Cavaleiros do Zodíaco: A Saga dos Herdeiros escrita por Dré


Capítulo 4
Primeira Fase - Episódio Quatro. O Retorno da Guerra Galáctica




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— Senhorita Saori, Senhor Shun, acabamos de adentrar território americano. Em alguns minutos estaremos aterrissando – alertou a voz no autofalante do moderno jato particular.

Saori observava a cidade através da pequena janela redonda. Diante dela, em um confortável sofá do outro lado da mesa na qual repousava os braços, estava Shun, detentor do cargo de Carmalengo e atual cavaleiro de ouro de Virgem. Em suas mãos, escondidas sob a mesa, ele fitava uma foto onde estavam ele e o seu irmão Ikki ainda crianças.

— Alguma coisa preocupa você – disse Atena.

Shun guardou a foto. Haviam se passado dez anos desde que Ikki desaparecera. Do fundo do seu coração, o cavaleiro de Virgem queria mais uma vez conversar sobre o que poderia ter acontecido, mas decidiu não incomodar Atena mais uma vez com esse assunto; há muito ela já designara alguém para tentar localizá-lo.

— Tatsumi disse que há projetos secretos na Graad também – desviou Shun. – Eu pensava que você estava usando apenas a Zayon para isso. Não me entenda mal, senhorita. Não estou questionando seus atos, apenas estive curioso.

Atena abriu um sorriso que acalmou Shun, eliminando como mágica o nervosismo do seu peito.

— Você sempre terá total liberdade para me perguntar o que quiser. Não há necessidade de se preocupar com nada.

Antes de responder, Atena se preparou: respirou fundo e fitou novamente o céu através da pequena janela.

— Eu queria que todos os humanos fossem como você, Shun. Desprezassem o conflito. Todos eles têm o poder de amar, todos são bons em seu interior. Mesmo aqueles que parecem perdidos desde que nasceram carregam consigo uma herança que já foi necessária para a sobrevivência da maioria. Não existe maldade entre os humanos, apenas uma má utilização do bem.

— Desculpe, mas ainda não entendi – afirmou o cavaleiro com o cenho franzido.

— Meus projetos secretos, Shun. Inicialmente projetadas por Mitsumasa Kido, são Armaduras de Aço.

Shun então compreendeu.

— Não existe maldade entre os humanos, apenas uma má utilização do bem – ele repetiu. – Você não está gastando dinheiro nenhum da Graad em projetos secretos, está apenas espalhando esse boato para que todos pensem que as armaduras são projetadas na Graad, enquanto na verdade elas são projetadas na Zayon.

— Sim, eu estou movendo meu próprio dinheiro indiscriminadamente apenas para desviar a atenção de curiosos para a Graad. É apenas um embuste que eu planejei.

Atena então repousou o rosto na mão enquanto fitava o longínquo horizonte. Shun continuava com seu sorriso sutil, admirando a grande sabedoria de Atena. A mudança que ela sofrera após tantas guerras era nítida.

— Deusa da guerra e da sabedoria – comentou a deusa de repente. – Não lhe parece algo tão contraditório? Porque uma deusa verdadeiramente sábia precisaria guerrear?

— Ela não precisaria – respondeu Shun.

Atena então voltou seu olhar para ele.

— Uma deusa sábia abraçaria de bom grado o fardo da guerra, apenas para retirá-la dos ombros dos mais fracos – completou o cavaleiro de Virgem. – Essa é você, Atena.

Saori, com seu olhar mais terno, colocou as suas mãos sobre as de Shun. Como informara o capitão, em alguns minutos a aeronave pousou. Recebidos por uma limusine, Shun e Saori foram levados até um estádio.

Guiados por inúmeros seguranças e funcionários até uma vasta passarela, Shun e Atena ficaram sozinhos em um grande corredor vazio. Ela, com as mãos juntas diante de si, fitava o chão com certa tristeza. Shun sorriu para ela.

— Em nome dos mais fracos, certo? – Perguntou Saori.

— Em nome de todas as vidas que você preservou desde a era mitológica. Você é o único ser capaz de suportar esse fardo – respondeu Shun.

— Se a maldade tem que existir, que ela recaia sobre mim então.

Saori, ou Atena, se perfilou e seguiu em direção oposta a Shun. No outro lado do corredor, ela viu uma porta dupla se abrindo e vários focos de luz se voltaram para ela. Atena adotou um olhar sério e imponente, esticou a sua mão para o lado e seu cosmo luminoso começou a tomar forma na palma da sua mão. Nike, a Deusa da Vitória, surgiu na sua simples forma de báculo dourado.

Sentindo-se mais confiante, Atena continuou sua caminhada em direção à porta com as luzes. Quando saiu do outro lado, o estádio explodiu em gritos e comemorações. No centro, havia um ringue, dentro dele, quatro cavaleiros vestindo as supertecnológicas armaduras de aço.

Saori estava diante de um pequeno microfone. O estádio estava cheio e não podia ser diferente, pois aquelas eram as finais da mundialmente famosa Guerra Galáctica – uma competição, criada e patrocinada pela família Kido, que premiava os maiores guerreiros do mundo em combates sobre-humanos.

Inicialmente, Mitsumasa, no auge de sua genialidade, criou a Guerra Galáctica com o objetivo de encontrar defensores dignos para a pequena Saori, quem ele sabia estar atrelada a um destino terrível como deusa da justiça.

Saori conseguiu, mesmo no tempo em que esteve ausente, garantir que a Guerra Galáctica virasse um negócio de escala mundial no qual ela estaria diretamente ligada, transformando-se em um monopólio que movimentava bilhões de dólares por ano.

 Curiosamente, todos os cavaleiros que ali duelavam sabiam quem realmente era Saori Kido, assim como os seus treinadores e todos aqueles envolvidos, pois eram todos moradores do Santuário e, ao passo que lutavam ali, também protegiam Atena quando estavam fora.

Era incalculável o número de televisores que estava sintonizando a imagem de Saori naquele exato momento. Ao redor de todo o mundo, inúmeras famílias se reuniam diante da sua salvadora sem a conhecer. Saori, muito compenetrada, se aproximou do microfone e começou seu discurso.

— Quando Mitsumasa Kido, meu avô e mentor, iniciou a Guerra Galáctica, ele tinha um sonho de paz. Sua criação não tinha como objetivo incentivar a violência, mas sim transformar a guerra em arte, o conflito em sabedoria, a luta em esforço e, por fim, o ódio pelo inimigo em amor ao aprendizado adquirido com o companheiro de luta. Para isso, ele treinou e educou órfãos ao redor de todo o mundo. Jovens capazes de suportar os espinhos da guerra sobre seus pés enquanto carregavam em suas costas o peso da esperança. Como prêmio, o vencedor não ganhará uma arma para ir à guerra, mas sim uma proteção que o ajudará a suportar o fardo dela: A armadura de bronze de Raposa. – Nesse momento, um foco de luz acendeu sobre um pedestal, e nele, estava a caixa que continha a armadura de bronze de Raposa.

O estádio voltou a aplaudir, e quando pararam, Saori continuou:

— Hoje vocês presenciarão uma guerra justa. Uma guerra em nome de tudo o que a luta marcial deveria representar: arte, sabedoria, esforço, dedicação e amor. Senhoras e senhores, bem-vindos a Guerra Galáctica.

O estádio mais uma vez explodiu em gritos. Ao mesmo tempo, dois combatentes saiam enquanto outros dois permaneciam no ringue.

Yuri era um jovem de porte médio, cabelo negro, liso e longo, seu olhar transmitia experiência e sabedoria. Era sem dúvidas o favorito para vencer a Guerra Galáctica. Seu adversário na primeira luta era Artus, de pele morena e cabelos castanhos, sua aparência e olhar de caçador nem chegavam perto de chamar mais atenção que seu físico brutal. Seu porte era invejável, musculoso, alto, exalava poder e fora muito competitivo nas outras lutas. O juiz se chamava Dexter – ninguém menos que o cavaleiro de prata de Mosca. Atena se posicionou em uma cabine de destaque ao lado de Shun.

A luta teve inicio.

Artus sabia que seu oponente era muito inteligente, por tanto, sua estratégia envolvia não dar tempo para que ele pensasse. Partindo para cima, um golpe direto explodiu na defesa de Yuri, trincando sua armadura de aço branca diante do punho roxo da armadura do seu oponente. Yuri, na tentativa de ganhar algum tempo, tentou conter uma segunda investida, segurando o braço de Artus, mas fora uma decisão errada. Artus o ergueu com facilidade e o atirou contra as cordas, em seguida, golpes sequenciais fustigaram Yuri por todos os lados, que mal conseguia se defender. Artus preparou seu melhor golpe. Ele juntou as mãos no alto e atacou o alvo como se seus braços fossem uma marreta. Yuri caiu no chão. O jovem inteligente sabia que a força pura não era nada sem um apoio firme no solo, então, girou em um golpe rasteiro, que tirou o chão dos pés de Artus. No mesmo instante, com seu oponente ainda girando no ar, Yuri disparou um gancho que acertou o flanco de Artus, exatamente em um ponto fraco da armadura, despedaçando algumas costelas.

Dexter interrompeu a luta.

Yuri comemorou a vitória e o estádio gritou o seu nome. O jovem era um prodígio.

O primeiro combatente da segunda luta era Cartos, um lutador muito novo, mas que demonstrara seu valor ao derrotar inimigos muito fortes. Cartos trajava uma armadura de aço verde, tinha olhos finos e cabelos negros espetados. Diziam que ele era rápido como um raio e nada podia superar sua velocidade. O segundo lutador era Leon, um jovem de curiosos cabelos brancos e olhos castanhos. Ele tinha seus motivos para estar bastante nervoso, pois era um azarão; um novato que chegara às finais sem lutar uma vez sequer, tudo graças a uma falha no número de competidores – sem a quantidade exata de chaves, ele acabou parando direto nas semifinais.

Os lutadores adentraram o ringue.

— Você deveria desistir – disse Cartos para Leon de maneira muito calma.

Sem conseguir deixar de transparecer o nervosismo, Leon olhou para Dexter – Ele está certo, será que eu ainda posso?

— Não – respondeu o juiz rispidamente. – Mas não se preocupe, não deixarei você se machucar muito.

Leon engoliu em seco, não só com a resposta, mas também ao ver o gigantesco Artus sendo removido do estádio agonizando em meio a uma dor excruciante.

— É uma pena – comentou Cartos. – Vou ter que derrotá-lo com um golpe apenas.

O juiz deu inicio a segunda luta. Yuri, do lado de fora, observa atentamente aquele que poderia ser seu próximo rival, e ficou impressionado ao ver que a mera presença de Cartos no ringue já havia empurrado seu oponente às cordas. Leon estava cercado pelo olhar afiado e preciso de Cartos, que nem se quer havia se movido no ringue. O jovem de olhar verde infernal engatilhou seu movimento e explodiu em direção a Leon em uma velocidade absurda, cruzando o ringue em um piscar de olhos. Leon, em uma tentativa desesperada de se defender, jogou-se para trás de maneira desajeitada contra as cordas. O movimento de Leon funcionara por coincidência e, devido à confiança que colocara no movimento, Cartos não foi capaz de parar e acabou jogando a si próprio no ar. Vendo tudo desaparecer sob si, o jovem caiu no chão. Estava fora do ringue e desclassificado. Dexter ergueu o braço do vitorioso Leon, mas apenas algumas tímidas palmas foram ouvidas no estádio.

Leon estava boquiaberto. Cartos retirou-se incrédulo, anestesiado pela derrota estúpida. Yuri, sem demonstrar qualquer emoção, planejava todos os detalhes da próxima luta, ainda que não pudesse visualizar nenhuma maneira de ser derrotado pelo azarão Leon.

— Um lutador tão experiente, cometer um erro tão tolo – disse Shun para Atena. – Não me parece algo que tenha ocorrido devido a um simples exagero de força e velocidade.

— Coisas estranhas sempre podem acontecer – disse a deusa. – Mas se acontecerem duas vezes seguidas, pode ser resultado de um toque do destino. Vamos observar a próxima luta.

O juiz convocou Yuri e Leon para o ringue e ordenou o inicio do combate. Yuri ergueu os punhos, mas não se moveu. Leon se afastou até as cordas, também de guarda levantada. Ambos ficaram parados. A tensão no estádio era quase palpável.  Yuri começou a se aproximar de Leon passo por passo, e quando estava chegando, Leon foi quem disparou, mas não para cima do inimigo – o cavaleiro correu para o outro canto do ringue. Yuri se moveu e, desconfiado, logo o alcançou.

A dança dos dois perdurou por um longo tempo, e como não havia rounds nas lutas da Guerra Galáctica, o combate não poderia ser interrompido até que alguém caísse. Yuri começou a ficar irritado. Leon continuava a fugir com o nervosismo a flor da pele. Yuri deixou transparecer a sua raiva em um urro e atacou, disparando vários golpes contidos pela prudência. Leon se fechou em sua guarda e todos os golpes foram absorvidos. Sempre que Yuri estava preste a disparar um golpe derradeiro, Leon corria mais uma vez.

Em determinado momento, o favorito perdeu a paciência. Seu berro ecoou pelo estádio, ele ergueu a mão e dela surgiu uma espada. Não havia mais para onde escapar. O golpe desceu afiado. A plateia exclamou. Shun se ergueu da cadeira. Leon se encolheu esperando o golpe que roubaria a sua vida, mas ele não veio. Diante do rapaz, com uma velocidade que Leon não podia acreditar ser possível, Dexter, o juiz da luta e cavaleiro de prata de Mosca, segurou o golpe, dobrou o braço de Yuri e o derrubou contra o chão. Ele arrancou a arma da mão do cavaleiro de aço e a arremessou longe.

— Você sabe muito bem, jovem, a Guerra Galáctica despreza o uso de armas – disse o cavaleiro de Mosca. – Você está desclassificado!

Yuri então foi retirado do ringue sem ar devido à queda que o juiz lhe dera. Dexter se aproximou do boquiaberto Leon e ergueu seu braço.

— Campeão da Guerra Galáctica – começou Dexter. – Leon de Raposa!

O estádio ficou mudo. O mundo ficou mudo. As pessoas que assistiam pelo televisor de suas casas se entreolham incrédulas. Os narradores, em cada língua diferente, não conseguiam parar de dizer o quão inacreditável era aquilo que estavam testemunhando. Enquanto todos ainda digeriam a novidade, Atena pôs-se de pé. Com um doce sorriso no rosto, sozinha, ela bateu palmas.

Guiados pela atitude de Saori, o estádio começou a aplaudir também e, em seguida, as comemorações aumentam a um nível descontrolado. O simpático garoto de cabelos brancos era inexplicável. Sem precedentes.

— Eis o destino – disse Atena, para o ainda boquiaberto Shun. – E o seu toque.


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