Skeletale escrita por Nameless


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Apenas uma ideia que passou por minha cabeça depois de teorias e mais teorias sobre o relacionamento entre Sans,Papyrus e Gaster.
E não do jeito que algumas mentes podem pensar.



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—Sans,venha aqui um momento.

Tirando os olhos de sua revistinha,Sans olhou para seu pai.Ele parecia preocupado e seu sorriso não era o mesmo sorriso tranquilo que ele sempre mantinha.Era torto e parecia forçado,não se encaixando na típica face serena que sempre usava.

Então Sans notou a mancha de sangue,fazendo um contraste com o imaculado branco de sua face.Percebendo que algo estava errado,o filho correu para os braços de Gaster.

 -Pai,o que foi?Está doente de novo?-com as mãos,ele colocou a cabeça de seu pai para mais perto de si,para que pudesse examina-la para qualquer ferimento.Uma pequena rachadura se formara perto do olho direito de seu pai.

Com um riso fraco,Gaster tirou as mãos de seu filho de seu rosto com delicadeza.

—É um ferimento interno,não tem como curar facilmente.Sans,o papai...-deu um suspiro cansado,com medo de completar a frase.Fechou os olhos por um momento,pensando cautelosamente em sua seguinte frase.

—Você vai embora de novo,não é?Tudo bem,Papyrus já está maior e eu já sou um homem.Pode ir se recuperar que eu entendo,farei espaguete para o Pap e...-sua sentença foi interrompida por um aceno com a cabeça por parte do esqueleto maior.

Sans não conseguia entender,seu pai sempre saía por um tempo,por conta de seu trabalho.No máximo alguns meses,mas ele sempre voltava.Um  herói,porque ele finalmente conseguiria quebrar a barreira junto dos cientistas de seu grupo.O que ninguém notava era a forma cansada que seu pai andava ou as noites em claro que passava apenas para terminar seu projeto,para o bem de todos.

Mas Sans notava,e mesmo fingindo não se importar,ele sabia que os ataques de tosse não eram apenas parte de um resfriado,mas sim algo relacionado a seu trabalho.

—Não,não será desse jeito.

—Mas porquê?Vocês não disseram que estavam quase conseguindo alcançar sua meta?Porque você tem que ir para o trabalho mesmo estando doente?-não era justo,porque tudo estava em suas costas?Seus colegas de trabalho eram uma equipe,seu pai não deveria ser o  único a se esforçar. Não importa o quão bem Gaster fale de seus colegas,Sans sabe o que viu no dia de visita,onde ele foi conhecer o tal laboratório.

Ele odiava o laboratório onde seu pai trabalhava,onde ninguém perguntava se ele estava bem ou nem ao menos lhe davam bom dia.Não retribuíam os sorrisos simpáticos,parecendo malditos robôs sem emoção,exercendo suas funções sem se preocupar com o bem estar dos outros.

—Se lembra da nevoa preta do ano passado,a mesma que cobriu todo o Underground?-perguntou.Sans acenou que sim com a cabeça,indicando para que ele prosseguisse.-Houve um acidente e eu fui o responsável.Um estagiário utilizou de mal forma nossa última amostra de alma humana que tínhamos,e quando tentei estabiliza-la...Bem,sorte que mais ninguém se machucou.

—Que mais ninguém se machucou!Pai,como você pode achar que...-de repente,pareceu se dar conta da gravidade da situação.-O quão grave são seus ferimentos?

Gaster olhou para o lado,envergonhado ao tentar mentir para seu próprio filho ao esconder sua condição médica.

—Pai,quão doente você está!?-com medo,Sans balançou Gaster com fervor,temendo a resposta.

Não poderia ser tão ruim assim,certo?Ele só deve estar sendo um tanto dramático,crise de meia idade ou qualquer coisa do tipo.Pai era forte,ninguém nunca conseguiu o vencer em uma luta,nem mesmo o próprio rei,uma coisa insignificante como fumaça não o afetaria.

—Se for otimista,posso ficar mais um ano com vocês.

Suas palavras atingiram o esqueleto menor como uma faca,o fazendo tropeçar em surpresa.Aquilo não poderia ser verdade.Seu pai deveria estar brincando,junto de Papyrus.Sim,era apenas uma brincadeira feita por vingança por suas piadas ruins,ele sabia que a tolerância aparentemente infinita para seus trocadilhos teria um fim.

Mas as lágrimas no rosto de Gaster não mentiam.Sans se deixou ser abraçado com afinco,enquanto enterrava o rosto em seu ombro.As lagrimas rolavam por sua bochecha,caindo no jaleco branco de seu pai.

Imagine se Pap visse isso,que tipo de imagem ele teria de seu irmão mais velho ao ve-lo aos prantos,chorando como um bebê?Não importava,nada importaria quando ele fosse um órfão.

Sentia pena das crianças do orfanato,por não receberem o mesmo amor que ele e seu irmão tinham de seu pai.Sem Gaster,como ficaria o mundo de seus filhos?Pobre Pap,crescer sem sua mãe já foi difícil para ele,imagine perder seu pai sem nem atingir a puberdade?

—Sans,olhe para mim.-segurando os ombros de Sans,levantou a cabeça de seu filho,quase se arrependendo de tal ato.

A expressão de seu filho era tão perdida,tão difícil de se ver.Seu coração doía só de pensar em o que seus pequenos teriam que passar quando ele não estivesse mais ali com eles.

—Você tem que proteger seu irmão,ouviu?Eu vou te treinar,para que você seja ainda mais forte do que eu.Mas você tem que ser corajoso,porque meus métodos não são comuns.

Isso era algo que Sans sempre quis,que seu pai finalmente o treinasse.Mas sempre estava ocupado demais para conseguir ensina-lo qualquer coisa sobre lutas,usando a desculpa que ele era novo demais para pensar nisso.

Mas agora ele não era mais apenas um adolescente,mas sim o novo pilar de sua família.Ele faria qualquer coisa para que sua família sobreviva.

Qualquer coisa.

*

09/07/19XX

Dr.Gaster.

O projeto Gate teve seu comando transferido para Dr.Klinton,até que me recupere de minhas circunstâncias médicas.A enfermeira local diagnosticou minha situação de forma muito cômica,ao dizer que era um caso indeterminado e que deveria ficar para observação.

Não tenho tempo para coisas bobas como ficar enclausurado em uma sala de hospital esperando por resultados que sei que nunca virão,tenho coisas mais importantes a fazer.No final ela apenas considerou como uma fadiga por conta de stress e me dispensou das atividades como cientista oficial do reino.

Depois de um certo suborno,é claro.

Mas meu velho laboratório continua secreto e operacional,então posso continuar meu trabalho lá.Ou melhor,começar um novo.

Nosso objetivo principal no projeto Gate era de criarmos almas humanas artificiais,porém autenticas e parecidas com os originais exemplares que obtivemos,para que conseguíssemos arrombar a barreira e libertar todos nós.

Em meio a minhas pesquisas,encontrei um traço peculiar em suas almas.Tínhamos apenas três,então fiz questão de ser cuidadoso e preciso em minhas análises,o que me trouxe recompensas a longo do prazo.

Tal característica não estava presa ao genoma dos humanos,mas sim no estranho código que constituía suas almas.Era a única coisa que mantinha um padrão naquele enigma frustrante que minha cabeça teimava em tentar resolver,sem sucesso.

Talvez devesse dá-lo a Papyrus,apenas como uma brincadeira.Ele tem se interessado muito em quebra cabeças atualmente,até mesmo resolveu o cubo mágico que Asgore me deu de natal.Reis não sabem como dar um presente de amigo secreto,acreditem ou não.

Perdão,não deveria datar os relatos de minha vida pessoal aqui,não é nada profissional para alguém de minha reputação.

Era a principal diferença entre nós e os seres humanos.A chamei de determinação.

Tantas utilidades poderiam surgir daquele pequeno padrão aparente inofensivo,que pensei que poderia mudar nossas vidas depois de uma pequena série de testes.Ledo engano,os pobres monstros que pensei que ajudaria se tornaram apenas mais números em meus relatórios de óbito,vidas que falhei com.

Dessa vez será diferente.

Quando descobri ser estéril,me senti triste por não poder realizar o sonho da paternidade.Agora sei que não foi uma maldição,mas sim uma benção que a natureza me trouxe.

Experimentos 1 e 2.Sans e Papyrus,meus filhos,criados a partir de meu próprio DNA,porém com alterações vitais para o que planejava.No final,me acovardei e não tive o coração para testar minhas próprias crianças.

Com minha morte iminente,sei que é o momento de ignorar minha moral e ética e fazer o que é preciso.Sans deve ser forte,para que não aconteça com ele o que acontecerá comigo.

Esse é o Projeto Determinação.

*

10/07/19XX

Dr.Gaster

Não vejo necessidade de relatar meu nome em tais relatórios,sendo que são apenas fontes de pesquisa e sou o único a saber o que acontece por trás dessas paredes cinzas.Procedimento padrão,eu presumo.

Sans começou a...

Perdão.Parece que meu hábito de insistir em misturar minha vida pessoal com minhas responsabilidades como cientista está ficando cada vez mais forte.

Experimento 1 resolveu se submeter a sua primeira bateria de testes durante essa manhã,enquanto sua família era cuidada por uma babá.

Suas reações foram um tanto extremas,perante a dor de ser exposto a uma quantidade moderada de determinação artificial.Seu stress emocional foi apaziguado com uma dose de carinho depois da sessão.

Depois de uma rápida análise de seu comportamento em combate,percebi pequenos aumentos em sua agilidade e reflexos.

Ele ainda não consegue formar um Blaster,no entanto.

*

“É muito bonito.”

“Feliz com seu Sans Blaster?”

“Seu nome não será Sans Blaster,pai.Gaster Blaster soa melhor,porque ele sempre estará do meu lado,assim como você.”

*

23/05/19XX

Dr.Gaster

É incrível quantas mudanças ocorreram apenas em um ano,quantos avanços foram feitos.Além das rotineiras exposições a determinação,apliquei o uso de pílulas diárias,feitas de determinação concentrada.

Os resultados são fascinantes,me fazem sentir quase mal ao perceber que não poderei revelar os resultados a população.

Experimento 1 finalmente conseguiu conjurar com sucesso seu Blaster,um dos ataques mais poderosos de sua família.De minha família,na realidade.

Sua agilidade é impressionante,superando até mesmo os mais experientes seres cheios de L.O.V.E.Seu HP e sua defesa são relativamente comuns,se comparados a seu poder de ataque e de esquiva.

Porém,noto que a fadiga depois das sessões habituais está se tornando usual,ainda mais visível em seu comportamento social.Uma consequência de meus testes ou das mudanças da puberdade?

Não tenho certeza ainda,são apenas dúvidas inúteis que me perturbam o sono.

Perante a tais evoluções gratificantes,creio que poderei avançar para a próxima etapa.Tenho feito pequenos aumentos em relação ao nível de determinação,porém sem divulgar quaisquer resultados ao experimento 1.

Amanhã,aumentarei os níveis de exposição um pouco mais,nada extremo,obviamente.Acredito que Experimento 1 está preparado.

*

Não me importo mais com o maldito protocolo,com a droga do profissionalismo ou o padrão estúpido.Não é de meu interesse perder tinta ao escrever a proporção dos resultados,ou com as imbecis estatísticas.

Minha burrice,minha impulsividade e meu comprometimento com a ciência quase me fizeram perder um dos meus dois únicos motivos que me fazem conseguir acordar pela manhã.

Como pude ser tão cego?Não é apenas porque ele é meu filho,mas sim porque é uma criança,uma vida disposta a ser arriscado por conta das inseguranças de velhos cansados como eu.

Ineptos para tomar decisões,imorais e egoístas seres escondidos por suas máscaras de heroísmo.Cegos por sua arrogância e ira,acreditando em verdades vazias saídas da boca de um “santo” afogado em sua própria ignorância.

Asgore descobriu sobre meu pequeno segredinho sujo,como gostou de chama-lo.Chamou a mesma estagiaria que tinha demitido pelo acidente da nevoa um ano antes para me ajudar,como se isso demonstrasse o quão bondoso e gentil era.

A menina,Alphys,não tem culpa nenhuma.É apenas mais um peão que provará sua lealdade para com seu monarca,seu tão gentil rei que lhe deu mais uma chance.Criança genial,eu nunca conseguiria fazer nada parecido na sua idade,infelizmente não possuía muito talento para a genética,porém trabalhava duro para ter um bom desempenho.

Mas era incrível na robótica,tal talento em criar inteligência artificial não poderia ser ignorado.Asgore teve certeza de acabar com o sonho da pobre menina em ter seu próprio robô com consciência,dizendo que estaria falhando com seu povo se não se concentrasse em salvar sua raça.

Monstros,um adjetivo pejorativo dado pelos humanos aos que demonstrassem um comportamento frio e agressivo.Antes,acreditei que era apenas um termo preconceituoso contra nossa raça,mas agora entendo de quem eles estavam querendo se referir.

Sans teve uma espécie de surto,um descontrole em sua magia que destruiu nosso sofá e o deixou com uma enxaqueca por dias.Sorte que Papyrus estava brincando com sua mais nova amiga no parquinho local,e não testemunhou o ocorrido.Mas eu sim, então resolvi parar com os testes pelo bem de meu filho,por sua saúde.

Asgore não me deu o poder da escolha e resolveu decretar que o experimento não poderia ser desperdiçado.Experimento,tal palavra suja que utilizei para chamar vidas,pessoas como eu,servindo apenas como números.

A chantagem se tornou meu único salário,graças a meu grande amigo amargurado.

Os surtos se tornaram usuais,com abraços e sussurros de “Está tudo bem” servindo como o único consolo para as dores de meu pequeno.Fui impedido de lhe dar qualquer tipo de medicamento ou anestesia,com a desculpa de que interferiria no procedimento.

Sabia o porquê dessa tortura,era uma punição.Algo para que me fizesse lembrar o que acontecia quando você desobedecia uma ordem direta.E eu aceitei silenciosamente,como o covarde que sempre fui.

Ele aumentou a dosagem a níveis extremo,jogando no lixo minha forma gradual de se proceder.

Mês passado,Sans se feriu.

Ele...

Ele está permanentemente cego,pelo menos do olho esquerdo.Ou orbita esquerda,se preferir.Simplesmente porque o grande rei não podia esperar pacientemente pelos resultados,já que quanto mais cedo melhor.

O corpo de Sans e tornou tão frágil,pode morrer com apenas um ataque.Não me importa mais a sua força,só quero que meus filhos sobrevivam.

Sua próxima sessão será amanhã.Meu filho não se recuperou ainda,e definitivamente não está pronto para mais uma dose anormal em seu corpo fragilizado.

Mal consigo usar magia,e as rachaduras estão por quase todo o lugar de meu corpo,sugando minha fonte de vida.Com o pouco poder que me resta,queimarei o laboratório secreto e acabarei com todos os resquícios de minha pesquisa.

Sei que a culpa não é de Asgore,mas sim minha.Se não levasse adiante essa ideia estúpida...

Me desculpe,Sans.Sei que não fui um bom pai,mas quero que saiba que eu não podia ter filhos melhores.Estou muito orgulhoso dos adultos que sei que vocês dois serão.

Mesmo em morte,continuarei amando vocês.

W.D.Gaster

*

Às vezes,consigo ver coisas com meu olho esquerdo.São apenas borrões,linhas coloridas interligadas como uma complicada teia de aranha.

Pensei que talvez era minha visão voltando,mas vejo coisas completamente diferentes.Quando tento tocar as linhas,minha mão passa diretamente por elas,como uma miragem.Todas as linhas coloridas estão literalmente ligadas a uma reta prateada,como se ela fosse uma espécie de núcleo.

Descobri o que eram depois do primeiro reset.Foi isso que a florzinha disse que significava,e como era divertido eu ter esperado todo esse tempo para perceber o que estava acontecendo.

Flowey,a flor.Que mesmo com tal nome,é do gênero masculino,e se torna muito irritado com piadinhas sobre seu nome enganador.Eu só não consegui não fazer um trocadilho,foi mais forte do que eu.

As linhas prateadas são linhas do tempo,cada uma distorcida a cada vez que a florzinha reseta.

Na primeira vez que percebi o tal reset,me senti um tanto feliz,como se fosse uma segunda chance,onde poderia impedir meu pai de ficar doente e viveríamos para sempre juntos.

Não para sempre,mas por um longo tempo.

Mas ninguém lembrava dele.Fotos apagadas como se nunca tivessem existido,como se W.D.Gaster fosse apenas um delírio de minha mente.Cheguei a pensar que estava ficando louco.

Porém,as vezes,quando meu olho esquerdo via algo,uma sombra negra aparecia.Definia uma forma por pouco tempo,antes de simplesmente se misturar em meio as linhas.

Meu pai ainda estava aqui,mesmo que ninguém acreditasse e ele também sabia disso.

*

“Hey,você esqueceu um prato de espaguete.”

“Somos só nós dois aqui.Ou temos um convidado?Porque não me contou antes!?O pobrezinho não poderá provar do meu delicioso espaguete,entrará em depressão e...”

“Esquece,eu não sou muito bom em matemática.Contei errado.”

*

“Sans,o que é isso?”

“Minha escultura.”

“É apenas um monte de neve!”

“Tem razão...”

“Bom saber que o grande Papyrus conseguiu mudar sua atitude preguiçosa!”

“Talvez eu devesse pintar de preto para ficar mais autêntico.”

“SANS!”

*

“Pap,diga X!”

“Sans,porque você está apontando para o nada na foto?”

“Foi só uma piada,mano.”

“SANS!”


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Notas finais do capítulo

Por favor,se gostou(ou não) deixe sua opinião comentando,favorite,ou até mesmo recomende.
Ou você terá um..
T E M P O R U I M
Se bem que isso não assusta muito,então desconsidere minha provável ameaça.
Obs-Clique na imagem para ver uma surpresa!