Sou apenas humana

Tenho um esqueleto em mim

Mas não sou a vilã

Apesar do que você está sempre pregando

Se ela falasse que o dia seguinte começou bem, com pássaros cantando na sua janela e um delicioso café da manhã preparado e servido na cama pela sua mãe, seria uma completa e total mentira.

Ela acordou 15 minutos atrasada com sua mãe abrindo e fechando as gavetas da cozinha sem o menor cuidado, seu cabelo estava todo amassado de um lado, parecia mais um capacete quadrado, suas olheiras estavam gigantes pela noite mal dormida, todos seus livros pareciam ter desaparecido e seu celular estava zerado de bateria.

Mas o sorriso não saia do rosto dela desde a noite anterior e toda vez que se lembrava dos momentos em que esteve com Sasuke sentia seu rosto pegar fogo, seu sorriso crescia mais ainda e seu estomago se agitava de uma forma que ela podia ter certeza que a qualquer momento iria vomitar um arco-iris.

E por esse motivo, ela não se importou tanto com todas as outras merdas que queriam acabar com seu dia.

Sasuke Uchiha tinha a beijado.

Ela pensou sorrindo sem se importar de ter acabado de dar com o mindinho na madeira da porta.

Gente apaixonada devia ser estudada.

— Será que tem como você tirar esse sorriso irritante do rosto? Tá me dando nos nervos. – Ino resmungou quando a encontrou no meio do caminho para a escola.

Sakura riu sem poder controlar sua felicidade.

Normalmente ela era como Ino, felicidade só vinha depois das 10 da manhã na hora do  intervalo quando comia alguma coisa, mas hoje parecia que nada podia colocar pra baixo.

Ino revirou os olhos ficando ainda mais irritada.

— Tá tão feliz por que? Só por causa do campeonato?

Sakura mordeu o lábio inferior, em duvida se contava ou não para ela. Quer dizer, Ino era sua amiga, mas contar pra ela seria o mesmo que contar para a escola inteira.

— Okay, pela sua cara tem mais coisa do que isso. – a loira estreitou os olhos, olhando Sakura de cima a baixo tentando decifrar o que podia ter acontecido. – Por acaso você teve alguma noite selvagem de sexo?

Sakura arregalou os olhos se engasgando com a própria saliva, tossindo de uma forma não muito elegante.

— Porca! – Sakura exclamou tentando se recuperar do engasgo.

Ino ainda continuava a encará-la, esperando uma resposta.

— Não, eu não tive uma noite de sexo selvagem, você sabe que eu... – ela olhou pra baixo, claramente desconfortável. – Eu ainda sou virgem... – murmurou o mais baixo possível.

Sim, ela ainda era virgem, afinal, sempre esteve esperando por Sasuke. Hinata também era, por motivos óbvios de Neji espantar qualquer um que tivesse algum tipo de preservação pelo seu pau. Do lado contrario estavam Ino, que tinha perdido a virgindade com um garoto da outra escola no ano anterior, e Tenten, que tinha perdido com um ex-namorado que morava na cidade do pai dela.

 Iria ser no mínimo interessante, se não hilário, ver se Neji soltando fogo pela boca quando descobrisse de Tenten.

— Se não foi a virgindade, foi o que? – Ino cobrou.

Samordeu o lábio inferior e em seguida suspirou, maneirando com a cabeça.

— Promete não contar para ninguém?

Ino levantou uma das sobrancelhas.

— Que Mané, prometer, Sakura...

— Ino, por favor... – Sakura implorou com um gemido.

— Tá bom, tá bom. – a loira revirou os olhos. – Eu prometo, agora fala.

Sakura olhou para os próprios pés, envergonhada.

— Ontem, eu e o Sasuke nos beijamos. – confessou em voz baixa.

— Ontem? – Ino uniu as sobrancelhas por um instante antes de sua expressão se suavizar. – Ontem! – exclamou parecendo ter um estalo em sua mente. – Bem que eu estranhei você e o Sasuke sumirem um pouco antes de todo mundo ir embora!

Sakura continuou olhando para os próprios pés enquanto a amiga surtava andando em volta dela.

— Como vocês se beijam e você não me fala nada?! – Ino se aproximou, peitando a amiga mesmo, sem respeitar o espaço pessoal dela. – Você devia ter me ligado! Você contou pra alguém? Olha se você contou primeiro pra Tenten eu juro que...

— Eu não contei pra ninguém! – Sakura a interrompeu, sabendo que se não fizesse isso Ino continuaria surtando e as duas perderiam o horário para a aula.

Ino se calou com aquilo, voltando a olhar desconfiada.

— E por que não contou para ninguém? Sasuke pediu pra não contarem pra ninguém?! – Ino disse já querendo começar a surtar de novo. – Se ele pediu isso, Sakura desiste dele, ficar em segredo com alguém não é...

— Sasuke não me pediu isso, ele nem mencionou nada do tipo. – a cortou novamente.

— Não? – aquilo deixou Ino surpresa. – Então isso pode significar que ele... – ela franziu o cenho. – Que vocês dois podem ter algo?

Sakura mordeu o lábio inferior, dando de ombros.

Não queria ter esperanças, mas só de pensar naquilo fazia Sakura vibrar.

— Isso é... Bem, surpreendente. – Ino disse balançando a cabeça. – Tenho que confessar que não esperava mais que Sasuke tomasse alguma atitude, principalmente quando eu vi você seguir em frente. – Ino entortou o canto da boca. – Sakura, eu não quero ser estraga prazeres, eu sei o quanto ter ficado com o Sasuke foi importante pra você, mas... – ela olhou hesitante para a amiga. – Você não acha estranho ele querer ficar com você logo quando você está seguindo em frente?

Sakura suspirou, assentindo.

Aquela alegria que ela estava sentindo foi lentamente diminuindo quando se lembrou daquilo.

— Eu quero acreditar que não é isso. – ela deu um sorriso forçado. – por isso eu não espero muito dele, sabe? Só vou... – deu de ombros. – Só vou deixar rolar.

Ino assentiu, dando um sorriso de empatia para a amiga. As duas voltaram a andar.

— E o Gaara?

Sakura levantou uma das sobrancelhas.

— Eu pensei que você e ele tivessem alguma coisa...

— Oh, eu... Oh. – ela não conseguia formular uma frase completa. – Eu não...

— Você ia contar, né? Quer dizer, com essa sua cara de pateta nem tem como esconder. – Ino revirou os olhos. – Assim que ele olhar para você, ele vai saber que aconteceu alguma coisa.

A rosada franziu o cenho, sentindo um pequeno desespero crescer.

Ino tinha razão, ela precisa contar para Gaara o quanto antes. Se ele descobrisse por outros, Sakura tinha certeza que ele iria surtar.

Quem ela queria enganar? Gaara iria surtar de qualquer jeito!

Ele simplesmente odiava Sasuke e qualquer coisa que viesse a lembrar o Uchiha.

Gaara era como uma montanha russa de emoções, onde ele parecia ter dois picos: puto da vida quebrando tudo pelo caminho e estado de sarcástico, que era, com certeza, melhor do que puto da vida quebrando tudo.

Ela soltou um gemido baixo, já prevendo a confusão que iria acontecer.

As duas continuaram sua caminhada até a escola, Ino já tinha esquecido do que falavam antes e comentava algo sobre os testes para as líderes de torcida que iriam substituir as garotas que iriam se formar naquele ano, incluindo ela própria. Sakura fingia prestar atenção no que a loira falava, sua cabeça estava perdida em pensamentos.

 — Ah, olha. - Ino disse de repente acordando Sakura de sua bolha. – Estranho ele ficar aqui fora, não é?

 Sakura franziu o cenho e olhou para o que tinha despertado a curiosidade em Ino.

 Sasuke estava parado na frente da escola, as costas apoiadas no portão da entrada, a mochila jogada sobre um dos ombros, ele batia o pé provavelmente no ritmo da música que ouvia no celular. Sua expressão era de impaciência e irritação.

Sakura entendia a irritação dele, Sasuke odiava ficar parado na frente da escola porque toda pessoa que passava por ele o encarava, ele odiava essa atenção estúpida que as pessoas davam a ele por causa de sua aparência. O que Sakura não conseguia entender era o que ele estava fazendo ali parado, será que estava esperando por Naruto? Muito pouco provável, mas era a única coisa que passou na sua cabeça para justificar aquilo.

 Sasuke tirou um dos fones do ouvido quando as duas se aproximaram, se desencostando do portão. A impaciência sumiu de seu rosto.

 — Ohayou, Sasuke-kun. – as duas o cumprimentaram, com uma pequena reverência.

  Sasuke fez um leve aceno com a cabeça em resposta, olhando para Sakura e ignorando a loira. Ele se aproximou da rosada e pegou a mochila das mãos dela, a jogando sobre o ombro junto com a sua.

Ino e Sakura arregalaram os olhos com o gesto dele enquanto Sasuke ainda estava com sua expressão indiferente, como se não estivesse fazendo nada demais.

Ele foi para o lado da rosada e, com a mão que não segurava as mochilas, deslizou sua mão pelo braço dela, sem querer chamar muita atenção para a ação, e entrelaçou seus dedos no dela como tinha feito na noite anterior.

Sakura esbugalhou os olhos, desviando o olhas das mãos unidas para a figura da amiga não acreditando que Sasuke fosse capaz de ter feito aquilo mesmo.

Sentiu seu rosto pegar fogo ao ver os olhares das pessoas em volta serem atraídos para a cena que Sasuke estava proporcionando.

Sasuke teve que puxá-la de leve para que Sakura acordasse e o acompanhasse para dentro da escola. Ela o acompanhou, ficando mais e mais acanhada conforme andavam e as pessoas olhavam e cochichavam. Inconscientemente, ela se aproximou de Sasuke. Abraçando o braço dele.

A fofoca corria tão rápido que quando eles chegaram ao corredor das salas de aula, os alunos, tanto da sua sala quanto das outras que tinham do corredor, estavam amontoados nas portas e janelas, esperando os dois passarem.

Sakura ouviu uma espécie de grunhido vindo da garganta do garoto, se desencostou do braço dele para poder olhar melhor seu rosto. Sasuke tinha a mandíbula trincada e fuzilava todos por perto que ele via os encarando, obviamente, a pessoa alvo desviava o olhar na mesma hora.

Ela apertou o enlaço dos seus dedos nos dele, chamando a atenção de Sasuke para si.

As linhas do rosto dele relaxaram e ele devolveu o aperto dos dedos, balançando a cabeça de leve.

Eles entraram na sala de aula e mais uma vez todos ficaram o casal.

Sasuke guiou a garota para seus antigos lugares, ela o seguiu sentando na carteira a sua frente e Naruto ao lado dos dois. Ele devolveu sua mochila quando já estavam acomodados.

Ela estava envergonhada com os olhares, mas foi quando Gaara entrou na sala que um arrepio frio desceu pela espinha.

Gaara olhava ao redor carrancudo, provavelmente irritado com a agitação dos outros alunos. Ele passou os olhos pela sala, estreitando os olhos quando seu olhar parou na direção de Sakura e Sasuke.

A rosada congelou na mesma hora esperando as próximas ações de Gaara.

Viu ele trincar os dentes e um tique nervoso começar no olho direito dele e quando Sakura tinha certeza que ele iria avançar e confrontá-la, Gaara deu meia volta e saiu, sem se importar em dar com o ombro no professor.

  Oh, ele estava muito puto da vida.

Enquanto ela via Gaara deixar a sala, percebeu que Hinata também tinha visto a reação do ruivo e também a encarava com os olhos arregalados. A rosada comprimiu os lábios, decidindo se iria ou não atrás de Gaara, mas antes que ela pudesse fazer algo o professor começou a aula.

— Sakura-chan? – ela ouviu Naruto a chamar sussurrando.

Ela o olhou pelo canto do olho, para o professor não pega-los conversando.

— Tá tudo bem? Parece até que você viu um fantasma. – comentou baixinho. – É culpa do teme? Eu posso bater nele se você quiser, eu também ficaria desse jeito se ele ficasse segurando na minha mão por tanto tempo.

Sakura uniu as sobrancelhas e olhou para o loiro de novo a tempo de ver Sasuke batendo na cabeça do loiro com um livro.

— Haruno, Uchiha e Uzumaki, parecem bastante animados, querem dividir o motivo de sua animação com o resto da turma? – o professor se pronunciou, muito mau-humorado, mostrando que tinha visto a interação dos três.

Naruto empalideceu, engolindo seco, Sasuke continuou com a mesma cara tediosa de sempre enquanto deslizava os dedos na cadeira da garota.  

— Na verdade, eu preciso ir ao banheiro. – Sakura disse se levantando de repente, assustando os garotos em volta que não esperavam. – Com licença. – fez uma pequena reverência correu para fora da sala, sem esperar a permissão do professor para que saisse.

Ela sabia que provavelmente eles estavam pensando que ela tinha enlouquecido, mas ela não se importava com aquilo naquele momento.

Só conseguia pensar em encontrar Gaara e resolver logo aquela situação.

Ela rodou a escola inteira a procura do ruivo, se escondendo sempre que algum inspetor ou professor que estava em horário vago aparecia. Achou Gaara no pátio, no antigo lugar que ele usava para se isolar dos outros alunos, sentado numa escadinha.

Ele estava de olhos fechados e com os fones de ouvido, Sakura conseguia ouvir o heavy metal ensurdecedor que vinha dos fones dele.

— Gaara? – o chamou, mas ele não teve nenhuma reação. – Gaara, será que a gente pode conversar? – aumentou o tom de voz pra ter certeza que Gaara iria ouvir.

Mais uma vez, ignorada.

— Gaara! – exclamou irritada, arrancou um dos lados do fone dele.

Gaara a olhou irritado, trincando os dentes.

— Que porra... – disse entre os dentes.

— Nós precisamos conversar.

Gaara soltou uma risada anasalada irônica.

— Eu não tenho nada pra falar, volta lá pro seu Uchiha, vai. – a dispensou com a mão e colocou o fone de novo.

Sakura chiou, irritada arrancando o fone da orelha dele de novo.

— Nós já passamos dessa fase, dá pra ser homem maduro e conversar de boa comigo?

Ela cruzou os braços, irritada com o comportamento dele. Gaara levantou uma das sobrancelhas.

— Tá falando sério? – debochou. – Eu não tenho nada pra falar com você e nem vou perder meu tempo com isso, sabe por que? Porque não adianta, é só o Uchiha falar meia dúzias de palavras bonitinhas que você volta a ser aquela garota idiotinha que fica cheirando a bunda dele. – cuspiu as palavras.

Sakura arregalou os olhos.

— Como é que é?!

— Ah, esqueci, você não gosta de ouvir verdades, não é? – disse debochado se inclinando para trás, apoiando os cotovelos no degrau de cima. – Aposto que não me contou só porque sabia que eu iria falar na tua cara o quão otária você tá sendo acreditando que finalmente o Uchiha te notou. – Sakura trincou os dentes e fechou suas mãos em punho, tremendo tentando se controlar. – Agora que você já tem seu precioso Sasuke-kun.– debochou do nome, afinando a voz. – Já tem que queria, pode voltar pra sua vida perfeitinha de contos de fada que você sempre quis, só depois, quando ele te largar, não depois vem toda chorosa pra cima de mim não, tá?

— Vai me deixar falar, ou vai continuar despejando merda pela boca?!

Gaara se pôs de pé ficando mais alto que ela, cruzou os braços. Sakura deu um passo para trás, se sentindo levemente intimidada com a diferença de altura deles que tinha ficado maior.

— Não fode, Sakura, você sabe que eu tenho razão. – cuspiu as palavras na cara dela. – Sabe que ele só quis alguma coisa com você porque viu que você tava ficando comigo e sabe também que eu to certo, que esse seu conto de fadas tá com os dias contados, então não vem banca pra cima de mim não.

Sakura subiu um degrau, em nenhum momento desviando o olhar do de Gaara, sem vacilar.

— Quer saber? Vai se foder, Gaara. – disse cada palavra bem pausadamente, com gosto. – Eu to cansada de você apontando o dedo na minha cara e falando que eu só faço merda atrás de merda, qualquer coisinha você já vem com três pedras na mão, você julga o Sasuke, mas tudo que você me diz é que nada que eu faço tá bom! – disse entre os dentes, batendo o dedo indicador no peitoral dele. – Talvez você tenha razão, talvez ele vá me deixar amanhã, ou até hoje mesmo, mas você não pode me julgar por dar uma segunda chance pra ele quando eu te dou chance atrás de chance toda vez que você fica putinho e desconta em mim!

Gaara engoliu seco, surpreso com a reação da garota, mas tratou de não deixar transparecer. Manteve seu olhar no dela, sem vacilar em nenhum momento.

Os olhos verdes da garota o fitaram de cima a baixo e Gaara sentiu um arrepio descer pela coluna, não gostando da frieza do olhar dela sobre si.

— Você cobra de mim maturidade Gaara, mas é o primeiro a agir como criança. – disse não parecendo mais tão raivosa e sim, um pouco decepcionada.

Gaara não disse nada, não soube o que falar, a surpresa fez as palavras morrerem em sua boca. O sinal do final do primeiro tempo tocou e despertou os dois da bolha em que eles estiveram enquanto conversavam e, com um ultimo olhar para ele, Sakura foi a primeira a se mexer, dando as costas para o ruivo.