Assim que entrei em casa não consegui mais manter o sorriso. Tentei ao menos parecer contente quando estava com o Guilherme, mas a verdade é que não consigo sentir nada. Nada mesmo. Sei que que isso não é justo com ele, mas não posso passar o resto da minha vida esperando por alguém que não quer estar ao meu lado e é por isso que permiti que ele me beijasse. Por que preciso tentar. O problema é que não sei bem o que estou fazendo, por que apesar de querer apagar o Gustavo da minha vida, o fato é que nunca vou sentir por outro homem o que sinto por ele e não quero magoar o Guilherme.

Apesar de estar tarde, quando chego na sala me deparo com o Felipe sentado no sofá – vendo TV. Assim que me vê, ele sorri. Mas logo em seguida parece notar que não estou bem e bate algumas vezes no sofá ao seu lado, me convidando para sentar. Largo minha bolsa no chão e afundo no sofá ao lado dele, em silêncio.

— Vi você lá na praça. __ Ele diz calmo, me fazendo olhá-lo.

Droga. Com certeza minha prima estava com ele e se ele me viu com o Guilherme, ela também viu.

— A Paloma não viu nada. __ Ele parece notar minha expressão. — Mas eu vi.

— Eu preciso tentar. __ Minha voz sai baixa e eu o olho.

— Eu sei. __ Ele sorri e me abraça forte. — Eu estou do seu lado...mas quero que tenha cuidado para não se machucar ainda mais. __ Nós nos afastamos e eu deito no ombro dele.

— A Paloma vai me odiar quando descobrir. __ Sinto ele respirar fundo.

— Não, não vai. __ Não tenho tanta certeza. — Ela vai ter que entender que você precisa seguir em frente.

— Ela é louca pelo Gustavo. __ Fecho meus olhos e deixo o cheiro do meu irmão me acalmar. — E tá sofrendo muito também.

Ele fica em silêncio durante um tempo e sinto o sono se aproximar enquanto ele faz cafuné no meu cabelo.

— Ele é importante pra ela. __ Ele diz.

— Você é importante pra ela. __ Ele fica em silêncio. — Você precisa cuidar dela, Lipe.

— Eu sei. __ Ele está cansado.

— Tô tão cansada. __ Digo, tentando mudar de assunto. — Sinto como se meu cérebro fosse pifar a qualquer momento.

Sinto ele sorrir.

— Você só precisa dormir um pouco. __ Ele para o cafuné. — Vamos, vou te colocar na cama e dormir também.

FELIPE

Deixo a Alice no quarto dela e sigo para o meu. O problema é que antes de chegar ao meu, passo na frente do quarto da Paloma e não consigo evitar, preciso vê-la. Logo que passo pela porta, a vejo dormindo.

Nunca a vi tão linda.

Me aproximo, tentando ao máximo não fazer barulhos e a observo durante um tempo.

Me odiei profundamente nos últimos quase dois meses, depois que o bastardo do Gustavo foi embora. Por que apesar de saber que ele não teve escolha, sei muito bem que se eu não o tivesse chamado até aqui, nada disso teria acontecido.

Me sento na beira da cama, ao lado dela e tiro uma mexa de cabelo do seu rosto.

— Eu sinto muito. __ Sussurro.

Ouvir minha irmã dizer que sou importante para Paloma me fez pensar em como tudo isso fez ela se afastar de mim. Quero dizer tanta coisa pra ela. Quero dizer a ela que sinto muito por ter causado tudo isso, que sinto muito por não poder tirar esse sofrimento dela e por ter permitido que ela se afastasse tanto de mim nos últimos dias. Por que depois que tudo isso aconteceu, ela simplesmente se fechou dentro de si mesma. E eu não consegui chegar até a ela.

Ela se mexe e como se sentisse que estou ali, abre os olhos. De repente é como se eu não soubesse mais falar, por que não consigo dizer nada.

— Aconteceu alguma coisa? __ Ela se senta, assustada.

— Não. __ Digo, depois de um tempo. — Eu só passei pra ver se você estava bem.

Ela parece entender, mas não tira os olhos dos meus. De repente o clima dentro do quarto fica denso e uma vontade louca de beijá-la toma conta de mim. Meus olhos descem até sua boca e não consigo evitar que meus dedos toquem seus lábios, fazendo-a fechar os olhos. Quando me aproximo mais, sinto o cheiro dela destruir o último resquício de controle dentro de mim e a beijo. Um beijo urgente e carregado de sentimentos. De repente não consigo mais me conter e a deito, encaixando meu corpo entre as pernas dela. Minhas mãos passeiam pelo corpo dela e uma necessidade sobre-humana de senti-la faz o meu corpo incendiar.