ele está pedindo, isso vai contra tudo, e se ele não cumprir?" Sebastian olhou para Ciel, que se mantinha indiferente."Eu não quero essa foto por aí, tem que ter outro jeito de ser apagada!"

O moreno estava relutando em aceitar. — Tudo bem se eu enviar isso para seus pais não é mesmo?

Sem dizer uma única palavra Sebastian puxou Ciel pela nuca e selou os lábios, era uma surpresa para ambos, para Ciel ter recebido o beijo e para Sebastian por descobrir que aqueles lábios eram tão macios do que qualquer garota que já tinha beijado. Mas ainda assim estar morrendo de raiva por ter aceitado a chantagem, ele sabia o quão chatos eram os seus pais e o menor problema causaria o cancelamento da sua mudança.

— Seu primeiro beijo. – Sebastian deu dois passos para trás, girou os calcanhares e deu os primeiros passos de volta à sua casa, mas logo parou. – Espero que cumpra a sua palavra! – rangeu os dentes.

Com passos rápidos e desajeitados pelo chão escorregadio, o moreno chegou a sua casa, seu rosto queimava enquanto seu corpo estava quase congelando, lentamente levou as mãos na bochecha sentindo-as diminuir com a baixa temperatura. Nunca na sua vida tinha sequer beijado um garoto, mas agora estava sendo obrigado a isso, mesmo que ele tenha escolhido aceitar a chantagem. Parado ainda na porta, Sebastian tirou o tênis e caminhou para seu quarto apenas com as meias, encontrando um amontoado de caixas lacradas e malas por fazer. Olhando o estado que estava seu quarto tinha perdido completamente a vontade de continuar. Sem a menor cerimônia jogou as roupas que estavam na cama para o chão e então deitou, começava a sentir o cansaço mesmo que não tenha feito nada. Só o falto de ficar pensando no garoto lhe tirava todo o ânimo.

“Não acredito no que estou fazendo!” Sebastian olhava para o teto de seu quarto com vários pôsteres de mulheres de apenas biquíni. “Devo ser muito idiota para chegar a esse ponto mesmo!”.

— Sebastian! – a voz infantil atravessou a porta de seu quarto. – A mamãe está te chamando para jantar! – Sebastian ignorou o que havia sido dito a ele e continuou como estava. – Se apresse, temos um convidado!

“O que aquele garoto ganha com isso? Fazendo chantagem comigo...”.

Sebastian sentou-se bruscamente na cama franzindo o cenho. — Ele pediu sete beijos, mas não disse como seriam esses beijos e nem em quantos dias seriam... – Sebastian sorriu. – Vou acabar com essa história o mais breve possível!

Distante de seu quarto pode ouvir a sua mãe conversar com outra pessoa que não era seu pai, talvez fosse alguma amiga que estava ali, mas isso não importava.

— Um convidado? – pensou. – Espero que não fiquem tagarelando no jantar!

Sem entusiasmo algum Sebastian foi para a sala de jantar onde sua mãe arrumava a mesa e seu irmão brincava com o Gameboy, sentou-se ao lado do mais novo tomando o jogo e passou a jogar.

— Ahh Sebastian eu tô jogando! – o mais novo tentava a todo custo pegar de volta, mas sem sucesso.

— Fica quieto que fui eu que comprei! – Sebastian esticou o braço para mais longe do irmão. – Seja mais agradecido e me deixe jogar também! – sorriu ao ver o irmão ficar emburrado e sentar direito na cadeira.

— Deixa o seu irmão em paz e devolva o jogo para ele! – sua mãe apareceu na sala de jantar na companhia de outra pessoa. – Deveria me ajudar como o Ciel! – Sebastian levantou os olhos em direção ao outro que carregava em suas mãos uma pilha de pratos e quase se engasgou.

— O que ele faz aqui? – disse com desgosto.

— Rachel teve uma emergência e pediu para que Ciel ficasse aqui por essa noite, ah, trate de arrumar o seu quarto que ele irá dormir lá!

"Dormir no meu quarto! Dormir no meu quarto!" Sebastian não conseguia tocar em sua comida por conta dos pensamentos que sua mãe o fez criar. "Isso! Vai ser uma boa oportunidade de acabar tudo de uma vez, e vai ser essa noite!".

Não diferente do que Sebastian pensou, Ciel dormiu sim em seu quarto, mas antes que pudesse falar ou fazer qualquer coisa o menor já estava dormindo acabando com os planos do moreno.

"Qual é, ainda são dez horas!".

Sebastian encarou o menor que dormia profundamente no acolchoado ao seu lado da cama. Frustrado por não conseguir fazer deitou em sua cama e tentou dormir para não ficar mais irritado do que estava.

— Ele só pode ser uma criança mesmo! – Sebastian olhou para Ciel que dormia profundamente. – Seis beijos... – o moreno desceu na cama calmamente para não acordá-lo, e ficou ao seu lado no acolchoado. – Ele não tem nada demais, é tão sem graça e a única coisa que poderia ser dito que é belo são os seus olhos! – com os dedos longos e finos tocou a face virando para si. – Seis selos rápidos e que acaba com a chantagem. – tão rápido e que nem se quer poderia ser contado como um selo, Sebastian foi tocando os lábios do menor contando os beijos que estava dando nele.

Com um suspiro Sebastian ficou de pé e sorriu. – Amanhã ele terá que apagar as fotos! – confiante de que estava certo deitou em sua cama. – Amanhã estarei livre!