Cavaleiros do Zodíaco: A Saga dos Herdeiros escrita por Dré


Capítulo 30
Terceira Fase - Capítulo Seis. Divindade Imperial




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Em uma cidade muito fria na Rússia, uma fina neve caia e cobria prédios e casas. Ichi, cavaleiro de ouro de peixes, observava do alto de um telhado a destruição. Chamas ardiam em alguns pontos, explosões distantes faziam vibrar o chão, gritos e gemidos eram ouvidos ao longe e, a sua frente, a vários quilômetros, descendo dos céus como um gigantesco tornado negro circundado por um anel de pedra, estava o portal do inferno. Saltando sobre os telhados em velocidade sobre humana, o cavaleiro devorou a distância entre ele e o portal.

No caminho, ele recebeu a mensagem telepática de que as armaduras dos cavaleiros negros precisavam ser destruídas, pois os três homens da Ilha da Rainha da Morte, que construíram as armaduras, inseriram nelas os Frutos Infernais, e quando aceitaram a armadura, os cavaleiros negros acabaram por aceitar o inimigo.

Já bem próximo portal, Ichi fora interceptado por três cavaleiros negros, todos vestiam cópias da armadura de fênix.

— Se ousarem me atacar, eu irei matá-los – disse Ichi.

— Não viemos lutar, viemos apenas apontar o seu destino – disse um dos cavaleiros. – Por favor, nos acompanhe.

Os cavaleiros partiram. Ichi os seguiu. Após saltarem algumas praças, Ichi chegou a um local repleto de cavaleiros negros. Uma praça de pedra bem grande e oval, cercada por pequenos edifícios de até três andares. Cavaleiros negros estavam sobre os telhados, em algumas janelas e até mesmo no chão ao redor da praça.

— Se isso é uma armadilha – disse Ichi. – Saibam que é bem tola. Não importa quantos de vocês queiram lutar, eu posso derrotar todos facilmente.

— Por favor, no centro da praça – disse um dos cavaleiros negros que o trouxe, partindo em seguida e tomando sua posição em um dos telhados junto com os outros.

Ichi saltou até o chão e caminhou entre os cavaleiros até alcançar o centro do local. A praça era cercada de paralelepípedos e algumas árvores secas pelo frio. Já próximo do centro, ele encontrou, sentado em um banco, um cavaleiro. De armadura prateada e panos vermelhos, um estilo bastante antigo, ele estava calmo, com a cabeça apoiada no pomo de uma espada com a ponta no chão, um escudo ao seu lado e uma lança presa às costas. Ichi sentia uma terrível pressão partindo do cavaleiro, era como se o cosmo dele fosse tão gigantesco que fazia a armadura de Ichi vibrar.

— É o protetor desse portal, não é mesmo? – Perguntou o cavaleiro de Atena. – Quem é você?

— Sou seu carrasco, assim como serei o carrasco da deusa traidora. Sou Jasão, o Argonauta – disse o cavaleiro, colocando o capacete.

Ichi espantou-se, mas era evidente que uma deusa como Perséfone seria capaz de manter vivos ao seu lado os maiores heróis da história.

— Você está cometendo um grande erro, líder dos Argonautas – disse Ichi. – Está sendo enganado. Você já foi um grande herói, deveria...

— Quem pensa que é para me dizer o que é ser um herói, cavaleiro! – Gritou Jasão, fazendo algumas rochas se desprenderem do chão. – Você é o homem que passou por aqueles que deveria defender e os ignorou enquanto eram assassinados pelos mortos que caiam do céu! Atena e seus cavaleiros são dominadores e o tal Raposa é apenas um entre tantos. Vocês veem os seus inferiores como propriedades e você, Ichi, é o mais sujo entre os dela. O mais podre. Aquele que fazia o impensável, aquele que...

— Que aceitou o fardo – interrompeu Ichi, enquanto elevava também o seu cosmo. Sua capa começou a esvoaçar e um vento venenoso nasceu ao redor dele como labaredas roxas. – Posso não ser um grande herói. Posso não fazer parte das grandes histórias. Mas uma coisa eu posso garantir, argonauta; eu estava lá carregando o fardo ao lado de todos! Garras Venenosas!

Ichi se projetou em direção ao inimigo, suas unhas transbordavam veneno em forma de cosmo absurdamente mais poderoso do que antes. Mas as garras de Ichi encontram apenas o impenetrável escudo de Jasão. Um grande círculo dourado e repleto de desenhos que cobria todo o braço esquerdo. O golpe com a espada curta veio como que por reflexo, exatamente no flanco de Ichi, que sentiu a lâmina tangenciando a armadura de ouro e deixando um arranhão.

— Parabéns pelo movimento – disse Jasão. – Mas o próximo ataque será o último.

— Um lutador perfeito. Me aproximar foi um erro – comentou Ichi. – Mas saiba que eu não tenho apenas ataques diretos. Águas Venenosas!

 O cosmo de Ichi tomou a forma de água enquanto circulava em suas mãos. Ele ergueu os braços para o alto e uma esfera de água roxa começou a se acumular. O cheiro era horrível, poderoso e ácido. Ele disparou a esfera contra Jasão como um jato de água que formou um arco e caiu sobre o Argonauta, explodindo tudo ao seu redor. O banco onde estava sentado foi projetado, destruindo um vidro de um prédio ao lado, as árvores caíram mortas e os cavaleiros negros protegeram o rosto do cheiro. Seria impossível defender ou sobreviver a esse ataque através de meios comuns. Mesmo defendendo com o escudo, as partículas do cosmo envenenado iriam dar a volta em qualquer reentrância, por mínima que fosse, e penetraria os poros do inimigo. Mas diferente do que tipicamente acontecia, Jasão estava intacto.

— Assim como Atena deu a seus cavaleiros suas armaduras, – começou o Argonauta, agora Herói Caído de Perséfone – nós recebemos da nossa deusa o dom da vida. Nossos corpos são mais resistentes, nosso cosmo foi despertado ao máximo, nenhum veneno irá remover a Benção de Perséfone. Eu vou te fazer entender o que isso significa cavaleiro.

Jasão ergueu sua espada, que começou a acumular uma quantidade gigantesca de cosmo. A vibração era tamanha que os vidros dos prédios começaram a se estilhaçar. Jasão partiu em direção ao cavaleiro de peixes, que ergueu os punhos em posição de combate.

— Lâmina Sagrada! – Gritou Jasão.

Pouco antes de atacar, Jasão enganou Ichi com sua velocidade, inutilizando sua posição defensiva enquanto ganhava o flanco do cavaleiro. Ichi tentou se mover para trás, mas era inútil; não havia o que fazer, Jasão era um melhor combatente e muito mais rápido. Ele girou sua espada verticalmente e o golpe acertou o ombro de Ichi, o brilho da espada se expandiu e a onda de impacto lançou alguns cavaleiros negros à distância. Árvores da praça foram arrancadas pela raiz.

Ichi se viu deitado no chão, de braços e pernas estiradas, esmagado pelo poderoso golpe. Metade da parte superior da armadura de ouro de peixes fora vaporizada. O corte em seu ombro penetrara até a clavícula e sangrava muito. Se não fosse pela armadura, já estaria morto. Jasão estava parado ao seu lado, contemplando o incrível fato de Ichi ainda estar vivo.

— As armaduras douradas de Atena são realmente incríveis. Agora eu a reconheço como uma verdadeira deusa – disse Jasão. – Você foi um guerreiro bravo, irei lhe conceder o direito às últimas palavras. Palavras essas que carregarei comigo para sempre, cavaleiro de ouro.

Com ossos do corpo trincados e algumas pequenas hemorragias internas, Ichi respondeu com dificuldade.

— A benção da vida de Perséfone é realmente incrível. Agora a reconheço como uma verdadeira deusa – disse Ichi. – Você foi um guerreiro bravo, irei lhe conceder o direito às últimas palavras. Palavras que...

Ichi foi interrompido por uma pisada em suas costelas.

— Está brincando antes da morte? – Perguntou o Argonauta torcendo o pé em cima do ferimento de Ichi.

— Não, seu idiota, a benção de Perséfone jamais lhe protegeria do meu veneno, no máximo o retardaria.

 Nesse momento, Jasão espirrou uma golfada de sangue. Ichi aproveitou a hesitação para se erguer e golpear Jasão com um soco no queixo, explodindo cosmo e fazendo a praça vibrar. O Argonauta desequilibrou-se enquanto Ichi partiu para o segundo golpe; um segundo soco no rosto que faz Jasão cuspir mais sangue. Ichi então o ergueu pelo pescoço enquanto crava suas garras envenenadas na sua garganta.

— Garras Venenosas!

Jasão sentiu uma corrente elétrica percorrendo todo o seu corpo. Mas então, o cosmo do Argonauta se elevou subitamente, e o pulso energético que ele emitiu jogou Ichi do outro lado da praça. Quando ele se ergueu, Jasão já estava diante dele.

— Espada Sagrada! – Gritou o inimigo.

Ichi conteve o golpe segurando a espada pelo pomo antes que caísse sobre ele, mesmo com a energia do ataque criando uma onda de impacto ao redor.

— O mesmo golpe não funciona duas vezes em um cavaleiro – disse Ichi.

Antes que reagisse, Jasão golpeou Ichi com o joelho no estômago e, em seguida, acertou seu rosto com o escudo. Ichi concentrou seu cosmo, disparou um feixe de energia quase sem efeito contra Jasão; era um engodo para poder se afastar.

— Entendi, – disse Jasão – acha que voltando a lutar afastado, vai recuperar a sua vantagem. Pois saiba que também posso lutar à distância.

Jasão então guardou a espada na bainha vermelha e sacou a lança em suas costas. Enquanto isso, Ichi, muito ferido e com um braço destruído ao lado do corpo, começou a acumular um terrível cosmo destruidor em seu punho restante.

— Um golpe final, com toda a sua força – disse Ichi.

— Já quer terminar a luta? Como quiser, mas saiba que você não irá me vencer – disse Jasão. – Lança Infinita!

— Fúria da Hidra Imortal!

A lança banhada em cosmo voou.

As cabeças de hidras se lançaram no ar.

Os cavaleiros negros prenderam a respiração ao ver os golpes se cruzarem. A lança banhada em energia dourada alojou-se no centro do peito desprotegido de Ichi, enquanto as várias cabeças de hidra passaram por Jasão sem representar qualquer perigo.

Jasão sorriu.

Mas não por muito tempo.

Uma explosão chamou sua atenção. E quando olhou para trás, viu o anel de pedra se desmanchando ante o poderoso golpe de Ichi de Peixes. Distraído em derrotar seu inimigo, acabou por esquecer-se que seu verdadeiro objetivo era proteger o Portal do Inferno. O golpe de Ichi acertou em cheio o arco de pedra voador, que desmoronou, desestabilizando a energia do portal e, aos poucos, fazendo-o desaparecer.

O cavaleiro de peixes caiu, e seu cosmo dispersou-se para sempre.

— Sabendo que não iria conseguir me derrotar, ele sacrificou sua vida para destruir o portal... – Disse Jasão pasmo.

Estaria ele dizendo a verdade?, pensou Jasão. Será mesmo que eu deveria estar protegendo essa coisa e permitindo a morte dessas pessoas?

Longe da Rússia, em uma cidade africana de clima totalmente oposto, um portal rugia com sua tempestade de mortos, cobrindo o imponente sol local com nuvens negras e a terra com destruição e catástrofes. Shun, trajando a armadura dourada de Virgem, se viu diante um cavaleiro em uma armadura negra com detalhes azuis e dourados. Em sua cabeça, usava um capacete com asas membranosas, seus pés tinham botas com asas angelicais e em sua mão esquerda carregava um escudo tão brilhante que era possível ver seu reflexo nele. Era o escudo dado por Atena, o elmo dado por Hades e as botas dadas por Hermes. Shun, graças àqueles itens, não tinha dúvidas.

— Um dos mais poderosos heróis da história – começou Shun. – Aquele sobre o qual nem deuses puderam impor a sua vontade. O carrasco da górgona Medusa e do titã Atlas. Agora, sendo enganado por Perséfone. Como pôde descer tão baixo, Perseu?

— Você se esqueceu de um detalhe sobre mim, cavaleiro – disse Perseu enquanto começava a levitar. – Eu fui aquele que salvou minha amada Andrômeda do seu cruel destino, e eu serei aquele que eliminarei o futuro de qualquer cavaleiro que ouse usar o nome de Andrômeda para sua conveniência, Shun de Andrômeda! Eu não vou poupar meu poder contra você! Prepare-se! Castigo de Atlas!

O poder de Perseu era absurdo, muito maior do que Shun poderia prever. O cosmo do Herói Caído se condensou em uma enorme esfera que lembrava a abobada celeste, despencando sobre Shun. Usando todo o poder de suas correntes de cosmo em uma Defesa Circular de várias camadas, Shun resistiu o máximo que pode, porém, suas correntes começam a trincar e em seguida a se estilhaçar. O golpe começou a penetrar a defesa suprema de Shun e a própria armadura de ouro se desmanchava de vagar, como se não passasse de poeira perante tamanho poder. Mas Shun não iria desistir, e lembrando-se do seu irmão, que acabara de encontrar, seu poder voltou a crescer, seus olhos brilharam no belo tom pacífico de rosa que seu cosmo emanava.

Voando no alto, Perseu viu pasmo a sua gigantesca esfera começar a rachar-se e a desmanchar-se. O cosmo de Shun vazando por entre as rachaduras, até que finalmente se partiu e desapareceu no ar. Shun arfava, sua armadura estava destruída nas extremidades e sangue escorria de sua cabeça e lábios. Ainda assim, ele emanava um cosmo gigantesco, quase se equiparando ao de Perseu.

— Há muito tempo atrás, – começou Shun. – Atena cedeu ao Grande Mestre um poder único. Um poder que o tornava valioso e permitia que ele pudesse manter o controle sobre os cavaleiros de ouro. O nome desse golpe lendário era Satã Imperial. O que acontece agora, Perseu, é que Atena tem um novo cargo, o de Carmalengo. E com ele, concedeu também um novo poder. Você será o primeiro homem a ser golpeado por essa técnica. Divindade Imperial!

Com o cosmo faiscando um poder branco, Shun ergueu seu dedo indicador em direção ao alvo, um brilho branco cruzou os céus e trespassou o elmo de Perseu, destruindo-o. A Divindade Imperial era capaz de eliminar toda maldade no coração de um inimigo, removendo suas dúvidas e trazendo-lhe a paz de espírito. Era um golpe perfeito para um cavaleiro pacífico como Shun, se não fossem por dois detalhes. Primeiro, ele desgastava totalmente o usuário, e em segundo e mais importante, a técnica não era capaz de eliminar convicções.

— Sim, eu entendo agora – disse Perseu pasmo. – Não posso mais perseguir Andrômeda. Eu estava sofrendo uma terrível obsessão, cavaleiro. Obrigado por me fazer ver, mas ainda assim, não posso permitir que Atena domine esse mundo, Shun. Ela não é mais a deusa que conheci.

O cavaleiro de virgem caiu de joelhos. Seu corpo tremia, nunca ele poderia imaginar que o golpe o consumiria tanto assim, e muito menos tinha experiência o suficiente para saber que ele não funcionaria como esperado. Shun estava condenado. Perseu se aproximou para o golpe final.

— Adeus Shun. Você irá morrer aqui, sozinho.

— Quem disse que ele está sozinho? – Disse uma voz que surgiu do nada.

De repente, o Portal Infernal que ele protegia se desmanchou em meio a chamas, destruído por um cosmo avassalador. Pasmo, Perseu não entendia o que estava acontecendo. De uma hora para outra, o dia parecia ter ficado mais escuro e mais quente. Então, o grito de uma ave ecoou pelos céus e três corpos chamuscados caíram ao redor de Perseu, que saltou para se desviar.

— Quem está ai?! – Perguntou o herói caído.

Shun notou que eram os corpos dos três Juízes do Inferno, os lemurianos que haviam substituído os juízes originais.

— Ikki – disse Shun em um gemido baixo.

Então, um quarto corpo caiu em um baque estrondoso.

— Diomedes! – Disse Perseu reconhecendo o seu aliado. – Não é possível!

— Eu estou bem – disse Diomedes tentando se reerguer. – Não tire os olhos do inimigo!

Perseu não conseguia acreditar no que via, era nítido o pavor nos olhos de Diomedes, ele que, por sua vez, se voltou para Perseu e proferiu palavras que este jamais achou que o homem que feriu Ares seria capaz de proferir.

— Ele é um demônio!


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