ENGLISH RAIN - Scorose OneShot escrita por Ruo


Capítulo 1
English Rain - Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá amantes do mundo Harry Potter!
Ultimamente tenho shipado tanto Rose e Scorpius que resolvi escrever uma cena tendo os dois como protagonistas.
Espero que gostem.

Boa Leitura.

A L Kinsmann



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O inconfundível apito do Expresso de Hogwarts era apenas um som a mais que se juntava à zoeira dos vagões da maria fumaça. As cabines antes ocupadas, agora se encontravam vazias enquanto seus ocupantes se espremiam pelas pequenas janelas para vislumbrar as primeiras luzes da Londres.

Todos os alunos eufóricos com as férias de verão, falavam alto e brincavam com a proximidade do descanso merecido, e na cabine dos aparentados e sempre juntos Potter-Weasley, a algazarra não era diferente.

— Acho que mamãe vai ficar excepcionalmente feliz quando eu disser a ela que a Grifinória venceu a Sonserina de 520 a 370, e que fui eu o grande pivô dessa vitória! - disse James Potter em uma voz que irradiava estrelismo. Capturara o pomo de ouro quando o placar empatado ia dando por tabela, a vitória à serpente prateada - Capturei o pomo no instante em que a Lawrence o viu! Fui genial! Podem me aplaudir! Ainda consigo ouvir a multidão gritando "Potter! Potter! Potter!", já consigo me ver sendo o capitão do time como foi o papai...

 - Alguém tem uma agulha por aí? - uma voz séria cortou a farra - É para furar o ego do James - o olhar de Albus Severus irrompeu sobre o irmão mais velho enquanto ele ainda mantinha o peito estufado - Rápido! Está inflando cada vez mais! Vai explodir! BOOOOM! - Albus se jogou no assento como se uma bolha invisível estivesse estourado e o liberado de uma pressão enorme. James, no entanto, não se mostrou nem um pouco chateado ou ofendido, pelo contrário, apenas lançou um sorriso maroto ao irmão e disse:

— Também amo você, Al. - o garoto fez alguns gestos simples com a varinha e de sua ponta, saíram vários coraçoizinhos que flutuaram na direção de irmão mais novo que espantando a brincadeiras fez força para não rir. Já era de conhecimento de todos que James e Albus brigavam como cães e gatos, mas assim como o peixe não sobrevive sem a água, um não sobrevivia sem o outro.  Entrementes, Hugo e Lily Luna riam também.  Só havia uma pessoa que não se entregara ao riso naquela cabine.

Com a cabeça pressionada sobre o vidro e os olhos colados no horizonte, Rose, a mais velha dos irmãos Weasley mantinha-se alheia ao irmão e aos primos. Passara a maior parte da viagem de volta a Londres na mesma maneira: contemplando o nada. Algumas vezes, Hugo a cutucava para ver se ainda estava acordada, mas a garota ruiva de olhos cuja cor era um mistério, não esboçava nenhuma reação.

— Que é que ela tem? - perguntou Albus apontando para a prima - Tá parecendo que foi paralisada... Vai ver foi enfeitiçada.

Hugo se aproximou da irmã e a fitou com cautela, apontou a varinha para a garota e ordenou:

— Finite Incantatem.

— Não vai funcionar se ela estiver sob efeito de alguma coisa mais forte! - advertiu James - Bem que eu vi aquele Scorpius Malfoy de conversinha com ela antes de partirmos! Todo mundo sabe que o pai dele já foi um comensal da ...

— Calado – Lily Luna interrompeu - Papai já disse que não se deve julgar uma pessoa pelo seu passado. Por mais terrível que tenha sido. E você nem o conhece, James!

— Mas o passado desse aí - Albus interveio referindo-se ao pai do garoto  Malfoy - Foi realmente horrível. Você conhece a história, Lilu.

— Alô - Sem dar atenção aos primos, Hugo tornou a cutucar Rose que continuava sem se mover - Hei! Estamos chegando! Não vai arrumar suas coisas?

— Rose, - James chamou - Você morreu?

— Hei! - Hugo guinchou para o primo.

James afundou na poltrona e calou-se contra vontade. Lily que ainda mantinha o exemplar d'O Pasquim nas mãos apenas ria por trás das páginas. A ação da menina não passou despercebida.

— De que é que você está rindo? - Hugo disparou irritado - Quero rir também!

Lily acentuou a gargalhada. Os garotos se entre olharam sem entender. A mais nova dos Potter, entretanto, ao ver a confusão dos meninos, disse com voz suave e baixa:

— Ela foi enfeitiçada por uma coisa sim.

— Eu sabia! - berrou James Potter - Aposto que o Malfoy está metido nisso!

— Até o último fio de cabelo - confirmou Lily com cara de séria. Hugo virou o olhar para a prima e a encarou como se não acreditasse no que estava ouvindo. Albus por sua vez, apenas mantinha-se quieto. - Ele jogou um feitiço fortíssimo na Rose. Um encantamento que supera até mesmo o mais terrível feitiço das Artes das Trevas. Alias, é mais forte que qualquer feitiço que as Artes das Trevas possa produzir. Nem a tia Hermione poderia revertê-lo!

Hugo agora tinha um olhar vago; perdia-se na ideia de ver sua irmã possuída por um feitiço o qual nem mesmo sua mãe, do auto de toda sua inteligência, pudesse pôr fim. O pavor de Hugo era espelhado nos rostos dos primos que agora olhavam aflitos para a garota encolhida no canto da cabine.  Lily por sua vez, ria cada vez mais.

— Sou um Weasley morto. - Hugo murmurou para si mesmo enquanto afundava desolado na poltrona - Papai vai me matar com certeza. Era minha função proteger a Rose e agora ela está enfeitiçada por alguma coisa que é mais forte que Artes das Trevas.

Lily explodiu com uma gargalhada, e timidamente, até mesmo Rose tentava combater um riso frio de ocasião, porque não estava de fato enfeitiçada, mas estava sentido efeito muito próximos a um encantamento que por muitas vezes durante aquele ano a fizera sentir-se feliz, mas que naquele momento, apertava seu coração como se uma enorme mão o esmagasse, e muito embora, Lilian brincasse com a situação, Rose sabia que o que estava sentindo era de fato centenas de vezes pior do que um feitiço.

Os pensamentos da garota estavam ainda em Hogwarts, no grande salão onde minutos antes da viagem de volta a Londres, tivera seu coração partido pela primeira vez. Ela ainda podia ouvir as palavras do rapaz dizendo:

— Esqueça o que aconteceu ontem, Rose. - Scorpious Malfoy disse com uma voz baixa e calma; evitava mirar os olhos de Rose, fosse por sua forte timidez, fosse pela tensão do momento - Foi incômodo, eu sei. Desconsidere.

Os olhos de Rose miravam para o outro lado do salão, onde na mesa da Grifinória, ela via os primos James e Albus a observarem com uma expressão de desaprovação. Mas embora estivesse os vendo, ela não os enxergava de fato. Escolhera apenas um lugar para fixar o olhar já que os olhos cinzentos de Scorpius Malfoy não era uma opção. O rapaz por sua vez, olhava para as próprias mãos apoiadas em cima da mesa lustrosa da Sonserina. Sua voz tremia ao falar.

— Eu... - ele continuou - Eu... quero dizer, nós, não vamos ...Eu... O que quero dizer é que somos apenas amigos! E como amigos, devemos nos comportar como amigos!

Uma lágrima tímida caiu na superfície amadeirada da mesa, os olhos de Rose agora estavam avermelhados. O rapaz reprimiu a vontade de limpar sua lagrima, mas manteve-se firme e concluiu:

— É isso. Acho que...é... - ele estendeu a mão direita a Rose - Amigos novamente, certo?

Rose fungou profundamente e ergueu o olhar e murmurou:

— Certo. Boas Férias.

A garota levantou-se da mesa e sorriu para o rapaz, em seguida,  seguiu direto para o trem, encontrara uma cabine vazia e se encolhera no canto onde estivera a viagem inteira. Sempre com os olhos vidrados no nada, sempre remoendo as palavras do garoto Malfoy, sempre voltando a torre de astronomia na noite anterior, sempre sentindo o prazer da presença dele ao mesmo tempo em que sentia a pontada dolorosa no peito.  Uma dor tão amarga que chegava a arder-lhe o estômago. Nunca escondera seu afeto pelo rapaz, e de certa forma, achava até que era correspondida, mas as certezas que pareciam ter chegado com o beijo repentino de Scorpius, se foram na mesma velocidade com que vieram. Restava à garota esforçar-se para apagar qualquer rastro de outro sentimento que tivesse a respeito do herdeiro dos Malfoy para voltar a ser o que eram desde o terceiro ano de Hogwarts: apenas amigos.

Mas o que ninguém sabia, era que do outro lado do trem, quase que da mesma forma que Rose, Scorpius Malfoy permanecia inerte e indiferente para com a folia dos estudantes. Algo estava errado. Sentia-se deprimido e sem vontade de conversar; e nem mesmo uma de suas maiores apoiadoras, Christina Wood conseguira fazer com que o garoto se reanimasse. Seus pensamentos ainda estavam nas mesmas cenas em que Rose também se retia.  Mas, ao contrario do que fora dito, Scorpius Malfoy sentia-se coberto de arrependimento. Arrependia-se amargamente de ter dito a Rose, sua melhor amiga, que desconsiderasse suas palavras e que não levasse em conta aquele momento. Gostava dela. A verdade era que Scorpius Malfoy achava na mais velha dos Weasley, um porto-seguro e desenvolvera pela garota um afeto que transcendia a amizade a qual ele tentava com afinco manter. Talvez o fato de ser reservado tivesse ajudado a disfarçar durante algum tempo, mas agora, era impossível segurar-se, de modo que naquela noite, sob a luz das estrelas, durante uma observação matinal de planetas fora quase impossível manter a sensatez.

Ainda era possível lembrar do cheiro de seus cabelos muito volumosos; a pele macia, seu olhar surpreso , seu sorriso radiante.

— Você está quase se tornando parte do vidro - Christina irrompeu na cabine. Scorpius sorriu ao sair da espécie de transe em que se encontrava - É a Weasley? Não precisa dizer. - Christina sorriu com ares de "está escrito na sua testa". Scorpius, entretanto nada respondeu, a amiga continuou:

— Vocês brigaram? - ela perguntou baixinho – Por aquele beijo que não rolou?

— Não exatamente - respondeu Malfoy; em seguida fez uma pausa e olhou para o horizonte onde já era possível avistar os prédios de Londres - Na verdade, não ficou muito bem resolvido...

— Me deixe adivinhar - Christina interrompeu - Você disse que foi um erro e que deveriam ser apenas amigos? - Scorpius fez um olhar que o entregou - 

— Não é tão simples... Tem a questão do...- Scorpius levantou o olhar e respirou fundo como se estivesse escolhendo as palavras. - Aquele primo dela.

— James? – Christina franziu o cenho em sinal de dúvida – Eles são quase irmãos.

O rapaz respirou  um pouco aliviado, mas havia ainda outro fato que talvez, fosse o mais difícil de ser vencido por ele: a timidez. De alguma forma, sempre procurava um álibi para não admitir o que sentia. Era extremamente retraído e sua amizade com Rose só começara porque o professor Longbottom sugerira em uma das aulas de Herbologia que fizessem um trabalho juntos. A amizade iniciada de forma tímida e formal no fim do terceiro ano, havia se tornado forte e leal agora no fim do quinto ano.  A verdade é que desde aquela vez na biblioteca onde ele e Rose procuravam por plantas que pudessem ser usadas para respirar em baixo d’água, tornaram parte um do outro. Compartilhavam muitas coisas: ela o auxiliava em poções – sempre fora muitíssimo inteligente - , ele por sua vez, a auxiliava com questões menos acadêmicas como por exemplo, a observação das estrelas e planetas. Alias, essa era a atividade favorita dos dois amigos que quase todas as noites, se aventuravam à surdina para chegar até a torre de astronomia e passar ali, horas observando o céu.

De repente, a mente de Scorpius saiu do expresso de Hogwarts e voltou para aquela noite onde tudo acontecera. Seus olhos se fecharam e imediatamente uma cena já vivida se formou bem a sua frente.

— Aquela é a constelação de Idina – disse Scorpius apontando para um grupo de brilhantes estrelas no céu. Em seguida, ofereceu o visor do telescópio a Rose – Observe que ela possui quatro estrelas que formam uma espécie de quadrado no céu.  A maior delas, é Fishar, é a estrela chefe. As três menores, são suas filhas: Meena, Cloreta e Tirza.

Pelo visor do telescópio, Rose via uma enorme estrela amarelada acompanhada de outras menores. O  telescópio ampliava as estrelas de modo que parecia ser possível toca-las com as mãos, mas o céu nublado ofuscava um pouco a visão e Rose tinha certeza que se fosse usado um encantamento, a experiência poderia ser muito mais ampla.

— É linda – Rose disse ainda olhando pelo telescópio – Será que se usássemos um feitiço meteorológico a visão melhoraria? As nuvens estão muito densas.

Scorpio riu e Rose virou-se para ele.

— Certamente – respondeu o rapaz – Mas, por mais que a magia seja uma ótima opção, existem coisas que já são perfeitas apenas quando ocorrem naturalmente. – Scorpius olhou para o céu onde nuvens escuras encobriam a lua minguante – Deixemos o céu mostrar a nós, apenas o que ele quer que vejamos hoje.

— Você às vezes fala como meu avô, Arthur – Rose disse, em seguida riu baixinho – Mas ok, à noite o céu é perfeito. 

— Acho melhor voltarmos agora – Scorpius disse consultando o relógio – o velhíssimo Filch pode querer dar um passeio noturno.

— Para fazer o que?

— Procurar os pedaços da Madame Nor-r-ra – disse o rapaz enquanto desmontava o telescópio – Aquela gata já é mais velha do que qualquer um dos alunos de Hogwarts. Que será que ela come? Ratos da juventude?

Os dois riram. Rose apanhou a varinha e fez alguns floreios na direção de sua mochila, e o objeto voou para sua mão esquerda.  Scorpius guardou a última peça do telescópio e os dois se dirigiram para as escadarias que os  levariam ao térreo.

Alguns degraus abaixo, uma conversa animada, porém silenciosa se instalava entre os amigos. Scorpius não pôde deixar de notar como a brisa suave da madrugada balançava de forma gentil e magnífica os cabelos de Rose que mesmo sob o capuz da capa negra, ainda se destacavam como se dançassem no ar.  Ela ria radiante cada vez que falava algo engraçado. Percebeu que ela era única e especial e gostaria de ter coragem para dizer ali o quanto a admirava, o quanto gostava de observá-la durante as aulas e como havia decorado cada um dos seus gestos.  Queria dizer a ela, que ele a estudara como quem estuda um livro. De repente, a voz doce da garota irrompeu novamente em seus ouvidos e ele teve tempo de ouvi-la admitir o quanto gostava de observar as estrelas com ele.

— Adoro isso – ela disse parando a frente de uma enorme janela de pedra para o céu – Me acalma. Me trás de volta a serenidade quando eu acho que vou pirar. Você me conhece muito bem, não é mesmo?

— Com certeza – ele respondeu – Sei tudo sobre você. De verdade, tenho até um dossiê...

— Não precisa exagerar senhor Malfoy – Rose brincou – Impossível que saiba tudo sobre mim.

— Faça o teste.

  A garota fechou os olhos e inspirou profundamente o ar rarefeito do alto da torre. Scorpius que a observava sorria timidamente.  De repente, a  virou-se e com ar desafiador perguntou:

— Meu patrono?

— Um urso. – respondeu o rapaz sem pestanejar. Rose continuou:

— O que me frusta até hoje?

— Não ter entrado para o time de quadribol – Scorpius respondeu, em seguida acrescentou – Você é péssima. Fez três gols contra durante o teste porque não sabe diferenciar lado direito de esquerdo. E é por isso que você usa um relógio no pulso direito.

— Isso é muito frustrante - Rose disse chateada.

— Meu maior pavor? – Rose perguntou ainda mais desafiadora.

— Inferis – Scorpius respondeu. – Eu poderia dizer um milhão de coisas sobre você...

— Essas são coisas técnicas – Rose disse sorrindo de maneira engraçada – Somo amigos há um bom tempo, se você não soubesse o meu patrono, ia ser no mínimo um amigo relapso. Queria ver você saber coisas estranhas como, por exemplo, a cor dos meus olhos que para minha família, até hoje são um mistério só...

— Para quem olha de longe, são castanho escuro – Scorpius respondeu pegando Rose de surpresa. Certamente não imaginava que o rapaz iniciaria uma resposta sobre isso – Quando a luz incide sobre eles, ficam cor de mel – a voz de Scorpius havia perdido o tom engraçado de outrora, agora era sério como se estivesse desvendando um segredo científico – Quando está escuro, eles ficam totalmente negros – e se aproximou de Rose para olhar bem dentro dos olhos da garota - Mas se você olhar bem de perto. De pertinho mesmo, vai notar que eles na verdade são castanho esverdeados.

— Nossa, - Rose tentou disfarçar desviando o olhar para o chão – Nem eu sabia tanto sobre meus olhos. – havia nervosismo em sua voz.– Como é que você consegue ser tão legal?

— Não sei. – o rapaz respondeu timidamente – Eu nem me acho tão legal assim...

— Mas você é. – Rose confirmou sorridente – É uma pessoa extraordinária. Não me admira que as garotas estejam loucas atrás de você...

Rose se calou abruptamente, sentindo a vermelhidão tomar seu rosto, Scorpius por sua vez baixou o olhar. Ambos sentindo o rubor tomando conta do ambiente, deixando tudo com ar constrangedor.  Mas, de repente, uma onda de coragem pareceu emergir do rapaz que com uma voz quase inaudível refutou a afirmação de Rose. 

— Só me importo com uma garota.  – Scorpius disse olhando diretamente para os olhos de Rose, talvez esperasse que ela entendesse a mensagem. Os rostos tão próximos que ambos podiam sentir as respirações do outro. A física ia fazendo seu trabalho quando de repente a onda de insanidade que envolvia Scorpius reverteu-se fazendo o garoto recuar. Como seria possível manter uma amizade saudável com ela se ele atravessasse a linha tênue entre amizade e algo mais?

A pergunta não pode ser respondida por que no instante seguinte ouviram um miado fraco vindo da escadaria da torre; precisavam voltar aos dormitórios o mais depressa possível.

— Temos que sair daqui, Rose – disse o rapaz desviando o olhar. Rose não disse nenhuma palavra sequer. Fingiu um sorriso; apanhou a mochila e saiu a passos apressados a frente enquanto Scorpius, lamentando profundamente a própria covardia, seguia atrás dela.

A memória vívida daquela ocasião, batia tão forte em sua mente quanto a chuva batia contra o vidro da janela. Foi a voz esganiçada de Margo Roth, monitora da Sonserina que o tirou de seu profundo devaneio.

O trem havia acabado de chegar a King’s Cross e o alvoroço dos alunos era quase incontrolável. No meio da multidão de crianças, entre os corredores do trem, Scorpious vislumbrou a cabeleira ruiva e muito armada de Rose Weasley balançando nas costas ao longo de uma trança.  Tentou captar sua imagem pelo maior tempo possível porque depois disso, certamente só a veria novamente no retorno das aulas em setembro.  Mas a ideia não durou muito porque Rose Weasley desapareceu no meio da multidão, sendo encontrada minutos depois em uma roda onde muitas cabeças ruivas se agrupavam em beijos e abraços. Ela jamais olharia para trás para sequer dizer a ele boas férias. Ela estava em casa. Rodeada de Weasley Potter e até mesmo um Lupin, de modo que para Scorpius, era líquido e certo que na vida de Rose, nunca haveria espaço para um Malfoy.

— Te encontrei! – uma voz muito fina e alegre entrou nos ouvidos de Scorpius fazendo-o perder de vista a familia Weasley. – Mamãe! Papai! Eu o encontrei!

O rapaz encontrou agarrada a sua cintura uma garotinha muito loura de olhos translúcidos. Adha Malfoy aos quatro anos de idade parecia uma miniatura perfeita da avó paterna, Narcisa.

— Você me encontrou! – o rapaz respondeu enquanto levantava Adha no ar – Estava morrendo de saudades!

— Adha! – uma voz feminina cortou o ar e Scorpius teve certeza de que pertencia a sua mãe – Nunca mais saia correndo na frente! Se fizer mais uma dessas, juro que coloco uma coleira em você! – a mulher parou de repente porque havia finalmente notado o filho mais velho – Scor! Meu filho! Que alegria! Conte-me, como foi a escola?! E os NOMS? Foram difíceis? Acha que foi bem? Não quero que se sinta pressionado, mas sempre o imaginei como Ministro da Magia...

— Ast, deixe-o respirar – Draco Malfoy apareceu ao lado da esposa. Seus cabelos muito louros já rareando no alto da cabeça lhe conferiam uma aparência mais velha do que o real. Scorpius abraçou o pai com carinho – Sentimos sua falta. Vamos? Sua avó hospedada em nossa casa para as férias de verão.

— Ótimo – o garoto respondeu tentando parecer animado, mas não pode disfarçar que seu interesse estava muito mais em acompanhar Rose do que em voltar para casa com sua família. Espiava por cima dos ombros a cada segundo, ação que foi percebida pelo pai .

— Ast, - Draco iniciou olhando para a mulher – Vá na frente com Adha. Vou ajudar Scor com as malas.

Astoria Malfoy mal tinha dados as costas para o filho e marido, quando Draco começou a falar.

— Qual o problema, Scor? Deixou algo no trem?

Scorpius pareceu não entender e negou com a cabeça, mas Draco insistiu ao perceber que os olhares do filho não se dirigiram nem por um minuto a ele, mas se encontravam fixos em Rose Weasley.

— Uma Weasley. – Draco disse pausadamente – O cabelo vermelho não nega a origem. Espero que ela não tenha herdado o péssimo senso de humor do pai, Ronald.

— Ela é fantástica – Scorpius respondeu sem perceber deixando Draco confuso – Em tudo.

— Em tudo? – Draco replicou.

— Tudo – Scorpius  agora respondia realmente de forma apaixonada – Ela é inteligente, é engraçada, mas não é uma comediante. É generosa, corajosa, pacífica e sempre enxerga o lado extraordinário das pessoas... Talvez porque ela mesma seja... Extraordinária. E eu deveria ter dito isso a ela mas quem se importa, não é mesmo?  Eu estraguei tudo.

Draco Malfoy olhou diretamente para o filho, encontrou em seus olhos cinzentos uma expressão triste e frustrada.

— Então conserte. – respondeu o pai de maneira simplista.

— O que? – Scorpius não entendeu as palavras do pai. Parecia utópica demais uma realidade em que Draco Malfoy o apoiasse em tal ideia – O que quer dizer com “conserte”?

— Vai até lá. E faça o diferente do que fez antes.  - Draco Malfoy sorriu e piscou para o filho antes de sair – Não se preocupe, eu levo o malão.

Seria possível o que Draco Malfoy havia dito? Consertar tudo? Mas, se fosse possível, como seria feito?

Essas eram perguntas que circulavam na mente de Scorpius naquele momento, e nem mesmo o barulho de centenas de pessoas conseguia calar seus pensamentos. Queria andar até ela, olhar dentro de seus olhos castanho-esverdeados e dizer tudo o que deveria ter dito naquela noite na torre de astronomia. Aquele era o momento de provar o porquê de ter sido escolhido para a Sonserina. Foi em frente. Determinado a concluir seu plano, mesmo que não tivesse nenhum em mente.  Então, revestido pela coragem suicida que só o amor é capaz de proporcionar a quem o sente, caminhou até os Weasley e mesmo que pela lógica devesse consertar as coisas em um momento propício onde não houvesse nenhuma interferência, ainda assim não conseguiu ver motivos para adiar o momento. 

 - Rose, - a voz de Scorpius cortou o ar da farra da familia Weasley. Ronald, o pai, olhou desconfiado para o jovem Malfoy que imediatamente fora reconhecido.

— Cabelos louros, olhos cinzentos, cara-de-bosta ... Você deve ser um Malfoy. – Completou Ronald Weasley com apresentável incômodo.

— Rony! – Hermione repreendeu o marido com fervor. Scorpius, por outro lado nem parecia ouvir os insultos do Senhor Weasley. Tinha os olhos fixos em Rose.

— Sim , senhor Weasley – respondeu o rapaz  - Sou tudo isso o que disse.

— Que bom que admite. Dá o fora, mané! – Hugo se interpôs entre a irmã e Scorpius com cara de poucos amigos.

— Preciso falar com a Rose.

— Falar com a Rose? – Ronald Weasley perguntou intrigado – Que tipo de assunto você teria com o meu docinho?

— Preciso concertar uma coisa, senhor Weasley...

— Eu sabia! – James Sirius, o primo mais velho de Rose gritou indignado – Ele enfeitiçou a Rose e agora quer desfazer o feitiço! Tarde demais! Acaba com ele tia!

— Ouviu o que a Lily disse, James? – Albus replicou para o irmão – Nem a tia Hermione poderia desfazer esse feitiço, é coisa de Arte das Trevas...

Dezenas de olhos recaíram sobre Scopius Malfoy que parecia realmente estar absorto da realidade.

— Eu nunca disse isso, seu idiota! – Lily Luna indignou-se – Eu disse...

— Você disse que era tão forte que nem a tia Mione daria jeito! – argumentou James, em seguida olhou para o pai, Harry – Pai! Você sabe quando alguém usa magia das trevas, certo?

— Você usou magia das trevas no meu docinho?! – Ronald Weasley, atônito, empunhou a varinha e já estava pronto para enfeitiçar Scorpius quando o grito de Rose se sobrepôs a balburdia da estação. Era a primeira vez que ela falara desde o embarque no Expresso Hogwarts. 

— Calem a boca! Todos vocês!  - Sua voz estava mais enérgica que o normal e sua expressão dura como aço.

— Mas docinho...

— Calado, Ronald! – as vozes de Hermione e Ginny se ergueram energicamente.

— O que quer, Scor? – Rose perguntou agora com uma expressão próxima a alegria. Em contrapartida, Ronald Weasley murmurava ao lado da esposa. Coisas como “Scor?!” – Que coisa precisa consertar?

Houve um minuto de silencio, onde Scorpius buscou fôlego. Em seguida iniciou:

— Ontem, na torre de astronomia, eu disse que só me importava com uma garota...

— Eu lembro, e eu já até cogito alguns nomes para a lista – Rose objetou, Scorpius, entretanto,  a interrompeu:
— Não precisa listar nenhum nome porque você já deve saber quem seja...

— Eu sei? – Rose perguntou. Scorpius tocou levemente a mão direita da garota que fingiu não entender. Para ela, seria apostar muito alto supor que a garota a quem Scorpius se referia fosse ela. – Será?

— Se não sabia, está sabendo agora. – o rapaz disse e ignorando o fato de estar  entrando em um território desconhecido, consertou o que julgava estar errado.

O que se seguiu adiante foi o que se chama de momento ímpar. Algo que não pôde ser contido, nem mesmo sob a vergonha e timidez existente ali. O beijo singelo e carinhoso que deveria ter acontecido na torre de astronomia durou apenas alguns segundos, mas transmitira para os corações dos dois jovens um calor fora do comum. Algo que jamais sentiram antes.  Não era só o beijo, mas sim todo o resto. A vontade, a sinceridade, o carinho, a paixão recolhida de ambos, a brisa que soprava fria, as estrelas que brilhavam no céu. E mesmo  sob o olhar atento de centenas de pessoas, naquele momento onde não importava nada além dos dois, a estação de King’s Cross nunca estivera tão vazia.


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Notas finais do capítulo

Obrigadissima por ler!
Se gostou, que tal deixar um review?
É tão rapidinho...



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