Quase três semanas haviam se passado desde que Hermione discutira com Gina. Os gritos da garota chamando pelo seu nome ainda faziam eco em sua cabeça. Naquele momento em que Hermione desejou profundamente um lugar em que pudesse se esconder, uma porta se materializou no corredor em frente à tapeçaria de Barnabás, O Amalucado, e ela não pensou duas vezes em entrar. Esse lugar agora nunca havia lhe caído tão bem, ele era muito parecido com o dormitório só que continha apenas uma cama, grande o suficiente para dormir quatro pessoas, a um lado dela havia uma escrivaninha com um abajur em cima e vários pergaminhos, penas e tinteiros, e no outro lado uma grande estante onde se encontravam livros de títulos  2000 Poções e Feitiços para ficar invisível, Como desaparecer sem deixar vestígios e Fingir-se de morto – uma arte.

  Como naquele dia Hermione estava muito confusa e perturbada, não se perguntou sobre as incríveis condições que a sala podia proporcionar, mas agora que ela se tornou seu refúgio, mais importante até do que a sala comunal, ela passava horas vasculhando cada pedacinho da sala até perceber que ela se moldava dependendo dos desejos mais necessitados da pessoa que a habita. Hermione já havia lido Hogwarts – Uma História dezenas de vezes, sem contar os outros livros que comentam sobre a escola, mas nenhum deles mencionava sobre tal sala o que fez Hermione concluir que não queriam que qualquer um a encontrasse, só os que mais desejassem. Então passou a chamá-la de Sala dos Desejos.

  Todos os dias, após as aulas, Hermione caminhava em direção ao Salão Principal, separava o seu almoço ou jantar e ia direto para a Sala dos Desejos se esconder no seu mundo particular, mas ia sempre com o coração acelerado pois sabia que a cada curva que dava poderia se encontrar com ‘aquela pessoa’. Até pensar em falar o nome de Gina doía para Hermione, que dirá encontrá-la. Depois do quinto dia Gina parou de tentar falar com ela e sumiu, Hermione achou que ficaria mais aliviada, mas na verdade só piorou as coisas. Ela sentia, e não queria admitir isso para si mesma, muita falta de Gina. De conversar com ela, de rir com ela, apenas de estar com ela. Mas era uma droga, por que Gina tinha de fazer isso com ela. Nem estudar mais tinha graça, seu desempenho estava caindo rápido e Hermione só percebeu porque a professora Mcgonagall havia chamado a sua atenção.

— E lembrem-se de treinar muito, pois na próxima aula quero todos os pássaros bem transfigurados. Ah Srta. Granger!

Hermione estava guardando o seu material quando a professora a chamou.

— Sim professora? – Ela respondeu.

— Por favor, poderia aguardar uns minutos eu gostaria de dar uma palavrinha com a senhorita. E a sós Sr. Weasley e Sr. Potter. – Ela dirigiu aos dois garotos, que aguardavam curiosos, seu típico olhar severo e eles se retiraram trancando a porta.

— Algum problema professora? – Perguntou Hermione.

— É exatamente isso que eu gostaria de saber Srta. Granger. – Respondeu Mcgonagall. —Por favor, aproxime-se da minha mesa.

A professora apontou para uma cadeira em frente a sua escrivaninha e Hermione caminhou em direção até ela e se sentou.

— Fiz algo errado professora?

— Minha querida. – Disse Mcgonagall. —Não é o que você fez, mas o que você não fez!

— Como assi...

— Srta. Granger, nos últimos três anos sempre me orgulhei de ter a melhor aluna que Hogwarts já teve em muitos anos estudando em minha casa, mas nas últimas semanas a senhorita tem decepcionado bastante.

— Professora eu...

— Por favor, não me interrompa. Semana passada eu pedi dois pergaminhos contendo a importância de saber transfigurar afeltrado de fibras unidas e fiquei surpresa ao ver que a senhorita foi a única que não me entregou. Não pense em quanto eu relutei em não lhe dar uma detenção, achei que tinha algo a ver com ajudar o Potter a desvendar o segredo do ovo de dragão, mas pelo que o sei ele já desvendou. Resolvi lhe dar outra chance por ser sempre justa e pontual, mas a senhorita anda desatenta e santo Deus que não esteja adquirindo os mesmos hábitos dos seus companheiros.

— Claro que não professora! – Hermione tratou logo de responder.

— Bem, por enquanto é só um aviso, mas se a senhorita continuar assim saiba que não pensarei duas vezes em descontar pontos de Grifinória e lhe dar uma detenção. Agora pode ir.

Triste e conformada, Hermione já ia em direção a porta quando ouviu mais uma vez a voz da professora.

— Srta. Granger espere novamente, por favor.

Hermione encarou a professora pensando no que mais ela poderia querer dizer.

— Esse seu súbito comportamento por acaso tem algo a ver com a Srta. Weasley?

Hermione fora pega de surpresa, será que Gina teria dito alguma coisa a professora ou ela simplesmente saberia.

—C-claro que não professora, por que haveria?

— Bem, - Continuou Mcgonagall – Vocês duas sempre foram tão amigas e não tenho mais as visto juntas ultimamente, bem, seja o que for, resolva.

Hermione saiu da sala de Transfiguração com o coração quase saindo pela boca. Estava tendo problemas nos estudos, estava desatenta, não conseguia parar de pensar em Gina. Era tudo culpa dela. Elas não poderiam só, continuar amigas?

A próxima aula era de Herbologia e Hermione já estava atrasada, mas a professora Sprout não a repreendeu, pois Harry e Rony haviam contado a ela que Hermione estava com Mcgonagall.

— E aí, o que ela queria? – disse Rony depois que ela se sentou e colocou as Luvas de couro de dragão.

— Bem, só avisar que estou desatenta e que tenho de me esforçar se eu não quiser ganhar uma detenção. – Hermione estava com vergonha de admitir.

— Bem, é verdade sabe.  Aliás, não é só você. – Rony tratou logo de falar, pois Hermione tinha olhado de cara feia pra ele. – Não tente fingir que não estou falando de você Harry.

Rony deu uma cotovelada nas costelas de Harry que fez uma careta.

— Aí Rony, doeu. - Disse Harry massageando as costelas. — Do que você está falando? –

— De vocês dois. – Continuou Rony falando baixinho, pois a professora estava ajudando Simas na mesa próxima à deles. – Sabe, vocês andam muito esquisitos, enquanto uma esta melancólica pelos cantos o outro anda sorrindo abobalhado pra todo mundo e , incrivelmente, os dois estão distraídos, parecem até que estão em devaneios constantes e olha que eu sou bom em ter devaneios principalmente na hora da aula. Mas está ficando muito tedioso andar com vocês dois sabe.

E tendo dito isso por incrível que pareça, Rony começou a prestar atenção à aula. Harry e Hermione trocaram olhares por alguns segundos pensando nas palavras do amigo e se sentiram envergonhados. Andavam tão preocupados consigo mesmos que se esqueceram de Rony. De repente Hermione se lembrou do motivo de Harry andar tão abobalhado. Ele estava apaixonado. E por outro garoto. Lembrou-se das coisas que ele e Cedrico disseram no dia em que ela estava escondida atrás da armadura. Eles já estavam juntos há algum tempo, mas era um caso diferente do dela. Seria?

Hermione tomou uma decisão definitiva que colocaria em prática assim que a aula terminasse. Esperava que essa decisão mudasse tudo pra ela, que a faria voltar à vida que tinha antes. Só o que tinha de fazer era aguardar o fim da aula.

  Depois de vários minutos intermináveis, a sineta tocou anunciando a hora do almoço. Hermione ia guardando suas coisas lentamente dando tempo para fazer o que tinha de fazer. Seu coração palpitava, suas mãos estavam frias e seu rosto começou a ruborizar. Ela, Rony e Harry saíram em silencio e foram em direção ao Salão Comunal com os outros alunos. Quando chegaram à porta de entrada, Hermione segurou o braço de Rony e falou baixo para que somente ele ouvisse.

— Rony, vem aqui no canto eu quero falar com você.

— Ah, tudo bem. – Rony deu uma ultima olhada dentro do Salão Comunal um pouco triste imaginando o que teria para o almoço e depois acompanhou Hermione até um corredor um pouco afastado.

— Bem, o que você quer?

— Bom, eu queria saber...

Mas Rony não estava prestando atenção, ele olhava para um ponto atrás dela e antes que Hermione pudesse ver o que era ele gritou.

— Hey, GINA!

Hermione sentiu o rosto corar, e a voz tremer, no impulso do momento virou o rosto e deparou-se com Gina, mas esta não estava só, vinha acompanhada de uma garota loira que tinha uma expressão sonhadora. As duas vinham rindo, felizes da vida, o que fez Hermione sentir raiva, pois como Gina poderia estar tão feliz enquanto ela estava sofrendo, indo por água abaixo. Por alguns segundos, os olhos castanhos se encontraram com os azuis e Hermione se sentiu confortável, como se nada tivesse acontecido, mas aí ela olhou para o lado e viu a garota loira bem acomodada ao lado de Gina e lembrou o porquê estava afastada dela. Sentiu raiva novamente e ficou encarando o chão enquanto elas se aproximavam.

— Você me chamou Rony?  - Disse Gina.

— Sim, queria falar logo antes que me esquecesse. Mamãe me mandou uma coruja e me pediu para perguntar a você se vai ser necessário comprar roupas para o baile para você? Você foi convidada?

— Bem, fui. Mas não aceitei. – Gina respondeu logo, pois Hermione parecia que ia falar algo, mas pensou melhor e continuou encarando o chão.

— Mas não seria legal se ela fosse. – Falou a garota loira surpreendendo a todos. – Sabe, esse baile é uma farsa. É uma forma de o Ministério invadir Hogwarts e vasculhar o castelo sem ter alunos interferindo. Por isso quanto mais alunos espertos estiverem rondando o castelo, menos o Ministério vai poder interferir em Hogwarts.

Rony parecia que estava segurando o riso. Ele não percebia a tensão que havia naquela hora.

— Bom Gina, já que você não vai, mande uma coruja rápido avisando a mamãe antes que ela compre seu vestido.

E Rony se virou novamente para Hermione para continuar de onde pararam e Hermione se lembrou do por que estavam ali. E agora que Gina estava lá com eles, não haveria momento melhor para agir.

— Então Rony. – Ela colocou um tom meloso na voz que até Rony achou estranho e foi se encostando devagarinho nele alisando seu braço. – Falando no Baile, eu gostaria de saber se você não gostaria de ir comigo?

Rony ficou vermelho como um rabanete, e começou a gaguejar. Ele ficou nervoso, olhando de Gina para a garota loira e depois para Hermione e vice-versa. Mas Hermione não parou por aí.

— É que, sabe Rony. Lembra aquele dia em que discutimos na frente da biblioteca e eu disse que você havia me magoado e coisa e tal. Então, naquele dia, eu percebi que gosto muito mais de você e não só como amigo.

Rony ficou mais vermelho ainda e começou a ter um acesso de tosse. Ao olhar para Gina, esta ia se afastando as pressas e falando rápido com a voz embargada.

— Acho que estamos atrapalhando aqui. Eu vou indo logo para o corujal mandar a carta para a mamãe. Anh, boa sorte com vocês e... vejo vocês por aí.

E saiu correndo escada a cima, nem lembrou de que estava acompanhada. A garota loira se despediu e foi atrás de Gina para continuarem conversando e Hermione sentiu um pesar muito grande ao ver que havia feito algo terrível. Só que não tinha mais volta.

—Isso foi... Realmente estranho. – Disse Rony, envergonhado.

— Ah... Bem... Se você não quiser, tud...

— Não, espera Hermione eu...  – Ele abaixou a cabeça e respondeu