Sua voz era tão grave e confiante que me fez estremecer por dentro. Então ela suspirou com um ar divertido e logo voltou a falar: 

— Eu só preciso lhes avisar três coisas. Três coisas que, se vocês fizerem, farão com que nossa relação seja boa e amigável, tudo bem? — prosseguiu, amigavelmente. — Primeiro: não entrem no meu caminho. Segundo: não me perturbem. Terceiro: não falem comigo sem serem solicitadas para isso. Pronto, tudo o que vocês precisam saber sobre mim. Caso não façam o que pedi, saberão também o que acontece com aqueles que se metem comigo. Fiquem nos seus cantos, que eu ficarei no meu.  

Mas... Quê? Eu ouvi isso mesmo? O que aquela garota estava pensando?! Que iria chegar à Seleção, dar ordens para as selecionadas e, em seguida, nos ameaçar?! Realmente, a prima de Sirius Black é tão louca quanto os rumores dizem. 

Despertei-me de meus devaneios quando Minerva voltou a falar:  

— Senhorita Black, peço que você fique aqui quando as outras selecionadas saírem. Iremos... conversar um pouco. — Minerva sorriu de lado, fazendo-me sorrir discretamente. — Ashley Diggory!  

— Oi, gatinhas! — Ashley cumprimentou-nos entusiasmada. — Eu sou jogadora profissional de quadribol e, sim, meninas também jogam esse jogo! — ela declarou, e eu abaixei a cabeça, envergonhada, pois me lembrei do quanto eu odiava e achava o quadribol idiota. — Eu tenho vinte anos, sou filha única e atualmente não trabalho (deixei meu time de quadribol para aproveitar um pouco a vida). Eu gosto de esportes, de me divertir, de conversar e, claro, do príncipe James — finalizou, fazendo todas as meninas soltarem um ''hihihi'' baixo. Revirei meus olhos.  

Como eu não estava interessada em ouvir o que uma garota que gosta do Potter tinha a dizer, resolvi prestar atenção em sua aparência. 

Ashley Diggory era muito bonita. Negra, possuía cabelos pretos cacheados e olhos da mesma cor. Seu sorriso era extremamente branco, e ela gesticulava animadamente enquanto falava. 

Não demorou muito para ela terminar de falar e voltar para onde estava. 

— Kristal Delacour! — McGonagall chamou.  

Só tenho uma coisa a dizer: WOW! Essa moça é a beleza personificada! Até seu andar era gracioso e delicado. 

Tentei disfarçar meu olhar de deslumbramento, mas continuei a encarando. É impossível alguém ser tão linda assim, certo? Bem, pelo visto, não tão certo assim...  

Kristal nos fitava com seus olhos tão azuis quanto o Lago Cristalino e colocava uma mecha de seus cabelos loiros atrás da orelha. Seu rosto estava levemente corado e isso só a deixava ainda mais bonita. 

Olhei ao meu redor e vi que todas a observavam com admiração nos olhos. Ela abria e fechava a boca diversas vezes antes de finalmente começar a falar:  

— Hm... Hey! Então... vocês podem me chamar de Krist, ok? Ahm... Eu tenho dezoito anos. Meus pais trabalham nas Torres, diferente de mim, que não tenho emprego, mas sonho em ser uma jogadora profissional de quadribol (mesmo sendo um horror nisso). Devo dizer que, até agora, minha selecionada preferida é a Ashley Diggory — Krist falou e voltou para seu sofá.  

Por um motivo que não sei dizer qual, uma súbita decepção tomou conta de mim. Por que Ashley era a preferida dela? Só porque ela também gostava de quadribol? Que preconceito!  

Eu queria ser amiga da Kristal. Conversar com ela e, talvez, até fazer tranças em seus cabelos... 

Espere! O que estava acontecendo comigo? Eu devia estar ficando louca! Mal conhecia a garota e já estava imaginando como seria se fôssemos amigas... Acho que esse era o efeito que a beleza dela tinha. Sinistro.  

— Nymphadora Tonks! — McGonagall exclamou. 

Uma figura de cabelos roxos caminhou até à frente de um modo muito desengonçado, quase tropeçando nos próprios pés.  

— Alô! Antes de tudo, vocês precisam saber de uma coisa: não me chamem de Nymphadora! Sou Tonks, apenas Tonks e somente Tonks. Nada além de Tonks. Totalmente Tonks. TONKS, ok? — falou tentando parecer não muito irritada. — Acho que a única coisa interessante em mim é que sou uma metamorfomaga. E que sou uma pessoa muito legal, aliás. 

Após dizer isso, o nariz de Tonks foi perdendo a forma e, aos poucos, se transformando em um nariz de porco! Eu já tinha ouvido falar em metamorfomagos, mas nunca havia visto uma transformação dessas pessoalmente. Sem aguentar mais nem um segundo tentando permanecer séria, comecei a rir, ainda observando as mudanças que ela fazia em seu rosto. 

Agora seus cabelos estavam vermelho fogo e sua orelha dera lugar a uma orelha de elefante. Quê?  

Depois de alguns minutos nos fazendo rir e nos mostrando suas habilidades, Tonks voltou para o seu lugar. 

Ashley Diggory era uma jogadora profissional de quadribol. Cindy Scamander era uma fofa. Tonks possuía todo esse dom de fazer seu nariz virar um nariz de porco. Kristal Delacour era absurdamente linda. Agora, mais do que nunca, eu tinha a certeza de que minhas chances na seleção eram as mínimas possíveis. E eu estava incrivelmente feliz por isso.  

Quase gritei em surpresa quando ouvi ''Lily Evans'' sair da boca de Minerva.  

Com as pernas bambas e rosto corado, caminhei até lá. Eu tinha a sensação de que todas as palavras que eu conhecia haviam, do nada, sumido de minha mente. Agora eu sei o que as meninas que se apresentaram anteriormente sentiram.  

Antes que eu pudesse dizer um ''Oi'', fui interrompida por uma mulher de cabelos pretos preso em um coque apertado, que entrava no Salão. A Rainha Michelle.  
 
      Junto das selecionadas que se levantaram, fiz uma reverência — que fora totalmente ignorada pela megera.  

— Posso saber o que está acontecendo aqui, senhorita McGonagall? — perguntou de modo rude.  

— As meninas estavam se apresentando, antes de vossa Majestade chegar — respondeu Minerva, tentando demonstrar respeito. Talvez eu estivesse enganada, mas senti uma pontada de desprezo em seus olhos.  

— Devo lhe dizer que elas não estão mais na escola, McGonagall. Isto aqui é algo sério, não temos tempo para apresentações bobas. — Michelle levantou ainda mais sua cabeça, tentando demonstrar sinal de superioridade (mas na verdade só pareceu que ela estava com uma forte dor no pescoço). — Retire-se daí, senhorita...  

— Evans — respondi, tão nervosa que corri para o meu lugar.  

— É por isso que você não deve perder seu tempo com apresentações, Minerva. Olhe os modos dessa menina! — brigou, fazendo Minerva cerrar seus olhos e afastar-se um pouco. — Enfim...  

— Como vocês já puderam perceber, o meu querido enteado está muito... excitado com a seleção. Tão excitado que ele teve a brilhante ideia de sair com todas em apenas uma semana — comentou irritada. — Mas não cabe a nós questionar as decisões do tão amado Príncipe, certo? — Sorriu com falsidade. — Graças à decisão de última hora do príncipe James, tivemos que mudar algumas coisas no nosso calendário. Portanto, a hora de beleza de todas vocês será hoje, antes do jantar. Tenham uma boa tarde — finalizou, pisando forte para fora do salão.  

Levantei-me discretamente e fui para onde Minerva McGonagall estava. Olhando em volta para ver se alguém estava nos observando, sussurrei para ela:  

— Pelo visto a senhora não gosta muito da Rainha, não é?  

— Quanta audácia, senhorita Evans! Não sei do que está falando — respondeu assustada com minha repentina pergunta.  

— Ah, mas não tem problema... Eu também não gosto dela. — Dei uma piscadela para ela e recebi em troca um sorriso discreto. Pelo visto, Minerva não era tão má assim.  
 
— 

McGonagall nos liberou mais cedo, não tinha muito que fazer lá depois do veneno que a Rainha soltou. 

Convidei a Marlene e Dorcas para irem ao meu quarto, conversar, pois eu estava precisando conversar com alguém sobre tudo o que aconteceu.   

— Ande logo, Lene! Eu não aguento mais essa porcaria de roupa — xinguei. 

Já havíamos ido ao quarto da Dorcas para ela mudar a roupa — que trocou por um vestido leve —, e estávamos esperando a Lene terminar de se trocar.  

— Prontinho! Vamos lá. — Ela escancarou a porta, levantando os braços, enquanto Dorcas ria. 

Corri para o meu quarto, com a maior vontade de tirar o vestido desconfortável, e foi exatamente o que eu fiz ao chegar.   

Vesti um vestido rosa claro que as meninas haviam deixado para mim e fiz uma trança lateral em meu cabelo. Finalmente livre.  

Quando terminei, as garotas estavam sentadas no sofá do meu quarto — SIM! Meu quarto tinha um sofá! 

Joguei-me na cama, suspirando, aliviada de ter trocado o maldito vestido.  

— Então, o que vocês acharam das meninas que se apresentaram, antes de a Rainha dar aquele chilique? — indagou Dorcas. 

— A que eu mais gostei foi a Kristal, ela é perfeita! Não conseguia parar de olhá-la, ela é muito bonita. Devo dizer, o Potter se deu bem — comentei, e a Dorcas concordou enfaticamente. 

— Sim! Concordo plenamente, ela tem uma beleza extraordinária! Acham que tem a possibilidade de ela ser metade veela? — supôs Dorcas. 

— Acho que não, não vi nada nela. Achei bem normal. Prefiro-me — gabou-se a Lene. Eu e Dorcas não nos contemos e rimos muito. A Lene fez uma cara raivosa, e não nos atrevemos a continuar com as gargalhadas. — A Tonks pareceu ser bem legal. Adorei o nariz dela — completou, fazendo-nos concordar.  

— Não que eu seja fofoqueira, claro. Odeio fofocas, inclusive — Lene iniciou. Eu e a Dorcas fizemos uma expressão de "Aham, acreditamos" —, mas... o que aconteceu, Lily? Você estava me matando de curiosidade! 

— Nada muito importante... Só que, acabei, acidentalmente, indo ao quarto do Príncipe na noite passada — falei, descontraidamente, como se fosse a coisa mais natural do universo. 

— QUÊ? — berraram as duas, ao mesmo instante. 

— Explica isso direito, Lily — reclamou Dorcas. 

— Serei mais especifica. Ele estava no quart... 

— Do começo! — guinchou Lene, me cortando. 

Contei toda a história. O que aconteceu depois disso foi: elas riram muito da minha cara, mas, bem... eu supero.  

Para minha surpresa, Lene e Dorcas não ficaram me fazendo muitas perguntas sobre como ele era — graças a Merlin! —, mas ficaram estranhamente interessadas quando eu falei sobre hoje cedo, mais especificamente sobre a parte em que eu vi as gêmeas, Black e Lupin conversando. 

— Como é que é? — perguntou Marlene, perplexa. 

— Como é que é o quê? Eles estavam lá conversando, então eu cheguei, depois Sev chegou... — falei sem entender. 

— Lily, você realmente não entende nada — comentou Dorcas. 

— O que eu quero dizer é: antes de você chegar, os quatro estavam lá sozinhos, se abraçando... — Lene explicou, fazendo-me ficar ainda mais confusa.  

— E? — indaguei, já agoniada.  

— Pelas barbas de Merlin, Lily! O que ela quer dizer é que há uma possibilidade de Chloe e Emma estarem namorando Black e Lupin! — Dorcas se irritou, sacudindo-me a cada palavra que dizia. Severus estava certo, então? 

— Ai! Meu! Merlin! Isso... isso... isso não pode ser verdade, certo? Quer dizer... Isso é contra as regras, não é? Pode causar pena de morte, não é? Isso... Ai! Meu! Merlin!  

 Eu já podia sentir o desespero tomar conta de meu corpo. Lene e Dorcas haviam entendido errado, só podia ser.

As gêmeas eram as gêmeas, não fariam isso... Mas o modo como eles estavam se abraçando... E se elas entraram na seleção para ficarem mais próximas deles? Do jeito que Potter era sem noção, concordaria com isso, mas e se Michelle descobrisse? Concordaria também?  

— Vamos colocá-las contra a parede para responderem? Elas são legais, vão nos contar, e eu estou preocupada — sugeriu Lene.  

— Vamos. — Dorcas e eu assentimos.  

Após nos prepararmos psicologicamente para a conversa que iríamos ter com Chloe e Emma, saímos do meu quarto e fomos rumo ao quarto delas. 

Quando estávamos quase batendo na porta do quarto, fomos surpreendidas pela voz do Príncipe Potter, que agradecia descontraidamente às garotas, e percebemos que o próprio estava de saída. 

Corremos para outro corredor, na tentativa de não sermos vistas pelo Príncipe. Então ele saiu do quarto e tomou a direção contrária da nossa, e assim que o fez, caminhamos apressadamente para o quarto de Emma e Chloe. 

— Olá, garotas — falei para as Weasley. 

— Oi! — disseram as duas. 

— O que está fazendo aqui? Problemas com o colar? — perguntou uma delas. Droga, eu ainda não havia aprendido a distinguir as duas. 

— Er... Exatamente! Na verdade... foi que... — eu gaguejava sem saber realmente o que dizer. 

— Ela perdeu a tabela de cores! — exclamou Dorcas. — Eu espero que elas tenham dado uma tabela de cores — sussurrou no meu ouvido. 

— Foi isso! — Suspirei aliviada. 

— Ahn... Até poderíamos ajudar, mas nós perdemos a última tabela que tínhamos. Desculpe — falou uma delas. Olhei-as desconfiada, mas não insisti. 

— Então... Aqueles guardas que vivem junto do Príncipe são lindos, né? — Lene se fez de desentendida, mas não foi nem um pouco sutil. A repreendi com o olhar. 

— Ah, pelas cuecas com bolinhas brancas de Merlin, Lily! — Weasley revirou os olhos, sacando tudo. — Não temos nada com o Sirius e Remus! São nossos amigos, apenas. 

— Sim! Olha, o que você viu, nós nos abraçando, não foi nada. Temos negócios, vendemos produtos que ficam na maleta. Inclusive você tem um deles — continuou a outra Weasley. 

Elas falavam como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, e realmente era. Lene e Dorcas entenderam errado e me fizeram entender errado também. 

Olhei, aliviada, para Lene e Dorcas, que também tinham uma expressão de alívio. 

— Mas eles realmente são bonitos — disse Marlene dando de ombros, fazendo todas rirem.

Depois de pedirmos desculpas às Gêmeas, voltamos para o quarto, rindo igual tontas. 

— Por onde você se meteu, Lily? — berrou Lauren, exatamente na hora que entramos no quarto. 

— Você sumiu — continuou Lis. 

— Ah, visitas! — exclamou Lie. 

— Bom... Lene, Dorcas, essas são as amigas-que-cuidam-de-mim. — apresentei as meninas. 

— Entrem, entrem. Nos conte tudo sobre a apresentação! — Lie nos puxou para dentro.  

— Queremos detalhes! — Lauren e Elisa disseram, em uníssono. 

— Dê essas garotas para mim, por favor — implorou Dorcas, rindo. 

— 

Depois que as meninas foram embora, ficamos eu, Natalie, Lauren e Elisa conversando. 

Elas eram incríveis! Foi muita sorte minha ter ganhado ''amigas-que-cuidam-de-mim'' tão boas. 

Só com o pouco tempo que passamos juntas, eu sentia que podia confiar nelas, por isso, minha intuição me deu a liberdade de contar a verdade que preenchia minha mente. Além disso, eu não gostaria que elas pensassem que eu estava participando da Seleção pelos motivos errados.  

— Meninas, eu preciso contar a vocês o verdadeiro motivo de eu estar aqui, no Palácio, na Seleção. 

Assim que contei toda a história, elas ficaram confusas, mas me compreenderam de uma forma tão boa, que eu fiquei maravilhada. 

— Espere um pouco, temos algo que pode te ajudar — falou Lie, e as três foram buscar algo. 

Fiquei confusa, mas esperei curiosa para ver do que se tratava. 

Assim que elas voltaram, se entreolharam nervosas, mas Elisa não tardou a falar: 

— Guarde isto com muito carinho, por favor. É uma herança de família. — Lis me deu uma espécie de caderno, quase um diário.  

Então elas faziam parte da mesma família? Por que não me contaram? Inevitavelmente, me senti triste por elas não terem mencionado isso antes, mas ainda incrivelmente feliz pelo presente. 

O diário era todo vermelho e de veludo. Sua lateral era feita de couro e, em sua frente, havia escrito a seguinte frase: ''sues so iera draug ue euq soderges suem e draug''.  

Observei, com curiosidade, a frase.  

Sues... Seus... So... Os... As palavras estavam ao contrário! Então, seguindo a lógica, a frase também estava! Ponto para mim.  

— Guarde meus segredos que eu guardarei os seus. Não foi tão difícil assim.  

— Uau, você é boa. — Natalie bateu palmas, provocando risadas em mim. 

— Isso é para você anotar tudo que precisa para o jornal e até mesmo seus textos — explicou Lau. 

— Eu não sei nem o que dizer, muito obrigada, meninas! Eu estou muito feliz — agradeci emocionada.  

Emocionada não só pelo presente, mas também pelas coisas boas que a Seleção me trouxera até agora. Dorcas e Lene, Lie, Lis e Lau, muitas risadas e, também, meu emprego. Eu entrei aqui somente para garantir meu futuro, e acabei conhecendo pessoas tão incríveis que fariam valer a pena qualquer Potter que aparecesse em minha frente.  

Eu, pela primeira vez em muito tempo, tinha amigos verdadeiros comigo. 

Eu, pela primeira vez em muito tempo, me sentia em casa.