— E aí, quem foi que mandou muito bem com a ideia da festa? — Harper perguntava pelo apartamento no dia seguinte, radiante.

— Vou dar o braço a torcer, você é uma boa produtora de eventos, menina. Pode ter medo de magia, mas nesse quesito, é uma maga! — Disse Theresa, que dormira lá pela facilidade do apartamento ser em cima da lanchonete. Ela de qualquer forma, já morava mais no sobrado de onde trabalhava do que no kitnet que dividia com o marido, mais ou menos próximo dali.

— Obrigada, mas não força a barra para o seu lado. — Respondeu a ruiva rindo. No mínimo o evento serviu para aproximar as duas que até então se estranhavam ainda um pouco, pela mais nova estar lá sem o consentimento dos pais e pela mais velha ser uma mestre-feiticeira. Naquele momento o entusiasmo conseguia ser maior que tais diferenças, embora ainda sobrasse espaço para uma provocaçãozinha leve como a indiretamente feita por Harper.

Megan, que também dormira lá num colchão, permanecia quieta, pensativa, desde que acordou. A animada adolescente até tentou lhe chamar a atenção perguntando se ela também tinha gostado da festa. Sua ideia ter sido reprovada pela mãe da aniversariante era meio angustiante na cabeça da ruiva. Em contrapartida, se até Megan tivesse aprovado, bem, essa era a maior prova para ela de que tudo tinha dado certo. Porém, a mulher apenas abanou com a cabeça como se tivesse sido "aceitável". Não preciso dizer que Harper ficou meio decepcionada com a resposta. O fato é que Megan não queria conversar com ninguém naquele momento pois sua mente estava bastante embaralhada desde que fora atingida na noite passada pela filha.

Theresa notou que algum acidente mágico devia ter acontecido quando Megan olhou de relance para ela com o olhar vazio que só alguém enfeitiçado apresenta. É difícil de perceber, mas os vários anos imersa no mundo mágico ensinaram a mulher a ter o olho treinado para notar esse tipo de coisa.

Ela correu para a varanda cututando Jerry e apontou para a cunhada dele. O entendimento foi imediato.

— Como é que o Crumbs estava aqui e ele não viu isso? — Resmungou , ajeitando seus poucos cabelos loiros. Ele e a esposa tentaram descobrir o que tinha atingido ela exatamente, executando um feitiço para entrar na mente da mulher e ver suas últimas memórias; só não contavam que a cabeça dela estivesse tão embaralhada.

— É melhor irmos ao hospital mágico. — Constatou Jerry.

— Mas e se Megan acordar do transe lá dentro?

— Duvido. Do jeito que está a cabeça dela... Além do mais, se fosse para ela acordar na hora errada, já teria acordado enquanto verificavamos as memórias dela, não é mesmo?

— Certo, certo. Eu estou um caco mas... realmente, é nescessário.

Assim, ambos pediram a Harper, por estar mais próxima deles, assistindo tudo calada, que avisasse a Alex onde iriam e porquê. Em seguida, seguraram nas mãos de Megan, agitaram as varinhas e se teletransportaram magicamente para o hospital.

Enquanto Alex não descia, Harper começou a dar saltinhos de apreensão, pois não fazia a menor ideia de como contar isso para a amiga. Depois de alguns minutos de tensão a baixinha finalmente apareceu com uma roupa largada, se espreguiçando enquanto comentava:

— Harper, sua louca, então você viu até um lugar para o Dean ficar! Desculpa por só ter reclamado esses dias, eu preciso te agradecer por ontem e..

— Tudo bem, tudo bem, eu não me importo muito. Até porque aconteceu uma coisa mais séria.

A ruiva reuniu toda sua calma e contou então, do melhor jeito que pôde sobre Megan.

Alex não conseguiu sentir nada, só uma coisa gritava em sua cabeça: precisava falar sobre isso com Migalhovisk.

— Muito obrigada por me avisar, eu acho que vou fazer uma visita para ela.- Mentiu.

— Sabe chegar no hospital mágico?

—Han, mas é claro. Fica lá naquele lugar perto daquele troço, se preocupa não. Vou só trocar de roupa, comer alguma coisa e já vou para lá. - Entretanto, ela usou o portal da toca para ir até a Feitiçotech conversar com o diretor.

Enquanto isso, Max acordava Justin em seu quarto aos pulos, sem fazer ideia do que estava acontecendo:

— Aeee, Justin! Ontem minha ajuda rendeu, falaí!

Um travesseiro voou na cara de Max.

— Sai daqui, me deixa!

— Ih, já vi que levou pé na bunda. — Ele retrucou enquanto tirava o objeto do rosto, como se nada tivesse acontecido.

— COMO VOCÊ QUERIA QUE ALGUMA COISA DESSE CERTO CHAMANDO A ALEX PARA DANÇAR SHAKIRA CONTIGO?!

— Calma, meu camarada, para que tanto estresse? Você não acabou tendo seu momento romântico com ela depois? Tava tudo na mente do papai aqui.

O mais novo começou a explicar então que já tinha engatilhado a música que eles dançaram para vir em seguida da em que ele se apresentou. Também falou que só chamou ela primeiro porque sabia que Justin e a baixinha não fariam nada se ele não puxasse a dança.

— Como ela era aniversariante foi mais fácil chamar atenção para dança direto com ela mesma, uai. De qualquer forma, largar no meio do salão, foi jogada de mestre, você nunca teria coragem de chegar nela se não fosse por mim.

— Sei. Para mim você não pensou em nada disso e só se jogou na música que gostava, e depois no seu dragão de estimação. Aliás, falando na Gigi, para onde ela foi depois daquilo? Pareceu que evaporou.

— Agora que você disse... ela tinha me perguntado onde poderia pegar algo para comer. Eu indiquei o freezer e depois disso não vi mais ela.

— MINHA MÃE DO CÉU!

— Que foi?

— O feitiço que esconde a toca tava desativado para os convidados do mundo mágico entrarem. A toca fica na porta falsa do freezer, seu idiota, a Gigi entrou na toca!

Saíram os dois correndo em disparada para lá mas não acharam nada fora do lugar. Alex já havia partido sem deixar sinais e não havia a menor marca de outra pessoa tivesse passado por ali. De qualquer forma, Justin avaliou milimetricamente o lugar e perto de onde ficavam o registros de feiticeiros "civis habilitados em magia, não escalados para operações especiais" de seus padrinhos havia um caderno que ele ainda não tinha visto por ali.

— Só você para se ligar nisso, sinceramente. — Exclamou Max.

Justin ignorou o comentário e examinou o caderno com cuidado. Ao folheá-lo percebeu que se tratava de um diário antigo. Foi virando as páginas até dar de cara com uma ilustração que se movia. Ela tinha todas as feições de Gigi.

— Acho que já sei onde ela foi parar.

—Dentro do livro? Tá de brincadeira né? Acho que você ultrapassou o limite de sanidade mental de um leitor.

— Não cara! Existem alguns cadernos mágicos com o poder de "engolirem" quem ler eles por muito tempo. Normalmente os proibidos.

— Oh, não! Minha princesa agora está presa entre palavras chatas e cheiros de mofo! Eu que não entro lá para ajudar...

O rapaz de olhos verdes ficou perplexo com um comentário daqueles.