AMORES VIRTUAIS escrita por Projeto Literário ColetâneaS, Georgeane Braga, Maxine Sinclair, Hanna Martins, Piper Palace, Sr Devaneio, itsmemare, arizonas, Serena Bin, Amauri Filho, Sabrina Azzar, Leeh, Natasha Alves


Capítulo 5
Conto 5 - A um touch de distância


Notas iniciais do capítulo

Oi! Como vão vocês?
Eu gostaria de começar pedindo desculpas com toda a sinceridade que existe em mim. O capítulo está oito horas atrasado e eu espero que vocês me perdoem (principalmente a Georgeane, que foi quem "mais sofreu" com toda a minha confusão).

Quero agradecer à Georgeane também pelo convite, pela oportunidade de fazer parte de um projeto tão lindo. Eu adorei.
E, claro, Leeh, que não foi só uma beta, mas também uma "paciente" (kkkkkkk) e não me xingou depois de tanta confusão que eu fiz (além de ter feito uma betagem incrível e detalhada obviamente) Obrigado vocês duas, de verdade.

Espero que meu singelo conto compense todo o atraso. Acabei não simplesmente escrevendo um capítulo, mas ganhei um presente com o mesmo, já que é inspirado fortemente na história real de uma pessoa que eu considero uma grande amiga. Obrigado você, por isto. Não teria ficado tão bom se não fosse "a sua história".

Sinopse do conto:
Cansada do marasmo total que chamava carinhosamente de "rotina", do marido que coexistia consigo na mesma casa, dos sonhos não conquistados e desejos frustrados, da depressão em que havia caído e das angústias que tudo aquilo lhe causava, Amanda resolve dar uma nova chance a si mesma.
A febre dos sites de relacionamento virtual parecia ser um bom ponto de partida, não fosse o fato dela encontrar absolutamente tudo, menos o que queria de fato: companhia.
Porém quando a vida resolve sorrir para nós, pode ser que um dia a tela do seu celular se acenda com uma nova oportunidade.
Pelo menos, foi o que me disseram que aconteceu com ela...

Trilha sonora: Tudo o que eu vivo (Laura Pausini)
Classificação: 13+



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19/12/2014

Amanda observava seu notebook com desânimo.

Este seria o terceiro sábado em que ela não conseguia progredir com uma palavra de seu romance. 

Porém, a culpa nem era de todo sua. Sendo parte de um relacionamento por conveniência e sem nenhum sentimento por seu companheiro senão o de enfado, não era de se esperar que sua inspiração para o amor estivesse tão distante. Somando este fato ao de Amanda estar relativamente cansada da correria do dia a dia, de cuidar das crianças praticamente sozinha e de sentir que sua alegria de viver se esvaía um pouco mais a cada dia, tínhamos como resultado a pessoa desesperançosa em que tinha se tornado.

Abriu uma nova aba em seu navegador.

 

“Bem-vinda de volta, Amanda!” – as palavras saudosas no topo da página inicial do site fizeram-na refletir por um momento. “Bem-vinda”... Não se sentia mais o que essa mensagem passava já algum tempo e em lugar nenhum.

Eute@mo.com era a febre dos sites de relacionamento do momento. Oito em cada dez usuários haviam migrado e o site já se expandia a níveis internacionais tamanho era seu crescimento.

Amanda só queria encontrar uma boa companhia para conversar, alguém que ouvisse e dividisse consigo ideias diferentes e novas, queria se sentir aceita e bem recebida por alguém.

Queria ser o “bem-vindo” na vida de outra pessoa.

 Sua conta estava para completar dois meses de uso, porém ninguém que atendesse pelo menos metade de suas preferências tinha aparecido ainda nesse período. Estava começando a desacreditar do site também.

Novamente, ela ponderou se valeria mais a pena submeter a si mesma e às suas filhas a uma mudança drástica na vida ou continuar vivendo de aparências dentro de um relacionamento sufocante e totalmente infeliz – por questões até mesmo financeiras.

Mas os pensamentos não duravam muito, já que a falta de coragem sempre a fazia escolher a segunda opção.

A parte boa nisso tudo? Podia desabafar à vontade consigo mesma enquanto chorava durante o banho ou sobre o travesseiro – não teria problema em ser flagrada por ele já que dormia só, a maioria das noites.

Amanda precisava de calor humano. Precisava de contato físico, palavras de carinho ou até mesmo amizade, mas precisava de algo sincero.

Então, lá estava ela: esperando que uma tela brilhante lhe mostrasse, como um passe de mágica, a pessoa certa para se conversar e trocar ideias. Era ridículo – ela percebeu – estava tão carente que depositava todas as suas esperanças em um imprevisto mágico onde alguém superdivertido e presente surgiria em sua vida do nada.

Irritada consigo mesma, ela fechou o notebook de uma vez só e foi para a cozinha deixando-o largado no sofá. Precisava de um café.

— A situação está ficando terrivelmente drástica – reconheceu. — Talvez aquele psicólogo que a Marlene sugeriu não fizesse tão mal. Será...?

Então, seu celular apitou. Uma mensagem no WhatsApp.

Número desconhecido.

“Ou, é o Toni...perdi meu cel, acredita? To add todo mundo de novo...fiquei sabendo pelo Chapisco que vc bebeu todas ontem? Cara...vc só dá vexame kkkk e tira essa imagem do seu perfil q está muito gay. Porém...kkk”

Amanda ficou estática ao ler aquilo. Releu a mensagem, sem compreender bulhufas do que estava acontecendo.

Estava claro que o rapaz... Toni... havia errado seu número com o de outra pessoa e estava confundindo-a com algum de seus amigos.

Mas como assim sua imagem “estava muito gay”? Era só uma rosa vermelha!

Ponderou e acabou optando por responder. Pobre “Toni” (e que nome era esse? Sem dúvidas, um apelido), poderia ser que o contato fosse de alguém importante para ele. De qualquer forma, estava altamente entediada num sábado altamente tedioso e não tinha muita coisa melhor pra fazer. Então:

“ Oi...Toni, não é? Então...creio que esteja falando com a pessoa errada, já que eu não bebi nada além de água ontem e não costumo dar vexames...rs...ah, e não conheço nenhum Chapisco. Sinto pela sua perda. A propósito, adoro rosas vermelhas (eis o motivo da minha foto de perfil).”

Se ele responderia ou não, ela não tinha como saber. Não que fosse importante, em todo caso, mas por algum motivo Amanda ficara ansiosa em saber se Toni responderia e se demoraria muito.

Poucos minutos depois, a resposta veio:

“Ô Léo, para de zoeira que tô sem tempo. Aproveita fala pra sua irmã que hoje tem kkkk. Hiii rosas vermelhas? C tá gay mesmo hein cara hahaha. Mais tarde passo aí, fl”

Caramba! O cara  ainda acha que está falando com o tal de Léo. Que inconveniente!

Mas Amanda refletiu. Ela queria responder e esclarecer essa situação de uma vez por todas!

Então, novamente lá foi ela:

“Eu sinto muito, mas não sou seu amigo Léo...

Vou trocar minha foto de perfil pra você ver, ok?”

Amanda mal trocou a foto, ele já havia visualizado sua mensagem.

“C tá falando sério?”— ele perguntou.

“Estou sim..rs”

“Mas esse numero é do meu amigo Léo. Vc é de SP?”

“Não... sou de Minas...”

“Caraca kkkk eu nem sei como me desculpar, tô sem graça aqui...rs”

“Não precisa ficar... aliás, eu acho que vc se confundiu ao não colocar o DDD da cidade. Pode ser isso, né?”

“Acho que sim... rs... desculpe as besteiras que falei...”

Não se preocupe com isso...pra te falar  a verdade, foi até bom receber essa mensagem sua. Me fez rir rsrs e... isso é bom em dias monótonos como este.”

“kkkk mesmo? Fico feliz então. Pode me dizer seu nome, moça misteriosa? Ou posso continuar te chamando de Léo? kkk”

“kkkk não... Acho que não seria legal e seu amigo se sentiria ofendido rs. Meu nome é Amanda. O seu é Toni, não é? - De Antônio?”

“Sim, de Antônio Carlos, mas não gosto muito dele, então as pessoas me chamam de Toni ou Carlinhos. Mas Toni é mais popular rs...

“Eu gosto de Antônio”

“Eu também gosto de Amanda... Prazer em conhecer, Amanda!”— ele falou e ela se surpreendeu.

Mas sabia que tinha sido sincero.

Amanda mal percebeu, mas iniciou uma longa e prazerosa conversa com Toni a partir daquele momento.

E... UAU! Como eles eram parecidos!! E em pouco tempo puderam perceber que tinham muito em comum: o interesse pela leitura, anseio por conhecer lugares novos e diferentes, o fato de ambos apreciarem um bom café e vinho, além dos mesmos gostos musicais! Mas acima de tudo, ambos prezavam uma boa conversa e, por mais incrível que pudesse parecer... passavam pelos mesmos problemas nos relacionamentos.

Amanda tomou consciência de uma coisa: Toni era a pessoa que Amanda tanto procurava. Tinha que ser!

Eles se davam tão bem que a impressão que passava era de que conheciam-se há anos! Ele a entendia, ela o entendia e simplesmente era isso!

Os dias iam passando e todas as manhãs Toni deixava uma mensagem de carinho a ela. Fosse no “bom dia” ou em qualquer outro texto que ele enviava, era superatencioso e sincero. Um verdadeiro amigo!

Ah, isso era tudo de bom! Finalmente  alguém que a compreendesse, alguém com quem conversava, alguém que estava ali. Amanda não se sentia daquele jeito, não sentia aquela sensação há muito tempo...

Trocaram algumas fotos, falaram de cumplicidade e respeito, compartilharam desejos em comum (ou nem tanto, às vezes) e palavras de carinho.

Prometeram ser os mais honestos possíveis um com o outro, porque afinal, era assim que uma amizade verdadeira tinha que ser. Não?!

Alguém como ele era o que ela precisava e Amanda queria, não, ela acreditava que era recíproco.

Já nos primeiros dias tinha medo de perdê-lo.

Sentia-se feliz, cuidada, amada e fazia o possível para retribuir o carinho e a atenção que Toni lhe dava – surpreendentemente – de forma tão generosa.

Seu coração doeu quando ele mencionou que praticamente implorava por carinho e que tinha vergonha de si mesmo. Sentiu sua angústia naquele momento, sua carência. E pela primeira vez, quis abraçá-lo e beijá-lo por todo o rosto enquanto dizia que ele merecia ser era amado, sim. Ele era.

Toni... Tão longe e tão perto ao mesmo tempo...

Podia praticamente senti-lo através da tela do celular ou via Skype – nos rápidos minutos que ambos tinham todas as noites antes de dormir – ao mesmo tempo em que ficava frustrada ao tocar seu rosto pixelizado e sentir a tela fria e sem vida do monitor em vez da pele macia e calorosa de seu amigo.

Isso era loucura, ela sabia! Mas... mas era muito bom e isso era totalmente inevitável.

E quando se despediam no fim dos dias (às vezes, porém, nas primeiras horas de outros) já sentia um falta imensa. Era estranho sentir tantas emoções por alguém que nunca havia visto pessoalmente – e que talvez nunca veria.

Amanda não queria ser boba ou agir como uma adolescente apaixonada, mas sentia dentro de si um rebuliço, uma ânsia que aumentava por causa dele e pela forma como ele se expressava a cada palavra digitada.

“Pelo amor de Deus, você não tem quinze anos!” — pensava consigo mesma.

Precisava agir racionalmente e não deixar que nada estragasse essa linda amizade. Maldita carência!

Não queria perdê-lo... não podia! No entanto, tinha receio que ele se cansasse dela. Apesar de todos os bons momentos, as risadas e o carinho mútuo entre eles, seus desabafos e surtos depressivos eram relativamente constantes. Sim, seu lado inseguro e conflituoso voltava à tona para atormentá-la com várias ideias irracionais ou absurdas e o pior de tudo é que ela se importava com isso.

Mas ele compartilhava seus conflitos, suas dores... e isso tornava tudo imensamente mais fácil.

Mas era verdade que o temor desaparecia instantaneamente quando os dias amanheciam e Toni lhe desejava um “Bom dia, minha querida!” ou enviava áudios tão gentis que ela não tinha como não sorrir.

Queria encontrá-lo um dia. Beijar a pontinha de seu nariz e dizer o quanto ele era amado, gentil, carinhoso e um amigo único! Quem sabe até mesmo ser um tanto quanto ousada e pedir para caminhar de mãos dadas, tomar café junto com ele e/ou ler em voz alta enquanto ele descansasse a cabeça em seu colo e permanecesse alisando seus cabelos... Ou quem sabe até mesmo concretizar o sonho de ambos em conhecer Portugal!

Todos esses cuidados ela queria oferecer a ele. Amá-lo, dizer que ainda havia esperanças de serem felizes e perpetuarem a amizade até que ambos estivessem bem velhinhos.

Mas mesmo que nada disso se concretizasse, Amanda ainda assim estaria feliz se Toni estivesse disposto a conversar com ela todos os dias e deixar ser amado e acariciado através de uma tela – se é que isso era possível.

Ela só queria aproveitar ao máximo a proximidade que essa realidade virtual permitia, senti-lo o mais próximo possível de si, apesar de toda a distância. Exatamente como ele disse a ela certa vez:

— Você vai sempre estar a um toque no touch de mim. Sempre estará a um toque de distância... E ter consciência desse fato é simplesmente uma das melhores coisas que me acontecem todos os dias.

Essa frase foi definitivamente a mais marcante. Dita em um dia que ela chorava contando a ele algumas mazelas. Era um período especialmente difícil para Amanda, já que ela sofria do mal da depressão sozinha – ela e seu marido não tinham mais qualquer tipo de relacionamento há dois anos! Eram como dois estranhos coexistindo dentro de uma mesma casa. Para os amigos e a família, tudo estava bem, mas por dentro... ela estava quebrada.

Então, num surto de perder a única coisa preciosa no momento para ela, enviou a ele a letra de uma música:

 

Correr para você

Eu sei que quando você olha pra mim
Há tanto que você simplesmente não vê
Mas se você levasse somente o tempo
Eu sei que em meu coração você encontraria
Oh uma garota que às vezes está assustada
Que não é sempre forte
Você não pode ver o ferimento em mim
Eu me sinto tão sozinha

Eu quero correr pra você
Eu quero correr pra você
Você não me segurará em seus braços
e me manterá protegida de dano?
Eu quero correr pra você
Mas se eu chegar pra você
Diga-me: você ficará
Ou você fugirá?

Cada dia, cada dia eu represento o papel
De alguém sempre em controle
Mas a noite eu chego em casa e giro a chave
Não há ninguém lá, ninguém se preocupa comigo
Oh qual a razão de dar duro para realizar seus sonhos
Sem alguém para compartilhá-los
Diga-me o que isto significa

Eu quero correr pra você
Eu quero correr pra você
Você não me segurará em seus braços
e me manterá protegida de dano?
Eu quero correr pra você
Mas se eu chegar pra você
Diga-me: você ficará
Ou você fugirá?

Não vá
Eu preciso de você aqui
Eu preciso de você para secar minhas lágrimas
Para beijar meus medos
Não se você soubesse como eu quero correr pra você
Sim saber que eu quero correr pra você

Você não me segurará em seus braços
e me manterá protegida de dano?
Eu quero correr pra você
Mas se eu chegar pra você
Diga-me: você ficará
Ou você fugirá?

Run to you (Whitney Houston)

 

Em resposta, Toni enviou a frase que dizia tudo a ela.

Por causa dele ela começou a cuidar mais de si. Fez regime, entrou para a academia, comprou roupas novas, ia mais regularmente ao salão de beleza. Voltou a escrever seu livro com mais afinco! Sentia-se mais bonita, mais útil, mais sensível e humana.

Tudo por causa de alguém que estava a 400 quilômetros de distância de si, que a fazia sorrir somente por saber que ele estava lá, tudo por causa de alguém... que existia.

Tinham uma playlist. Eles trocavam músicas regularmente, e todas com significados – claro!

Quando estava mais inspirada, Amanda fazia poemas e criava frases para mandar durante a noite quando já haviam se despedido - só para saber que ele veria ao ligar o celular. Aquilo gerava um prazer estranho, mas excitante de certa forma. Era divertido.

Toni a inspirava.

Certa noite, depois de se despedirem, Amanda começou a divagar. Pensou e refletiu. Palavras começaram a vir à tona:

A quatrocentos quilômetros daqui

“A quatrocentos quilômetros daqui existe alguém

Capaz de iluminar meu dia, fazê-lo mais significativo.

Parece clichê, mas até mesmo os clichês são baseados na realidade.

Quem nunca sentiu que podia vencer o mundo só por causa de alguém? E que esse mesmo alguém pode te ajudar a reerguer quando o seu mundo vier a ruir?

Com convicção posso dizer que sinto todas essas coisas por causa dele...

Que me faz sentir que a vida faz mais sentido só por saber que ele está lá, a quatrocentos quilômetros de mim, me fazendo feliz; me fazendo sorrir.

É nele que eu penso todas as noites, cogitando se está bem, se cansado, feliz ou desanimado;

E com o enorme desejo de estar lá pronta a dizer que vai ficar tudo bem. Vê-lo adormecer e sussurrar: ‘Obrigada, por existir!’

Só quero que ele saiba que é especial. Que é valoroso. Que o amo!

Só quero que ele escute meu coração bater forte por saber que ele o ocupa e que não vou permitir que saia.

Que é por culpa dele que caminho todas as tardes ouvindo as músicas que se parecem conosco; que realizo as tarefas do meu dia com mais satisfação ou canto durante o banho por pensar nele...

Que escrevo inspirando-me nele. Porque ele me inspira...

Não sei o que o futuro nos reserva, mas agradeço o destino por cruzar nossos caminhos; por trazê-lo pra mim...

Ele que é a minha motivação, meu herói, meu porto seguro...

Ele

Que está justamente a quatrocentos quilômetros daqui

Mas com uma ausência tão presente que chego a senti-lo.

Ele é o meu presente. Meu adorno precioso.

Sem pedir permissão eu ousei amá-lo. Sem pensar nas consequências ou nos impedimentos, apenas quero tê-lo um pouco pra mim...

Ao menos por um tempo...

Somos apenas duas pessoas quebradas tentando juntar os cacos e nos reconstruir.

Reaprender a amar; dar e receber carinho; ter a felicidade ao nosso alcance enquanto ela durar.

Pois não podemos deixar escapar a chance que a vida nos dá de poder termos momentos com alguém que se torna importante.

Não importa se é hoje ou daqui a um tempo.

Quero apenas vê-lo, tê-lo...

Se por breves momentos, ou para uma vida, não sei...

Só sei que há quatrocentos quilômetros daqui existe alguém que me faz feliz apenas por existir.

Tão perto e tão longe...

Quatrocentos quilômetros, no fim, não são nada.”

Fora seu desabafo mais precioso e sincero.

 Tudo melhorava de uma maneira quase perfeita.

Mas a vida... simplesmente faz o que quer e como quer. Amanda trabalhava – em paz e tranquila, devemos frisar – em uma quarta-feira comum quando seu celular tocou.

Encontrou-a na cama do hospital, já medicada e adormecida. Seus olhos encheram de água ao vê-la ali, tão frágil e indefesa, de certa forma.

— Mãe... – sussurrou, chegando mais perto e sentando-se à poltrona que havia ali do lado.

Problemas cardíacos, disseram os médicos. Sua mãe permaneceria internada e internada permaneceu por 20 dias na Unidade de Tratamento Intensivo.

Ainda assim, mesmo a correria do trabalho e da própria rotina, Toni se fez presente. Especialmente naquele momento difícil para Amanda, ele estava lá e nada impediu que ele mandasse mensagens de apoio e de carinho dobrado a ela.

Quando tudo parecia começar a se normalizar, porém, ele sumiu.

WhatsApp desativado – ela constatou após inúmeras checagens e mensagens preocupadas enviadas, porém sequer visualizadas.

Uma semana depois, ainda nada de Toni.

Amanda parou para refletir e percebeu: prezava muito aquela amizade, mas estava totalmente dependente de Toni, quase obcecada. E isso não podia gerar boa coisa no fim. Nenhuma obsessão pode ser boa – isso é impossível!

Tentou distrair a mente. Ele tinha um bom motivo para o sumiço, com certeza. Claro que tinha...

E mesmo assim, com o sumiço dele, Amanda não estava conseguindo produzir muito em nada. E ela continuava tentando fazer contato enviando e esperando mensagens.  

Começou a pensar que ele não a queria mais. Conseguia perfeitamente imaginá-lo enfadado de si, bloqueando-a, excluindo-a. Permanentemente.

E isso não era bom. Estava atormentando-se e deixando o tormento colocar coisas em sua cabeça.

Chorou novamente. Pensou novamente. Decidiu esperar um pouco mais. E decidiu por descarregar suas emoções no romance que vinha desenvolvendo com mais vontade nos últimos meses.

Então, Amanda começou a escrever. E escrevia sempre que podia e a cada instante que tinha um tempinho livre.

Estava frustrada, sentindo-se iludida e desenganada. Aproveitava para jogar todos esses sentimentos no papel, mas não foi suficiente.

— Quero o divórcio – ela disse ao marido num dia qualquer assim que chegou a casa e viu que ele não estava de plantão (tinha até mesmo se esquecido de sua rotina).

— O quê? – confusão foi sua primeira reação.

— Você ouviu. Não aguento, não quero mais viver de aparências. Isso deixou de ser um casamento há muito tempo.

Amanda sentia-se especialmente corajosa aquele dia devido a raiva aliada à frustração que vinha sentindo.

— Não pode chegar assim, do nada, pedindo o divórcio. Temos dezessete anos de casados!

— Já cheguei. Já pedi. Cansei de você, das suas mentiras, de ser chifrada com qualquer enfermeirazinha quenga – sim, eu sempre soube –, disso tudo. Cansei dessa... dessa vida de mentiras. Vá ficar em paz e me deixe em paz.

Eles brigaram feio. Ela jogou um monte de verdades, coisas que estavam entaladas há muito tempo em sua garganta na cara dele. Por fim, ele foi vencido pelo cansaço e cedeu.

 A briga judicial durou apenas seis meses.

Nesse meio tempo, seu celular apitou pela segunda vez mais importante. Sim, era ele! Porém...

Toni se desculpou pelo sumiço e justificou o sumiço repentino: havia perdido o irmão mais novo. Atropelamento. Estava arrasado, bem como a família toda.

Tudo tornou-se perfeitamente compreensível. E ela o perdoou instantaneamente.

Mas os conflitos das duas partes afastaram os dois. Ainda trocaram algumas mensagens de conforto um ao outro, mas cada um lida de uma forma com a dor. As mensagens foram rareando até tornarem-se mais raras... Ele precisava ficar sozinho, apesar de gostar (e querer, mas ela não sabia) muito a companhia dela. Em contrapartida, ela precisava ajeitar sua vida. Precisava do divórcio e isso não tinha nada a ver com Toni ou com qualquer outra pessoa, tinha a ver com liberdade. Apesar de amá-lo, ela precisava ainda dar conta da situação emocional e confusa das filhas adolescentes e do emprego (que também começava a sofrer as consequências de tanta pressão emocional).

Então, finalmente eles deram um tempo. E o tempo os afastou de vez, apesar de as lembranças, os bons momentos, e (acima de tudo) o aprendizado terem ficado. Toni continuou, sim, sendo pra Amanda o porto seguro de sempre. Ficara uma saudade boa daqueles meses que pareceram tão longos, mas que foram o suficiente para reerguê-los do abismo em que ambos se encontravam.

Bem, apesar de tudo, não se sabe o que o destino reserva.

Eles não se bloquearam no WhatsApp.

Então, tecnicamente, a frase que marcava a amizade de ambos permanecia e permaneceria até sabe Deus quando.

Tudo ficaria bem. Amanda sabia disso.

*

 

 13/03/2016

— Devo dizer que sua obra nos surpreendeu, senhora Costa! – disse o editor observando os papeis encadernados que estavam em sua mão por cima dos óculos. Seu terno azul-marinho aparentava ser caro.

Amanda sorriu com o elogio (fora um elogio, não?!), tentando não transparecer seu nervosismo, mas sem muito sucesso. Tinha viajado várias centenas de quilômetros para estar ali e tanto o nervosismo quanto a excitação de ter sido solicitada presencialmente geravam várias expectativas em si.

— Obrigada, senhor Santos. E pode me chamar de Amanda, se preferir.

Ele tirou os olhos dos papéis e olhou-a nos olhos.

— Bem, não quero me prolongar muito, pois a senhora terá que conversar com muita gente a partir de agora.

Espera. Então, essa é uma coisa boa?

— Várias pessoas? Mas só temos eu e o senhor na sala... – Amanda observou o escritório que chegava a ser intimidador de tão formal ao seu redor.

O senhor Santos sorriu.

— O seu original foi aprovado. Por unanimidade. Meus parabéns!

O tempo naquele momento parou, junto com seu coração, por um instante.

Aprovado?! Então... Ai meu Deus! A-P-R-O-V-A-D-O!!

O senhor Santos apertou sua mão depois pediu que o acompanhasse. Ao que parecia, iriam definir o título da obra já que Amanda confessou sua dúvida: “A 400 quilômetros de mim” ou “Apenas um toque de você”.

Eles seguiram por um corredor tranquilo e cheio de portas até outra sala. Quando a porta foi aberta, um grupo relativamente grande de pessoas estava sentado à uma mesa redonda e imponente de madeira.

Todos sorriram quando ela entrou. Foi apresentada a toda a equipe que ficaria responsável por transformar seu monte de folhas A4 com mais um monte de frases e parágrafos escritos em Arial tamanho 12 em uma obra linda digna das prateleiras das livrarias. Capa, diagramação, revisão... Amanda mal acreditava em tudo aquilo. Era um sonho se realizando e ela chorou de alegria – o que gerou mais animação no ambiente e tornou-o ainda mais receptivo. Acabaram por definir “Eu te @mo” como título.

Três horas e cinquenta e sete minutos depois de ter entrado na Editora Florência, ela saía praticamente sem sentir nada ao seu redor. Ainda estava sonhando.

Mal tinha ligado o celular, recebeu o aviso das quinze chamadas não atendidas. As meninas deveriam estar loucas de ansiedade para saber como tinha sido e se tudo tinha mesmo dado certo – pareciam estar mais positivas e animadas que a própria Amanda, e realmente estariam se isso fosse possível.

Seu celular tocou novamente e ela atendeu sem olhar o número, já que não precisava:

— Adivinhem só? FUI APROVADA! – ela gritou para as meninas do outro lado da linda e no meio da rua.

— Ah... meus parabéns?!

O coração de Amanda parou pela segunda vez no mesmo dia.

Uma voz... DE HOMEM?!  

Não, mais do que isso.

Era aquela voz.

— Está aí? – ele tornou a perguntar.

Amanda estava e não estava. Bem, pelo menos, estava sem qualquer capacidade de pronunciar um “A”.

— Amanda? Aconteceu alguma coisa? – A preocupação em sua voz fez-se notória.

— T-to-ton-Toni...?

— Sou eu! Meu Deus, como é bom ouvir sua voz novamente!

Tantas coisas lhe passavam pela cabeça naquele momento que ela estava prática e simplesmente em estado de choque.

— V-você est-tá fazen-do u-um inter-interur-bano? – ela perguntou e também não sabia o por quê de ter perguntado algo como aquilo.

— Não. Chamada local mesmo. Onde você está? Podemos nos ver? Eu te diria onde estou se soubesse o nome do bairro do hotel onde estou hospedado.

Como

É

QUE

ERA?!

TONI ESTAVA...

ALI?!

— Você está AQUI? – Não pôde evitar o grito em que a frase acabou saindo.

— Se eu te passar o endereço, você me acha? Explico tudo pessoalmente.

Ela andava a passos largos. Ops! Andava não, corria-mas-sem-correr. Seu coração parecia uma escola de samba batendo em ritmos e melodias diferentes e ela suava frio, mas continuou.

Estava cética até o momento em que atravessou a esquina e finalmente o viu pessoalmente.

Ela parou quando ele virou o rosto. Ele também parou.

Ficaram os dois a uma distância relativamente grande e ao mesmo tempo relativamente pequena.

Tão longe e tão perto...

Amigo. Ele estava ali. Companheiro, confidente, sincero, transparente, fiel... Amigo.

Ele estava ali. Pessoalmente. Ela não acreditava.

Tão longe e tão perto.

A poucos passos de si. Ela havia desejado aquele momento tantas vezes em segredo...

Então, ele começou a caminhar em sua direção, mas sem tirar os olhos dos dela. Parou bem à sua frente.

Amanda abriu a boca para falar algo, mas não havia nada que pudesse ser dito. Frase alguma seria capaz de expressar nenhum sentimento ou qualquer coisa do tipo.

— Ou, é o Toni... Perdi meu senso de qualquer coisa e acabei vindo pra cá, acredita? – Ele fez referência à primeira vez em que eles se falaram.

A primeira frase da primeira conversa.

— T-toni... De Antônio?

— Antônio Carlos, mas eu realmente prefiro Toni agora. O que acha?

Amanda permaneceu em silêncio por um instante, absorvendo tudo e o máximo que era capaz daquele momento: o rosto dele, as roupas, o cenário, os sons e as pessoas ao redor, os raios do pôr-do-sol que lhe iluminavam a face...

A face que ela havia visto tantas vezes através de uma tela brilhante. A face que lhe passava confiança e transparecia amor fraterno. A face de seu melhor e mais íntimo amigo.

— Você está aqui...

Inconscientemente ou não, o fato é que ela ergueu a mão até o rosto dele e o tocou pela primeira vez.

— Eu disse que estaria. Sempre a um touch de você.


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Notas finais do capítulo

Só queria agradecer a todos que têm nos impulsionado a prosseguir. Obrigado por todos os comentários carinhosos, as críticas ou simplesmente pela presença.
Como já foi dito aqui: é graças à essa equipe incrível e, principalmente, a vocês que o projeto tem continuado de forma tão apaixonante.
Obrigado por essa chance!
Abraços sinceros,
Sr. Devaneio



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