Os dias foram se passando com Alex e Justin mais brigados do que nunca. O garoto, frequentemente zoado por Alex; e ela, recebendo todas as advertências possíveis...

Assim estavam, até que um dos professores pediu para conversar com o rapaz de olhos verdes, em particular, após a aula.  O lecionador, que se chamava Gorog, era o mais bravo e exigente de toda Feitiçotech.  Por isso, o jovem estava um pouco ansioso com o convite. Mas como era muito obediente, não deixou de atender ao pedido. Quando os alunos saíram da sala de aula, exaustos, em direção ao dormitório, Justin permaneceu sentado em sua carteira, aguardando o professor começar a falar com ele.

— Sr. Pepe, consegue imaginar o quero com essa conversa?

— Me desculpe, mas... não.

— Bem, andei notando que você tem um talento extremamente excepcional em magia. É dedicado em todas as disciplinas do curso; parece sempre fascinado com o universo mágico; executa todos os feitiços pedidos com brilhantismo; e não é o tipo de aluno que me causa problemas. Por isso, lhe convido a entrar num seleto grupo de jovens prodígios que treinarão para participar do torneio de tênisbol.

— Caramba! Muito obrigado pelos elogios, professor! Só que... eu não faço a menor ideia do que seja tênisbol.

— Ora, é um jogo bem simples! Cada competidor saca sua varinha e rebate alguns tipos mágicos que serão atraídos até a mesa pelos professores. Só o aluno mais poderoso do grupo consegue rebater todos. Esse vencedor, recebe um troféu e um certificado que dá muitos pontos em sua competição de feiticeiros e ainda pode servir para colocar no currículo mais tarde. Além é claro, do prestígio que ele ganha na comunidade bruxa da escola.

Justin ficou tão empolgado com ideia que começou a dar pulinhos de felicidade. Disse ao professor que aceitava e até lhe deu um beijo no rosto, seguido por uma risada de euforia. Pelo o que entendera, se vencesse, sua vida como um feiticeiro completo estaria praticamente garantida. Mal dava para acreditar.

Mais tarde, Alex foi perambular pelos corredores, entediada e sem nada para fazer. Como não permitiam o uso de celular, e ela não havia feito muitos amigos lá dentro, a única coisa que ainda lhe divertia era desenhar. Porém, já havia feito tantos desenhos que estava de saco cheio até disso.

Caminhou emburrada durante uma hora até ouvir uma risada sinistra vinda do hall de entrada. Era o professor de auras de defesa,  o Gorog, que estava falando com um peixe.

— Péra, um peixe fora da água que fala? Que estran... Aff, esquece. Sou uma feiticeira, é óbvio que tudo na minha vida é estranho! – Disse consigo, dando um tapa na própria testa. Depois de um muxoxo, se deixou ser pega pela curiosidade – Bem, já que estou sem nada para fazer, acho que não vai ter problema dar uma bisbilhotadinha no que o fessor tá fazendo...

Então, Alex se escondeu atrás de uma pilastra e ficou escutando. Aos poucos, foi percebendo que o tal peixe deveria ser uma espécie de comunicador, pois parecia que o professor ditava uma mensagem a alguém. De início, a garota não conseguia entender do que Gorog estava falando, mas depois, foi ficando mais claro:

— Ele é tão tolinho. Precisava ver a cara de boboca que fez quando o elogiei.  Argh, que nojo! Mas tá tudo bem, porque em breve eu roubarei os poderes de um desses moleques. E se não estiver enganado, o que nunca acontece, a vítima será o próprio Justin. Ah, já consigo sonhar com o momento em que os poderes dele passarão para mim!

Sem pensar em mais nada, a morena foi correndo assustada, em direção aos dormitórios dos garotos para tentar avisar ao menino, o perigo que estava correndo. Ela nem pediu licença; saiu logo empurrando a porta com força, tamanha era sua indignação com o que acabara de ouvir.

No mesmo momento, Justin acabava de sair de um relaxante banho que havia tomado nesse meio tempo. Naquela noite em especial, achava que não aconteceria nada que pudesse abalá-lo. Não depois do convite que recebera de Gorog e de descobrir que devia ser um dos mais poderosos feiticeiros aprendizes daquele tempo. Caminhava despreocupado rumo à sua cama, enquanto amarrava a toalha na cintura, pelo saguão, já vazio àquela hora, da área masculina da escola de feiticeiros. As luzes estavam apagadas e apenas a forte lua cheia iluminava o caminho. Realmente, o que menos esperava naquele momento era encontrar Alex.

Ele parou de supetão, arregalando os olhos e a única coisa em que pensou foi terminar de amarrar a toalha o mais rápido possível. Porém, como estava num nervosismo misto de vergonha, susto, raiva e mais um sentimento que não conseguia decifrar, a mão mais tremia do que amarrava. Sussurrando enquanto arquejava, perguntou à morena:

— Pelo amor... O que... você... está fazendo... aqui?

A moça não conseguiu responder de primeira. Por um momento, tinha havia mesmo se esquecido do que tinha ido fazer ali. A luz da lua fazia os olhos de Justin parecerem mais intensos e acinzentados. Seu cabelo molhado ficava mais pesado e os fios arrepiados do rapaz, caiam descabelados, realçando ainda mais seu olhar, e feições. Como estava tenso, seus músculos molhados pela água do banho estavam tesos, e o leve bailado deles para ajeitar o pano na região ventral sob aquela iluminação era simplesmente hipnotizante. A maneira como estava corado também não ajudava a memória da adolescente.

Ficaram alguns longos segundos se encarando num climão, até que Alex limpou a garganta e disse de maneira meio esganiçada:

— Cê agora não se veste depois que sai do banho, não?!

—O-ora, eu não esperava encontrar qualquer pessoa por aqui a essa hora! Muito menos uma meni...  Aliás, o que você está fazendo no dormitório dos garotos?!

Nessa hora, houve como que um estalo na cabeça de Alex, e ela lembrou:

—Eu... Gorog! Justin, eu ouvi ele mandando um recado para alguém dizendo que estava planejando roubar os poderes de algum aluno da escola! E pelo o que tudo indica serão os seus!