Modified By Disappointments escrita por Amanda Katherine


Capítulo 21
Matheus




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  Eu corria, corria muito, mas eu me movimentava tão devagar, que mesmo minhas pernas correndo mais que o possível, eu andava menos de um metro por minuto. Era uma sensação desesperadora. Era como se no mundo não existisse mais ninguém, apenas eu, tentando correr o mais rápido possível. Justin precisava de mim. Era isso o que eu sentia. Não sabia o por quê, só sabia que era Justin, e ele precisava de mim, de algum jeito.

  Acordei desesperada, suada e cansada. Retirei a coberta de cima de mim, o que estava me deixando fadigada. Me levantei e fui até a varanda abrindo a porta e saindo para fora.

  O vento gelado, perfurando minha pele. Fechei os olhos e abracei meus braços.

  O que será que esse sonho significou? Será que foi apenas mais um sonho? Como todos os outros que eu venho tendo a uma semana? Na verdade está mais para pesadelo.

   Entrei de volta deixando a porta da varanda aberta para arejar meu quarto que para mim estava tão quente.

  Comecei a procurar o controle do ar condicionado, mas o mesmo parecia ter fugido de mim.

   Abri uma de minhas gavetas a procura do mesmo e me arrependi na mesma hora.

  Ali estava todas as nossas coisas, tanto fotos como presentes. Eu não havia colocado aquilo ali. Foi ele, eu tenho certeza. O controle do ar condicionado estava ali, no cantinho, em cima de um envelope roxo.

   Peguei o controle e fechei a gaveta.

  Liguei o ar e me deitei na cama. De barriga para cima e olhos abertos, tentava distanciar o pensamento do que poderia estar escrito naquele envelope.

   Sem mais delongas, com a curiosidade me corrompendo, pulei da cama e me sentei na minha cadeira de veludo em frente à minha escrivaninha.

   Rasguei o envelope sem nenhum cuidado. Aquela letra, a maneira como escrevia sem vírgulas e como não escrevia o “você” completo.

   Justin era tão único.

“ Oi, princesa.

Não, não foi eu quem colocou isso no seu quarto. Foi um aliado... E uma aliada. Nunca vou contar quem são. – como se eu não soubesse quem são esses dois traidores. – Sabe, eu estive pensando em tudo. Tudo o que eu fiz por você e tudo o que fiz contra você. Pensei em tudo, desde o início. Sei que você não acreditou em uma palavra que eu disse, nem acreditará em nenhuma palavra que escrevi. Mas eu preciso dizer. Eu, no começo, queria sim, apenas te zoar, te humilhar, te envergonhar, você sabe como eu era, mas as pessoas mudam, não é? E eu mudei, para melhor. Queria fazer tudo isso com você, eu faria tudo para ter Victória comigo. Mas, o tempo que passei com você em sua casa, eu percebi que eu te olhava de um jeito diferente, jeito esse que nem eu mesmo conhecia e me repudiava por isso. Mas eu te amei, te amei de todo meu coração. Você pode pensar que não, mas é digna de tudo isso. É digna de todo o amor, não o meu que não a mereço, mas merece tudo que existe de bom, pois você é diferente de Victória. Ela pode se gabar de ser linda, mas sua lindeza não tapou os buracos que sua personalidade e essência deixou em haver. Buracos esses que foram tapados por você. Você não me completou Demetria, você me trasbordou. Tudo que eu era capaz de sentir, ao seu lado, eu sentia em dobro. Seu jeito irritante, persistente, meigo, meio moleque, seu jeito única que me cativou desde o primeiro instante e só eu não percebia. A esse ponto, eu devo estar em casa, deitado, com os olhos abertos, pensando em você e em alguma maneira de me redimir com você. – aquilo me despedaçou. Se eu não fosse tão tola, era pra ele estar em sua casa, não em um hospital. -  Mas como sou teimoso, com certeza não estaria em casa, com os olhos abertos, pensando em como me redimir. Eu estaria ai, te enchendo o saco, pedindo perdão de mil e uma maneiras. – sorri com aquilo, era bem o tipo dele. – Eu só te peço para que acredite em meu sentimento por você Demi, apenas isso. Você pode me odiar pelo resto da vida, só nunca duvide do meu amor por você. Eu sinto muito por tudo, eu só queria ver você feliz. E não queria estragar tudo contando sobre uma aposta idiota. Para te falar a verdade, quando eu pensava em namorar Victória, nunca pensei na hipótese de leva-la conhecer meus avós, minha família ou meus segredos e quando foi com você, eu não pensei em nada, apenas... fiz. Eu sei que, linda do jeito que é, vai me perdoar. Você tem um coração puro e eu sinto muito por ter levado minha nuvem negra até você. Eu te amo Demetria.

   Dobrei a carta e a guardei. Passei as mãos pelo cabelo, sem saber ao certo o que fazer.

Iria voltar a dormir, ou pelo menos tentar, mas o relógio começou a apitar, indicando que já estava na hora de ir para a escola.

    Daqui a pouco teria aula, o grande dia, de volta as aulas. Eu não estava com o maior pique, mas em casa não ficaria.

    Entrei no banheiro e fiquei um bom tempo embaixo daquela água. Me troquei e coloquei o uniforme.

     - Achei que não viria hoje – me abordou Sylwia assim que passei pelo portão de entrada.

— E por quê não? Não tenho nenhum motivo em especial para faltar as aulas.

  Caminhei adentrando a escola. Os olhares de Sylwia e Dominik estavam piores do que os das pessoas que me olhavam na escola. Todos estavam me olhando de uma maneira diferente.

— Está olhando o que? – disse a uma garota e a mesma rapidamente desviou seu olhar de mim de volta para o livro em sua mão.

— O que está acontecendo com essa escola? – perguntei para mim mesma.

— O acontecido no baile ainda ronda por ai, Victoria ainda se gaba por isso para a escola inteira e...

— E?... – incentivei Sylwia a continuar.

— E estão dizendo por ai que Justin está no hospital por sua causa. Que sofreu acidente enquanto discutia com você no telefone. Não sei quem inventou isso, mas a verdade não passou pelos muro desta escola. Ninguém sabe de nada.

— Acidente! – disse incrédula. – Ele não estava discutindo comigo no telefone! – disse com raiva.

— Ah Demi, eu sei, mas é melhor que pensem isso. Para quando Justin voltar para a escola, ele não seja alvo de bullying. O acidente é o que será relatado ao Justin, até ele próprio se lembrar o que houve.

   Syl tinha razão. Até mesmo o mais popular como ele, seria alvo de bullying nessa escola se descobrissem que ele se cortou.

   Umas meninas me olhavam com nojo por pensar que Justin realmente sofreu o acidente e com pena pelo ocorrido no baile, o que foi um mega escândalo e humilhação que foi parar até na TV. Já outras meninas, me olhavam com interesses, interesses em ser minhas amigas, agora que descobriram de quem sou filha, já que quase todos desta escola são ricos e filhinhos de papai, a maioria das garotas usam roupas que são da marca da minha mãe. Pensam que sendo minhas amigas, terão regalias como vestido que custam uma fortuna de graça. Mas eu também sei ser interesseira. Essas mimadas vão ver o que é bom!

— Oi Demi. – AH QUE AUDÁCIA! Eu não sou intima dela para me chamar apenas de Demi.

— Olá. – respondi o mais simpática possível.

— O que foi isso? Ela é uma das amigas de Victória! – lembrou Sylwia.

— Eu sei Syl. – disse rindo. – Essas mimadas estão querendo roupas Devone de graça. Mas elas vão ter o que merece!

— Ah, meu Deus, o que está pensando em fazer Demi?

— Nada demais – e foi só o que respondi.

   Entramos na sala e nos acomodamos, Syl sentou na minha frente, onde era a mesa de Lily, uma amiga de Victória.

— Hoje é um substituto – disse Syl.

— Sério? Ainda bem, não suporto a Dona Angela, ela explica, explica e o fim não explicou nada. – disse contente.

— Disseram que o professor é novo, imagina ser gatinho?

— Credo Syl, ainda assim não deixará de ser nosso professor. – disse abismada. – Aliás, uma pena que Dominik não tenha caído na nossa sala.

— AH, verdade, foi muita sorte a minha cair na sua sala, mas vou ter que ficar mais tempo longe do meu Xito Branco. – disse Syl cabisbaixa.

— Xito Branco? – ri. – De onde tirou isso? – ri mais alto ainda, e quando vi, estava gargalhando sozinha na sala. O silêncio se instalou e ouvi um pigarrear mais à frente.

   Quando lanço meu olhar, lá estava ele. Era lindo.

— Bom, senhorita...

— Demetria. – disse sem graça.

— Demetria – continuou ele. – que tal partilhar conosco o motivo de tanto riso? Queremos rir também...

— Ah, desculpe professor, não é nada. Eu não vi que já havia entrado na sala. Desculpe.

—Vou deixar passar só porque hoje é meu primeiro dia.

  Ele começou a arrumar suas coisas na mesa.

— Bom... Eu apelidei Dom, de Xito Branco. Mas isso não vem ao caso. Você viu como ele te olhou? Viu o sorrisinho de canto que lhe lançou? Demi, ele é um gato!

— Syl! Pare com isso! Não tem nada haver. – disse sentindo meu rosto corar. Outro pigarrear foi ouvido e sua cara não era das boas.

— Tudo haver, gatinha. – cochichou Syl.

— Cala a boca! – cochichei de volta.

— Aqui é o meu lugar! – disse Lily batendo na mesa de Syl.

— Não é mais! – me levantei.

— Ei, ei. O que está havendo ai? – perguntou o professor.

— Sabe qual é professor... – disse o olhando nos olhos, toda meiga – Sylwia é aluna nova, ela não sabia onde sentar, então ela se sentou aqui, na minha frente. Mas Lily está a expulsando daqui. Isso é muito constrangedor para a aluna nova – disse chutando Syl por baixo da cadeira e a mesma fez cara de coitada - temos que dar preferência aos novatos.

— Entendo, Lily, porque não se senta perto da porta? Poderá ter a vantagem de sair primeiro quando o sinal tocar.

— Porque eu quero me sentar no meu lugar, na janela, onde posso ver o que acontece lá embaixo! – argumentou ela.

— Mas eu estou mandando sentar-se naquela mesa vazia ali. – disse apontando com o lápis em sua mão.

— Isso se chama puxar saco sabia? Ninguém aqui pode ser preferencial para você, e é o que está fazendo com aquelas duas, porquê em?

— Sabe que posso lhe expulsar daqui direto para a diretoria por isso não é? Então por favor, sente-se.

— Me mande para lá e nos vemos no tribunal, quero ver se um professorzinho como você será capaz de arranjar um advogado como os da família Lively! Irá direto para a rua, porque eu lhe processo por racismo, só porque tenho a pele morena e elas peles brancas!

— Mas não é nada disso que está acontecendo, Lily. – disse ele alterado.

— Será sua palavra contra a minha! – cruzou os braços.

— Não! – me levantei. – Será a NOSSA palavra contra a sua, e quero ver uma pessoinha da família “Lively” como você arrumar um advogado melhor que os da família Devonne.

   Então ela se calou, e com a cara mais amarga e contra gosto do mundo se direcionou para a carteira vazia.

— Não. – disse o professor – não quero você na minha aula. Vá para fora, agora!

   Ela me olhou.

— Não vai? – disse eu – posso te dar uma lista dos melhores advogados da cidade, mas os meus são os melhores do país... – disse olhando minhas unhas.

   Ela saiu bufando como um búfalo, e nem Victória que era amiga dela, se intrometeu na discussão.

   O professor me encarou embasbacado, mas logo desviou a atenção desse assunto. E mesmo assim os burburinhos continuaram.

— Bom, galera. Deixe-me apresentar. Sou Matheus, o substituto de hoje. Estou substituindo a Dona Angela, que tirou licença por motivos pessoais. Talvez eu fique com vocês até o resto do ano, mas não é nada certo ainda. Eu tenho vinte e dois anos e estou terminando a faculdade de    Biologia, não sou totalmente formado na área ainda, mas estou em período de experiência. Espero que nos darmos muito bem. – ele disse olhando para mim.

— Viu como não é tanta diferença? – cochichou Syl.

— Eu só tenho dezesseis!

— Vai fazer dezessete daqui duas semanas – disse ela debochada. – acha que não sei?

— Ainda assim são cinco anos de diferença. Esqueça esse assunto!

   Começamos a falar sobre coisas aleatórias, até Matheus se pronunciar novamente.

— Bom, eu trouxe aqui comigo, uma provinha para vocês. – todos na sala vaiaram – Calma galera, não é bem uma prova. É só um simulado, para ver o quanto vocês conhecem sobre Biologia. Para ver até onde Dona Angela lhes ensinou para eu continuar. Não está difícil. – disse ele começando a distribuir as folhas e quando passou por mim, pousou a folha na minha carteira e bagunçou meus cabelos.

   As meninas na sala, me olharam com raiva. Até porque todas elas estavam praticamente se jogando para cima do professor que mais parecia aluno.

Bateu o sinal e saímos para trocar de sala. Havia mudado as regras, agora quem trocava de sala era nós e não os professores. Teríamos aula de Biologia novamente com Matheus na terceira aula, antes do intervalo.

— Eu tô dizendo Dom. Ele deu em cima dela. – dizia Syl toda empolgada.

— Não deu nada! Ela tá viajando. Tá chapada de todynho. – tentava me defender.

— Vejo que seus amiguinhos estão estudando aqui agora né? – me barrou Victoria.

— Que ótima observação, isso indica que não é cega! – disse e sai andando.

   Abri meu armário e troquei os livros para a próxima matéria de sociologia. Quando fecho a porta do meu armario, levo um leve susto ao se deparar com Matheus encostado, me olhando.

— Oi... – disse sem graça.

— Oi. – seu olhar era penetrante. O silêncio era a coisa mais constrangedora. – Obrigado.

— Ã? Pelo o que? – perguntei franzindo a  testa.

— Por me defender hoje na sala de aula. Eu realmente não poderia encontrar um advogado melhor que os da família Devonne. – disse sorrindo, o que me arrancou um sorriso também.

   Ouvi o sinal tocar, eu estava atrasada para a aula.

— Tenho que ir. – disse desesperada.

— Claro, até mais.

   Sai correndo, os corredores extensos, eu poderia estar agindo normalmente, mas Justin ainda estava remoendo minha cabeça. Queria saber como o mesmo estava, mas eu precisava ser forte e seguir em frente. Eu não poderia fraquejar, pois quando ele acordasse, Victória voltaria a ser sua.

— Com licença. Posso entrar? – disse sem folego, a professora Olga de matemática murmurou alguma coisa sobre não aguentar mais os alunos se atrasarem para a sua aula, como se não tivessem responsabilidade e me mandou sentar com a cara mais emburrada.

— Aonde você estava? – disse Sylwia.

— Me enrolei com os livros. – não contei sobre Matheus ir falar comigo, pois ela daria um ataque de histeria e espalharia para a escola inteira que o professor está afim de mim. O que é um absurdo claro, Sylwia pensa cada coisa.

   A aula passou rapidamente, voltamos para a sala de Matheus e foi tudo normal, tirando os olhares e risinhos que Sylwia lançava dividindo seu olhar entre mim e o professor.

    Saímos para o intervalo, comprei bolo e Doritos, nos sentamos e começamos a conversar.

— Sabem algo sobre Justin? – perguntou Dominik.

   Senti o pedaço de bolo passar como um tufo pela minha garganta. Não respondi nada, a tensão se instalou sobre nós.

— Oi, Demi, posso me sentar com vocês? – perguntou Aline, uma metidinha a besta que só liga para status.

— Claro. – sorri. Sylwia me encarou incrédula.

   Passou-se um tempo de conversa e comecei com meu plano.

— Nossa que sede. Aline, se importaria em me comprar um suco de laranja?

— Claro que não, já volto.  

    Sorri para Sylwia e Dom, que entenderam o que eu pretendia. Logo ela voltou sorridente com o suco nas mãos.

— Nossa, Aline, desculpa... Eu confundi, era morango que eu queria. Troca pra mim? – pedi.

— Tá bom... – disse ela sem graça e saiu.

— Coitada Demi. – disse Syl rindo.

— Coitada nada! Ela riu de mim junto com todos nessa escola.

   Ela era da nossa sala. Iria ter que aguenta-la sentado perto de nós e escutando nossa conversa o tempo todo.

    Bateu o sinal e caminhamos para a sala.

— Aline, leva para mim. – disse entregando minha bolsa a mesma que a colocou nas costas. Syl abafou uma risada.

   O restante do dia passou a mesma merda de sempre, a única diferença é que não teve um certo alguém para tirar sarro da minha cara junto com Victória, e que agora tenho meus dois melhores amigos comigo.

   Cheguei em casa e minha mãe não estava, amanhã falaria com ela sem falta! Dianna e Patrick terão que me escutar de uma vez por todas!


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