De Outro Mundo escrita por S Q


Capítulo 9
Tribeca Prep


Notas iniciais do capítulo

E aí, pessoal? Chegou um capítulo novo e maior para vocês aproveitarem!
Muito obrigada a todos que estão lendo, acompanhando, favoritando...



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Às 6 da manhã de segunda-feira, os despertadores ressonaram pelo apartamento acima da lanchonete Waverly. Bocejando e espreguiçando, algumas pessoas foram começando a se movimentar lá por dentro, pois teriam que se arrumar para a primeira aula na nova escola. Apesar do sono, o clima era de muita expectativa.

Harper rapidamente se trocou, colocando um conjuntinho verde e vermelho e um arquinho cor-de-rosa. Ela desistira de ir com o chapéu do pateta. Quando ficou pronta, desceu para a cozinha, comeu apressadamente uma melancia, e ficou aguardando ansiosa pelos colegas de residência para saírem juntos. Mal podia acreditar que iria realmente voltar a estudar para seguir sua própria carreira. Sempre sonhara em entrar em alguma grande universidade e virar engenheira ou arquiteta, e sendo aluna da Tribeca Prep isso era praticamente garantido.

“Mesmo que meus pais tenham tentado me afastar dessa escola de todas as formas possíveis, nada disso deu resultado. Eu vou estudar lá até conseguir meu diploma! Só que não seria ruim se eles me apoiassem um pouquinho, né? Ou se ao menos, não tentassem estragar meu sonho” – Pensava.

 Enquanto tinha seus devaneios sobre isso, Max também desceu, e começou a descascar uma banana. Ele estava sem seu chapéu, o que fez com que a fruta se transformasse numa barra de chocolate, a partir de um lampejo que saiu de sua mão assim que a pegou.  Foi só aí que Harper percebeu que havia mais alguém ali.

— Oh, você já está acordado, mas que... DROGA DE ROUPA É ESSA?!- Exclamou ela, reparando que Max estava usando um pijama de bolinhas rasgado, manchado e fedorento.

— A que deu para eu usar. Justin está trancado no banheiro há 21 séculos.  Não tem como eu trocar de roupa.

— E seu quarto, criatura?

— Bem, eu dormi sem o chapéu, então... aquele cômodo ficou abarrotado de coisas que criei durante o meu sonho, não dá nem para andar lá dentro. Quando eu acordei até levei um susto porque tava um cheiro horrível de lixo com detergente, inseticida e vômito junto de um leve aroma de shoyo. Quando eu foi ver tinha uma...

— Não quero saber! — Exclamou a irmã, com uma nítida careta de nojo.—  Só me diz que você jogou fora o quer que isso fosse.

— Eu não! Queria ver se você pegava naquilo! Acho que vou ter que chamar o Jerry ou a Theresa para limparem. Só magia deve dar um jeito naquela merd... — ao ver a cara da irmã, ele rapidamente se arrependeu da palavra escolhida e trocou o final da frase — naquilo.

— Pois é bom chamar mesmo aqueles lá mesmo. Eles ficam fazendo essas coisas para nos assustar, então eles é que tem que limpar!

Max ia dar alguma resposta, mas se distraiu com uma mosca que começou a girar em volta dele, então só sacudiu os ombros e saiu andando à procura dos 2.

Enquanto isso, Alex continuava dormindo. Quando o alarme do seu celular tocou, ela simplesmente deu um tapa no botão de desligar e voltou a roncar. Estava tendo um sonho em que era uma bruxa de contos de fadas (daquelas que usam vestes roxas, tem verrugas e andam com caldeirões) e estava presa no alto de uma torre. Nenhuma das mandingas que fazia conseguiam soltá-la. De uma janela, ela podia ver Dean cavalgando bem longe dali. Já sonhara várias vezes que estava numa floresta, isolada de tudo, correndo com seu melhor amigo.  Vê-lo agora sozinho, lá de cima, deixava-lhe muito agoniada. Mas, eis que surgiram umas vozes, que lembravam as de Harper, Max, Theresa e Jerry que gritavam coisas como “fique calma”, e “nós vamos te ajudar". Instintivamente, a morena olhou para a porta e viu que esta estava se abrindo.  Assim que a fechadura se soltou ela saiu correndo pela escadaria que levava em direção ao térreo. Chegando nos portões para o lado de fora, abriu-os violentamente e encontrou parado atrás deles Justin, com os cabelos negros bagunçados pelo vento, os olhos verdes brilhando mais do que nunca e vestindo uma roupa de soldado romano. Ela não sabia se ele estava lá para lhe ajudar, ou para lhe prender de novo e nem teve como saber. Ouviu um berro esganiçado e acordou num pulo. Harper estava na beira da cama, chamando-lhe freneticamente. Pelo jeito, já estava tentando acorda-la há algum tempo, pois haviam algumas almofadas jogadas no chão, uma pena na mão da ruiva e uma nítida expressão de cansaço em sua cara.

— Ufa, você acordou! Já não aguentava mais te chamar. Que sono pesado, hein?!

— Que horas são?

— Sete horas já, e se você não se apressar vamos chegar muito atrasadas.

— Hum, tá, espera só um pouquinho que eu já... waahhh... estou indo.—  Disse numa bocejada. — Bem que eu podia conseguir atrasar as horas, né? Algo como “já que nessa escola sei que vou me ferrar, não quero também me atrasar” — Fez num chiste jocoso, agitando a mão para o relógio de pulso de Harper.  Mas a brincadeira fez com que um raio de luz roxo saísse dos dedos de Alex, e os ponteiros do relógio voltassem um pouco.

— Ai, meu Deus, eu fiz magia de verdade! — Exclamou ela, rindo. Porém imediatamente percebeu que estava todo aquele tempo sem o chapéu. Se virou na mesma hora para Harper, que agora lhe encarava incrédula e disse — Caramba, eu esqueci meu chapéu na toca, ontem à noite! Vou me arrumar rapidão e descer lá para pegar ele!

Assim, pegou a roupa que havia separado na véspera e se dirigiu correndo cheia de pressa ao banheiro para tirar o pijama e poder descer logo; porém, Justin ainda estava lá dentro.  Sem saber disso, no seu desespero para pegar o chapéu rápido antes que algo realmente ruim acontecesse, Alex saiu abrindo a porta com violência, sem bater.

—AAAAAAAHHHHH! O que é isso?! — Assustou-se Justin no instante em que deu um encontrão com Alex lá dentro, fazendo ela tropeçar e cair por cima dele. Os dois caíram estatelados no chão, ela por cima, ele por baixo. A mocinha tentou desengonçadamente se levantar mas ao olhar Justin direito, paralisou e enrubesceu na hora: o rapaz estava meio molhado, com os cabelos despenteados e sem camisa. Ele ficou claramente envergonhado e assim que Alex saiu de cima dele, Justin foi catando a blusa, apalpando o cômodo  enquanto um silêncio constrangedor dominava. Alex não teve como não reparar no abdômen delineado e nos músculos rígidos do nerd, pois ela simplesmente havia caído por cima deles. Quando o garoto vestiu uma camisa social “certinha” de gola fechada e manga comprida, ela notou distraidamente, umas curvas pela roupa, que até então não tinha reparado que se formavam nas blusas do jovem.

— Por que você saiu entrando assim? — Perguntou Justin, claramente desconfortável.

—Ah, bem... eu tava precisando me trocar rápido.

— Custava bater antes de entrar?

— Desde que acordei (e olha que eu acordei tarde) não ouvi nenhum barulho de alguém entrando ou saindo, então presumi que todos já deviam ter usado o "toillete", né?! — Respondeu ela, começando a perder a paciência. Seu argumento era falho pois havia acabado de acordar, mas ela só queria se arrumar logo para poder pegar o chapéu e não precisar mais ficar de pijamas na frente do cara que estava com o peitoril nú grudado a ela  uns minutos atrás.

— Ah, não venha me culpar pelo SEU erro! Quem saiu abrindo a porta sem bater foi você!  — Agora Justin que se alterava. Ele devia ser uns 10 centímetros mais alto que Alex, mas isso não impediu que ela lhe empurrasse para fora do cômodo alegando que errado ou não ele tinha que deixar ela se trocar agora. E para não dar chance de ele lhe retrucar, pegou rapidamente a porta que estava ainda escancarada e trancou.

 *** 

Depois de alguns minutos, e alguns resmungos, todos finalmente saíram para a escola. Max relutou um pouco às ordens de Theresa para colocar o chapéu do pateta novamente, alegando que era desconfortável, mas por fim, acabou cedendo. Quando Jerry foi se despedir deles, elogiou bastante a sobrinha ao saber que tinha apenas voltado o tempo durante todas aquelas horas sem chapéu, pois significava que além de não precisar mais usar o adereço, conseguiu realizar um feitiço mais avançado sozinha, sem nem ter tido aula ainda. Contudo também ressaltou que ela devia ser mais cuidadosa, e não usar seus poderes à toa.  Depois de beijos e abraços, eles finalmente seguiram em direção à Tribeca, apreensivos.

A escola ficava em um prédio de tijolinhos, alguns quarteirões depois da lanchonete.  Embora a animação de Alex tivesse aumentado ao saber que poderia se dar bem como feiticeira, quando chegou no colégio seu estômago parecia se contorcer.

— Se eu passar mal agora, será que me mandam para casa?— Perguntou à Harper.

— Relaxa, Alex. Eu sei que você não conhece muito a Tribeca, mas garanto que vai gostar. Mal posso esperar para a primeira aula! Teremos desenho e línguas!

— Sério? Tô começando a me interessar...

— Na verdade é artes e espanhol. Acabei de ver aqui no mural. — Interrompeu Justin. Eles estavam parados na entrada, ao lado de um quadro onde estavam afixados avisos, calendários e cronogramas.

— Espanhol?! Ah, não, eu sou péssima nesse idioma! Bem que você podia não ter falado nada, eu já tava começando a me animar!

Justin estava prestes a responder algo, mas um homem barrigudo, de óculos e terno, veio na direção deles. Ele usava um broche onde estava escrito “diretor”, e por isso, o rapaz achou melhor se calar e esperar para ouvir o que ele tivesse a dizer.

— Bom dia. Vocês são os novos alunos, eu presumo?

— Sim, senhor. — Respondeu Justin formalmente.

— Com ou sem presunto! — Acrescentou Max. Sua irmã deu uma bufada e falou entre dentes:

— Ele disse presumo, não presunto.

Mas o caçula não estava mais ouvindo nada; ele saiu atrás de uns garotos que passaram, e logo passou a conversar com eles como se fossem amigos de longa data. O diretor ficou um pouco desnorteado por alguns segundos com aquilo. Entretanto, logo voltou sua atenção para os outros adolescentes.

— Bem, podem me chamar de sr. Laritate. Como podem ver nesse broche que carrego, eu sou o diretor daqui.  É muito honroso quando aparece um novo grupo de estudantes dispostos a serem lecionados na minha escola. Trabalho muito duro para que todos os nossos alunos estejam aptos no final dos cursos a passarem no SAT, e ingressarem numa faculdade. Saber que vocês encaram de boa vontade esse desafio me deixa realmente feliz! Sabem, nossos professores são muito capacitados e estarão a disposição sempre que precisarem e...

Alex não estava ouvindo mais. Haviam 2 meninas muito parecidas, vestindo roupas de grife, paradas do outro lado do pátio, apontado na direção deles e rindo. Justin e Harper não haviam ainda percebido, pois estavam prestando toda a atenção no discurso do sr. Laritate. Ela sentiu uma raiva florescer dentro de si, pois muito provavelmente estavam zoando o estilo de Harper pelas costas. Ela não aguentou quando começaram a chamar atenção de outras meninas que passavam e berrou:

 — Ôuôuô, vocês aí! Dá para pararem de serem ridículas, por favor?! Obrigada!

O sr. Laritate imediatamente se virou para a morena com um ar de surpresa por ter sido interrompido. Nesse momento o sinal tocou. Ele pigarreou e disse olhando em um papel que carregava consigo:

— Vocês devem ir para a aula agora. Senhor Justin Vicenzo Pepe?

— Sim? Sou eu!

— Vá para a sala primeira sala logo após a escada. Ah, pode tomar a chave do seu armário antes se quiser. — E estendeu-lhe uma chavinha com a mão. O rapaz fez que sim com a cabeça, pegou o objeto e seguiu na direção indicada, claramente entusiasmado.

— Bem, acho que Maximiliano Finkle já deve ter encontrado a sala dele com os colegas. Depois entreguem esta chave a ele, está bem? — Dirigia-se agora às duas meninas que restaram. — Senhoritas, subam para o segundo andar e entrem na terceira sala à direita. Peguem as chaves de seus armários na parede esquerda de lá e até mais. — Elas já se encaminhavam para as escadas quando o diretor fez um último adendo — Esperem! Quero a mais baixinha na minha sala, depois da aula. — E saiu andando.

 

***

 Durante os primeiros tempos Alex ficou explicando para a amiga porque tinha berrado aquilo e reclamando em voz baixa do modo como o diretor lhe chamou:

 — Tava falando o nome de todo mundo por completo, mas quando foi me chamar tinha que ser de baixinha?!

 — Mas ele não sabia qual de nós duas era Harper e qual era Alexandra. Isso é, se ele tiver uma lista com nossos nomes. E, não se ofenda, uma das características suas mais marcantes é realmente... ter uma estatura menor. Acho que ele não falou por mal. Mas... obrigada por ter me defendido. — Completou com um sorriso sincero.

— De nada... você até que é legalzinha; não vou deixar te zoarem. Só eu vou poder. — Respondeu Alex, sorrindo um pouco também.


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Notas finais do capítulo

Desculpem-me mais uma vez pela demora. Como entrei de férias agora, acho que passarei a postar mais regularmente. Vamos torcer para nada impedir.
Até o próximo capítulo! ;)



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