Cavaleiros do Zodíaco: A Saga dos Herdeiros escrita por Dré


Capítulo 11
Primeira Fase - Episódio Onze. O Voo da Ave




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— Vou explicar-lhe mais uma vez,...

Quem falava era o cavaleiro de ouro do manto negro, o mago de ouro, Ban de Capricórnio. Em meio aos seus inúmeros livros, materiais de pesquisa e ferramentas, Ban manipulava estranhos líquidos com grande habilidade. Quem observava sobre seu ombro era Hyoga, impaciente após vários dias de trabalho árduo auxiliando Ban em seus estudos. Quando não estava nisso, lia os livros e antigos registros que cada cavaleiro de ouro tinha sobre sua respectiva casa. Entre misturar e chacoalhar os vidros, ler, fazer algumas anotações e ajeitar os óculos no rosto, Ban seguia sua linha de raciocínio.

—... Ser um estudioso não significa saber responder a todas as perguntas, mas sim saber fazer as perguntas corretas. Nunca antes existiu alguém que fizesse as perguntas corretas sobre a essência da Cosmo Energia – continuou Ban. – O meu treino consistiu em fazer as perguntas certas sobre o Cosmo e respondê-las da maneira mais apropriada. Qual minha surpresa ao descobrir que era impossível isolar as partículas do cosmo. Elas fazem parte da própria realidade; são uma condição para a existência das multidimensões. Sem o Cosmo, a realidade simplesmente cairia. – Ban, nesse momento, pegou um frasco e girou lentamente o líquido dentro dele com uma vareta de vidro. Hyoga observava com atenção. – Pois bem, eu notei que apenas uma coisa seria capaz de isolar o Cosmo: o próprio Cosmo. Impregnei minhas ferramentas com a minha Cosmo Energia e o resultado não podia ser mais maravilhoso. Eu me tornei o primeiro homem capaz de isolar as partículas que formam o Cosmo. Com isso, me tornei capaz de manipulá-lo como se fosse uma substância comum. Eu o quebrei e isolei nas menores partes que pude, descobri uma nova tabela de substância formadoras da realidade em si e tornei-me capaz de operar milagres. Para mim, congelar coisas é uma tarefa fácil. – Ban abriu um sorriso sarcástico, enquanto ajeitava os óculos.

— Se para congelar você demora tanto quanto está demorando para fazer o que pedi, então a casa de Capricórnio seria mais bem protegida se em seu lugar tivéssemos uma geladeira – disse Hyoga.

Ban deu uma risada alta, enquanto ajeitava os óculos mais uma vez. Ele releu rapidamente algumas anotações, antes de responder.

— Um raro momento de humor do cavaleiro de Aquário – disse Ban, enquanto misturava o conteúdo de dois vidros e os observa mudando de cor. – Você deve mesmo estar entediado. Ainda assim, sinto-me honrado por presenciar isso. Pois bem, como me vejo no direito de resposta: se o que me pediu fosse fácil, teria feito você mesmo. Agora, me alcance aquele vidro grande.

Hyoga pegou e entregou a Ban um vidro circular do tamanho de uma bola de basquete.

— Agora contemple minha arte. Eis uma nova dimensão – disse Ban fazendo um floreio com as mãos.

O conteúdo de dois frascos foi misturado dentro do vidro alcançado por Hyoga. Logo tudo começou a reagir de forma estranha. Ele flutuou no frasco como se tivesse vida e se desdobrou inúmeras vezes, até que o próprio tempo e espaço dentro do vidro se modificaram.

— Espere! – Lembrou o cavaleiro de Aquário com uma expressão de espanto. – Eu já vi isso!

— Eu diria que foi mais do que uma mera visão, não é mesmo Hyoga? – disse Ban. – Você já esteve ai dentro.

— Sim, na primeira vez que adentrei a casa de Gêmeos. Fui atacado pela técnica Outra Dimensão de Saga. É exatamente essa técnica que está ai dentro. Atena havia me dito que era impossível criar novos mundos, e agora temos um dentro de um frasco.

— A não, isso não é outro mundo – disse Ban, chacoalhando as mãos negativamente. – Isso é um rasgo dimensional. Essa é apenas a primeira etapa para a criação de outro mundo. Se fossemos criar um novo universo com suas próprias leis, você precisa primeiro criar um rasgo na realidade. Era realmente uma habilidade incrível a de Saga de Gêmeos. Ele criava o rasgo e aprisionava seu inimigo lá, e como o rasgo estava ligado ao nosso mundo, ele adquiria momentaneamente as nossas leis, mas assim que se fechava, aquele que caísse lá dentro simplesmente deixaria de existir, pois aquela realidade momentaneamente criada desapareceria para sempre.

— Mas eu ainda estou aqui – percebeu Hyoga. – Como isso foi possível?

— Prova de que Saga realmente tinha duas faces – disse Ban. – Enquanto a face má jogou você lá dentro, a face boa o tirou por outro lado. O tempo deve ter sido perfeito, pois se a face má tivesse fechado a dimensão antes de a face boa abrir, você estaria perdido para sempre. A face boa de Saga ajudou vocês durante todo tempo, e se não fosse ela, sabe-se lá o que seria de nós agora. Às vezes penso que a Batalha das Doze Casas foi, na verdade, uma luta de Saga contra o próprio Saga.

Ainda dentro do Santuário, Shiryu adentrou a casa de Escorpião. Lá, em uma das inúmeras salas que ficavam ao lado do corredor central que atravessava a casa, Jabu o aguardava sentado em uma belíssima cadeira na ponta de uma vasta mesa repleta de comidas típicas.

— Sinta-se à vontade, cavaleiro de Libra – disse Jabu estendendo a mão em direção a sua comida.

— Agradeço a hospitalidade, mas não pretendo demorar.

— Claro. É o sempre atarefado Juiz de Atena. Quanto a mim, estou com fome, por tanto, se me der licença – começou Jabu, atacando um tomate recheado.

— Gosto do momento em que vivemos – disse Shiryu. – A organização e as defesas do Santuário nunca foram maiores. Eu confio cegamente em cada um dos cavaleiros de Atena. Principalmente em nós, cavaleiros de ouro. Mas, ao mesmo tempo, não posso deixar de levantar dúvidas sobre que tipo de treinamento você teve.

A mão de Jabu começou a tremer, e ele logo a escondeu.

— Foi um treinamento duro, Shiryu. Um treinamento mais terrível do que qualquer um pode imaginar. As cicatrizes foram mais profundas do que os limites do corpo e da mente.

— E essas cicatrizes, por acaso, podem representar algum perigo a ordem e a paz do Santuário de Atena? – Perguntou Shiryu enquanto se aproximava.

Jabu manteve um suspeito silêncio antes de responder.

— Não vejo como meu treinamento poderia causar desordem, Juiz de Atena.

Shiryu observava Jabu como se tentasse encontrar algo que o desmentisse. Era um momento mais intenso do que o cavaleiro de Libra achou que seria.

— Realmente não me interessa saber o que aconteceu, mas sim ter certeza de que você não representa nenhum perigo a Atena.

— Atena está constantemente em perigo, Shiryu, por isso estamos aqui – Jabu fincou alguns cogumelos fritos. – Antes que saia, eu gostaria de fazer uma pergunta: você já imaginou o porquê da existência da maldição da casa de Gêmeos? – Shiryu permaneceu impassível. – Você já imaginou o porquê de uma deusa tão sábia viver constantemente em guerra? Nunca imaginou que exista um motivo maior por trás disso tudo?

— Não existe luz sem sombra. Assim como não existe paz sem guerra.

— Exatamente! – Disse Jabu, levantando-se de repente. Seu olhar carregava um brilho de ódio. – A realidade precisa dessa dualidade para existir, para se desenvolver. Assim como a própria Atena precisa disso. Ela precisa evoluir! Nós e nenhuma outra geração presenciamos o verdadeiro poder de Atena. Talvez nem mesmo a era mitológica tenha presenciado, pois Atena ainda está evoluindo. É como se ela estivesse treinando.

— Está sugerindo que a própria Atena foi quem colocou a maldição da casa de gêmeos?

— Ou, talvez, aquele que quer treiná-la – disse Jabu, voltando a sentar-se. – Seja o que for que estiver acontecendo, Shiryu, nós precisamos da verdadeira Atena. A humanidade precisa dela. Nós, cavaleiros, temos punhos que rasgam os céus e chutes que abrem fendas na terra. Mas isso não significa nada para os deuses. Minha pergunta não precisa de uma resposta, cavaleiro de Libra, mas mantenha-a em mente: você acha que teria conseguido vencer Poseidon e seus Generais se não tivesse despertado o sétimo sentido na luta das Doze Casas proporcionada por Saga?

Shiryu arregalou os olhos, como se Jabu tivesse cometido uma grave heresia.

— Saga tentou matar Atena! – Disse Shiryu. – E, na segunda tentativa, conseguiu!

— Tentou? Acha mesmo que Saga, uma vez considerado um dos mais poderosos cavaleiros de ouro, não teria sentido o cosmo de Aioros se aproximando para impedi-lo de consumar a morte de Atena? Que o homem que via o futuro nas estrelas não seria capaz de enxergar que ele seria o sacrifício necessário para a criação do Santuário de hoje? Além disso, acha mesmo que ele teria despertado os poderes sagrados do verdadeiro Mestre do Santuário se ele fosse um simples traidor ganancioso? Com que objetivo os Mestres do Santuário teriam o poder do Satã Imperial se não para conter cavaleiros de ouro? Pense Shiryu. Teria ele sido capaz de enganar os deuses, ou seria ele um predestinado a ser o maior dos sacrificados de Atena, assim como fez na luta contra Hades?

Shiryu apenas deu de ombros e partiu. Apesar de não ter demonstrado emoção, ele não fora capaz de digerir aquelas palavras, e a conclusão que chegara fora a de que elas poderiam fazer algum sentido, e Jabu precisaria de um acompanhamento próximo. Muito próximo.

De volta à casa de aquário, Hyoga observava os inúmeros registros das Doze Casas. Diários que cada cavaleiro era obrigado a preencher com o objetivo de documentar a história de cada uma das casas. Hyoga lia tudo com avidez. Estava perdendo a paciência com todas aquelas infindáveis informações.

— Talvez o senhor precise descansar, senhor Hyoga – disse Karin, serva do cavaleiro de Aquário.

— Não posso, eu sinto que estou perto, sinto que já tenho tudo o que preciso, mas não sou capaz de conectar as informações. Não posso me dar ao luxo de perder tempo, não sei quando o inimigo pode atacar, precisamos de uma vantagem.

— Desculpe a minha arrogância, mas o senhor sabe que a mente não funciona assim.

Hyoga parou de ler e fitou Karin com curiosidade. Estampado em sua face, havia um sorriso gentil. Hyoga trabalhava tanto que mal tinha tempo de notar a beleza daquela garota que, vinda também da Sibéria, se propôs a servi-lo por vontade própria.

— Venha comigo – disse Karin, estendo a mão ao cavaleiro.

Ela então o levou até a saída leste da casa de Aquário. De lá, eles tinham uma vista belíssima do Santuário. Hyoga observou a movimentação dos moradores, e seu peito se encheu de uma estranha comoção. Era como se aquilo o lembrasse pelo que lutava. Ele fechou os olhos e apreciou o vento morno, sentiu o calor do Sol em sua pele. Ao lado de Karin, por um momento, ele esqueceu-se de todos os problemas.

— Sabe, senhor – começou Karin. – Uma ave, quando quer chegar a algum lugar, precisa saber como bater as suas asas e voar. Se ela bater pouco as asas, ela não conseguirá voar, e se bater demais, ela pode acabar passando do alvo. A mente funciona da mesma maneira. Uma ave pode chegar aonde quiser, se souber bater as suas asas. Cisnes são aves também.

— Curioso – disse Hyoga. – Atena também fez uma referência a aves quando a encontrei no Salão do Mestre há alguns dias atrás. Os pássaros nascem na terra, antes de se alçarem aos céus.

— Sinal de que eu também sou sábia. Deveria nos escutar.

Quando Karin voltou sua visão para Hyoga, ele estava boquiaberto. Seus olhos estavam arregalados e sua íris se movia rapidamente, como se seu cérebro calculasse uma inúmera quantidade de informações ao mesmo tempo. Karin ficou um pouco assustada, mas, de repente, ele acordou.

— O cisne é uma ave... Uma ave pode chegar aonde quiser se souber bater as asas – Repetiu Hyoga. – É isso! É isso!

— Senhor?

— A fênix também é uma ave!

Ele abraçou a garota, que ficou paralisada e enrubesceu em seus braços. Hyoga a soltou e disparou em uma corrida enlouquecida.

— Obrigado, Karin! Obrigado! – Foram suas últimas palavras, antes de desaparecer nos corredores da casa de Aquário.

Lá dentro, ele observou mais uma vez alguns registros, até que finalmente arregalou os olhos ao encontrar o que queria. Um registro específico da casa de Virgem.

— É isso!

Ele então correu em direção ao Salão do Mestre, atravessou a vazia casa de Peixes em segundos e alcançou os portões. Uma faísca de cosmo ascendeu em seus olhos e os portões se abriram como se tivessem sido golpeados pelo brilho do seu olhar. Ele os atravessou com uma velocidade estonteante e, lá dentro, tomando chá em uma grande mesa, Atena, Shiryu, Shun e o Grande Mestre fitaram Hyoga com olhares curiosos.

— O que significa isso Hyoga? – Perguntou Shiryu, pondo-se de pé.

— Perdoem-me a invasão, mas não há tempo para formalidades e Atena me isentou delas. Eu descobri – disse o cavaleiro. – Tudo está interligado. Eu descobri os planos do inimigo! E Shun, eu descobri o paradeiro do cavaleiro de ouro de Leão! Eu sei onde está Ikki!

O copo de chá deslizou das mãos de Shun, espatifando-se no chão.


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