Backstage escrita por Fe Damin


Capítulo 4
Capítulo 04


Notas iniciais do capítulo

Aqui quem vos fala é a Paulinha! o/
A Fê teve um imprevisto hoje, mas mesmo assim não quis atrasar o cronograma, então vim aqui postar o capítulo quatro.
Já adianto que o capítulo está lindinho, então aproveitem e não deixem de comentar para deixar nossa autora lindinha feliz ;)



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A sexta-feira me viu atipicamente distraída no trabalho, eu tinha conseguido de uma vez por todas contornar a emergência que me havia feito interromper minhas férias e a sensação de satisfação era reconfortante, no entanto eu estava ansiosa por voltar aos dias de descanso. Eu viajaria para a Austrália na próxima semana para passar dez dias com meus pais, ele já moravam lá há bastante tempo. Eu os via sempre que podia, mas nunca era o suficiente, eu não tinha tantas folgas assim e eles como pesquisadores tinham menos ainda. O prospecto de passar um tempo com minha mãe e meu pai sempre me alegrava, e ainda tinha um certo jantar no futuro próximo para ajudar a aumentar a minha ansiedade.

O Ced passou o dia me fazendo perguntas, querendo descobrir mais detalhes sobre a comemoração do aniversário do Ron, principalmente no que dizia respeito à roupa que eu usaria, entretanto eu respondi que ele estava de castigo por mau comportamento no dia anterior e não merecia nenhuma informação. Foi extremamente engraçado vê-lo tentar de todas as maneiras arrancar algo de mim, meu assistente não era acostumado a não conseguir tudo o que queria, mas eu também não era, o que me faz aguentar firme e forte e além do mais eu estava me divertindo com suas tentativas cada vez mais absurdas. Foi difícil conseguir segurar o riso quando, já no fim da tarde, ele entrou na minha sala, sentou na cadeira à minha frente e disse apoiando os cotovelos na minha mesa:

—Mimizinha, você tem que me dizer – ele me olhava com a expressão exata de um cãozinho pidão, que provavelmente havia sido aperfeiçoada ao longo de muitos anos.

—“Mimizinha”, sério? – indaguei levantando a sobrancelha, aquela era nova, respirei fundo para não rir com o disparate que era aquele apelido - Cuidado que você está começando a parecer desesperado, eu não diria que combina com você.

—Eu nunca me desespero, só fico muito curioso – seu tom de desafio foi o que bastou, desatei a rir – você acha engraçado, é? Eu, um amigo tão bom, te ajudo e recebo o que de volta? Risos...

Eu tive que cobrir a minha boca com as mãos para abafar meus risos, o drama do último comentário foi tão exagerado que nem ele mesmo aguentou e se juntou a mim. Alguns segundos se passaram até que voltássemos a parecer duas pessoas normais, apropriadas para um ambiente de trabalho, a única coisa que denunciava nosso pequeno ataque eram as lágrimas que ainda enchiam nossos olhos.

No fim do expediente, juntei minhas coisas e me despedi de um Cedrico muito contrariado.

—Não acredito que você vai embora sem me dizer nadinha – seus braços cruzados completavam o visual de pessoa inconformada.

—Pois pode acreditar, você vai sobreviver, tenho certeza – eu me aproximei para me despedir com um beijo em sua bochecha.

Ele segurou meu braço quando eu me afastava, levantou o dedo indicador apontando para o nada e disse muito sério:

—Está ouvindo isso, chefinha? – tentei prestar atenção para entender do que ele estava falando, mas não escutei nada, antes que eu pudesse lhe dizer isso, ele continuou – é o som do meu coração se partindo com essa sua maldade.

Como é possível ficar séria com essas besteiras que saem da boca dele? Eu desconfiava seriamente de que ele tinha um caderninho de frases de efeito onde criava essas pérolas e depois aguardava o momento certo para usar, seria bem a cara dele. Eu ri de sua brincadeira, peguei-o pela bochecha como se ele fosse uma criança e falei:

—O que seria da minha vida sem você, Ced? Muito menos engraçada com certeza – ele se animou instantaneamente com o meu comentário, mas não o suficiente para deixar seu objetivo principal de lado.

—Viu como eu te faço bem? Agora me conta... – antes que ele pudesse continuar eu sai em direção ao elevador e gritei um tchau por cima do ombro, ele não ia desistir dessa batalha, o melhor era me retirar de uma vez.

Cheguei em casa até rápido para uma sexta-feira naquele horário, fui direto tomar banho e selecionei algumas peças de ficar em casa. Me dirigi à cozinha a fim de preparar alguma coisa para comer, ao passar pela sala, vi mais uma vez a sacola que o Ced tanto tinha insistido para eu adquirir, meu lado neuroticamente organizado não conseguia aceitar o fato de que eu tinha deixado algo jogado no meio do meu sofá, contudo a pequena parte irracional do meu cérebro se manifestou dizendo que era melhor deixar aquilo ali até a hora que eu tivesse realmente que usá-la, melhor não forçar a barra, se não eu acabaria mudando de ideia.

Depois de comer, decidi abrir meu vasto guarda roupa para começar a selecionar o que eu usaria na noite seguinte, já que eu não tinha nada mais a fazer, o melhor era ocupar a minha mente com algo agradável, e não com dúvidas que envolviam um aniversariante gostando ou não do conteúdo da sacola abandonada na sala. Eu podia até ter dito para o Ced que não iria contar nenhum detalhe sobre o meu vestuário, mas a verdade era que eu não havia decidido nada ainda, eu só quis deixá-lo exasperado, uma vingança até pequena em minha opinião.

Passei a mão por entre as roupas dispostas por cores nos cabides do meu armário, mas não cheguei à conclusão alguma, sentei-me na minha cama, ainda de frente para o guarda-roupa e comecei a imaginar as diferentes possibilidades que eu poderia empregar com os vestuários a minha disposição. Eu era boa naquilo, sempre tive aptidão nata para combinar cores e estilos até que a imagem final pudesse expressar exatamente a imagem que eu queria, o problema daquela vez era que eu não sabia o que exatamente eu gostaria de transmitir. Ótimo! Minhas ideias confusas estavam começando a afetar também coisas antes tão simples como a seleção de uma roupa.

Antes mesmo que eu pudesse aprofundar meus pensamentos pelo caminho desconhecido em que eles pareciam tão ansiosos para trilhar ultimamente, eu os aprisionei em um cantinho no fundo da minha consciência e me forcei a prestar atenção no que realmente estava a minha frente, àquilo que era concreto. Foram várias provas de roupa até que eu me decidi por um vestido novo preto e curto que o Ron ainda não conhecia, ele tinha um decote baixo e se ajustava perfeitamente ao meu corpo, eu já podia até vê-lo reclamando do fecho que consistia em um zíper invisível na parte de trás da peça, de acordo com ele todas as roupas deviam ter aberturas muito mais fáceis do que aquilo, esse pensamento me trouxe um sorriso aos lábios, era tão típico dele fazer um comentário desses. O vestido combinaria perfeitamente com as meias pretas que eu havia comprado e o look seria finalizado com um par de sapatos vermelhos de salto alto, sem, claro, deixar de lado um colar e brincos combinando. Satisfeita com a minha escolha, que caia bem no meio entre o comportado e o escandaloso, fui me deitar.

O dia seguinte passou com a lerdeza característica que apenas ocasiões especiais podiam criar. Os minutos pareciam se arrastar, eu me recusei a ficar encarando o relógio então decidi dar uma saída e me distrair, me arrumei rapidamente e saí do prédio em direção ao parque que ficava a poucas quadras de distância. Caminhei um pouco pelo caminho de cimento que era ladeado de árvores frondosas e flores de todas as cores, eu sempre tinha achado impressionante como era possível manter um jardim bonito assim durante a maior parte do ano. Minhas observações me levaram até uma parte do jardim onde se encontravam alguns bancos, comprei sorvete de um vendedor que passava por ali e me sentei para degustar o doce.

Rapidamente meus pensamentos se desviaram do sorvete e foram parar nos planos dessa noite. Nesses últimos tempos eu não era uma companhia boa para mim mesma, era só eu ficar muito tempo sozinha sem fazer nada, que o meu padrão se tornava pensar no Ron. Por mais que eu me recusasse a admitir que qualquer tipo de mudança tivesse acontecido, isso não alterava o fato de que cada vez mais ele aparecia como um intruso no meio das minhas ideias. É difícil perceber quando um padrão, já tão bem estabelecido, começa a mudar. A mente é condicionada a enxergar tudo da maneira que sempre foi, mas as evidências começam a se acumular até que somos forçados a reconhecer que uma nova ordem foi estabelecida. Eu nem precisava dizer que o meu cérebro ainda estava com dificuldades para decidir ou detectar se alguma mudança tinha ocorrido e até mesmo se eu gostaria que mudasse, o problema maior era que o Ron não estava fazendo nada para ajudar, muito pelo contrário, suas atitudes me confundiam mais ainda.

Terminei o meu sorvete e fiquei ainda algum tempo sentada naquele banco, observando em silêncio as pessoas que passavam e me distraindo com qualquer desculpa que fosse para manter meus pensamentos em uma zona de conforto que não me ofereceria riscos. Voltei para casa na hora em que eu deveria começar a me arrumar, chegar atrasada nunca foi uma opção para mim, mesmo que geralmente isso me fizesse ser a primeira a chegar. Tomei um banho demorado, lavei e sequei meus cabelos, prendendo-os com grampos em um coque solto de lado, deixando alguns fios cuidadosamente desarrumados. Levei algum tempo me ocupando com a maquiagem até que finalmente só faltava colocar a roupa. Fui até a sala pegar a sacola da lingerie, coloquei-a ao lado do vestido que eu havia escolhido, tirei meu roupão e comecei a me vestir. Quanto tudo já estava definitivamente no lugar, fui me olhar no meu espelho de corpo inteiro que ficava em uma das paredes do meu quarto e gostei muito do que vi, o que restava agora era saber se o aniversariante gostaria também.

Chamei um táxi e passei o endereço do restaurante, eu tinha procurado na internet para saber o que esperar do lugar que o Ced havia selecionado e fiquei grata ao ver que realmente parecia um local bem legal. A especialidade era comida italiana, que eu sabia ser uma das favoritas do Ron, além de minha também, e o ambiente era elegante e acolhedor, com vários elogios ao bom serviço. Cheguei ao meu destino alguns minutos antes da oito, passei pela porta de vidro que marcava a entrada do estabelecimento e fui recebida por um atendente sorridente e simpática que me informou que a minha reserva estava em ordem e que me levaria à minha mesa. Andamos pelo salão decorado com várias peças bonitas e ela me apontou o local para o qual eu deveria seguir, não que fosse necessário, pois, para minha surpresa, tinha um ruivo já me esperando, sentado de costas para a direção em que eu estava vindo.

Eu não conseguia me lembrar qual foi a última vez que ele tinha sido o primeiro a chegar, mas decidi não procurar alguma razão a mais por isso. Sem denunciar a minha presença, eu me aproximei da sua cadeira. Passei meus braços em volta do seu pescoço, senti que ele se sobressaltou, mas quando escutou minha voz em seu ouvido, seus músculos relaxaram novamente.

—Parece que alguém está ansioso, chegou cedo – sussurrei em tom de zombaria.

Ele virou a cabeça em direção a minha, um sorriso satisfeito estampado no rosto, e me cumprimentou com um beijo demorado.

—Oi – falou ao nos afastarmos.

—Feliz aniversário - Tirei meus braços de onde estavam e me inclinei para dar um beijo em sua bochecha.

—Obrigado – ele se levantou para puxar a cadeira que estava do lado da sua para mim.

Sua posição de pé proporcionou uma vista melhor do meu traje completo, eu notei seus olhos seguindo cada centímetro.

—Você está linda – ele me olhava tão intensamente, que eu não consegui evitar um arrepio. Passei pela frente dele me dirigindo ao meu lugar.

—Você não está tão mal também – brinquei passando a mão pela gola da sua camisa, tentando disfarçar a efeito que seu comentário anterior tinha exercido sobre mim.

Naquele momento eu prestei atenção no que ele estava vestindo, era uma camisa preta da qual eu não me lembrava, o que era quase impossível, pois ela tinha acabado de entrar na minha lista de roupas favoritas dele. O tecido tinha um corte sofisticado e se ajustava perfeitamente aos seus ombros. Enquanto eu estava distraída imaginando o que tinha por baixo daquela roupa, ele riu e me puxou para mais perto dele antes que eu pudesse me sentar.

—Ron, aqui é um restaurante, lugar de jantar, lembra? – levantei as sobrancelhas, tentando não rir com a cara de criança que foi pega fazendo o que não deve que ele mostrava.

—Por que mesmo eu concordei em vir a um restaurante? – ele me deu mais um beijo antes de se afastar para que finalmente pudéssemos sentar.

—Que tal, porque se não você teria que cozinhar hoje? – indaguei

—Como sempre, você esta certa – ele passou sua mão sobre a minha.

—Já pediu? – direcionei minha atenção para os menus que estavam pousados na mesa.

—Não, estava esperando você.

Ficamos alguns minutos em silêncio avaliando as opções do cardápio.

—Acho que eu vou pedir esse fettuccini com molho de frutos do mar – declarei ao escolher o meu prato, ele demorou mais um pouco para decidir e optou por um prato de filé a parmegiana.

Eu ri da escolha dele, eu já sabia onde aquilo ia parar, ele era fissurado em frutos do mar e acabou pedindo outra coisa.

—Você tem certeza que não quer igual ao meu? Você ama, e não vou deixar que coma o meu – declarei em tom de desafio.

—Eu não vou pegar do seu, pode deixar – ele até se dignou a parecer sincero, mas eu não acreditei por um segundo.

—Sei – respondi incrédula, apertando os olhos em sua direção e recebi um sorriso atrevido em resposta.

Ficamos conversando e bebendo o vinho que escolhemos enquanto esperávamos nossa comida, ele riu com as minhas descrições da minha chefe nessa última semana e em retorno eu fiz o mesmo ao escutar algumas das trapalhadas que um dos deus funcionários tinha aprontado. Quando os pratos chegaram, eu percebi que estava realmente com fome, não perdemos tempo para começar a comer. Eu estava ainda na metade da comida quando percebi o olhar comprido dele para o meu pedido da maneira que eu sabia que iria acontecer, era sempre assim: eu pedia alguma coisa e ele sempre se recusava a pedir igual, depois ficava com cara de pidão para a minha comida.

—Eu sei que você quer experimentar – respirei fundo, enrolando um pouco do macarrão em meu garfo e tendo o cuidado de levar um camarão junto – Toma pode comer.

—Você que está oferecendo, que isso fique bem claro - eu levei meu garfo em sua direção e ao invés de pegá-lo ele abriu a boca para que eu desse a comida para ele, ri da gracinha, mas concedi aquele agrado a ele.

—Esse seu olhar de criança com vontade não ia me deixar terminar, mas da próxima vez vou te lembrar de pedir igual ao meu, toda vez é a mesma história – ele sorriu com cara de satisfeito.

—O que eu posso fazer se tudo o que você escolhe tem uma cara tão apetitosa – o olhar sugestivo que ele lançou em minha direção me deixou em dúvida se ainda estávamos falando da comida.

—Anda, come logo – direcionei mais uma garfada em sua direção, entes de voltar a comer.

Terminamos nosso jantar, sendo que o meu foi em grande parte dividido com meu acompanhante que não tinha nenhum pudor em pedir a minha comida. Passamos a olhar a seleção de sobremesas,

—Estou em dúvida entre os sabores de mousse – declarei pensativa, todas as opções me pareciam deliciosas, o que dificultava a escolha, o Ron não teve nenhum problema em dar uma opinião.

—Frutas vermelhas, claro! – ele falou como se essa fosse a opção mais óbvia do mundo

—Muito engraçadinho – respondi rindo - esse é o seu favorito.

—Exatamente – ele declarou levantando o dedo indicador se aproximando de mim até ficar bem próximo ao meu ouvido - adoro você com gostinho de frutas vermelhas.

Eu revirei os olhos, passando a impressão de que tinha considerado aquilo uma besteira sem tamanho, quando na verdade minha respiração tinha ficado bem perto de sumir com o seu comentário.

—Vou fazer sua vontade dessa vez, mas só porque é o seu aniversário – seu sorriso convencido apareceu novamente, e ele me deu um selinho rápido.

—Podemos comemorar o meu aniversário todo mês – até ele riu da besteira, sabia que estava forçando a barra.

—Não vou nem te responder – fiz um sinal de descaso com a mão, demonstrando que não levaria aquilo a sério por nem um segundo.

A sobremesas chegaram e constatei que a minha escolha, ou melhor, a escolha do Ron, era muito boa. Chegamos satisfeitos ao fim do nosso jantar e ele pediu a conta, assim que o garçom veio trazendo a pastinha preta com a nossa conta ele se inclinou para alcança-la, mas eu me adiantei e falei:

—Pode deixar, hoje é por minha conta, considere parte do presente de aniversário. – ele sabia que não tinha discussão ali, entreguei o meu cartão e paguei.

Nos levantamos e eu o segui até a saída, caminhamos alguns metros até chegar no local onde ele tinha estacionado o carro. O restaurante não ficava muito longe da casa dele e em menos de vinte minutos estávamos passando pelo jardim em direção à entrada. Ele se posicionou de maneira que eu ficasse entre ele e a porta, e me beijou demoradamente enquanto tateava os bolsos em busca da chave.

—Valeu toda a pena aquela mousse, você está deliciosa – eu ri do comentário e ele achou as chaves abrindo a porta em seguida.

Passei primeiro pelo batente, deixando minha bolsa no aparador que ficava ao lado, ele fechou a porta e me puxou em um abraço, afundando o rosto na curva do meu pescoço.

—Quero saber da outra parte do meu presente agora – seus braços envolviam a minha cintura e seus olhos me acompanhavam com uma expressão de ansiedade.

—Quer é? – provoquei, sabendo exatamente a resposta - Pois você vai ter que trabalhar um pouquinho pra isso – o presenteei com um sorriso atrevido que ele expulsou com outro beijo, enquanto seus dedos trabalhavam para desvencilhar meus cabelos dos grampos que os prendiam.

—O que aconteceu com os privilégios de aniversariante? – ele indagou ao se afastar para recuperar o fôlego.

—Eles estão debaixo do meu vestido – eu não sabia da onde estava vindo aquele atrevimento todo, mas se eu estava ali usando aquela lingerie, eu ia fazer o trabalho direito.

—Hermione... – percebi os olhos dele escurecendo, sua voz saiu grave e entrecortada, sorri com o resultado, exatamente o que eu queria.

—Pode abrir um vinho, o teor alcoólico no meu sangue ainda está baixo demais para a continuação dessa comemoração – fiz menção de me afastar, mas seus braços me mantiveram no mesmo lugar.

—Você nunca teve problemas para me deixar tirar a sua roupa – ele resmungou num tom que me dizia que ele não estava satisfeito com a situação

—Isso – levantei na ponta dos pés para encara-lo bem nos olhos e sussurrei - é porque nunca teve nada parecido debaixo das minhas roupas – vi seus olhos se arregalando e escutei um suspiro passar por seus lábios

—Assim você quer me matar – ele aproximou a mão direita do meu ombro e eu o deixei afastar uma das alças do meu vestido, revelando o que tinha por baixo, o toque delicado dos seus dedos fez com que meus braços se arrepiassem.

—Adorei o tom – ele respondeu beijando o meu ombro, se eu deixasse ele continuar assim, tudo terminaria mais depressa do que eu pretendia, fechei os olhos aproveitando as sensações que a boca dele me causavam e juntando toda a minha força de vontade declarei:

—Pronto, agora o vinho – apontei para a cozinha com o dedo indicador, e um Ron muito contrariado foi atender ao meu pedido.

Ele voltou em poucos minutos com uma garrafa aberta e duas taças, nos sentamos no sofá, ele serviu o vinho e me puxou para o seu colo, me acomodei com as costas apoiadas de lado no peito dele e permanecemos por um tempo intercalando longos beijos com goles de vinho. Ele brincava com as mechas do meu cabelo, terminando de desfazer o meu penteado e fazendo carinho ao mesmo tempo. A garrafa de vinho foi esquecida no meio, as taças ficaram largadas na mesinha que ficava ao lado do sofá e eu me acomodei de forma a ficar de frente para ele, ainda em seu colo. Passei as mão por seus cabelos e segui uma trilha até alcançar o primeiro botão da camisa e começar a abri-la.

—É nova? – perguntei e notei que a atenção dele estava toda dirigida ao trabalho das minhas mãos.

—Sim, você não gostou? – sua voz denunciava certa insegurança acerca da minha resposta.

—Adorei – vi um sorriso aliviado se formar em seus lábios - mas gosto mais ainda do que tem dentro – o alívio em seu sorriso se transformou em desejo, imitando exatamente a minha expressão

Terminei de abrir o último botão e afastei a camisa do seus ombros, ele terminou de tirá-la. Minhas mãos traçaram todo o caminho do seu peito até o abdômen e eu escutei um gemido baixinho escapar dos seus lábios. Ele me puxou de volta para si e me beijou novamente, esse beijo foi mais apressado e menos delicado do que os anteriores, eu percebia a impaciência crescendo e fiquei extremamente satisfeita. Senti-o passando as mãos por baixo das minhas coxas e me segurando para levantar.

—Vamos levar essa festa para o quarto? – ele perguntou quase suplicando, eu apenas assenti em silêncio e ele me carregou até lá, sem desgrudar de mim por um único segundo.

Chegamos no quarto, ele me sentou na cama e inclinou-se procurando o fecho do meu vestido, mas eu fui mais rápida e me desvencilhei da sua mão.

—Não senhor, você ainda está com roupa em excesso – meu olhar desafiador o fez entender que ele só ganharia o que queria se acatasse o meu desejo primeiro, com um sorriso maldoso ele se afastou tirou os sapatos e desabotoou a calça, se livrando da peça restando apenas sua cueca.

Eu me ajeitei na cama, pousando minhas costas no encosto, eu ainda estava completamente vestida, exceto pelos meus sapatos que eu havia abandonado ao lado da cama.

—Satisfeita, senhorita? – perguntou irônico

—Muito melhor – ele subiu na cama e se aproximou de mim ficando por cima das minhas pernas.

Antes que ele pudesse me prender com o peso do seu corpo eu inverti a nossa posição rolando para cima dele, o gesto o surpreendeu e quando eu percebi sua boca se abrindo para protestar, eu levei um meu dedo indicador aos seus lábios.

—O aniversariante vai ficar quietinho e aproveitar – ele respirou fundo, mas não se moveu.

Ele estava completamente deitado na cama e eu estava sentada sobre o seu quadril, minhas coxas ladeando seu corpo.

—Primeiro eu vou precisar de uma ajudinha com o zíper – eu me inclinei sobre ele até que fosse capaz de alcançar o fecho que ficava no topo das minhas costas.

Sem tirar os olhos dos meus, senti sua mão deslizando o zíper até o fim, seus dedos se esgueirando pela parte de dentro do vestido para tocar a pele das minhas costas, eu quase não resisti àquele toque, mas eu queria fazer as coisas diferentes naquele dias, então prendi suas mãos nas minhas e as levei de volta para o colchão.

—Alguém está muito apressadinho hoje – me sentei novamente e comecei a erguer a saia do vestido pelas minhas coxas, em alguns segundos as barras rendadas das minhas meias ficaram a vista e eu senti, mais do que escutei, a respiração do Ron falhando. Ele passou as mãos pelas minhas pernas e parou onde as meias acabavam e estavam atadas pelas ligas que as prendiam no lugar.

Eu continuei numa velocidade deliberadamente lenta, até que o meu vestido foi atirado para o chão. Juntei toda a minha coragem e dirigi meu olhar a ele para constatar a sua reação à escolha nada comportada de lingerie. Um misto de poder e satisfação me invadiu quando eu me deparei com seus olhos quase hipnotizados em cima de mim. Sorri ante a sua reação, e ainda mais quando ele murmurou meu nome bem baixinho.

—Gostou do presente? – perguntei com um olhar atrevido e ele respondeu apenas com um aceno de cabeça sem emitir um som sequer, ele tentou levantar as mãos para continuar sua exploração, mas eu as mantive no lugar – poxa eu estava pensando em me livrar dele, mas já que você gostou tanto, acho que vou deixar onde está.

—Não! – a resposta dele foi tão rápida que eu não consegui conter o riso.

—Por onde devemos começar então? – fiz um gesto falso de que estava ponderando profundamente as opções.

Ele decidiu por mim, escolhendo exatamente como eu pensei que faria ao começar a desafivelar as minhas meias. Eu deixei que ele deslizasse o tecido fino pelas minhas coxas, ele se sentou, apoiando-se no encosto da cama para conseguir remover o par. Eu capturei seus lábios enquanto ele se ocupava em acariciar cada centímetro das minhas pernas. Suas mãos chegaram à minha cintura e me trouxeram para mais perto dele, eu estava tentando levar aquele jogo o mais devagar possível, mas toda a proximidade e o toque das mãos dele estavam me enlouquecendo além da conta então quando suas mãos se moveram para abrir o fecho do meu sutiã eu não fui capaz de impedir, ele levou a boca ao meu ombro, traçando uma trilha de beijos até que puxou com os dentes a alça que ainda o mantinha no lugar e se livrou de uma vez por todas dele.

A partir dali o controle já não era mais meu, mesmo que também não fosse totalmente dele. Minha respiração saía entrecortada enquanto ele acariciava os meus seios, sem nunca afastar sua boca por muito tempo da minha, ele me puxou de modo que eu ficasse deitada por cima dele e eu senti suas mãos levando minha calcinha para baixo. Assim que ele se livrou da minha última peça de roupa ele me inclinou para o lado, me deitando de costas e ficando novamente por cima de mim. Ele retirou o ultimo tecido que nos separava e se inclinou para lamber de leve a curva do meu pescoço. Um gemido surgiu entre meus lábios e eu levantei as minhas pernas de modo que eu me enroscasse nele, na tentativa de eliminar de vez toda a distância entre nós. Não conseguíamos nem recuperar o folego, mas nada nos faria diminuir o ritmo naquele momento, nossas respirações se misturavam com a proximidade das nossas bocas até que chegássemos exatamente onde queríamos estar.

Ficamos em silencio tentando normalizar as batidas dos nossos corações que eu jurava que conseguia até escutar, ele se virou para deitar ao meu lado me envolvendo em seus braços e disse baixinho no meu ouvido.

—Melhor aniversário da minha vida, nunca pensei que eu estaria animado para fazer quarenta anos – eu ri com seu comentário divertido e me virei para encará-lo.

Ele ainda me fitava com fogo no olhar, e sabia que a noite não tinha terminado, o que estava totalmente de acordo com as minhas expectativas. Apenas horas mais tarde eu me desvencilhei dos seus braços exaustos de sono e das outras atividades da noite e comecei a levantar para ir embora, ele protestou quando eu falei que ia me arrumar e chamar um táxi e tentou me impedir de levantar.

—O que? Não vou te deixar ir embora num táxi vestida assim – seu tom era um misto de sono e indignação.

—Como é? Você não vai me “deixar”? – rebati incrédula, arqueando a sobrancelha para que não restassem dúvidas de que ele não tinha que me deixar ou não fazer qualquer tipo de coisa - E não tem nada de errado com a minha roupa.

—Não mesmo, ela é linda – ele concedeu, afirmando com a cabeça -  mas vai que o motorista tenha visão de raio-X ou algo parecido, não quero ninguém usufruindo do meu presente de aniversário. – ele olhava tão sério que eu quase acreditei que não estivesse brincando.

—Você está sendo obtuso, Ronald – revirei meus olhos, eu já tinha recolocado a calcinha e o sutiã, e fui em direção ao meu vestido

—Não senhora, Hermione. – ele enfatizou o uso do meu nome inteiro - Vamos, eu te levo.

—Você está caindo de sono e ainda tem vinho anuviando a sua cabeça, não há menor possibilidade de eu te deixar dirigir agora – eu o empurrei de volta para a cama e comecei a passar o vestido pela minha cabeça.

—Temos um problema então.... – ele parou a sentença no meio, pedi para que ele puxasse o zíper do meu vestido e enquanto eu ainda estava de costas para ele o ouvi murmurando -  você podia ficar.

—O que? – minha exclamação saiu alta demais, mas a verdade era que aquilo tinha me pegado de surpresa.

—Dorme aqui, amanhã eu te levo – eu me virei para encará-lo e me surpreendi mais ainda com a expressão esperançosa que pensei ter visto em seus olhos

Eu.. – eu não sabia como proceder, não havia me preparado para essa situação, e mesmo que eu já tivesse imaginado várias vezes como seria, não tive coragem de aceitar - não, não posso, tenho coisas para resolver e... – não consegui nem terminar a frase, se ele insistisse mais, eu ia acabar aceitando, então estava na hora de ir embora, só Deus sabe como ia ficar a minha cabeça já confusa se eu ainda descobrisse como era acordar com ele ao meu lado.

—Ah, tudo bem então – ele respondeu com um tom ligeiramente decepcionado que fez o meu coração afundar.

Calcei meus sapatos e fui em direção à sala para pegar a minha bolsa e ligar para o táxi. Sem que eu percebesse ele me seguiu usando apenas a sua cueca, por um momento eu temi que ele fosse renovar o convite, mas eu estava enganada, o que me deixou um tanto desanimada, não que eu tivesse razão alguma para isso.

—Deixa eu pelo menos chamar o táxi pra você – eu aceitei e ele digitou o número – em dez minutos estará aqui.

Fui esperar na porta e ele me acompanhou, um silencio incomodo se abateu sobre nós, mas eu não tinha ideia do que dizer. Aparentemente a noite ainda não tinha dado fim à sucessão de surpresas, pois enquanto eu me distraía olhando para a rua, pensando em alguma coisa, qualquer coisa para falar, ele passou os braços pela minha cintura e me abraçou, mantendo minhas costas apoiadas no seu peito e apoiando a cabeça no meu ombro, minhas mãos se juntaram às dele.

—Mione... – escutei sua voz baixa dizer.

—O que foi? – inclinei meu rosto para olhar em sua direção, ele abriu a boca para dizer alguma coisa, mas pareceu desistir no meio do caminho.

—Nada, eu só queria dizer de novo que esse aniversário foi maravilhoso – eu não sabia dizer se era impressão minha, mas eu podia jurar que o sorriso que ele me deu não chegou aos seus olhos.

—De nada – respondi tentando injetar um pouco de bom humor na situação.

O táxi chegou me salvando de ter que procurar mais alguma coisa para falar, eu me desvencilhei dos seus braços e me afastei em direção a porta, mas não sem antes finalizar a noite com um último beijo que saiu mais demorado do que era a minha intenção.

—Eu preciso ir, vá dormir, você está morrendo de sono – ele não respondeu nada e eu me afastei para entrar no carro, eu não resistir a olhar para trás e vi que ele ainda estava na porta quando o veículo virou na curva que impedia que eu continuasse a enxergá-lo.

Não prestei atenção a nada durante o caminho para o meu prédio, o motorista pareceu perceber o meu humor nada social e não puxou conversa. O tempo inteiro eu fui pensando se tinha feito a escolha certa e ao chegar em casa tinha decidido que sim. Estávamos jogando aquele jogo há muito tempo para simplesmente mudar as regras sem que isso comprometesse nossa capacidade de continuar como sempre, era melhor não tentar alterar aquele equilíbrio, pelo menos não enquanto eu não conseguisse entender os meus próprios pensamentos.

Tirei a roupa e coloquei uma camisola, eu já tinha afastado as cobertas e me sentado na cama quando o meu celular tocou, ainda na mesma posição eu me estiquei e o peguei de cima do criado mudo, o visor me avisando que era o Ron do outro lado da linha.

—Oi Ron, aconteceu alguma coisa? – perguntei ligeiramente alarmada.

—Não – a resposta veio em uma voz que denunciava o sono extremo que ele estava sentindo – eu só queria saber se você chegou bem.

Mais uma vez ele ligava para se certificar de que eu estava bem, eu podia estar sendo boba, mas fiquei feliz com a atitude, eu só não podia me acostumar com isso.

—Estou bem, já estou na cama, agora vá dormir que eu também vou.

—Tudo bem – ele respondeu alguns segundos depois, eu imaginava que ele já devia estar deitado quase dormindo.

—Boa noite, Ron – me despedi – beijos

Esperei um pouco por uma resposta dele que não veio, julguei que ele tivesse finalmente dormido no meio da conversa, no entanto quando eu já ia terminar a ligação, eu escutei sua voz em um murmúrio quase inaudível:

—Você poderia estar aqui ganhando esse beijo.

A ligação caiu antes que eu pudesse responder, não que eu teria sido capaz de dizer qualquer coisa.

Fiquei alguns segundos encarando o meu celular, como se pudesse aparecer magicamente na tela a resposta de todas as minhas dúvidas. Eu tentava me convencer de que ele estava com tanto sono que nem tinha consciência do que estava falando, porém a verdade era que aquilo não me confortava nem um pouco. Saí do meu transe e me enfiei debaixo das cobertas. Eu me forcei a fechar os olhos, mas foi uma longa noite mal dormida, o tempo todo na minha mente duas palavras apareciam, ameaçadoras: “e se?”.


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Notas finais do capítulo

Quando eu pedi para ela me mandar o que era para postar nas notas finais, recebi a seguinte resposta: "O que você quiser."
Então vamos lá:
Heeermioooonee, mulher, quem é você nesse capítulo???? Ced ficaria certamente orgulhoso! ahahahah
Esse aniversário foi do babado, teve clima, romance, toda a relutância típica da Mione e um pouquinho da insegurança do Ron, tudo na medida para ser sexy e lindo! Ou sexy sem ser vulgar ;) ahahahha
Essa é a minha opinião, não esqueçam de dizer a de vocês, até porque esse final dá o que falar. Quem está querendo quebrar as regras agora, uhn?
A Fê já está super ansiosa pra ler os comentários, então não decepcionem!
Beijinhos.

Aviso: Depois de amanhã tem mais Backstage, podem comemorar!

Crossover: Esse capítulo não aparece em Déjà Vu, mas o capítulo de amanhã tem um pouquinho do que vai acontecer no próximo. Além disso, a história é minha, então claro que eu recomendo!
https://fanfiction.com.br/historia/687490/Deja_vu/



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