— Onde será que meus tios estão? – Questionou Alex. — Precisamos encontrá-los. Harper e Max procuram pelo apartamento; eu e Justin vemos lá em baixo. Tudo bem?

— Por que essa divisão? — Perguntou Harper, coçando seus cabelos ruivos.

Justin respondeu pela colega:

— É uma boa ideia a gente se separar. Assim podemos achar eles mais rapidamente. Também estou ansioso por respostas.

— Não foi isso que eu quis dizer. Por que eu fico junto com meu irmão, enquanto vocês dois descem sozinhos?

— Ah, bem, vocês são irmãos, não preferem ficar um com o outro? – O rapaz mandou depressa.

— Desculpa, mas será que dá para a gente parar com essa conversa desnecessária e catar logo nossos locadores? — Interveio Alex, sem paciência.

— Certo, então vamos! — Falou Justin determinadamente, puxando-a com ele para a porta. O rapaz pegou na maçaneta para abri-la, só que levou um susto: alguém já estava a empurrando pelo outro lado. Era Jerry, que acabara de subir para ver se eles tinham despertado.

— Oh, bom dia! Vejo que acordaram todos! Aonde vocês estavam indo, antes de tomar café? — Perguntou o homem, olhando para a sobrinha e o afilhado indo em direção à saída, de mãos dadas.

— Justamente te procurar. Precisamos de respostas para o que houve ontem. E tenho certeza de que você e sua esposa são as melhores pessoas para perguntar. — Respondeu a sobrinha de Jerry enfaticamente. O mais velho, porém, se fez de desentendido:

— Do que vocês estão falando? Ontem chegaram todos cansados e foram logo dormir.

— Faz sentido. — Comentou Max.

 — Quieto! — Exclamou Harper. Alex por sua vez continuou séria, se apoiando na parede, como se não tivesse ouvido nada:

— Olha, não dá para disfarçar. Ninguém aqui se lembra de ter ido dormir. “Coincidentemente” a última coisa que todos disseram se recordar é de estarmos voando e sendo envoltos por luzes poderosas.

— Aliás, me lembrei de uma coisa! Você tinha dito para mim que não era um truque dos meus pais, e até me aconselhou a ficar parada. É obvio que sabe o que estava acontecendo. — Completou agora a ruiva indo em direção a eles. Jerry deu uma suspirada, e levantou as mãos, enquanto lhe encaravam desconfiados.

— Ok, eu realmente sei o que estava acontecendo. É só que... é difícil de acreditar, aceitar e até entender. Eu esperava que as coisas fossem se manifestando aos poucos para poder contar.

— Não, não vai rolar. – Cortou Justin.

— Sim, acho que não tem outro jeito. – O homem parou, balançou a cabeça e continuou. — Venham comigo que eu explico. Preciso mostrar uma coisa.

Os adolescentes já iriam lhe cortar novamente, mas ele não deixou:

— Vocês só vão acreditar em mim depois de verem com seus próprios olhos o que eu tenho para mostrar.

Alex olhou para Justin, como que perguntando se deviam ir mesmo, e ele fez que sim com a cabeça. A garota, já tendo noção de que o rapaz devia ser o mais esperto dali pelo seu jeito nerd, confiou nele e foi atrás do tio. Os outros lhes seguiram.

 Jerry guiou o grupo até chegarem à despensa da lanchonete. Theresa, que estava no balcão ajeitando as coisas, correu aflita na direção deles, ao perceber o que o marido ia fazer.

— Querido, você já vai mostrar isso?

— Eles me cobraram explicações, amor. Têm direito de saber.

— Será que vocês podem parar com o suspense e mostrar logo o que tem aí dentro? –Perguntou sua sobrinha, impaciente.

Jerry normalmente teria chamado a atenção de alguém que fosse tão ansioso, porém devido á delicadeza da revelação que estava prestes a fazer, nem se importou. Apenas puxou do bolso de sua calça uma varinha e passou ela ao redor da porta. O grupo ficou se encarando, com uma expressão de dúvida, até que finalmente ele abriu a despensa, revelando no lugar do estoque de comida da lanchonete, uma sala cheia de objetos bizarros.

 Com cuidado, toda aquela turma foi entrando, olhando espantada ao redor. Haviam bolas de cristal, livros que se abriam sozinhos, varinhas, vassouras e vários outros objetos do tipo ali dentro.

— Caramba! Que D-E-M-A-I-S! – Exclamou Max.

— Gente, tem uma caveira aqui, olha que maneiro. — Alex disse, apontando para um crânio. Ele respondeu:

— Tá olhando o quê?

— Aaaaaaaahh! Esse treco fala! — Gritou a morena, assustada. Como Justin estava perto dela, eles se abraçaram sem nem pensar. Contudo, passado o susto perceberam o que fizeram e se soltaram, enquanto o garoto de olhos verdes falava:

— Meu Deus! Quantas vezes eu já não vim visitar os dindos e não sabia de nada disso!

— Não que eu tenha visitado meus tios muitas vezes, mas também não fazia ideia! – Comentou Alex.

— É mesmo... Tinha me esquecido que você é sobrinha do Jerry. Deve ser por isso que eu tive a sensação que te conhecia de algum lugar.

— Nossa, é sério? Cara, eu também tive isso! Pensei que era um Djavan...— A mocinha comentou arrancando risos do outro.

— Acho que você quis dizer déjà vu.

— É, essa coisa aí. — Respondeu rindo também. Os 2 acabaram de rir e ficaram se encarando, sorrindo. Por um momento haviam se esquecido completamente de onde estavam e da situação louca que passaram na véspera. Harper que lhes despertou gritando, claramente contrariada:

— Certo, se isso não é tudo coisa dos meus pais, então será que alguém pode me explicar o que realmente está acontecendo?!

— Sentem-se todos. Precisamos ter uma conversa longa e delicada. — Falou Theresa, apontando para umas poltronas que haviam no centro do cômodo. A ordem foi logo obedecida.

— Este lugar onde vocês estão agora é chamado toca. É aqui que eu e meu marido guardamos todos os nossos utensílios mágicos. Nós somos feiticeiros.

— Então vocês lançaram bruxaria na gente ontem? Ah, isso não vai ficar assim; eu vou ligar para os caçadores de fantasmas! — Comentou Max, se sobressaltando.

— Calma! Bem, em primeiro lugar feiticeiros não são fantasmas. Aliás, muito do que se fala sobre nós não passa de lenda. Somos apenas pessoas capazes de ter o mínimo de controle sobre uma das energias fundamentais do universo: a magia.

— Feiticeiros? Isso existe mesmo? Eu... não acredito! –Exclamou Justin, surpreso com a informação que acabou de ouvir.

— Não acredita? Pois veja isso. — Terminando de falar, Theresa apontou sua varinha na direção do marido, falou umas palavras que eles não entenderam, e o fez sumir. O espanto foi geral. Depois, antes que ela dissesse qualquer outra coisa, ele reapareceu, aparentando ter acabado de mexer sua varinha também. Perante ao silencio dos garotos, Jerry continuou pela mulher:

— Isso que acabaram de ver foram feitiços. Contudo, ontem, não fomos nós que fizemos aquilo acontecer. Foram vocês mesmos.

— Uou, espera, tem alguma coisa errada aqui! — exclamou Alex, levantando os braços. — Eu não sei os outros, mas nunca fui feiticeira. Até agora, nem sabia que magia existia de verdade.

— Ah, é?! — Jerry respondeu sarcasticamente – Deixa eu ver... —  rapidamente conjurou um balde de água e lançou na direção dela. Por impulso ela gritou e estendeu suas mãos na frente de seu corpo para se proteger. Eis que em sincronia com esse movimento, a água foi parando no ar, sem lhe atingir. Não reparou no que havia feito de imediato pois havia fechado os olhos. Porém, ao perceber que não fora atingida, os abriu devagar e se deparou com a cena: um monte de líquido flutuando na sua frente. No mesmo segundo ela deu um gritinho esganiçado, e baixou os braços, fazendo a água se derramar no tapete.

— Aaahh! Caramba, como isso...

— Foi você quem fez. – Justin disse, olhando incrédulo para Alex. Ela virou suas mãos para si, e ficou encarando-as, assustada.