Durante o resto daquela semana, em todas as aulas de magia, tudo o que Jerry e Theresa falavam era sobre a Feitiçotech. Aliás, não só nas aulas, mas sempre que encontravam os jovens convidados a irem para lá.

Porém, apesar de toda essa empolgação, as reações de Justin e Alex ao convite foram se demonstrando bem antagônicas entre si. Enquanto um achava que ia viver algo melhor que um sonho (e estava empolgadíssimo com a companhia) a outra acreditava que aquilo só podia ser um pesadelo. Ficar numa escola interna, tendo aula o dia inteiro estava realmente longe de ser algo que ela queria; ainda que por um mês, apenas. Mas o que mais lhe incomodava era o fato de que ao pensar em estar num lugar onde apenas Justin era conhecido, sentia um frio na barriga e uma insegurança tão grandes que, até então, nunca sentira com nada nem ninguém. Já havia ficado apaixonada por vários garotos, já havia detestado muitos também, mas nenhum lhe provocava aquela sensação tão intensa que chegava a sufocar. Era uma mistura de atração e repulsa ao mesmo tempo, não saberia explicar muito bem.Porém, como os tios estavam muito animados com o convite, e a garota não queria correr o risco de ficar brigada com Jerry novamente, ela acabou aceitando ir para lá, de qualquer forma.

Mas Alex não era a única que não concordava muito com a ideia. Harper e Max também não queriam que seus colegas fossem, pois teriam muito mais trabalho na lanchonete com a ausência de dois funcionários. Sem falar que Max teria um mês de aula de magia sozinho. Ele até tentou convencer a irmã em fazer as aulas com ele, mas foi em vão. Sua cautela com o universo mágico ainda era muito grande.

— Não, Max! Eu só quero ter uma vida normal, você não entende?! - Dizia ela quando ele perguntava.

 Mas para a ruiva também não seria fácil. Ficar um mês sozinha na escola, na mesma sala que Gigi não era uma ideia nada agradável. Ela podia tentar se reaproximar de T.J., contudo, ele não parecia muito disposto a isso. Alex, aliás, dizia que tinha medo dele estar planejando alguma vingança pelo o que aconteceu. Max era uma boa opção para não passar o recreio sozinha, mas durante as aulas seria bem complicado de qualquer maneira. Com essas coisas, a nova "melhor amiga" pediu muito para a baixinha que não fosse. O argumento foi que a feiticeira nunca havia gostado mesmo de estudar. Porém, Harper foi compreensiva quando Alexandra disse que não queria magoar os tios mais do que já tinha magoado.

*** 

No final de uma semana, Justin e Alex receberam, por correspondência, uma chave mágica que os teletransportaria para o saguão de entrada da escola. Jerry, ao ver o que tinham recebido, comentou em tom contemplativo:

 - Isso é bem fácil de usar! É só sacudirem juntos, e irão parar lá. A direção costuma enviar essas chaves de portal para os alunos novos porque eles ainda não sabem usar os portais oficiais.

 - Você já falou sobre elas umas três vezes durante a semana... – Reclamou Max.

— Ah, me desculpem. É que é muita emoção!

Alex, aproveitou a conversa para ainda arriscar uma tentativa de não ir. Sendo o mais sonsa que conseguia, perguntou:

— Sim, essas coisas são muito importantes e emocionantes mesmo. Por isso, eu acho que deviam ser nas férias, sabe? Deve ter algo muito estranho acontecendo para que o grande Poeirovisk, quer dizer, Póvisk, queira fazer com que percamos o nosso ano letivo, não acham?

— Realmente... — Comentaram os tios em uníssono. Contudo, Justin havia percebido o tom de voz da garota. Então, foi logo cortando qualquer ideia que Theresa e Jerry pudessem ter contra o curso.

— Ah, ela está falando isso porque não quer ir. Nunca a vi dar importância ao ano letivo. Nem se deu ao trabalho de gravar o nome do diretor — E virando-se para ela, completou, desapontado — Poxa, se não quer ir podia dar algum argumento que não ameaçasse a minha ida também.

 Em resposta, Alex revirou os olhos e deu uma sonora bufada de frustração.  Acabou, por fim, segurando a chave junto com Justin, com o frio na barriga maior do que nunca. Novamente, quando as mãos se tocaram, houve um choque intenso, e elas deram uma leve repelida uma da outra. O movimento já foi o suficiente para que a chave se ativasse, e assim, de um segundo para outro, chegaram na Feitiçotech.

 — Caramba, essa chave é rápida mesmo! — Falou o rapaz, impressionado. Entretanto, nem foi ouvido direito, porque a baixinha já estava se afastando, enquanto dizia, de muito mal humor:

— Ah, tanto faz, eu só quero saber onde é o meu quarto.

***

 Os demais dias não foram como Justin esperava. Ao contrário do que imaginou, Alex estava mais distante do que nunca. Cada vez que tinham alguma aula juntos ela fazia questão de se sentar na carteira oposta à dele. Conversava em voz alta quando o via recebendo algum elogio dos professores. E fazia mais várias outras coisas do tipo. Se já estava irritada antes de ir para lá, depois, sua raiva aumentou muito. Algo que não saía da cabeça dela foi que se não fosse pela interrupção do garoto, poderia ter convencido os tios a não ficar ali, o dia inteiro recebendo broncas por não conseguir prestar atenção nas aulas e sem poder sair do castelo onde se situava a Feitiçotech.

 O rapaz realmente achou os professores “mais nervosos que o normal”, e estranhou o fato de não poderem sair nem no fim de semana, mas como sempre fora um aluno exemplar, e bastante caseiro, não se importou muito. Quer dizer, estava apenas preocupado, porque com certeza sua amiga não estava gostando nada daquilo, mas ela sempre saía de perto quando ele tentava conversar. Na verdade, o que mais estava lhe incomodando eram esses gelos constantes que recebia. Quer dizer, nas aulas, era o contrário, Alex fazia de tudo para tirar atenção dele dos livros e das explicações, irritando-o com bolinhas de papel e deboches, mesmo sempre levando altas broncas dos professores por isso. Alex tinha um gênio bastante difícil de lidar.

Enfim, não estava sendo uma experiência boa para nenhum dos dois...