AMORES VIRTUAIS escrita por Projeto Literário ColetâneaS, Georgeane Braga, Maxine Sinclair, Hanna Martins, Piper Palace, Sr Devaneio, itsmemare, arizonas, Serena Bin, Amauri Filho, Sabrina Azzar, Leeh, Natasha Alves


Capítulo 2
Conto 2 - My Perfect Mistake


Notas iniciais do capítulo

N.S: Olá pessoal! Aqui é a Nicoly Simarque :D Provavelmente ninguém me conhece, eu postava no Nyah e havia parado e hoje estou voltando a escrever juntamente com o Projeto Amores Virtuais♥

G.B: Oi gente! E aqui é a Georgeane Braga (de novo!kkk) ;)

N.S: E é com muito orgulho que trazemos a vocês mais um conto da nossa Coletânea. Fizemos esse em parceria e estamos ansiosas para saber o retorno de vocês rs

G.B: Pessoal, a Nick também nos presenteará com outro conto mais adiante de autoria apenas dela (mas isso é surpresa hehehe )

N.S: Sim, pessoal! Nunca pensei que poderia participar de algo tão incrível que é o projeto, para ser sincera me sinto honrada em contribuir e quando comecei a escrever a história me senti completamente apaixonada não somente pelo enredo, mas também pelos personagens. Está sendo uma incrível e melhor experiência que já tive.

G.B: Bom, agora vamos trazer pra vocês, mais uma história sobre relacionamentos virtuais e esperamos que gostem bastante. Comentem! Beijos! Bora ler!

N.S: Beijos... Espero que sintam o mesmo que senti ao ler, que se divirtam e se apaixonem ... Boa Leitura!


Sinopse do conto:

Camila e Eduardo são amigos virtuais. Em uma determinada ocasião, ela é convidada por ele para morarem juntos em seu apartamento e assim, dividirem as despesas enquanto fazem intercâmbio. Só que as coisas fogem do controle e eles percebem que nem tudo são mil maravilhas. É aí que Eduardo começa a se questionar se esse convite foi uma boa estratégia. O que eles farão agora? Tentarão melhorar a convivência ou desistirão dessa amizade? Em meio a essa guerra eles fazem uma descoberta.

Trilha sonora de Eduardo e Camila: Marvim Gaye (Charlie Puh e Meghan Trainor)
Classificação: +13



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/694881/chapter/2

─ Hey, acorda, Mila! ─ Tentei acordá-la, sacudindo-a um pouco. O sono dela estava pesado, mas claro! Mais uma vez, chegou às duas horas da madrugada. Ela era uma irresponsável!

─ Camila, você já está atrasada para a faculdade. Não vou lhe chamar de novo. ─ Ela pegou o travesseiro e cobriu o rosto, resmungando qualquer coisa. ─ E não adianta reclamar. Se não quer ter problemas de manhã, deveria dormir cedo e não as madrugadas ─ pontuei rígido com ela.

─ Ok, papai! ─ disse com ironia, levantando-se da cama e indo em direção ao banheiro.

─ Ah, e não deixe o creme dental aberto e, arruma isso. ─ Apontei para sua cama.

─ Quando foi mesmo que você se tornou tão rabugento? ─ Mila perguntou, sentada no vaso e com a porta aberta. Nossa! Como pode ser tão sem noção.

─ Rabugento não! Organizado, você quer dizer, mas você não sabe o que essa palavra significa ─ falei, indo para a cozinha tirar o café da cafeteira e colocar em duas xícaras.

Tomar café da manhã com dignidade nessa rotina louca não era possível, mas ao menos um café puro para começar o dia. Na faculdade, a gente comia uma fruta ou um iogurte nos intervalos. Mila, não. Ela queria comer frituras e refrigerante. Dá-me paciência, meu Deus!

─ Isso pra mim é falta de sexo ─ insistia ela no assunto da rabugice quando entrou na cozinha vestindo uma calça jeans e uma blusa de frio, e penteando os cabelos castanhos.

Ela era bonita. Estatura mediana, de olhos escuros e cabelos ondulados na altura dos ombros. Nem parecia uma mulher de vinte anos, pois seu jeito me fazia pensar que alguém tinha registrado sua data de nascimento errado e ela tinha apenas quinze. Por ela ter apenas 1,60 de altura, isso ainda ficava mais evidente e ficava muito brava quando eu a chamava de “tampinha”.

Ela era assim, despreocupada. Onde passava, deixava rastros de bagunça, apaixonada por música sertaneja ─ que eu odeio ─ barulhenta e boca suja. Ela sabia me tirar do sério!

Isso me fazia repensar várias vezes sobre o convite que fiz a ela: de vir morar comigo e dividirmos as despesas, já que estudaríamos na mesma faculdade.

Como nos conhecemos?

Através de uma amiga, a Carol. Ela sempre promovia conversas em grupo no chatface. Eu sempre fui muito tímido e não me expressava muito, mas o jeito descontraído de Camila me encantava. E quando descobri que ela estava tentando intercâmbio para estudar aqui no Canadá, dei a maior força, assim como Carol que já estava aqui. As duas eram amigas desde quando eram vizinhas em Florianópolis.

Depois de um ano e meio, Mila nos deu a notícia de que havia conseguido passar para a mesma faculdade que a minha. Só que os planos de morar com Carol foram por água abaixo, porque esta foi para a Alemanha numa outra oportunidade de intercâmbio.

Camila então teria que esperar a resposta do banco de famílias que acolhem estudantes de intercâmbio. Então resolvi ajudá-la. Eu morava sozinho num apartamento pequeno e uma colega para dividir as despesas não seria nada mal. Afinal, tudo contribuía: estudaríamos na mesma faculdade e eu a conhecia.

Acertamos tudo, a família dela não se opôs e ela veio.

Estamos morando juntos há dez meses, mas já é o suficiente para ela me deixar louco. Eu a conhecia, mas o mundo virtual engana o real, com toda certeza.

Ela ainda me faz rir como antes, só que descobri que somos muito diferentes e isso tem nos trazido alguns conflitos.

Entramos no carro e em meia hora estávamos no campus. Nos despedimos e cada um foi para o seu bloco. No intervalo, sempre combinávamos de nos encontrarmos no RU.

─ Oi, Edu! Posso me sentar com você? ─ Era Emiliana, uma amiga do curso de Inglês Avançado.

─ Olá! Pode, claro. ─ Emiliana era legal. De vez em quando, jogava umas indiretas para mim, mas eu fingia que não entendia. Não era por nada... era que... não era a garota.

Conversamos um pouco sobre as disciplinas e ela me pediu ajuda em uma que ela estava com mais dificuldade quanto aos diálogos. Marcamos no meu apartamento.

A conversa ia bem, até que o furacão chegou.

─ Oi ─ cumprimentou com cara de poucos amigos, já sentando na cadeira.

─ Oi. Que bicho te mordeu dessa vez? ─ Mexi e ela me lançou um olhar que poderia me matar ali mesmo.

─ É... Edu...eu já vou indo. Fica combinado então no seu apartamento, sábado às três da tarde, não é? ─ Emiliana me perguntou já saindo da mesa.

─ Combinado! ─ Trocamos beijinhos no rosto e ela se foi. ─ O que foi? ─ perguntei para Camila que fez uma careta.

─ “Fica combinado, Edu... sábado às três no seu apartamento” ─ imitou a fala da garota fazendo uma voz ridícula. ─ Essa garota me irrita!

─ Por quê, Mila? Ela é legal. E disse que adora meus olhos verdes ─ disse para provocá-la.

─ Ah, com certeza! E adoraria também ter seu corpo de 1,80 em cima do dela ─ ironizou. ─ Por falar nisso, vou ter que sair de casa no sábado pra deixar vocês dois a sós?

─ Se quiser ficar... depois não reclama ─ falei provocando-a mais ainda e ela levantou bufando para a próxima aula enquanto eu ria do seu jeito.

 ******

─ “Aaahhhh, eu amo vocêeee. Teus segredos vou aprender a decifrar; teus desejos, me ensina a realizaaar...”

Poxa vida! Além de um péssimo gosto musical, canta muito mal. Ela adorava colocar os fones de ouvindo para arrumar a casa. O problema é que ela achava que a vizinhança inteira queria escutá-la cantando.

Tirei o livro da frente dos olhos e os óculos de leitura, e deitei a cabeça no travesseiro.

─ “Eu te estudo, te admiro, te espero... Será que um dia vai me amaaaar?”

    Isso ia longe...

Apesar da cantoria de Mila ser horrível, acabei rindo me lembrando da música que ela sempre cantava pra mim: “debaixo dos seus cabelos encontrei um caracol...”, fazendo crítica da música “Debaixo dos caracóis de seus cabelos”, de Caetano Veloso que eu gostava. Além de ficar me atormentando cantando-a de forma errada, Camila dizia que qualquer dia iria mesmo encontrar um caracol nos meus cabelos devido a eu estar com eles sempre molhados por lavá-los todos os dias. Mas, Mila adorava ficar passando a mão neles, pois, segundo ela, eram lisos, macios e um pouco maiores que os cortes tradicionais masculinos.  

Acabei adormecendo, porém, acordei com barulho de saltos pelo apartamento. Ao chegar à sala, a vi com um espelho na mão passando batom para sair.

─ Aonde você vai? ─ perguntei.

─ Vou a uma festa na casa de uma amiga ─ respondeu sem tirar os olhos do espelho, verificando se estava tudo certo com seu rosto.

─ E vai com essa saia? ─ Ela era muito sem noção! A saia não media nem dois palmos!

─ Ué?! E o que tem demais?

─ De menos, não é? Falta tecido ─ disse como se fosse o óbvio.

─ Deixa de ser careta, Edu! Ah, e já vou avisando que vou chegar tarde.

─ Você quer dizer cedo! Atenda pelo menos o celular dessa vez. Se você não se lembra, você está sob a minha responsabilidade.

─ Ah, para, Edu! Eu já tenho 20 anos! Não preciso de você para me vigiar.

─ Claro! Você é super responsável! Se não fosse por mim, não frequentava nenhuma aula mais. Não consegue deixar seus livros em ordem, vai saber cuidar de si mesma? Uma pessoa que troca de namorados como troca de roupa?

Ela olhou para mim espantada e eu vi o aborrecimento em seus olhos.

─ Olha, Edu, eu gosto muito de você, mas não quero que se intrometa na minha vida pessoal. Você não sabe nada de mim.

E saiu batendo a porta do apartamento.

 ******

São três horas da madrugada e não consegui pregar os olhos. Camila não atendeu nenhuma das minhas ligações, não visualizou nenhuma das minhas mensagens. Ela sabe como me deixar louco, possesso, raivoso!

Fiquei pensando em nossa discussão antes de ela sair. Será que fui muito duro com ela? Mas ela precisava ouvir...

Já tínhamos tido outras discussões nos últimos três meses. Estava ficando difícil a convivência. A gente não se entendia e ela não facilitava. Sempre me irritando, fazendo exatamente ao contrário daquilo que eu pedia. Poxa! Era difícil manter as coisas organizadas? Era difícil não encher o carro de sujeira? Deixar a toalha molhada no suporte? As calcinhas dentro de cesto de roupa suja?!

Mas, mesmo assim, eu me sentia incomodado por lembrar as palavras duras que ultimamente eu falava a ela. Nunca fui tão briguento e “reclamão”, sempre gostei da calmaria, mas ultimamente...

Lembrei-me da conversa que eu tive com um amigo meu sobre isso:

─ Cara, por que vocês não fazem terapia de casal? Funcionou pra mim e pra Nancy.

─ Porque não somos um casal, Marcel, quero dizer, não como você e a Nancy.

─ Hum. ─ Odeio quando as pessoas dão respostas monossílabas. Aquelas que não querem dizer nada, mas dizem muita coisa.

─ Hum nada, Marcel. Vocês e suas manias de acharem que homem e mulher não podem ser apenas amigos.

Ele ficou rindo com cara de idiota e me disse:

─ Olha, cara, se você não quer perder a amizade com sua garota, vai nessa terapeuta que eu estou te falando. Show de bola!

E ainda pensando nisso, ouço o barulho da fechadura. A porta rangia e eu olhei, Mila acabava de entrar cambaleando, fechou a porta e quase caiu tentando tirar a sandália do pé esquerdo; até que desistiu, jogou a bolsa no chão e veio para a sala.

─ Por que não me atendeu? ─ perguntei enquanto ela se sentava no sofá.

─ Talvez... porque... não quisesse. ─ Sua voz era sonolenta.

Parecia levemente alcoolizada e com o semblante de quem havia chorado. Provavelmente mais uma decepção amorosa. Droga, Mila! Por que você tem que ser tão infantil?

─ O que foi dessa vez? ─ perguntei.

─ Não me enche, Eduardo! Não ‘tô bem.

─ Estou vendo! Podia ao menos atender minhas ligações ou responder minhas mensagens, é tão difícil pra você?

─ Por que você se importa? ─ disse ela, indo em direção ao banheiro. ─ Você devia se preocupar com a sua vida e me deixar em paz. ─ Fechou a porta na minha cara.

─ Mas eu me preocupo, sabe por quê? Porque é imatura e pode se dar muito mal qualquer hora dessas. Esses caras só querem brincar com você, Mila ─ respondi do lado de fora.

Ela abriu a porta bruscamente e me encarou com raiva:

─ Você acha que eu sou uma vulgar, não é? Que abre as pernas para o primeiro que aparece!

─ Eu não disse isso! Você está colocando palavras na minha boca! ─ retruquei enquanto andava atrás dela em direção à sala novamente.

─ Olha, Edu, não adianta! Você nunca vai me entender, ‘tá? Eu não sou uma inútil como você pensa. Eu tenho sentimentos, ok? Eu não sei ser do jeito que você quer... ─ Senti certa tristeza na sua voz.

Ela se deitou e pegou no sono ali mesmo. Fui até o quarto e peguei um travesseiro e uma coberta, voltei para a sala e coloquei suas pernas esticadas, ajeitei sua cabeça no travesseiro e a cobri. Vendo-a daquele jeito, dava para ver seu rosto, tão meigo! Como uma menina inteligente e bonita podia querer uma vida tão sem conteúdo?

Tirei alguns fios de cabelo do seu rosto, levantei-me e fui para o meu quarto.

******

No outro dia, acordei decidido a falar com Mila sobre a terapia. A gente estava indo longe demais e não podíamos perder uma amizade tão bonita.

Levantei e organizei minha cama, fiz minha higiene pessoal e fui fazer o café. Mila ainda dormia no sofá. Não iria acordar tão cedo! Mas me surpreendi quando a vi descabelada e olhos borrados pela maquiagem, indo em direção à cafeteira.

─ Bom dia! ─ a cumprimentei e ela me olhou com uma cara de: “Você acha mesmo?”. Menina marrenta!

─ Mila, olha pra mim... eu preciso conversar sério com você.

Ela me olhou desconfiada e sentou-se na mesa:

─ Conversa séria, Edu? É sério? Nossa, que café horrível! ─ reclamou fazendo careta.

─ Você precisa de um café forte ─ eu falei e ela revirou os olhos ─, mas eu não quero falar sobre o café, quero dizer que estou muito preocupado com a nossa convivência. Não estamos sabendo lidar com as diferenças.

Camila não me disse nada, apenas bebericou mais um pouco do seu café.

─ Não quero perder nossa amizade que começou tão bem. Então eu pensei em uma coisa...

─ E o que é?

─ Terapia de casal. Quer dizer: não de casal, casal; de amigos, entende? Um amigo me indicou e deu certo pra ele e a esposa... mas no nosso caso...

Enquanto eu tentava explicar pra ela não entender errado, Mila se engasgou com o café e logo depois começou a rir descontrolavelmente.

─ Te...rapia? Ahahaha você está falando sério mesmo? Hahahahahaha

Porcaria de mulher louca!

******

Chegamos ao consultório da tal terapeuta. Havia uma mulher muito bem vestida, de meia idade e semblante impassível. Olhou-nos quando chegamos, mas logo voltou a folhear sua revista.

Do outro lado da sala, havia um casal; constatei pelas alianças. A jovem estava com as pernas cruzadas balançando o pé insistentemente e o rapaz com o olhar, ora para o teto, ora para a janela. Não se falavam.

Já estava ficando chato, quando fomos chamados.

Era uma sala grande, bem aconchegante e com móveis clássicos. Aquela mulher elegante e com olhar calmo nos cumprimentou calorosamente e nos indicou as cadeiras para Mila e eu sentarmos. No começo ficamos meio apreensivos, mas após as apresentações, Dra. Lyla Adams nos deixou um pouquinho mais tranquilos.

Falei da minha amizade com Camila e de como eu estava preocupado com o rumo que nossa convivência ia tomando.

Confesso que a terapeuta fez uma cara surpresa quando falamos que éramos apenas amigos e disse que era a primeira vez que trataria de um caso onde um par não tinha envolvimento amoroso. Camila estava calada demais e isso já me aguçava meu sistema de alerta. Ela mexia as mãos nervosamente e eu observava de soslaio enquanto tentava manter uma conversa com a doutora Adams.

─ Bem, como especialista, estou aqui para auxiliar vocês no que precisarem e assim eu decidir como posso ajudá-los. Lembrando que podem expressar como quiserem, tudo bem? Só não aceito violência física e nem quebrar minha sala ─ falou em tom divertido.

Não sei por que, mas eu já não me sinto tão à vontade...

─ Para iniciarmos ─ continuou ─, vou pedir que cada um de vocês fale um pouco sobre si mesmo e de como se conheceram.

Discorremos sobre os fatos desde quando nos tornamos amigos virtuais até a nossa atual situação e, logo depois, a Dra. Lyla pediu:

─ Agora, quero que façam uma autoavaliação, ok? Vamos começar por você, Camila.

Mila respirou fundo antes de começar a falar. Ela achava desnecessária essa terapia.

─ Meu nome é Camila Terra, tenho 20 anos. Sou de Florianópolis, no Brasil, e estou fazendo intercâmbio há dez meses aqui no Canadá pelo curso Relações Internacionais. Gosto de festas, de conhecer gente nova; sou um pouco barulhenta e desorganizada...

Nessa hora olhei para ela quase soltei: um pouco?!

Ela me fuzilou com o olhar e terminou de falar. Eu comecei:

─ Meu nome é Eduardo Sanches, sou metódico, organizado, gosto de ler, sou vegetariano, adoro músicas clássicas, odeio quebra de compromissos e prezo muito os estudos. Sou tímido em questão de amizades, não gosto de festas e desprezo bagunça.

Mila me olhou e disse:

─ Você já disse isso! Está querendo me dizer algo?

─ Eu não quis dizer nada além da minha apresentação, mas se a carapuça serviu...

─ Anda, fala o que você quer dizer com isso!

─ Okay! Já que quer tanto saber, odeio esse seu jeito desorganizado, odeio o modo como você come, odeio as músicas que escuta, odeio quando você vai ao banheiro e não fecha a porta, odeio quando chega de madrugada, odeio tudo!

─ Que ótimo! Porque também odeio muitas coisas em você!

─ Tipo o quê? ─ Essa garota já estava me tirando do sério.

─ Odeio seu modo de agir achando que sabe tudo, odeio quando você me diz o que fazer. Pelo amor de Deus, eu já tenho 20 anos! Você não é meu pai! Além disso, olha para meus amigos como se fossem ET’s; você se acha o melhor e seu modo organizado já virou doença!

─ Ah, agora eu sou doente! E você é uma sem noção que fica saindo com roupa curta só para os caras ficarem olhando para você. Sabe lá quantos já te passaram a mão enquanto você estava bêbada ─ gritei.

Estávamos nos encarando, jogando na cara um do outro tudo o que já sabíamos, a terapeuta não falava nada, apenas tinha o semblante... divertido?

─ Nem sei o que estamos fazendo aqui! ─ Camila completou. ─ Você só precisa de uma mulher e eu de distância de você. Simples! Problema resolvido!

Ai, meu saco! Agora a terapeuta era ela.

─ Para de ficar falando que preciso de mulher ─ retruquei.

─ E não é? Você acha que não sei daquela menina estranha que estuda com você?

─ Emiliana é uma amiga.

Ela começou a rir.

─ Edu, sinto lhe dizer, mas você tem dedo podre para mulheres.

─ Já falei que não temos nada.

─ E ainda se encontram no apartamento que dividimos, acho isso uma falta de respeito.

─ Pelo menos não sou como você que se encontra com homens em baladas.

─ Você é ridículo!

─ E você é maluca!

─ Basta! ─ a terapeuta falou um pouco mais alto que o normal. Assustamo–nos ao perceber que tínhamos ido longe demais e nos calamos. Estávamos em pé trocando ofensas e nem tínhamos percebido.

─ Sentem-se, por favor. Pude perceber nessa discussão ─ retomou a especialista ─, que por baixo de todos os maiores incômodos, está claro o que sentem um pelo outro.

─ Como assim? ─ perguntamos juntos.

─ Não é necessário muito tempo para perceber o que acontece com vocês ─ Ela se levantou e se apoiou na mesa de frente para nós dois. ─ Camila, você diz que ele precisa de alguém, mas arruma problema com as garotas que estão com ele, sendo amiga ou não... Eduardo, você se incomoda com as festas que ela frequenta e com as roupas que ela usa, tem problemas com quem ela sai ou deixa de sair.

─ Não é isso! ─ dissemos juntos.

─ Claro que é, vocês são mal resolvidos por sentirem algo, mas não direi o que é, deixarei descobrirem sozinhos, até porque não vai demorar, contudo, precisarão sentir a falta um do outro para isso acontecer. ─ Ela nos levou até a porta.

─ Tenham um bom dia, meus jovens! ─ despediu sorridente.

A mulher parecia maluca, sentimos algo? Estava muito na cara que não nos suportamos mais, Camila não falou comigo naquela tarde e eu não sabia o que dizer.

Demorei a dormir nesse dia pensando no que a terapeuta havia falado. O que ela quis dizer? Que tipo de sentimentos? Levantei para tomar um copo d’água, mas quando eu saio porta afora do meu quarto, escuto um sussurro vindo do quarto da Mila. Parecia que estava falando com alguém no telefone. Cheguei próximo a porta entreaberta e ouvi:

─ “Eu gosto dele mais do que pensava, Kate... Você acha que eu devia falar com ele? Mas e se ele me der um fora? As coisas vão piorar.”

Era só o que me faltava! Camila gostando de alguém. Aposto que era um desses caras estranhos que ela costuma sair.

─ “Eu sei, amiga, eu sei... mas agora eu preciso dar um jeito na situação aqui em casa, o Edu está cada dia mais insuportável! Realmente eu não me entendo.”

E a ouvi rindo no telefone.

Então eu sou insuportável? Ótimo! Ela me paga!

Voltei pro meu quarto e tranquei a porta.

 ******

No outro dia de manhã, acordei e fiz o café como sempre, resolvi não acordar Camila dessa vez.

Quando eu estava saindo, ela aparece toda amarrotada.

─ Por que você não me acordou?

─ Você já está bem crescidinha. Tem que parar de depender de mim para essas coisas.

Ela me olhou espantada.

─ Nossa! Acordou azedo hoje, hein? Me espera só dois minutos que só vou trocar de roupa.

─ Não posso, estou atrasado.

Camila fitou meus olhos e eu desviei o olhar.

─ Qual é a sua? Por que está agindo assim? ─ perguntou. ─ É por causa da droga daquela terapia? Eu te disse que não queria participar, mas você me obrigou!

─ Não, Camila, não é por isso! Aquela terapia foi um erro como muitas coisas nessa casa ─ respondi e me arrependi na mesma hora. Camila calou-se e um clima tenso se instalou no ar.  Quando eu vi que não tínhamos mais nada pra falar, eu direcionei de novo para a porta. Mas sua voz me barrou:

─ Eu... não pretendo te atormentar mais. Vou sair do seu apartamento ─ ela disse e meu coração deu um pulo. ─ Realmente, é um erro tentarmos manter uma convivência que está na cara que já deu.

─ E você vai morar aonde? Com seu novo namoradinho? ─ falei com raiva.

─ Isso realmente não te interessa! ─ E saiu da sala indo para o quarto.

******

    Eu não via Camila há alguns dias, quando voltei para  casa naquele dia, a primeira  coisa que fiz foi ir ao seu quarto e verificar seu armário. Muitas coisas dela não estavam lá. Ela tinha ido mesmo, e eu no fundo acreditando que ela não faria o que disse.  Talvez a gente só precisasse de um tempo mesmo. Ou uma vida... não sabíamos ao certo qual seria o final, nem se tinha conserto. Levamos aquilo longe demais, parecíamos um casal na semana de término, só que eu me preocupava com ela! Uma amizade destruída por bobeira, por diferenças. Mas não podia ser assim, tínhamos que decidir e não fugir. Liguei para ela várias vezes, mas não me atendia.

Eu estava ficando ansioso; preocupado. Já havia uma semana que ela tinha saído e nem na faculdade conseguia achá-la.

Camila, onde se meteu?

Além da preocupação, outra coisa me incomodava: a saudade. Será que ela sentia a mesma coisa? Por que não me ligava? Eu a magoei com o que eu havia falado.

Já estava disposto a investigar onde ela se escondera, mas por ironia do destino, quando estava saindo do campus, dei de cara com ela.

    ─ Oi! ─ Eu disse sem jeito.

    ─ Oi ─ respondeu secamente e isso me doeu.

    ─ Você está bem?

    ─ Acho que isso realmente não importa, agora se me dá licença, preciso ir.

    A segurei pela mão, nossos corpos ficaram um ao lado do outro, ela abaixou a cabeça.

    ─ Precisamos conversar.

    ─ Não temos nada para falar.

    ─ Mila, por que está agindo assim? Somos amigos e precisamos nos resolver.

    ─ Deve ser porque me levou a uma terapeuta e depois disse que eu sou um erro na sua vida?

    ─ Mila...me desculpe, eu estava com a cabeça quente...

    ─ Então vou ter que aturar suas humilhações sempre que estiver de cabeça quente e não concordar com as coisas que faço?

    ─ Olha eu... ─ eu ia me desculpar e dizer arrependido das besteiras que falei, mas o celular dela tocou.

    ─ Alo...oii! ‘tô legal, e você? Vamos sim, eu lhe prometi. Horário marcado então. Beijo.

    Ela estava empolgada demais...

    ─ Quem era? ─ perguntei sem pensar esquecendo tudo o que eu ia falar antes.

    ─ Hey, hey! Pode ir parando por aí! Não tenho que te dar satisfações de cada passo da minha vida.

    Fiquei furioso. Quem ela estava pensando que era?

    ─ Okay! Faz o que quiser da sua vida, saia com quem quiser, mas lembre-se: se você se der mal, não venha chorar pra mim.

    Saí andando nervoso pelo campus rumo ao estacionamento, eis que topei com Emiliana.

    ─ Oi, Edu! Nossa, parece nervoso

    ─ Não, Emiliana, está tudo okay! Eu... quero saber se topa sair comigo hoje à noite?

    A garota abriu um largo sorriso e aceitou. Bom, pelo menos era uma garota legal, inteligente, a gente combinava em quase tudo. Quem sabe...

   ******

    ─ Edu... tem alguém entrando no seu apartamento ─ Emiliana me chamou e ainda sonolento tentei responder:

    ─ Hmm? O quê?

    Caramba! Emiliana estava aqui comigo e nua. A noite anterior foi além do que eu havia planejado. Antes que eu levantasse da cama para saber do que se tratava, Mila apareceu na porta:

    ─ Edu, eu só vim buscar o rest... ─ Ela ficou paralisada ao ver Emiliana e eu juntos na minha cama. Demorou alguns segundos até que ela continuou. ─ Desculpe! Eu só... ─ E saiu.

─ Mila, espera! ─ Levantei da cama, vestindo minhas calças com pressa. ─ Droga! Isso não podia ter acontecido!

    ─ Como assim, Edu? Somos adultos e fizemos nossas escolhas. Não sei por que está preocupado em dar satisfações a essa sua amiguinha.

    Não dei atenção e fui direto ao quarto de Camila. Ela estava colocando umas roupas numa bolsa grande. Percebi que ela estava limpando o rosto... ela estava chorando? Mas por quê?

    ─ Mila, eu...

─ Não precisa se justificar, Eduardo, você tem o direito de dormir com quem quiser.

─ Emiliana e eu não temos nada, a gente apenas...

─ Transou?! ─ Na sua voz havia raiva. ─ Então vai lá. Vai dar mais uma antes de ela ir embora. Prometo que não irei atrapalhar!

─ Droga, Mila! Por que está fazendo isso? Você não era assim! Sempre foi alegre, espontânea, mas agora nós não nos entendemos mais. Você podia ao menos parar e me ouvir? ─ gritei com ela.

─ Pra quê? Pra me chamar de erro na sua vida? Pra falar que está arrependido por ter feito o convite pra eu vir morar com você? Não preciso de sua casa, nem de seu carro, nem da sua vida mega organizada, só preciso de... ─ Ela olhou pra mim chorando e abrandou a voz ─ paz! Eu sinto muito a sua falta, mas preciso ir.

Eu não queria deixá-la ir. Algo me dizia para impedi-la de passar por aquela porta.

─ Mila... eu preciso te dizer uma coisa....

Ela fixou meu olhar com expectativa e eu cheguei mais perto.

─ Edu! ─ era Emiliana me chamando. Fechei os olhos respirando fundo.

─ Vai lá, Edu, vai atender sua namoradinha.

─ Espera aqui, Mila. Eu já volto! Não saia daqui!

Voltei pro meu quarto disposto a pedir para Emiliana ir. Eu precisava resolver minha situação com Camila.

─ Edu... eu sei o que acontece com vocês dois ─ disse a garota calçando seu sapato. ─ Vocês se amam. ─ Eu fiquei imóvel. ─ E não diga que não é verdade, apenas pare para pensar. Veja como se importa com ela, como olha para ela... ela também te ama, mas tem medo de você não a aceitar por serem tão diferentes; por isso saiu de perto de você, para não sofrer achando que não a ama. ─ Ainda sentada na cama, com as mãos apoiadas nas pernas, ela completou: ─ Vai atrás dela! Não a perca de vista!

E como se uma força me tirasse do meu estado inerte, eu corri para o quarto, depois para a sala, mas não havia ninguém. Camila, não! Saí correndo pelos corredores do prédio, desci as escadas gritando por ela. As imagens dos nossos momentos surgiam em minha cabeça, da risada dela, da sua voz horrível, suas caretas, as noites que ficávamos embolados no sofá assistindo filme e comendo pipoca. Lembrei das palavras da terapeuta dizendo que só descobríramos esse sentimento quando sentíssemos falta um do outro.

Camila... eu era apaixonado por ela esse tempo todo!

─ Camila! ─ gritei saindo na rua enquanto ela caminhava apressadamente. Ao ouvir minha voz, ela virou-se. Eu corri até ela e vi que estava chorando mais ainda.

─ O que é, Edu? Não temos nada a falar um pro outro mais.

─ Temos sim! Diga pra mim e não minta: o que sente realmente por mim?

Mila arregalou os olhos e perguntou temerosa:

─ Como assim?

─ Desde o dia que fomos à terapeuta, eu parei para pensar nos meus atos. Ela disse que estava na cara, mas eu não conseguia ver, mas agora sim. Todo mundo já percebeu, Mila, menos a gente. A gente se ama, e ao menos que você me diga ao contrário, era isso o tempo todo. Eu sou completamente apaixonado por você!

Ela deixou mais algumas lágrimas escapar pela face e eu cheguei mais perto ainda. Estávamos no meio da rua, mas eu não me importava. Toquei o rosto dela e ela me falou:

─ Você não está errado... eu também sou apaixonada por você e estou surpresa por dizer que também está por mim. Sou o oposto de você, Edu, como isso vai dar certo?

─ A gente tenta; a gente aprende. Eu só não quero ficar mais longe de você.

“Saiam da rua, seus loucos!” alguém gritou de dentro de um carro.

Vários carros passavam buzinando. Afinal, estávamos praticamente no meio da rua. Mas quem se importa?

─ Mas, Edu... falamos tantas coisas um ao outro. Você disse que foi um erro; que eu sou um erro...

─ Shhh! ─ Coloquei o dedo na boca dela. ─ Se eu pensei isso um dia, eu estava muito equivocado. Somos diferentes, mas percebi que sinto falta até da sua bagunça. ─ E rimos. ─ Se você, Mila, foi meu erro, então você foi o erro mais perfeito da minha vida!

E a beijei. Com toda a saudade, com toda a vontade.

E naquele momento não queríamos saber se estávamos na rua ou sendo xingados. Eu só queria estar com minha garota.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então: o que acharam do casal Camila e Eduardo?
Pessoal, deixem seus comentários, okay? É importante pra nós sabermos se gostaram ou não da história :)
Próximo sábado, mais um autor deixará sua contribuição aqui na Amores Virtuais!
Portanto, fiquem ligados e continuem acompanhando ♥

Beijos ♥