— Então, o que irá fazer? – Perguntou a suave voz da deusa da agricultura.

Leon estava pasmo em saber que o herdeiro do Inferno era Ikki, o cavaleiro de ouro de Leão. Mesmo Leon passou a duvidar de si mesmo. Acreditar que o verdadeiro inimigo era um homem que já fora um traidor era fácil, se encaixava perfeitamente, assim como todo bom plano. Porém, nesse caso, podia ser até simples demais para ser verdade.

— O cavaleiro de Leão? – Perguntou Leon. – Você tem certeza?

— Sim, é dele que você deve retirar informações.

Leon ficou um tempo refletindo.

— Não. Se for esse mesmo o caso, os cavaleiros de ouro darão conta dele. E se você é realmente quem diz ser, não se importará com a nossa presença aqui até que isso tudo acabe e os cavaleiros de ouro salvem Atena.

— Eu não me importo, cavaleiro – disse Perséfone. – Onde deseja se acomodar?

— No caminho até aqui, encontrei um lemuriano e conversei com ele. A sua casa é tão grande que consigo vê-la daqui.

— É uma taverna – disse a deusa enxergando a casa.

— Ficaremos lá, e também gostaria que dois dos seus Heróis Caídos ficassem lá conosco.

— E o que você pretende com isso?

— Ter segurança, é claro – disse Leon.

Perséfone fitou-o desconfiada. Leon temia que ela enviasse alguém para matá-los, nesse caso, ele gostaria de ter Heróis Caídos para testemunhar que, na verdade, sua deusa não passava de uma assassina. Era uma boa estratégia, mas não era perfeita, afinal, ela não enviaria assassinos para atuar em terras pacíficas. Ao menos não agora.

Enquanto isso, Marin e Shoryu conversavam no salão principal.

— Marin, me responda com sinceridade, você confia em Leon? – Perguntou Shoryu.

— Eu confio em Atena. Aprenda a observar e a escutar, Shoryu. Lembre-se que Seiya e Aiolos já foram considerados traidores do Santuário uma vez. O poder de Atena se comunica através de nós pelo cosmo e pelo coração. Não confie em mais nada além disso.

Nesse momento, Leon e Perséfone retornaram.

Falando baixo no ouvido de um servo, a deusa convocou dois de seus Heróis Caídos. O primeiro era um homem alto, de cabelos negros, vestia uma armadura muito semelhante à romana, inclusive com uma crista no capacete. Sobre os ombros, ele usava uma capa imponente típica de generais, carregava uma espada, um escudo e uma lança. O segundo era uma mulher, de pele escura e cabelos brancos. Transbordando poder e força, em suas costas ela carregava um arco com uma aljava cheia de flechas, vestia uma armadura vermelha simples, com bastante liberdade para os movimentos.

— Esses são Hector e Atalanta. Irão acompanhar vocês, assim como pediu, Raposa – disse Perséfone.

Por um momento, os cavaleiros ficaram admirando os heróis.

— Hector de Tróia e Atalanta, a mais habilidosa caçadora da história humana? – Perguntou Marin.

— Sim – Respondeu Hector com frieza. – Vocês e os outros cavaleiros que trouxeram serão escoltados até um local fechado.

— O que?! – Perguntou Shoryu espantado.

— O cavaleiro de Raposa nos contou sobre os outros – disse Atalanta. – Vocês irão buscá-los e então irão conosco.

Shoryu estava pasmo, tinha quase certeza agora: Leon era um traidor. Os cavaleiros foram escoltados para fora, com Hector e Atalanta ao seu lado e mais alguns homens que seriam responsáveis por servi-los e acomodá-los nas novas instalações. No caminho Shoryu se pronunciou, pois não podia ficar quieto diante daquela situação:

— Você nos traiu, sua maldita Raposa!

— Silêncio, Shoryu. Apenas cale essa boca.

— Você revelou a posição dos outros cavaleiros, está nos prendendo aqui enquanto Atena está desaparecida, como posso ficar quieto diante disso?

— Fechando essa maldita boca! – Gritou Leon, perdendo a paciência. – Eu estou trocando a guerra pela diplomacia, cavaleiro! Não há provas de que Perséfone tem Atena. Ao que tudo indica, ela é uma deusa bondosa. Se quiser atacá-la, se acha que pode, sinta-se a vontade para derrotar Atalanta, Hector, os deuses que estavam guardando-a e toda a sua guarda sozinho. Arrisque-se, tente realizar os mesmos feitos de Seiya e dos outros. E mesmo que consiga chacinar todos aqui por algum milagre, quem sabe você descubra, no final, que Perséfone não estava com Atena.

Shoryu silenciou. Hector e Atalanta observavam aquilo com curiosidade e suspeita.

Enquanto isso, de volta ao Palácio, um dos deuses, de cabelos compridos e ondulados como o de Perséfone, se aproximou da deusa. Seu nome era Sabázio, filho de Perséfone e conhecido como o Deus Cavaleiro.

— Tudo ocorreu bem?

— Eu... Não sei.

A resposta de Perséfone espantou o cavaleiro. Era a primeira vez em toda a sua existência que ele via a sua deusa confusa.

— Não pude compreender as intenções daquele garoto. Ele me entregou de bom grado a Adaga de Ouro, sem hesitar, mesmo desconfiando que poderia usá-la para matar Atena. Não consigo entender se ele é um inimigo ou um aliado. Além do que, aquele garoto me disse ser filho de Saga.

O Deus Cavaleiro arregalou os olhos.

— Saga? O homem de gêmeos?

— Sim. Entende agora o quanto ele pode ser perigoso? Aquele garoto pode ser o primeiro a me fazer mudar os planos iniciais. Eu achava que quem faria isso seria Seiya.

— Está tudo certo com o plano. Não há nada que possa impedir a minha rainha de conseguir o que quer. Basta uma ordem e eu posso eliminar o garoto.

— Não. Seria suspeito. Vou tentar resolver esse problema de outro jeito. Terei que adiar alguns movimentos e fazer uma breve modificação, mas tudo continuará perfeito.

Perséfone então se ergueu do seu trono. Sabázio se ajoelhou.

— Qual o próximo passo, minha rainha?

A deusa começou a caminhar em direção aos seus aposentos.

— Estamos no inicio do fim, Sabázio. É chegado o momento dos mortos caminharem sobre a Terra.