De Outro Mundo escrita por S Q


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem! Aguardo os comentários no final, viu?



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/693979/chapter/1

  — ALEX! EU NÃO ACREDITO NO QUE VOCÊ FEZ!

 — Calma, precisa desse escândalo? Quer dizer, eu sei que acabei sujando as minhas roupas, que precisava estudar, e que o cara que eu saí já foi procurado pela polícia, e que...  Ah, isso não tem nada de mais, eu não cometi nem um crime!

— Como vou saber? Porque ultimamente você só vem andando com marginalzinho, e frequentando lugares estranhos. Sem falar que nunca foi uma boa aluna, e sempre gostou de me enfrentar!

— Eu sempre te enfrentei, porque você nunca aceitou que as coisas fossem diferentes de como queria! O mesmo motivo pelo qual o papai quis a separação...  Você nunca conseguiu entender que o mundo não gira ao seu redor e que a vida vai muito além das aparências. Eu ando com o Dean porque depois que a polícia começou a ficar no pé dele, todo mundo se afastou. Aliás, eu acho que é por isso que ainda aguentei tanto tempo as tuas maluquices: eu tinha pena de você; no fundo, sabia que não havia ninguém do seu lado. Só que agora cansei de ser seu saco de pancada e de ser usada como depósito de suas frustrações... por isso, me sinto livre para fazer o que eu quiser, sem precisar te procurar para pedir permissão. Pois sei que sempre serei negada de fazer o que eu gosto, como forma de me botar para baixo junto de você, ou sei lá o quê!!

Era uma sexta-feira. Tudo ia calmo no apartamento duplex de Megan Margarita até que sua filha, Alex, a acordou, chegando em casa completamente suja de tinta, após um passeio que não havia sido informado à mãe. Normalmente, a menina deveria passar as manhãs de sexta fazendo os deveres de casa, para mais tarde ir á escola. Porém, ao invés do combinado, a garota resolveu sair com seu melhor amigo, Dean, para pintar o muro da ONG para menores infratores que ele frequentava. Desde pequena, ela sempre amou desenhar, e não soube recusar quando os diretores da instituição foram no seu colégio, e lhe convidaram para fazer o serviço. Porém, tinha noção de que a mãe, se soubesse, nunca iria deixar ela participar; por isso não quis falar nada. Desde que Megan se separou do marido, começou a descontar a frustração na filha, brigando e implicando com a menina por todo e qualquer motivo. Alex não aguentava mais isso e essa briga fez ela soltar tudo que não tinha falado desde o fatídico dia em que viu seu amado pai deixar a casa onde moravam.

As duas ficaram se encarando por um tempo em silêncio depois daquela explosão narrada anteriormente. Enquanto se observavam constatavam que não se pareciam nem um pouco. Alex era baixinha, morena, tinha olhos grandes e um espírito livre, igual ao pai. Já sua mãe, era alta, loira, de olhos pequenos, séria e fechada.

Na cabeça da adolescente, a tensão parecia aumentar a cada segundo. Ela havia se descontrolado e falado coisas que achava que não deveria, atingindo a mãe bem no que mais lhe feria: o divórcio. Além do medo da reação da mesma, uma espécie de culpa também foi atormentando a mente da morena.

 Por fim, Megan falou de modo sombrio:

— Não aguenta mais minhas maluquices, não é, Alexandra? Pois bem, acho que isso resolve tudo.

A mulher foi até o seu quarto sem falar mais nenhuma palavra e fez um telefonema. Alex aguardou apreensiva na sala; não tinha a menor ideia do que estava acontecendo, entretanto, sabia que não devia ser algo bom. Depois de uma longa espera e algumas mensagens trocadas com Dean pelo celular desabafando sobre o ocorrido e comentando toda a sua aflição, Megan voltou com umas malas:

— Já conversei com o Jerry e a Theresa, então acho que está tudo de pé!

— Como assi...

— Bem, seus tios ligaram outro dia falando que estavam precisando de dinheiro e tinham colocado o apartamento deles em Waverly Place para alugar. Era para se eu conhecesse alguém interessado no negócio, avisá-los. Como a escola Tribeca, uma das mais conceituadas do país, fica perto desse bairro, você vai morar lá.

— Espera, estou sendo expulsa de casa? Nããão, eu não posso ficar sem a TV e os salgadinhos da geladeira! E como que eu vou conseguir passar de ano nessa escola de nerd? Você vai mesmo me matricular lá?

— Ué, não estava dizendo que não me aguenta mais? Pois agora não vai precisar mais viver comigo! E fique tranquila, a escola é tão maravilhosa que já ouvi falar de várias pessoas que eram burras e se tornaram inteligentes depois de irem para lá. Além do mais, essa vai ser uma ótima oportunidade para a mocinha aí criar responsabilidade. — e completou sem dó — Ande, arrume essas malas rápido, pois precisamos chegar nesse apartamento ainda à noite, se quisermos pegar as chaves.

— O QUÊ?!

 

***

 

No outro lado da cidade, Justin arrumava seu quarto animadamente. Afinal, naquele mesmo dia à noite, se mudaria para Waverly Place a fim de estudar em uma das escolas mais conceituadas dos Estados Unidos.

— Ah, que dia feliz! Que dia tão feliz! – cantarolava.

— Bom dia filho! Uau, vejo que acordou animado, hein?!

— Bom dia, papai! Sim, não vejo a hora de começar a estudar na Tribeca!

— Poxa, não sabia que queria tanto ir morar longe de mim... — disse Ernesto, fingindo decepção.

— Ora pai, claro que não, você sabe que essa é a única parte que me deixa triste. — falou Justin abraçando o pai.

— Eu sei, só estava brincando. Sua mãe estaria orgulhosa.

— Verdade?

— Claro.

Nesse momento, o rapaz sentiu uma comoção querer tomar conta de si. Perdera a mãe muito cedo; ainda era criança quando haviam dado-lhe a notícia de que ela havia morrido. Todavia, lembrava-se daquela mulher o suficiente para sentir uma saudade enorme. Saber que seria motivo de orgulho para a mãe, onde quer que agora estivesse, lhe deixava extremamente feliz.

— Quer alguma ajuda aí? — seu pai perguntou.

Colocando uns livros numa mala que estava em cima da cama,  Justin respondeu:

— Não, já terminei o que tinha que fazer. Agora é só trocar de roupa e pegar o trem para lá.

— Mas já? Ainda está de manhã.

— Sim, desse jeito eu posso conhecer melhor o apartamento e a lanchonete onde vou trabalhar. À noite chegarão meus colegas de residência; quero estar livre para conhece-los.

— Olha, se o contrato não fosse assinado com os teus padrinhos, eu nunca teria deixado isso acontecer. Você ainda é muito novo para morar sozinho; isso exige muita responsabilidade. Dividir apartamento com outros adolescentes, então, é loucura! Mas eu confio muito no Jerry e na Theresa, e sei que estarão lá para o que precisar. E claro, confio muito em você também.

Com os cabelos sendo bagunçados pelo pai, o menino respondeu:

— Ah, que isso, obrigado.

— Então vai lá, filhão! Se arruma e me encontra no jardim para nos despedirmos; estarei varrendo as folhas.

Assim que seu Ernesto saiu do quarto, Justin trancou a porta, fechou a janela e começou a trocar seu pijama por uma roupa social que havia separado. Queria causar uma boa impressão em seu primeiro dia.

 

***

 

Naquela mesma manhã, chegava em Nova York o show dos Finkle. O casal que comandava o espetáculo, além de já ter preocupações demais na cabeça, ainda tinha mais um motivo para estresse: seus dois filhos, Harper e Max, planejavam abandonar o trabalho da família para se dedicarem aos estudos na escola mais famosa daquela cidade. Dinheiro não seria problema, afinal, os dois ganharam salário durante todo o tempo em que ajudaram os pais e não gastaram em nada. Porém, Mike e Elaine sabiam que ficariam desfalcados em suas apresentações sem os figurinos da primogênita e as piadas do caçula.

A filha mais velha já tinha feito de tudo para não trabalhar mais nos espetáculos dos pais, porém, eles insistiam tanto que ela acabava cedendo sempre. Odiava brigar com aqueles que tinham lhe criado a vida toda. Contudo, sabia que já estava na hora de começar a fazer o que ela própria gostava; traçar seu próprio destino. Por isso, na última semana, havia finalmente declarado que, chegando a Nova York, iria se matricular na Tribeca e procurar um lugar para morar por lá. Seu irmão, quando soube, na mesma hora disse que iria com ela. Não porque estava cansado dos shows, mas porque estava a fim de experimentar uma vida diferente. E também pois, embora não demonstrasse, gostava tanto da irmã que não queria ficar  afastado dela. Harper, de início, não concordou com a ideia de levar seu irmão, mas como desejava que Max tivesse um futuro estável e não sofresse com a pressão dos pais para seguir a carreira de artista profissional pelo resto da vida, acabou concordando. Como já estava acostumada a cuidar dele quando os responsáveis estavam ocupados (quase todos os dias), não faria tanta diferença assim. Sem falar que ele não era mais nenhum bebê.

 E lá estavam os dois, confabulando tudo que iam fazer assim que o ônibus de caravana dos Finkle parasse, quando de repente, sentiram um solavanco e um barulho estranho de cliques.

— Que irado! Igual nos filmes! – exclamou Max.

— Fica quieto! Faça silêncio para a investigadora Harper Finkle descobrir o que houve...

— Investigadora? Fala sério! Então eu sou um alienígena! Péra, será que eu sou um alien? – interrompeu Max, começando a se tatear.

— Shhh! Ei, espera! Trancaram a gente aqui dentro!

O sr. e sra. Finkle, que estavam ouvindo tudo por trás da porta, se manifestaram:

— Sim, é claro! Acharam realmente que iam conseguir seguir com esse plano doido de se desfazer da carreira artística, tão facilmente?! Pois saibam que estão de castigo até mudarem de ideia!

— Isso é egoísmo! Não podem nos obrigar a fazer algo de que só vocês gostam! Fala sério, artistas não deveriam ser "liberais"? Então é liberdada só para o que vocês acreditam?!

Sem nenhuma resposta vinda do lado de fora da porta, Harper saiu bufando e pisando firme pelo compartimento do ônibus que era seu quarto, enquanto dizia:

— Isso não vai ficar assim!

— O que você vai fazer? E por que tá caminhando com nossas malas e um martelo em direção à janela? Vamos, por um acaso, acampar no parapeito?

—Claro que não! Nunca quis que chegasse a esse ponto, mas... —  mudando completamente a feição, e tentando fazer uma voz profunda, a mais velha completou — Nós vamos fugir!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada por ler! Para quem quiser, as malas de Alex, Justin, Max e Harper podem ser vistas no seguinte link: http://www.polyvore.com/cgi/set?.locale=pt-br&id=199244955
Alguém consegue adivinhar de quem é cada uma?